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e principais aspectos jurídico-trabalhistas da relação de trabalho do atleta profissional

3. Justiça Desportiva

Nos termos do art. 49 da Lei 9.615/98, a Justiça Desportiva, referida nos §§ 1º e 2º do art. 217 da Constituição Federal, é regulada pelos artigos 50 a 55 da Lei Pelé.

A organização, funcionamento e atribuições da Justiça Desportiva são definidas pelos códigos desportivos, que podem constituir seus próprios órgãos judicantes desportivos, com atuação restrita às suas competições, mas com limitação ao processo e julgamento das questões inerentes às infrações disciplinares e competições desportivas.

As transgressões relativas à disciplina e competições desportivas sujeitam o infrator à advertência, eliminação, exclusão de campeonato ou torneio, indenização, interdição de praça desportiva, multa, perda do mando do campo, perda de pontos, perda de renda, suspensão por partida e suspensão por prazo.

O São Raimundo, por exemplo, participante da Copa do Brasil, perdeu os pontos da partida realizada contra o Botafogo, do Rio de Janeiro, no início do ano de 2010, porque jogou com dois atletas que não estavam regularmente inscritos.

Em várias oportunidades, times jogaram em arenas com portões fechados, sem direito à renda, como penalidade pelos danos causados por torcidas.

Jogadores são punidos com suspensões por suas atitudes, podendo variar o tempo de afastamento conforme a sua gravidade: expulsões por reclamações, jogadas violentas, agressões a árbitros etc. O jogador Dodô foi suspenso por dois anos em virtude de dopagem.

Os órgãos da Justiça Desportiva, autônomos e independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema, são compostos pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, pelos Tribunais de Justiça Desportiva e pelas Comissões Disciplinares, com competência para processar e julgar as questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva.

As Comissões Disciplinares nacionais e estaduais funcionarão com o Superior Tribunal de Justiça Desportiva e com os Tribunais de Justiça Desportiva. São órgãos que processam e julgam em primeira instância as pessoas físicas e jurídicas submetidas ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Os auditores das Comissões Disciplinares criadas pelos Tribunais Desportivos são por eles indicados, assim como os dois procuradores. Cabe a estes últimos oferecer denúncia, dar parecer nos processos de competência do órgão judicante ao qual está vinculado, exercer as atribuições que lhe forem conferidas pela legislação desportiva e interpor recursos previstos em lei.

Logo, das decisões da Comissão Disciplinar caberá recurso ao Tribunal de Justiça Desportiva, e deste ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva. O recurso será recebido e

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processado com efeito suspensivo sempre que a penalidade exceder duas partidas consecutivas ou quinze dias.

O recurso ao Poder Judiciário não prejudicará os efeitos desportivos validamente produzidos em consequência da decisão proferida pelos Tribunais de Justiça Desportiva. Nos termos do art. 217, § 1º, da CF, o Poder Judiciário somente admitirá ações inerentes à disciplina e às competições desportivas após esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva.

O STJD e os TJDs serão compostos por nove membros, sendo que os mandatos dos membros dos Tribunais de Justiça Desportiva terão duração máxima de quatro anos, permitida uma só recondução. Os membros poderão ser bacharéis em Direito ou pessoas de notório saber jurídico e de conduta ilibada.

As Comissões Disciplinares são compostas de cinco membros que não pertençam aos órgãos judicantes, por estes indicados. Elas aplicarão sanções em procedimento sumário, assegurados a ampla defesa e o contraditório.

Os Tribunais Desportivos serão compostos por dois membros indicados pela entidade de administração do desporto; por dois membros indicados pelas entidades de prática desportiva que participem de competições oficiais da divisão principal; por dois advogados indicados pela OAB, possuidores de notório saber jurídico desportivo; por um representante dos árbitros, por estes indicado; e por dois representantes dos atletas, por estes indicados.

O processo desportivo, que admite ampla defesa inclusive quanto a provas, observará os procedimentos sumário ou especial. O primeiro, aplicável aos processos disciplinares. Quanto ao procedimento especial, aplica-se aos processos de inquérito, impugnação, mandado de garantia, reabilitação, dopagem, infrações punidas com eliminação, suspensão, desfiliação ou desvinculação imposta pelas entidades de administração ou de prática desportiva, revisão e demais medidas não previstas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

O procedimento disciplinar (rito sumário) será iniciado de ofício mediante denúncia da procuradoria ou por queixa a ela endereçada, formulada pela parte interessada. O inquérito (procedimento especial) tem por fim apurar a existência de infração disciplinar e determinar a sua autoria, para subsequente instauração do processo disciplinar (art. 81 do CBJD).

Será determinada a instauração de ofício pelo presidente do órgão judicante ou a requerimento da procuradoria ou da parte interessada.

Quanto ao pedido de impugnação de partida, prova ou o equivalente em cada modalidade ou de seu resultado, será dirigido ao presidente do STJD ou do TJD, devidamente assinado pelo impugnante ou por procurador com poderes especiais (art. 84).

O mandado de garantia, assemelhado ao mandado de segurança, será concedido sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, alguém sofrer violação em seu direito líquido e certo ou tenha justo receio de sofrê-la por parte de qualquer autoridade desportiva (art. 88).

O pedido de reabilitação pertine a qualquer pessoa física que tiver sofrido eliminação, se decorridos mais de quatro anos do trânsito em julgado da decisão (art. 99).

O processo de dopagem, pela utilização de substância, método ou outro qualquer meio proibido, com o objetivo de obter modificação artificial de rendimento mental ou físico de um atleta, por si mesmo ou por intermédio de outra pessoa, devidamente configurado mediante processo regular de análise, tem início através da remessa do laudo, acompanhado do laudo da contraprova, ao presidente do órgão judicante (art. 101).

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Nos casos de denúncia por infração, com pena prevista de eliminação, o denunciado será citado para apresentar defesa escrita em três dias (art. 107).

As sanções de suspensão, desfiliação ou desvinculação impostas pelas entidades de administração ou prática desportiva, com o objetivo de manter a ordem desportiva, somente serão aplicadas após decisão da Justiça Comum. O procedimento tem início por meio de remessa de ofício.

Tal qual uma ação rescisória, o pedido de revisão dos processos findos será admissível contra decisões com manifesto erro de fato ou falsa prova, contra decisões proferidas, contra literal disposição de lei ou contra evidência de prova e, também, quando, após a decisão, se descobrirem provas da inocência do punido.

Os recursos cabíveis são o recurso necessário, interposto na própria decisão que comine pena de eliminação, proferida em processo relativo à corrupção, concussão, prevaricação, dopagem e agressão física, e o recurso voluntário. Eles não terão efeito suspensivo, exceto quando houver previsão legal.