• Nenhum resultado encontrado

Pablo Stolze (2015) explica que a interdição é um procedimento previsto no código de processo civil, vale lembrar, de jurisdição voluntária, por meio do qual o juiz reconhece a incapacidade civil e nomeia um curador ao incapaz.

Segundo Rogério Alvarez de Oliveira (2016, p.1) “a curatela é o instrumento pelo qual a pessoa que não possui discernimento possa exercer sua capacidade civil em sua plenitude por faltar-lhe a capacidade intelectual de fato.”

Para Nelson Rosenvald (2016, p.1) “tutela e curatela são instituições protetivas da pessoa e dos bens dos que detêm limitada capacidade de agir, evitando os riscos que essa carência possa impor aos exercícios das situações jurídicas por parte de indivíduos juridicamente vulneráveis.”

Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas (2015, p.1) afirma que após a entrada em vigor do EPD, somente em situações excepcionais, desde que em seu interesse exclusivo, a pessoa portadora de deficiência poderá ser submetida à curatela.

Na ótica de Atalá Correia (2015, p.1), não há uma vedação a interdição, sendo assim, continuam sujeitas a interdição, quando relativamente capazes, as pessoas com deficiência mental severa.

Nelson Rosenvald (2015, p.1) afirma que o EPD admite como medida excepcional o instituto da curatela, entretanto não o relaciona com à incapacidade absoluta.

O EPD, no parágrafo primeiro de seu artigo 84, mantém a possibilidade de curatela à pessoa com deficiência, sendo aplicável, por exemplo, as pessoas com deficiência mental ou intelectual com dificuldade ou impossibilidade de discernimento, que não tenham condições de se autodeterminar. (OLIVEIRA, 2016, p.1)

Deve ficar claro, de acordo com Nelson Rosenvald (2015, p.1), que o indivíduo só será submetido a curatela em função de objetivamente não ser capaz

de exprimir sua vontade, e não pela sua condição clínica de portadora de deficiência ou enfermidade mental.

O EPD mantém o instituto protetivo da curatela, entretanto o classifica expressamente como medida extraordinária, como preceitua o artigo 84, parágrafo terceiro, do EPD: “A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.” (BRASIL, 2015).

Conforme lição de Pablo Stolze (2015), não há como o procedimento de interdição acabar, o que acaba é a forma de interdição da maneira como conhecíamos. O procedimento não desapareceu, em outras palavras, o que acaba é o enquadramento, o âmbito de subsunção do procedimento, ou seja, a noção de procedimento de interdição que conduz a uma curatela geral, junto com a figura do curador universal, que representava o interditando em absolutamente todos os atos da vida civil.

Flavio Tartuce (2015, p.1) aponta que, depois da chegada do EPD, não há mais que se falar em ação de interdição absoluta no sistema privado brasileiro, visto que menores de idade não são interditados, e passa a inexistir agora em nosso ordenamento a figura da pessoa absolutamente incapaz que seja maior de idade.

A curatela continua existindo, mas como frisa Pablo Stolze (2015), mas não nos moldes tradicionais, em que o juiz designava um curador com poderes quase que absolutos para representar o incapaz em todos os atos de sua vida.

Para Rogério Alvarez de Oliveira (2016, p.1), diante do notável movimento normativo na busca da autonomia da vontade e inclusão das pessoas portadoras de deficiência, não é pertinente tratarmos a interdição como medida de proibição do exercício de direitos. Por isso o EPD prefere o uso do termo “curatela”, e o define como medida protetiva que visa a proteção da pessoa e a pratica de determinados atos exclusivamente de natureza negocial e patrimonial.

Nelson Rosenvald (2015, p.1) explica que o termo “interdição”, que alude a uma definição de curatela como medida substitutiva de atuação do indivíduo e restritiva de direitos, deve ser abolido, visto que este não possui mais intimidade com o novo conceito de curatela concebida pelo EPD.

