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CAPÍTULO I – O FUTEBOL: O INÍCIO DO JOGO NO BRASIL

CAPÍTULO 3 – O FUTEBOL NA AGENDA DO MINISTÉRIO DO ESPORTE

3.4 Financiamento do futebol

Diante da situação pré-falimentar dos clubes de futebol no Brasil, e visando a reestruturação da modalidade na nação, em meados de 2004, o Governo Federal estudou a renegociação das dívidas de tais agremiações, relacionadas entre os maiores devedores da PS. Uma das ideias em discussão era a criação de uma nova loteria chamada de “Timemania”. A proposta previa uma loteria que, nos talões de aposta, ter-se-ia a utilização dos escudos dos clubes.

O clube vai receber por isso, mas vai condicionar essa nova receita com o pagamento das dívidas. Então o dinheiro vai da Caixa Econômica direto para a previdência ou para receita federal. Vamos exigir outras contrapartidas dos clubes, como a profissionalização, transformar clube em empresa e fazer com que o clube use parte da renda para pagar dívidas50.

Em 2008, o Presidente Lula e o Ministro do Esporte Orlando Silva, lançaram a Timemania, loteria criada pelo Governo Federal para sanear as dívidas dos clubes de futebol no Brasil. Seriam utilizados nos jogos os escudos dos oitenta clubes participantes do Campeonato Brasileiro nas séries “A”, “B” e “C”. A CEF estimava que a arrecadação inicial da Timemania fosse de R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais) por ano51. Para o Ministro do Esporte, os recursos adquiridos com

a Timemania iriam resolver de vez os problemas financeiros dos clubes de futebol: “É uma situação definitiva. Uma garantia de que o clube vá sanear e não voltará à situação de falência em que se encontram os clubes” 52.

50 “Loteria financiará pagamento de dívida dos clubes de futebol”. 17 de junho de 2004. In: BRASIL.

Ministério do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 17 mai. 2010.

51 “Lula e Agnelo lançam Timemania para reestruturar futebol brasileiro”. 4 de maio de 2005. In:

BRASIL. Ministério do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 17 mai. 2010.

52 “Lula e Agnelo lançam Timemania para reestruturar futebol brasileiro”. 4 de maio de 2005. In:

BRASIL. Ministério do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 18 mai. 2010.

A Timemania nasceu do PL nº. 5524, que foi apresentado à CD em julho de 2005. Com a criação de tal loteria, os clubes de futebol poderiam retomar a capacidade de investimentos e financiamento e modernizar suas gestões administrativas.

Conforme Boudens (2007, p. 51), “na cerimônia de apresentação da medida provisória que institui a Timemania, o presidente Lula defendeu essa intervenção branca na organização do futebol”, sob o argumento de que tal modalidade esportiva não é só uma paixão nacional que integra o patrimônio cultural brasileiro, mas é também um setor de grande potencial empregador e de geração de recursos.

De acordo com a Lei nº. 11.345/0653, que criou a Timemania, os clubes terão

direito a um percentual da arrecadação bruta, como contrapartida à cessão do direito ao uso de suas marcas para o pagamento de débitos fiscais com a União, mas só receberão os repasses após quitarem suas dívidas com o Governo.

Com a Timemania, esperava-se que além de pagar as dívidas com o INSS, FGTS e RF, os clubes retomassem a capacidade de investimento e de financiamento. O ME previu que em poucos anos os clubes teriam as dívidas quitadas. Assim, teriam os recursos da Timemania somados à receita do clube para investirem no esporte de base, na estrutura de treinamento e na contratação e manutenção de jogadores. A CEF, por sua vez, estimava que 46% (quarenta e seis por cento) do que fosse arrecadado seria destinado à premiação, e 25% (vinte e cinco por cento) aos clubes que aderissem à Timemania. Para custeio e manutenção da referida loteria, seriam destinados 20% (vinte por cento) dos recursos arrecadados, para os projetos sociais do ME seriam destinados 5% (cinco por cento), para o Fundo Penitenciário, 3% (três por cento) e para a seguridade social, 1% (um por cento) dos recursos arrecadados. Do percentual destinado aos clubes, os clubes da série “A” receberiam 65% (sessenta e cinco por cento), os clubes da série B

53 Dispõe sobre a instituição de concurso de prognóstico destinado ao desenvolvimento da prática

desportiva, a participação de entidades desportivas da modalidade futebol nesse concurso e parcelamento de débitos tributários e para com o Fundo de Garantia do Tempo de serviço – FGTS; altera as leis nos. 8.212, de 24 de julho de 1991, e 10.522, de 19 de julho de 2002; e dá outras providências.

receberiam 25% (vinte e cinco por cento) e os clubes da série C receberiam 10% (dez por cento). A divisão dentro das séries seria realizada igualmente.

