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I Do recurso do reclamante 1 Da condenação solidária do presidente do clube 1.1 Recorre

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61. I Do recurso do reclamante 1 Da condenação solidária do presidente do clube 1.1 Recorre

ordinariamente o reclamante, pretendendo a condenação solidária do presidente do clube- reclamado, com base na Lei nº 10.672/03. 1.2. Ao contrário do alegado pelo recorrente, a Lei 10.672/03 não impõe a inclusão do presidente do clube-reclamado no polo passivo da presente ação. Cumpre salientar que o fato do clube responder pelos créditos devidos ao reclamante já é suficiente para incluir a responsabilidade de todos os seus sócios (aí incluído o seu presidente) pelas dívidas do ente social e esportivo. 1.3. Admito e nego provimento. 2. Do valor da condenação por

danos morais 2.1. Requer a majoração do valor da indenização por danos morais, tendo em vista

que o valor arbitrado pelo juízo de origem não corresponderia à extensão do dano sofrido, requerendo o arbitramento da referida indenização no valor equivalente a uma remuneração por ano de trabalho. 2.2. A presente matéria restará devidamente apreciada por ocasião da análise do recurso ordinário do clube-reclamado, em seu item 4. 3. Do uso indevido de imagem 3.1. Em sua inicial, o autor alegou que a sua imagem ainda figurava no site do réu na internet, como titular da equipe, em uso indevido de sua imagem, eis que o réu estaria se aproveitando do seu currículo profissional para promover o site e o próprio clube, mesmo após a demissão do autor. Assim, requereu o pagamento de 10 (dez) remunerações pelo uso indevido de sua imagem. 3.2. Em sua contestação, o reclamado se defendeu sustentando que o site do clube possui cerca de 27.000 fotos em seu acervo, cuja finalidade seria fazer com que alguns personagens que fazem parte da história do clube possam aparecer nas fotos disponibilizadas para visualização, e não com o intuito de promover o clube ou aqueles que aparecem nas imagens. Alegou, ainda, que a foto não foi obtida por meios ilícitos, mas de maneira consentida e que não houve pedido prévio para retirada da foto. 3.3. A sentença de origem indeferiu o pedido entendendo que restou incontroverso nos autos que foi autorizada, ainda que de forma tácita, a veiculação da imagem e dos dados do autor no site do clube. Fundamentou, ainda, que a exposição da imagem não atingiu a honra, a boa fama ou a respeitabilidade do autor. 3.4. Em suas razões de recurso, o autor não se insurge contra nenhum dos fundamentos expostos na sentença, limitando-se a reiterar os argumentos trazidos na inicial. 3.5. Pelo princípio processual da dialeticidade, a fundamentação, cujo atendimento pressupõe necessariamente a argumentação lógica destinada a evidenciar o equívoco da decisão impugnada, é pressuposto objetivo de admissibilidade de qualquer recurso. No caso em tela, da análise do arrazoado, conclui-se que o recorrente não investe de forma objetiva contra os fundamentos da sentença. Trata-se, portanto, de recurso totalmente desprovido de fundamento, pressuposto objetivo extrínseco de admissibilidade, cujo atendimento supõe necessariamente argumentação visando a evidenciar o equívoco da decisão impugnada. 3.6. Nesse contexto, a atuação deste órgão revisor encontra-se necessariamente adstrita ao confronto dos fundamentos lançados na decisão recorrida com os motivos de fato e de direito que ensejam o pedido de reforma. 3.7. Portanto, deve ser aplicado a inteligência da Súmula nº 422 do Tribunal Superior do Trabalho, que dispõe: “Recurso.

Apelo que não ataca os fundamentos da decisão recorrida. Não conhecimento. Art. 514, II, do CPC.

