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A prática desportiva profissional

e principais aspectos jurídico-trabalhistas da relação de trabalho do atleta profissional

2. A prática desportiva profissional

Desporto profissional é definido como a prática do desporto mediante contraprestação e contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade desportiva.

Competição profissional é aquela promovida para a obtenção de renda, disputada por atletas profissionais cuja remuneração decorra de contrato de trabalho desportivo (art. 26,

caput e parágrafo único da Lei nº 9.615/98).

Os atletas e entidades de prática desportiva são livres para organizar a atividade profissional em qualquer uma de suas modalidades, respeitados os termos da Lei Pelé.

Desporto não profissional é o que se caracteriza pela liberdade de prática e inexistência de contrato de trabalho, com permissão de recebimento de incentivos materiais e patrocínio.

2.1. Aspectos gerais da contratação do atleta profissional

2.1.1. Regulação

A Lei nº 9.615/98, com as alterações introduzidas pelas Leis nº 9.981, de 14 de julho de 2000, e 10.672, de 2003, é a atual lei geral regulatória da prática do desporto.

A Lei nº 6.354, de 2 de setembro de 1976, é a norma que até hoje, com as alterações introduzidas pelas Leis Zico e Pelé – esta, com as modificações impostas pelas Leis nº 9.981, de 14/7/2000, e 10.672, de 15/5/2003 –, rege o relacionamento entre jogadores de futebol e entidades de prática desportiva.

Quanto aos treinadores de futebol, são regidos por lei própria (Lei nº 8.650/93) e estão sujeitos à contratação por prazo determinado de até dois anos.

A Justiça competente para resolver as questões trabalhistas de natureza material e moral entre o atleta profissional e a entidade desportiva é a Justiça do Trabalho.

2.1.2. Natureza da relação entre o atleta e a entidade de prática desportiva

A relação entre o atleta profissional e a entidade desportiva é de natureza trabalhista, regida por contrato de trabalho (art. 3º, I, da Lei nº 9.615/98), com aplicação das normas gerais da legislação trabalhista e da seguridade social (§ 1º do art. 28).

Ocorre que, nos termos do art. 94 da Lei nº 9.615/98, os artigos 27, 27-A, 28, 29, 30, 39, 43 e 45 e o § 1º do art. 41 são obrigatórios exclusivamente para a modalidade futebol, por se tratar da única modalidade desportiva de natureza profissional.

Assim, em relação a modalidades desportivas como vôlei, basquete, natação e outras tantas em que o desporto é praticado de modo não profissional, a vinculação mediante contrato de trabalho é facultativa.

De qualquer sorte, o atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor de vinte anos de idade, que recebe auxílio financeiro da entidade de prática desportiva formadora, sob o título de bolsa de aprendizagem livremente pactuada mediante contrato formal, com ela não mantém vínculo empregatício.

2.1.3. Sujeitos do contrato

São sujeitos do contrato de trabalho desportivo (obrigatório para a modalidade futebol e facultativo para as demais modalidades) o atleta profissional e a entidade de prática desportiva.

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2.1.3.1. Do atleta

Atleta profissional é a pessoa física que pratica modalidade de desporto profissional por meio de associação desportiva, a quem fica subordinado e por quem é remunerado mediante contrato formal de trabalho (inteligência do parágrafo único, I, do art. 3º da CLT).

Relativamente ao jogador de futebol, cuida-se de atleta que, mediante subordinação e remuneração fixada em contrato formal de trabalho, é contratado, por prazo determinado, para disputar partidas de futebol (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 6.354/76). Nelas, deverá se exibir com as cores e os símbolos da agremiação empregadora.

O atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor de vinte anos de idade, não mantém vínculo empregatício com a entidade de prática desportiva formadora, de quem, no entanto, poderá receber auxílio financeiro, sob a forma de bolsa de aprendizagem, livremente pactuada (parágrafo único, II, do art. 3º da Lei 9.615/98, com a redação dada pela Lei nº 9.981, de 2000).

Permite a lei que a partir dos 16 (dezesseis) anos o atleta assine o seu primeiro contrato profissional (art. 29 da Lei Pelé), mas veda a participação em competições desportivas profissionais de atletas não profissionais com idade superior a vinte anos.

2.1.3.2. Da entidade de prática desportiva

A entidade de prática desportiva é, por seu turno, a responsável pelo desenvolvimento da prática do desporto.