A adesão do clube à loteria seria voluntária. Os clubes que optassem pela Timemania, deveriam fazer a assinatura formal com a CEF a fim de ajustar o parcelamento da sua dívida. Para continuarem participando da nova loteria, os clubes deverão cumprir algumas contrapartidas criadas pelo governo. Sobre a questão, o Ministro do Esporte Orlando Silva argumentou:

[...] a partir de agora, os clubes terão de moldar o recurso da Timemania à sua dívida e se comprometerem a se organizar profissionalmente, publicando balanços e contratando auditoria independente. Para continuar recebendo o recurso da loteria, os clubes não poderão dever ao INSS, Receita ou FGTS54.

Em 2004, a CEF havia formalizado uma resolução com um modelo para o balanço anual, tornando-se obrigatório aos clubes pela Lei Pelé (Lei n°. 9.615/1998). Contudo, os clubes brasileiros não conseguiram alcançar um nível satisfatório de qualidade na apresentação dos documentos. Já em 2006, tendo em vista a padronização dos balanços, um grupo de trabalho promovido conjuntamente entre o ME, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e o Clube dos 13 produziram uma Cartilha para

Padronização das Práticas Contábeis dos Clubes de Futebol Profissional . Diante da

tamanha diferença entre as práticas adotadas pelos clubes em relação às exigências do CFC. A Cartilha chegava para ser usada a partir de 2007, garantindo que os balanços estivessem dentro dos padrões recomendados. A apresentação dos balanços também é uma cobrança da Timemania, visando a profissionalização e a transparência do futebol no Brasil. Vale destacar que a utilização da referida Cartilha foi criada restritamente para o futebol profissional.

54 “Lula e Agnelo lançam Timemania para reestruturar futebol brasileiro”. 4 de maio de 2005. In:

BRASIL. Ministério do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 10 jun. 2010.

Representantes de grandes clubes que participaram do processo de elaboração da cartilha ressaltaram a importância da ação para a mudança no conceito de transparência e credibilidade dos mesmos. A Cartilha auxiliaria na elaboração correta da documentação que daria acesso do clube à Timemania; também ressaltava os avanços alcançados pelo esporte no país nos últimos três anos de atuação do ME, por meio da abertura para o diálogo, debate, conquistas – dedicação e empenho para avançarem na legislação esportiva. Tal coalizão de forças em prol do esporte também foi pontuada pelo Ministro do Esporte Orlando Silva:

Esta parceria mostra a disposição de todos os atores em formular o diagnóstico de credibilidade dos clubes. Isto ajudará em muito a profissionalização e mostra o compromisso do clube com os seus torcedores. É uma ação importante para o fortalecimento do futebol brasileiro. O Ministério está tratando de todas as dimensões do esporte, e o futebol é uma paixão brasileira, não poderia ficar de fora. Temos propostas concretas para a profissionalização do setor – um exemplo disso é a Timemania55.

Em 2007, estando à frente do ME, Orlando Silva destacou a importância da Timemania em assembléia da CBF. O Ministro do Esporte detalhou os esforços do Governo Federal para a conclusão da Timemania, em visita à assembléia para a eleição da presidência da CBF. Segundo Orlando Silva, os grandes clubes não serão os únicos beneficiados; parte do recurso arrecadado pelos governos dos estados será utilizada no apoio e no incentivo ao esporte educacional e “os recursos destinados aos clubes sociais devem ser utilizados, sobretudo no desenvolvimento do esporte de base56”.

É fato que a Timemania foi considerada a saída para o salvamento dos clubes e para a reestruturação do futebol brasileiro. Os representantes dos grandes clubes foram unânimes ao apoiarem a criação da referida loteria, ressaltando o empenho do atual Ministro do Esporte e do seu antecessor, para a aprovação da legislação

55 “Cartilha de padronização de balanços ajuda clubes de futebol a conquistarem transparência”. 16 de

março de 2006. In: BRASIL. Ministério do Esporte. Disponível em:

<http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 12 jun. 2010.