Não se conhece de recurso para o TST, pela ausência do requisito de admissibilidade inscrito no art. 514, II, do CPC, quando as razões do recorrente não impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que fora proposta.” 3.8. Por tais fundamentos, rejeito o presente tópico, por falta de dialeticidade recursal. 4. Da multa normativa 4.1. Por fim, alega o recorrente que as astreintes devem ser aplicadas até o efetivo cumprimento da obrigação, tendo em vista que a multa normativa deferida na sentença não tem natureza jurídica de cláusula penal, não havendo que se falar na

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aplicação da Orientação Jurisprudencial nº 54 da SDI-I do TST. 4.2. Em sua inicial, o autor requereu o pagamento da multa diária fixada na cláusula oitava das normas coletivas, correspondente a um dia de remuneração por dia de atraso no pagamento das parcelas resilitórias. 4.3. A sentença de origem deferiu o pagamento da multa normativa correspondente, limitando-a ao valor do principal, por aplicação do art. 412 do Código Civil, conforme entendimento consagrado na Orientação Jurisprudencial nº 54 da SDI-1 do TST. 4.4. Para assegurar o resultado prático das decisões judiciais, pode o magistrado determinar, dentre outras medidas coercitivas, a imposição de multa pelo atraso no cumprimento da ordem judicial, devendo-se ressaltar que não há nenhuma limitação legal para a fixação do valor da multa, tampouco do lapso temporal em que poderá ela vigorar. A cominação da multa diária reforça a respeitabilidade da decisão e predispõe o jurisdicionado a cumprir o comando judicial. 4.5. Esta regra visa a tornar o processo mais eficaz, pois impõe ao devedor da obrigação o pagamento de multa diária; o termo inicial para a incidência da multa é o da data de descumprimento da ordem judicial. Assim sendo, quanto mais o devedor se exime de cumprir a ordem judicial, mais ele faz jus ao próprio ônus da regra processual do parágrafo 5º do artigo 461 do CPC. 4.6. No caso em tela, não há como se afastar a aplicação do art. 412 do Código Civil ao presente caso, eis que a multa diária é derivada de cláusula penal, e não de astreintes. Cláusula penal e astreintes não são expressões sinônimas, já que a primeira tem por finalidade assegurar a execução de uma convenção, ou seja, tem caráter reparatório, enquanto a segunda tem natureza coercitiva, não podendo ser alcançada pela limitação do art. 412 do Código Civil. 4.7. A referida multa diária é originada pela cláusula oitava, da Convenção Coletiva acostada. Como se observa da redação da referida cláusula, a multa requerida na inicial, e deferida pelo juízo de origem, efetivamente trata-se de cláusula penal, e não de astreintes, eis que foi estipulada para penalizar o empregador pelo não pagamento das verbas rescisórias no prazo legal, com a finalidade de assegurar a execução da convenção. 4.8. O artigo 920 do Código Civil de 1916, atual artigo 412 do Código Civil de 2002, prevê que o valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. 4.9. Portanto, aplica-se perfeitamente ao caso em tela o entendimento jurisprudencial sedimentado na Orientação Jurisprudencial 54 da SBDI-1 do TST, que trata especificamente da cláusula penal, como determinado pelo juízo original da instrução. 4.10. Admito e nego provimento. II - Do recurso do clube-reclamado