Dispõe a Lei Pelé, com a redação dada pela Lei nº 10.672/03 (§ 9º do art. 26), que é facultado às entidades desportivas profissionais constituírem-se regularmente em sociedade empresária, segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. Considera entidade desportiva profissional as entidades de prática desportiva envolvidas em competições de atletas profissionais, as ligas em que se organizarem e as entidades de administração de desporto profissional (§ 10 do art. 26). E assinala que apenas as entidades desportivas profissionais que se constituírem regularmente em sociedade empresária, na forma do § 9º, não ficam sujeitas ao regime da sociedade em comum e, em especial, ao disposto no art. 990 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.

Como a prática da atividade desportiva é desenvolvida, no Brasil, por associações ou sociedade civil sem fins lucrativos, vinculadas a ligas organizadas por meio de entidades de administração do desporto, na falta de prova de utilização ilícita da personalidade jurídica dessas entidades, os bens dos dirigentes ficam a salvo da responsabilidade pessoal, não se lhes aplicando a teoria da despersonificação da pessoa jurídica.

Logo, nos termos do art. 27 da Lei nº 9.615/98, com a nova redação dada pela Lei nº 10.672/03, somente às sociedades empresárias aplicam-se os artigos 50 e 990 do Código Civil, visto que, nos termos da lei, os bens particulares de seus dirigentes estarão sujeitos ao disposto no art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, além das sanções e responsabilidades previstas no caput do art. 1.017 da referida lei, apenas na hipótese de aplicarem créditos ou bens sociais da entidade desportiva em proveito próprio ou de terceiros.

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2.1.4. Requisitos do contrato entre o jogador de futebol e a entidade de prática desportiva

De acordo com o art. 3º, parágrafo único, I, da Lei nº 9.615/98 (LGD), o contrato do atleta profissional de futebol com a entidade de prática desportiva, de natureza formal, deverá especificar os nomes das partes contratantes, o modo e forma de remuneração pactuada.

Note-se que no salário se incluem parcelas como abono de férias, décimo terceiro salário, gratificações, prêmios e demais verbas inclusas no contrato de trabalho (§ 1º do art. 31).

Observa Domingos Zainaghi que a exigência de contrato escrito limita-se à modalidade futebol, eis que, conforme previsão contida no art. 94 da Lei nº 9.615/98, os artigos 27, 27-A, 28, 29, 30, 39, 43 e 45 e o § 1º do art. 41 são obrigatórios somente para a modalidade futebol3.

Contratos formais são, sabidamente, aqueles que não exigem determinada forma para a sua celebração, ao contrário dos informais, que podem ser celebrados verbalmente ou de modo tácito. A exigência de inserção de cláusula penal, estipulada para as hipóteses de descumprimento, rompimento ou rescisão unilateral, e a contratação por prazo determinado exigem a forma escrita. E, além da forma, a solenidade do registro federativo.

Não bastasse, a se interpretar de forma literal o art. 94, chegar-se-ia à absurda conclusão de que o disposto no § 1º do art. 28 da Lei Pelé, que determina a observância da legislação trabalhista e da seguridade social, seria obrigatório apenas para a modalidade futebol, com aplicação facultativa às demais.

2.1.5. Cláusula penal

Cláusula penal é a pena convencionada entre as partes de um contrato, para incidência de indenização em caso de mora ou de inadimplemento.

Nos termos do art. 29 c/c art. 28, caput, in fine, da Lei nº 9.615/98, a cláusula penal, facultativa para as demais modalidades de desporto, mas de inserção obrigatória na modalidade futebol, será livremente ajustada pelas partes, para incidência em caso de descumprimento, rompimento ou resilição unilateral (§ 3º do art. 28 da Lei Pelé, incluído pela Lei nº 9.981/2000). Contudo, não poderá exceder cem vezes o montante da remuneração anual. Esse limite não incide em se tratando de transferência para o exterior (§ 5º do art. 28, também incluído pela Lei nº 9.981/2000).

A referida cláusula penal terá redução automática proporcional do valor, por ano trabalhado: 10% no primeiro ano, 20% no segundo, 40% no terceiro e 80% após o quarto (art. 28, § 4º, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 10.672/03)4. Poderão as partes previamente

3. ZAINAGHI, Domingos Sávio. Nova legislação desportiva: aspectos trabalhistas. 2. ed. São Paulo: LTr, p. 15.

4. RECURSO DE REVISTA. CONTRATO DE TRABALHO DE JOGADOR DE FUTEBOL. CLÁUSULA PENAL. REDUÇÃO DO