Segundo Paulo Lobo (2015, p.1) poderá a pessoa com deficiência, em seu interesse exclusivo, ser submetida a curatela. Ao contrário da antiga sistemática

desse instituto, a nova curatela deve durar o menor tempo possível, sendo proporcional ás necessidades e circunstâncias de cada caso, conforme preconiza o artigo 84 do EPD.

Não obstante, como lembra Atalá Correia (2015, p.1), outra evidencia da continuidade da possibilidade de interdição de pessoas portadoras de deficiência, é a manutenção da legitimidade ativa do Ministério Público para ajuizar a interdição nos casos de deficiência mental ou intelectual, nos termos do artigo 1.769 do Código Civil.

Conforme explica Pablo Stolze (2015), a pessoa com deficiência passa a ser considerada legalmente capaz, mesmo que para atuar na vida social se valha de institutos protetivos, a exemplo da curatela, que passa a ser considera, a partir da vigência do EPD, como medida extraordinária. Sendo assim a partir do EPD, admitindo-se a capacidade legal da pessoa com deficiência, a interdição total deixa de existir.

O EPD preconiza de forma evidente que, mesmo que o indivíduo se valha da curatela, não devemos considera-lo como incapaz. Estaremos diante da curatela de pessoa capaz, algo inusitado na história e tradição do Direito brasileiro. (SIMÃO, 2015, p.1).

Pablo Stolze (2015) aponta que o juiz, ao analisar a condição existencial da pessoa com deficiência, percebendo a necessidade de aplicação de um instituto protetivo, para que esta atue na vida social, não deve, dentro do possível, passar logo a designação de um curador. Deve o juiz sempre optar por opção preferencial a curatela, visto que esta passou a ser considerada medida extraordinária.

Paulo Lobo (2015, p.1) afirma que passa ser obrigatório, por possuir agora caráter de excepcionalidade, o juiz fazer constar da sentença as razões e motivações para a curatela específica como também o seu tempo de duração, nos termos que preceitua o EPD.

Como consequência das alterações relativas ao instituto da capacidade e curatela introduzidas pelo EPD, segundo Nelson Rosenvald (2015, p.1), pode-se esperar os seguintes desdobramentos:

a) haverá intenso ônus argumentativo por parte de quem pretenda submeter uma pessoa à curatela em razão de uma causa permanente; b) sendo ela curatelada, a incapacidade será apenas relativa, pois a incapacidade absoluta fere a regra da proporcionalidade; c) a curatela, em regra, será limitada à restrição da prática de atos patrimoniais, preservando-se, na

medida do possível a autodeterminação para a condução das situações existenciais.

É baseado na evolução do pensamento psiquiátrico e no próprio contexto de inclusão que, na análise de Rodrigo da Cunha Pereira (2015, p.1), tem-se uma nova roupagem do procedimento de curatela. Segundo o mesmo autor, “a curatela, ou melhor, a interdição da pessoa só deveria ser feita como último recurso, uma vez que significa simbolicamente uma morte civil.”

Pablo Stolze (2015) esclarece que a curatela foi redesenhada pelo EPD, e passa a afetar, assim como se dava com o pródigo, apenas os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial, sendo extinta a figura do curador geral.

Como explica Rogério Alvarez de Oliveira (2016, p.1), da forma como preceitua o artigo 755 do novo código de processo civil “o juiz nomeará curador e fixará expressamente os limites da curatela, não podendo mais declarar genericamente que esta será total ou parcial, até mesmo porque a incapacidade absoluta agora se restringe aos menores de 16 anos.”

Paulo Lobo (2015, p.1), ao tratar do instituto da curatela, aos termos do EPD, ressalta que agora este possui natureza de medida protetiva e não mais de interdição de direito. Este evidencia também que “apenas os negócios jurídicos relacionados aos direitos de natureza patrimonial serão afetados pela curatela. A curatela não alcança nem restringe os direitos de família (inclusive de se casar, de ter filhos e exercer os direitos da parentalidade), do trabalho, eleitoral (de votar e ser votado), de ser testemunha e de obter documentos oficiais de interesse da pessoa com deficiência.”