56 “Timemania é tema em assembleia da CBF”. 17 de julho de 2007. In: BRASIL. Ministério do

Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 15 mai. 2010.

concernente. Porém, sugeriram alterações compatíveis com os interesses dos clubes, propondo o aperfeiçoamento na MP que altera a Lei da Timemania57. Entre as mudanças propostas pelos representantes dos clubes, estava a inclusão na MP das dívidas que estavam em cobrança administrativa ou judicial.

Além disso, sugeriram ainda a alteração da taxa de referência do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC)58 para a Taxa de Juros de Longo

Prazo (TJLP), o que causaria um maior abatimento nos juros dos débitos dos clubes. Para o Ministro Orlando Silva, as emendas corrigirão erros formais, estimulando a reestruturação dos clubes de futebol do Brasil: “O encontro é fundamental para o fortalecimento do futebol e esse diálogo colabora para qualificarmos a Lei da Timemania” 59.

A mobilização dos grandes clubes e o diálogo com o ME resultou em ampliação dos benefícios da Timemania pelo Governo Federal. A MP n°. 358/2007 (que trata da Timemania) traz seis benefícios e alterações na distribuição da arrecadação para auxiliar os clubes e agremiações de futebol interessados em sanar suas dívidas com a União. Os benefícios foram:

1) Ampliação de cento e oitenta para duzentos e quarenta meses o prazo para pagamento das dívidas atrasadas dos clubes e a redução pela metade das multas sobre esses débitos.

2) As multas cobradas sobre os débitos dos clubes seriam reduzidas pela metade.

3) Quando a arrecadação ficar abaixo do valor da parcela que os clubes precisam pagar mensalmente ao governo, os clubes endividados só precisariam complementar o montante em R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais). A regra valeria para o primeiro ano de participação de cada clube na loteria.

57 Lei da Timemania (Lei nº 11.345 de 2006). Dispõe sobre a instituição de concurso de prognóstico

destinado ao desenvolvimento da prática desportiva, a participação de entidades desportivas da modalidade futebol nesse concurso e o parcelamento de débitos tributários e para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS: altera as Leis n.º 8.212 de 24 de julho de 1991, e 10.522, de 19 de julho de 2002; e dá outras providências.

58 Taxa de juros incidentes sobre as Quotas do Imposto de Renda Pessoa Física.

59 “Ministro do esporte discute com dirigentes mudanças na timemania”. 16 de março de 2006. In:

BRASIL. Ministério do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 15 mai. 2010.

4) Continuaria valendo que, durante cinco anos, as sociedades empresariais poderiam receber tratamento tributário equivalente ao das sociedades esportivas. A medida seria aplicada somente para atividades relacionadas à manutenção e administração de equipe profissional de futebol, e não se estenderia a outras atividades econômicas exercidas pelas referidas sociedades empresariais.

5) Os clubes participantes da Timemania prestariam contas ao Tribunal de Contas da União (TCU).

6) As unidades que receberem recursos da União, inclusive, provenientes de concursos prognósticos, deles prestariam contas junto ao TCU.

Fez-se ainda as seguintes alterações na distribuição da arrecadação da referida loteria: 46% (quarenta e seis por cento) para o valor dos prêmios; 22% (vinte e dois por cento) para os clubes que aderirem à loteria; 20% (vinte por cento) para o custeio e manutenção do serviço; 3% (três por cento) para projetos esportivos na rede da educação básica e superior e para ações dos clubes sociais; 3% (tres por cento) para as Santas Casas de Misericórdia; 2% (dois por cento) para a Lei Agnelo Piva; e, 1% (um por cento) para a seguridade social.

Segundo o Presidente Lula, a nova loteria era uma das medidas já adotadas pelo Governo Federal para solucionar os problemas do futebol brasileiro. “Precisamos achar um jeito de motivar os torcedores a voltarem para os estádios. Acredito que a Timemania é uma das alternativas, porque a qualidade dos times é um dos maiores incentivos” 60. Para o Ministro do Esporte Orlando Silva, o Governo

Federal implantou várias medidas para reestruturar o futebol nacional: “O futebol brasileiro precisa livrar-se da fragilidade provocada pela alta carga de endividamento. Tenho certeza de que a Timemania vai solucionar esse problema” 61.