1. Da comissão de conciliação prévia 1.1. Recorre ordinariamente o clube-reclamado, pretendendo a

extinção do feito sem julgamento do mérito, em razão do autor não ter comprovado nos autos ter submetido seu pleito à comissão de conciliação prévia. 1.2. A submissão da demanda perante a comissão de conciliação prévia foi rejeitada pelo juízo de origem em razão do documento acostado, emitido pelo Sindclubes, que declarou a inexistência de comissão intersindical de conciliação prévia instituída com o Sindicato dos Clubes do Estado do Rio de Janeiro. A sentença de origem também citou os autos da ADI nº 2139, apreciada perante o STF, e que entende como facultativa à submissão prévia da demanda perante a comissão de conciliação prévia. 1.3. Entretanto, nenhum destes argumentos foi atacado nas razões expostas pelo ora reclamante. 1.4. Por tais fundamentos, rejeito o presente tópico, por falta de dialeticidade recursal. 2. Da jornada suplementar 2.1. Sustenta o recorrente que deve ser afastada a condenação ao pagamento de jornada suplementar, eis que o autor exercia cargo de confiança no clube, conforme art. 62, II, da CLT. 2.2. Em sua inicial, o autor alegou que, além de trabalhar nas instalações do reclamado, acompanhava a equipe de futebol em todos os jogos e competições, em qualquer lugar, inclusive fora do Estado e do País. Alegou que, nos dias em que não havia jogos, trabalhava das 08:00 às 20:00 horas, e segunda à sexta-feira, com uma hora de intervalo, com apenas uma folga mensal. Alegou trabalhar em todos os sábados, domingos e segundas-feiras em razão das partidas. Em janeiro, na pré-temporada, trabalhava vinte dias

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ininterruptamente das 08:00 às 23:00 horas. Nos dias de jogos durante a semana, à noite, trabalhava das 08:00 às 24:00 horas. Apesar do excesso de jornada, jamais teria recebido por este trabalho suplementar. 2.3. Na contestação, o réu sustentou que o autor estava dispensado do controle de jornada, conforme art. 62, inciso II, da CLT, além de jamais ter trabalhado mais de 8 horas diárias ou 44 semanais. Sustentou que o autor gozava de folgas regulares e intervalo intrajornada. 2.4. Uma vez que o réu sustentou a hipótese do art. 62, inciso II, da CLT, atraiu para si o ônus de comprovar o exercício de cargo de confiança pelo autor, conforme art. 818 da CLT. Apesar de toda a argumentação do recorrente, não há qualquer prova documental nos autos de que o autor possuísse cargo de confiança nos moldes do art. 62, inciso II, da CLT. Não há qualquer justificativa para que o autor não possuísse controle de jornada. 2.5. Da mesma forma, nenhum dos depoimentos testemunhais colhidos demonstra qualquer indício do exercício de cargo de confiança. Sequer o preposto do reclamado foi capaz de reiterar os argumentos expostos na contestação. 2.6. Admito e nego provimento. 3. Das Férias 3.1. Alega o recorrente que deve ser excluído da condenação o pagamento das férias, eis que o conjunto probatório teria atestado o recebimento e gozo das férias nas épocas próprias. 3.2. Em sua inicial, o autor alegou jamais ter gozado ou recebido férias durante todo o período laborado. 3.3. Em sua contestação, o clube-reclamado sustentou que as férias foram pagas e gozadas em suas épocas próprias, exceção feita às férias que seriam quitadas junto à rescisão, e que o clube concede férias coletivas aos seus empregados, no mês de dezembro. 3.4. A prova documental produzida traz os recibos de fls. 234/237 e 243/245 referentes ao período de 2004 a 2007, os quais foram impugnados pelo autor. Em seu depoimento pessoal, o autor confirmou os termos da inicial e o preposto do reclamado confirmou os termos da contestação. As testemunhas ouvidas informaram que o reclamante, jamais usufruiu das férias. 3.5. Desta forma, temos que o conjunto probatório é favorável à tese descrita na inicial, motivo pelo qual deve ser mantida a condenação referente às férias. 3.6. Admito e nego provimento. 4. Do dano moral 4.1. Aduz o recorrente que deve ser afastada a condenação ao pagamento de dano moral, em razão de que a declaração atribuída ao presidente do clube não seria verdadeira. 4.2. O reclamante, em sua peça inicial, alega que foi dispensado sem justo motivo após 15 (quinze) anos dedicados ao clube, sem receber corretamente as verbas rescisórias previstas em lei, e que ficou sabendo de sua demissão pelo noticiário veiculado na imprensa esportiva. Somente ao se dirigir ao departamento pessoal do reclamado é que lhe foi confirmada a sua dispensa. Em virtude da publicidade de sua demissão, sofreu diversos constrangimentos em razão de inúmeras ligações por parte de amigos e familiares, causando-lhe mais desconforto e humilhação. Alegou, ainda, que dias após sua demissão, o presidente do clube afirmou junto à imprensa que somente demitiu do clube “quem não trabalhava para o Vasco”, como se o reclamante fosse um inútil, incompetente ou mesmo um vagabundo. 4.3. Em sua contestação, o reclamado sustentou que a referida declaração seria falsa e jamais teria partido de seu presidente. 4.4. A prova documental confirma que a dispensa do autor foi alvo de diversas matérias publicadas em jornais esportivos de grande circulação no próprio dia da ciência da demissão por parte do autor. Já a prova testemunhal confirmou que o autor somente ficou sabendo de sua demissão por meio de terceiros, e após a veiculação da notícia nos meios de comunicação. 4.5. Quanto à declaração do presidente do clube, como bem salientado pelo juízo de origem, não há qualquer prova no sentido de que o presidente do clube-reclamado tenha se utilizado do direito de resposta ou retificação, no sentido de afastar tal declaração de sua pessoa, e corrigir qualquer mal-entendido. Desta forma, não há como se deixar de se presumir que tal declaração é verdadeira. 4.6. Apesar da mídia esportiva especializada cobrir todos os assuntos relativos ao departamento de futebol dos clubes é amplamente divulgado nos noticiários, até em âmbito nacional, não sendo uma exclusividade do