Rogério Alvarez de Oliveira (2016, p.1) aponta que há distinção entre os legitimados para propor a curatela e aquelas que podem ser nomeadas a tornarem- se curadoras, outrora que, vale observar, a pessoa legitimada também possa ser nomeada curadora.

O artigo 747 do novo código de processo civil elenca como legitimados para a propositura da curatela o cônjuge ou companheiro, os parentes ou tutores, o representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando, o ministério público, e ainda preceitua que tal legitimidade deve ser comprovada por documentação anexa a petição inicial. (BRASIL, 2015).

Art. 747. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro;

II - pelos parentes ou tutores;

III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;

IV - pelo Ministério Público.

Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial. (BRASIL, 2015).

Ademais, poderão ser nomeadas como curadores as pessoas previstas no artigo 1.775 do código civil, sendo elas o cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato; na falta daqueles, o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto; entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos; sendo que na falta das pessoas acima, competira ao juiz a escolha do curador. (BRASIL, 2002).

Outra novidade, como aponta Pablo Stolze (2015), é a inclusão pelo EPD da modalidade de curatela compartilhada. Ou seja, o juiz poderá, analisando as peculiaridades do caso, como explica Paulo Lobo (2015, p.1), nomear mais de um curador para uma mesma pessoa, podendo ser cada uma para uma incumbência específica.

Mais além, Rodrigo da Cunha Pereira (2015, p.1) sustenta que a curatela compartilhada trata-se de modalidade que visa dividir as responsabilidades, atenuando assim o penoso trabalho que se deriva do exercício da curatela e interdições.

Quanto a curatela compartilhada, já há jurisprudência favorável a respeito do tema, como podemos ver a seguir:

Agravo de instrumento. Interdição. Curatela provisória. Possibilidade de nomeação simultânea de mais de um curador. Precedentes. Art. 1.775-A do CC, incluído pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, que reforça a possibilidade de curatela compartilhada. Compartilhamento do encargo entre as duas irmãs que parece já ocorrer de fato, bem como, por ora, consta atender ao melhor interesse do interditando. Decisão reformada. Recurso provido. (TJ-SP - AI: 21916360220158260000 SP 2191636- 02.2015.8.26.0000, Relator: Claudio Godoy, Data de Julgamento: 16/02/2016, 1ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 17/02/2016).

Outra inovação introduzida ao instituto da curatela pelo EPD, conforme comenta Maurício Requião (2015, p.1), é positiva a oportunidade da própria pessoa portadora de deficiência requerer a sua curatela, visto que não há “ninguém mais legítimo do que o próprio sujeito que será alvo da medida para requerê-la.”

Cria-se, assim, um quadro de auto interdição, uma completa inovação trazida pelo EPD, conforme afirma Salomão Viana (2015), ficam assim legitimados aqueles elencados pelo rol do artigo 747 do novo código de processo civil acrescentado da própria pessoa que se sujeita a curatela.

O Ministério Público fica restrito a provocar a interdição, conforme estabelece o artigo 748 do código de processo civil, para os casos de doença mental grave, desde que as pessoas legitimadas pelo artigo 747, do mesmo diploma legal, não existam ou não a promovam. (BRASIL, 2015).

Art. 748. O Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença mental grave:

I - se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não promoverem a interdição;

II - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos incisos I e II do art. 747. (BRASIL, 2015).

Quando o Ministério Público for o requerente do procedimento de interdição, ficará a cargo da Defensoria Pública a função de representar o interditando, caso o mesmo não constitua advogado, conforme estabelece o artigo 72, parágrafo único, do novo código de processo civil. (OLIVEIRA, 2016, p.1).

Visto as principais mudanças no que se refere à interdição, passa-se agora para a análise de outro instituto inaugurado pelo EPD, a tomada de decisão apoiada.

Documentos relacionados