60 “Benefícios da Timemania são ampliados pelo governo”. 9 de maio de 2007. In: BRASIL. Ministério

do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 10 mai. 2010.

61 “Benefícios da Timemania são ampliados pelo governo”. 9 de maio de 2007. In: BRASIL. Ministério

do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 10 mai. 2010.

Inicialmente, a Timemania teve 100% (cem por cento) de adesão. Todos os noventa e oito clubes divulgados pelo ME como aptos a participar da loteria assinaram o compromisso de adesão com a CEF no prazo estabelecido em lei.

Boudens (2007) afirma que:

Para o presidente Lula, a exemplo da Lei da Moralização do Futebol62 e do Estatuto de Defesa do Torcedor63, sancionadas em maio de 2003, e dos diversos programas de inclusão social que estavam sendo implementados pelo Ministério do Esporte, a instituição da Timemania testemunhava a existência de uma ação de governo articulada com as entidades desportivas, os atletas e toda sociedade. Mostrava também à disposição de se mudar, de forma séria, a realidade do futebol no Brasil (BOUDENS, 2007, p. 39).

Em 2006, o Presidente Lula sanciona a Lei de Incentivo ao Esporte64 (Lei n°. 11.438), elaborada nos moldes da Lei Rouanet (Lei nº. 8.313, de 23 de dezembro de 1991), voltada para o incentivo de projetos culturais. A Lei n°. 11.438/2006 prevê a renúncia fiscal de parte do Imposto de Renda (IR) devido para ser usada como investimentos em projetos esportivos. Pela referida legislação, pessoas físicas poderão doar ou usar como patrocínio até 6% (seis por cento) do imposto devido, e as pessoas jurídicas – empresas, clubes sociais, entidades de classe, entre outros –, até 4% (quatro por cento) do imposto devido. O Projeto de Lei de Incentivo ao Esporte foi encaminhado pelo Presidente Lula para o Congresso Nacional (CN) na abertura da II Conferência Nacional do Esporte, em maio de 2006.

Lançada em 18 de fevereiro de 2008, a Timemania tinha como objetivo oferecer tranquilidade financeira aos clubes, pois permitiria aos mesmos repensarem outras formas de ganhos de novas receitas, permitindo o saneamento mais rápido das dívidas. “Tenho a convicção que veremos, mais nitidamente, nos próximos anos, o profissionalismo que cresce na administração dos nossos clubes e tenho certeza que a Timemania será uma grande ferramenta para esse acontecimento65.”

62 Lei nº 10.672, de 15 de maio de 2003. Altera dispositivos da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1988,

e dá outras providências.

63 Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003. Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do torcedor e dá outras

providências.

64 Lei de Incentivo ao esporte. Sancionada em 29 de dezembro de 2006. Dispõe sobre incentivos e

benefícios para fomentar as atividades de caráter desportivo e dá outras providências.

65 “Clubes de futebol ganham Timemania para sanarem suas dívidas”. 18 de fevereiro de 2008. In:

BRASIL. Ministério do Esporte. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/ascom/pesquisanoticia>. Acesso em: 17 mai. 2010.

Esperava-se que além de sanar as dívidas, os clubes retomassem a capacidade de investimento e financiamento. E, respaldados na Lei de Incentivo ao Esporte, os clubes se isentariam de parte do IR, que passaria a ser usado como investimentos em projetos esportivos.

Alguns clubes do futebol brasileiro pouco avançaram com a Timemania. A loteria não alcançou a arrecadação prevista inicialmente. Para alguns clubes de futebol, a dívida continua a crescer ou está igual aos anos anteriores.

A adesão dos clubes à Timemania possibilitou ao Governo Federal estabelecer um mecanismo de controle fiscal de tais agremiações. Por meio do balanço financeiro que deveria ser apresentado à CEF, esperava-se alcançar a transparência tão almejada no futebol brasileiro. A criação e as alterações dessa loteria é o resultado da coalizão de forças em prol do futebol brasileiro. Nesse movimento, o Estado responsabilizou-se pela dívida dos clubes de futebol.