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CAPÍTULO I – O FUTEBOL: O INÍCIO DO JOGO NO BRASIL

CAPÍTULO 3 – O FUTEBOL NA AGENDA DO MINISTÉRIO DO ESPORTE

3.7 Economia da Copa

Em 17 de maio de 2010, o Governo Federal informou que faria uma concessão de incentivos fiscais para a construção e remodelagem de estádios para a Copa de 2014. Além disso, as doze cidades apontadas como sede dos jogos da Copa do Mundo FIFA 2014 deverim ser capazes de conceder a isenção do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre todas as operações envolvendo mercadorias e outros bens para a construção e remodelagem dos estádios.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Ernst & Young (2010), a realização da Copa do Mundo FIFA no Brasil desenha um novo ambiente, e que poderá proporcionar, com preparo adequado do poder público e da iniciativa privada, inúmeras oportunidades de crescimento. O impacto socioeconômico que o evento gerará para a população brasileira tem diversas dimensões e serão percebidos em função de diversos fatores. Dependerão única e exclusivamente em relação àquilo de que o país consiga aportar, os investimentos e ações necessárias a tempo do evento ser realizado de forma bem sucedida; de que aproveite os legados, transformando-os em bens perenes e que alcance esses objetivos de forma economicamente eficiente, sem dispêndios excessivos, má alocação de recursos ou custos de oportunidade.

A FGV e a Ernst & Young (2010) também destacam que o Brasil deva se preparar desde já para que o evento não seja de apenas alguns dias, mas de muitos anos, deixando um legado positivo para o conjunto da sociedade. E mais importante, que corresponder às expectativas externas em relação ao Campeonato Mundial é criar um ambiente interno para que todas as obras de infraestrutura e os impactos da macro e da micro economia gerem melhores condições de vida à sociedade brasileira.

A Ernst & Young105, em parceria com a FGV (2010), apresentam um estudo sobre os impactos socioeconômicos que o mundial de futebol causará ao Brasil no período de 2010 a 2014, em função da importância e grandiosidade do evento. O estudo aponta que a Copa do Mundo FIFA 2014 irá impactar diversos setores. Além dos gastos de R$ 22.460.000.000,00 (vinte e dois bilhões e quatrocentos e sessenta milhões de reais) no Brasil relacionado ao referido evento a fim de garantir a infraestrutura e a organização, a competição deverá injetar, adicionalmente, R$ 112.790.000.000,00 (cento e doze bilhões e setecentos e noventa milhões de reais) na economia brasileira, com a produção em cadeia de efeitos indiretos e induzidos. No total, o país movimentará R$ 142.390.000.000,00 (cento e quarenta e dois bilhões e trezentos e noventa milhões de reais) adicionais no período 2010-2014, gerando 3.630.000 (três milhões e seiscentos e trinta mil) empregos-ano e R$ 63.480.000.000,00 (sessenta e três bilhões e quatrocentos e oitenta milhões de reais) de renda para a população, o que vai impactar o mercado interno. Deverá ocasionar também uma arrecadação tributária adicional de R$ 18.130.000.000,00 (dezoito bilhões e cento e trinta milhões de reais) aos cofres de Municípios, Estados e Federação. O impacto direto do mundial de futebol sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é estimado em R$ 64.500.000.000,00 (sessenta e quatro bilhões e quinhentos milhões de reais) para o período 2010-2014. O estudo ainda aponta que, por ser a competição um evento pontual, uma parte de seus impactos sistemáticos não será permanente, e a continuidade dos impactos positivos dependerá da capacidade dos agentes envolvidos em aproveitar as oportunidades e os legados do evento.

105 A Ernest & Young é uma empresa de consultoria para gestão e controle de grandes eventos

Figura 1 - Impactos Consolidados da Copa do Mundo FIFA 2014 Fonte: FUNDAÇÃO; E&Y (2010).

Ainda no estudo supracitado, os setores mais beneficiados pela Copa do Mundo FIFA devem ser: construção civil, alimentos e bebidas, serviços prestados às empresas, serviço de utilidade pública (eletricidade, gás, esgoto e limpeza urbana) e serviços de informação. Juntas, as respectivas áreas deverão ter sua produção aumentada em R$ 50.180.000.000,00 (cinqüenta bilhões e cento e oitenta milhões de reais). Outros segmentos da economia também obterão vantagens, a exemplo dos serviços imobiliários. Do total de R$ 29.600.000.000,00 (vinte e nove bilhões e seiscentos milhões de reais) que correspondem aos gastos estimados relacionados ao mundial de futebol (incluindo despesas com visitantes), R$ 12.500.000.000,00 (doze bilhões e quinhentos milhões de reais) terão como origem o setor público, correspondente a 42% (quarenta e dois por cento), e R$ 17.160.000.000,00

(dezessete bilhões e cento e sessenta milhões de reais) serão provenientes do setor privado, valor correspondente 52% (cinquenta e dois por cento).

