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Do operário Luiz Inácio da Silva ao líder político Lula

CAPÍTULO I – O FUTEBOL: O INÍCIO DO JOGO NO BRASIL

CAPÍTULO 4 – O PRESIDENTE TORCEDOR

4.1 Do operário Luiz Inácio da Silva ao líder político Lula

Como tantos outros trabalhadores desse país que acalentam o sonho de qualificar-se para inserir-se no mundo do trabalho, Luiz Inácio Lula da Silva inicia a sua jornada de operário qualificado por meio da realização do curso de torneiro mecânico nas instalações do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), em São Paulo/SP. A sua luta pela sobrevivência e a busca por melhorias de condição de vida no centro urbano mais industrializado do país, tem início sem que viesse a imaginar que tal caminhada se transformaria numa luta política articulada no movimento dos trabalhadores da indústria metalúrgica. Luiz Inácio, profissional qualificado e com vasta experiência em tantas outras lutas que as adversidades da vida lhe impuseram, elaborava um projeto de vida simples, fruto das suas origens; como alguém nascido no interior do sertão nordestino brasileiro, migrou para a cidade grande, trabalhou e venceu as dificuldades até essa etapa, fato que representava uma grande conquista não apenas para ele, bem como para toda a sua família de origem simples e

humilde, que havia depositado as esperanças e perspectivas de ascensão da condição socioeconômica em que se encontravam.

Luiz Inácio inicia sua carreira como operário especializado do setor metalúrgico na região do grande ABC, em São Paulo. Em tal período, conforme Paraná (2009), aquele operário ainda não tinha consciência de que a busca mais consistente e efetiva pela estabilidade de um emprego, reposição salarial e melhorias das condições de trabalho, poderia vir por meio da organização coletiva dos trabalhadores. Assim, sindicaliza-se e ingressa na luta, inicialmente, de caráter estritamente econômico.

No ano de 1977, durante a campanha de reposição salarial, Lula falava aos cinco mil metalúrgicos reunidos numa assembleia para discutir a perda de 34,1% do poder de compra de seus salários. Em seu discurso, a preservação da ordem instituída é uma das principais bandeiras. Lula ainda demonstra respeito profundo às autoridades, mostra-se um humilde temente a Deus e um fervoroso nacionalista, guiado apenas por seu profundo s enso de justiça (PARANÁ, 2009, p. 435).

Durante as greves ocorridas na região do ABC, no final da década de 1970, Luiz Inácio surge no cenário nacional como liderança sindical dos trabalhadores. A partir do movimento grevista de 1978, passa a atuar no cenário político brasileiro, ganha notoriedade nacional e, mais tarde, internacional. Apesar de admitir publicamente não ter qualquer tipo de experiência no comando de greves, assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema em 1978. Dezoito dias após Lula e sua diretoria ter tomado posse, estourou a primeira greve na indústria automobilística. Lula nunca havia experimentado uma greve; apenas havia acompanhado algumas, sem participar diretamente, não estando ainda nos quadros do sindicato.

Nesse período, o país iniciava um processo a caminho da democracia e aos trabalhadores cabia a responsabilidade de travar a luta da melhor forma possível. De acordo com Paraná (2009), havia uma preocupação assumida pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema de esclarecer ao governo, ao patronato e à opinião pública que as greves dos trabalhadores eram pura e simplesmente reivindicatórias por melhores salários. Devido à proibição pelo governo

das greves políticas, Lula reafirmava o caráter apolítico do movimento. Seu discurso era de que a classe trabalhadora tinha legitimidade para lutar por seus direitos, até então, desrespeitados.

As primeiras greves deflagradas no ano de 1978 pelos trabalhadores metalúrgicos da região do ABC paulista, e suas lideranças, dá origem ao que alguns historiadores denominam de novo sindicalismo. Representantes do novo sindicalismo passam a pressionar por maior abertura democrática no país a fim de que os trabalhadores pudessem ter maior participação e maior consciência dos destinos políticos da nação. Os trabalhadores precisavam tomar suas posições dentro da esfera do Estado e, eles próprios, defender seus interesses (PARANÁ, 2009).

Ainda conforme Paraná (2009), o chamado novo sindicalismo, do qual Lula foi a referência maior, nasceu entre os trabalhadores do setor metalúrgico, o mais moderno da indústria do país, na segunda metade da década de 1970, em um momento marcado pelo arrocho salarial e pela abertura política em processo, que de certa forma, possibilitava o surgimento de novas lideranças e abria perspectivas para a participação popular. O que no início era apenas um projeto de cunho basicamente econômico, de reposição de um já reduzido poder aquisitivo, com o tempo amadureceu e ampliou os seus horizontes. O novo sindicalismo e suas lideranças passaram a fazer parte da cena pública e a confrontar representantes do capital e do Governo a partir da luta pela reposição salarial, consolidando-se também como projeto político global para a classe trabalhadora brasileira, com a constituição inclusive de um partido político identificado com os interesses dessa classe. A partir da luta de caráter estritamente econômico é que as lideranças sindicais, como Lula, se projetam, conquistam um espaço público de maior dimensão e, mais tarde, ocupam os espaços da esfera política por excelência, com a criação, por exemplo, de um novo partido político.

Com experiência e ideologia tão diferentes daquelas das militâncias de esquerda, foram Lula e os trabalhadores que ele representava que paradoxalmente acabaram por chacoalhar os alicerces do modelo econômico com muito mais eficácia que a maioria dos militantes de esquerda (PARANÁ, 2008, p. 436).

De acordo com Paraná (2009), o nascimento de um partido formado por trabalhadores para defender os seus direitos surge com a missão, segundo alguns de seus fundadores, de conquistar a independência política dos trabalhadores num momento de transição política da ditadura militar para a democracia. Tais características conferem ao Partido dos Trabalhadores (PT) um caráter diferenciado em relação a outros partidos da esquerda brasileira. Assim, surge no cenário político brasileiro, como inovação, o PT, formado como uma legenda que pretendia ligar-se à defesa dos interesses da classe trabalhadora e dos marginalizados da esfera política, e também como um partido que se desejava democrático, com instâncias que permitissem a representação efetiva dos filiados por parte da direção partidária.

Lula não é a expressão das esquerdas organizadas contra a ditadura. Mas além de muitas outras coisas é a expressão do fantástico e singular surto de urbanização e industrialização brasileira e da crise dele decorrente. Mas que isso, Lula é a expressão absolutamente complexa e bem acabada da nação brasileira, tão rica em contradições (PARANÁ, 2009, p. 436).

Em meio ao processo aqui exposto, Luiz Inácio Lula da Silva começou a sua carreira de metalúrgico na Região do ABC paulista, como operário do setor metalúrgico, sindicaliza-se, passa a fazer política primeiro dentro, depois fora das fábricas torna-se líder sindical em 1978. Lula exibia a sua declarada desvinculação política associada a mais completa legitimidade entre os seus pares os trabalhadores. Nesse momento, não se imaginava que essa mesma liderança, pouco tempo mais tarde, iria defender o papel político da classe trabalhadora, fundar um partido político e uma central sindical. Em 1980, ajudou a fundar o PT e, já no cenário político fora das fábricas, disputou as eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e 2002, sendo neste último ano eleito Presidente da República do Brasil, reeleito em 2006, transformando-se num dos maiores símbolos da esquerda brasileira.