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reclamante. Entretanto, o ato ilícito praticado pela reclamada, qual seja, a declaração de sua autoridade maior, o presidente, de que todos os funcionários demitidos “não trabalhavam para o Vasco” efetivamente é constrangedora, principalmente se considerarmos os 15 anos de serviços prestados pelo reclamante, sendo um fato mais do que suficiente para causar tamanha ofensa. 4.7. Estando o dano moral ínsito na própria ofensa e sendo este grave e de repercussão, justificada está a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao autor. Quanto ao valor a ser arbitrado, não existe uma regra específica para aferição do quantum relativo à indenização por dano moral, mas sim o bom senso do julgador, o qual deve levar em consideração a intensidade do ânimo de ofender, bem como a gravidade da repercussão da ofensa ao meio social que representa. 4.8. Entendemos que o valor arbitrado pelo juízo de origem, ou seja, R$ 15.000,00 (quinze mil reais) é suficiente para não enriquecer o lesado e nem empobrecer o lesante, além de fornecer meios materiais para a obtenção de lenitivos para a dor sofrida. 4.9. Ante o exposto, admito e nego provimento. III -

Conclusão 1. Pelo exposto, admito o recurso interposto pelo reclamante e, no mérito, considerando:

1) que a Lei nº 10.672/03 não impõe a inclusão do presidente do clube-reclamado no polo passivo da presente ação; 2) que o valor arbitrado a título de indenização por dano moral é satisfatório para o dano sofrido; e 3) que o autor não investiu contra os fundamentos utilizados na sentença para indeferir a indenização por uso indevido de imagem; nego-lhe provimento. 2. Admito o recurso interposto pelo clube-reclamado e, no mérito, considerando: 1) que não foram atacados os argumentos expostos na sentença em relação à submissão da demanda perante a comissão de conciliação prévia; 2) que não restou comprovado o exercício de cargo de confiança; 3) que o conjunto probatório é favorável à tese autoral de não fruição de férias; e 4) que o ato ilícito praticado pela reclamada, qual seja, a declaração de sua autoridade maior, o presidente, efetivamente é constrangedora, principalmente se considerarmos os 15 anos de serviços prestados pelo reclamante, sendo um fato mais do que suficiente para justificar a indenização por danos morais; nego-lhe

provimento. 3. Determino que a liquidação será realizada observando-se os parâmetros descritos na

fundamentação deste acórdão. (TRT1 - 10ª Turma - Rel. Ricardo Areosa - 0135900-60.2008.5.01.0053 - 21/5/2010).

1.9.2. Sucessão de Empregadores.