Conforme destaque anterior, o país vem passando por inúmeras mudanças desde 1950, quando foi sede pela primeira vez de uma Copa do Mundo de futebol. De acordo com a FGV e Ernst & Young (2010), o evento naquele momento tinha um outro porte. Competiram dezesseis seleções, disputaram vinte e dois jogos em seis estádios, com um público estimado 1.040.000 (um milhão e quarenta mil) espectadores. A edição de 2006, na Alemanha, contou com a participação de trinta e duas seleções, disputaram sessenta e quatro jogos em doze estádios, e atraiu 35.500.000 (trinta e cinco milhões e quinhentos mil) espectadores. Segundo Gastaldo, (2010) o índice de audiência das partidas do Brasil na referida competição ao longo das décadas vem representando as maiores concentrações históricas de audiência midiática de todos os tempos.

É provável que a Copa do Mundo FIFA 2014 terá dimensões ainda maiores de público e telespectadores, mas terá organização e estrutura semelhantes às copas da Alemanha, em 2006, e da África do Sul, em 2010. Tal evento no Brasil será precedido de outros igualmente importantes, dentre os quais, a Copa das Confederações, que se realizará um ano antes. Será o primeiro megaevento a ser realizado no país antes do mundial de futebol, e servirá como teste para atender as especificações da FIFA.

O estudo em análise indica que um dos fatores que mais motivam um país a sediar a uma Copa do Mundo FIFA é o fluxo turístico proporcionado por tal evento, não só por meio de torcedores que vão assistir à competição, como indiretamente através da exposição na mídia internacional. Porém, a oportunidade de crescimento do turismo deve ser aproveitada por meio de diversos eixos de ação, dos quais no Brasil o mais importante é a remoção de gargalos. A crescente visibilidade do país no cenário internacional na última década não tem sido alavancada pelos setores públicos e privados a fim de gerar um aproveitamento do potencial turístico brasileiro. O estudo também indica que, caso sejam realizadas as ações necessárias para permitir ao país aproveitar as oportunidades geradas pelo evento de 2014, a

ocasião poderá proporcionar um crescimento de até 79% (setenta e nove por cento) no fluxo turístico internacional para o Brasil em 2014. No período 2010-2014, esse número deve chegar a um total de até 2.980.000 (dois milhões e novecentos e oitenta mil) de visitantes adicionais.

O período de preparação para a competição de 2014 envolve uma série de investimentos em projetos de infraestrutura, obras e edificações, formação de capital humano, aquisição de bens de capital, e ainda, em mídia e publicidade. Partes de tais investimentos serão custeadas pelo Governo Federal, pelo setor privado e pelas instituições associadas à realização do campeonato mundial de futebol.

A preparação adequada das cidades sede para o referido evento tem gerado muitas expectativas, ou seja, se estarão totalmente de acordo com as exigências impostas pela FIFA, no que diz respeito à infraestrutura dos estádios, mobilidade urbana, hotelaria, aeroportos e, principalmente, segurança. As condições turísticas regionais também são responsáveis pelo sucesso do evento, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 2 - Investimentos para a Copa do Mundo FIFA 2014. Fonte: E&Y/FGV, (2010).

Segundo o estudo da FGV/E&Y, o cenário dos impactos provocados pela Copa do Mundo FIFA não resulta de fatores isolados, mas de um conjunto interligado de fatores. O efeito interligado das ações diretas é evidenciado por uma série de desdobramentos econômicos, sociais e culturais, alguns dos quais – se bem aproveitados – podem ser incorporados de forma duradoura à sociedade. Para análise dos impactos socioeconômicos diretos e indiretos, foram analisados três grupos de ações ou atividades relacionadas ao evento em questão: investimentos, operação do evento e consumo dos visitantes, no qual é possível detalhar:

Investimentos: atividades de formação de capital visando à Copa do Mundo FIFA, incluindo as que seriam realizadas de qualquer forma, porém, com aportes financeiros e projetos reduzidos ou em um período de tempo mais extenso. Exemplo: construção ou reforma de estádios, expansão do setor hoteleiro, investimentos em infraestrutura dos transportes e outros;

Operação do evento: preparação e gestão do evento através do COL, dos comitês específicos das cidades-sede e das equipes de segurança; e

Consumo dos visitantes: compra de bens e serviços por parte dos turistas atraídos ou não pelo evento de 2014.

Os grupos de ações destacados representam fontes de demanda por bens e serviços e, portanto, afetam os setores da economia responsáveis por atender tal demanda. O aumento em aspectos como produção, emprego, renda e arrecadação tributária, são benefícios que, conforme estudos realizados, são considerados impactos diretos. Devido ao caráter interligado da economia, os impactos das ações da Copa do Mundo vão além, e qualquer empresa, para produzir, precisa consumir insumos vindos de outros setores; tal consumo é denominado consumo intermediário. O mundial de futebol da FIFA gera uma cadeia extensa de consequências econômicas, denominadas de impactos indiretos. Sob o ponto de vista social, o debate em torno da competição de 2014, ocorre pautado em torno dos legados, porém, como isso aparece é subordinado a outros aspectos.