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DOCERIAS POTIGUARES: Análise de Pesquisa Qualitativa

No documento TARSILA GOMES DE MIRANDA E SILVA (páginas 46-53)

Partindo da pesquisa exploratória, foi escolhido o caráter qualitativo para a avaliação das três docerias potiguares: Colher Confeitaria, Lula Brownies e Amora Doces. Dessa forma, o método utilizado para a coleta de dados foi o da entrevista. Tal método foi aplicado remotamente devido às limitações estabelecidas pela pandemia, no mês de agosto. Tendo em vista a segurança dos entrevistados e da pesquisadora, foram realizados encontros individuais via Google Meet, que levantaram, em seu decorrer, questionamentos em comum às três empresas.

Os principais questionamentos foram:

- Nos últimos dois anos (período médio de duração da pandemia) a forma de se comunicar com os clientes mudou?

- Quais as principais mudanças/adaptações sofridas durante a pandemia? - Quais conteúdos nas redes têm mais destaque, por elogios e interações? - Um diferencial da empresa?

- Quais os desafios diários que podem levar em certos momentos a querer desistir dos negócios neste período?

- Qual a principal motivação do início dos negócios/atualmente? - Impacto direto da pandemia?

- Produção - como se deu?

- Percentual médio de crescimento?

Dessa forma, a conversa mediada pelo Meet possibilitou uma livre troca de informações, guiada por estas perguntas-chave. Apresentaremos uma a uma.

Iniciamos a presente análise com a primeira entrevista feita, no dia 24 de agosto, com a Colher Confeitaria.

A doceria, de posse de Daniele, enquadra-se como MEI desde o ano de 2019, quando ela resolveu trabalhar com os doces, obtendo através deles sua fonte de renda.

Até o momento, Daniele trabalha sem funcionários contratados. A logística das entregas da Colher é feita através de entregas por cooperativa, pela plataforma iFood, retirada do cliente ou contratação de outros serviços terceirizados, por conta dos clientes.

A empresa, que iniciou suas primeiras produções com um investimento inicial inferior a R$500,00 está com um faturamento positivo. O ticket médio de cada pedido por encomenda é de aproximadamente R$150,00, enquanto que para o delivery, aproximadamente R$40,00.

Com o investimento em cursos e especializações na área da confeitaria, Daniele ganhou nome e visibilidade para o seu negócio através do Instagram. Inicialmente, fazia bolos por hobby e por estímulo dos seus próximos investiu na carreira de doceira - com o aparato das redes sociais, sobretudo do Instagram, que possibilita uma divulgação completa e de baixo custo. Assim ela alcançou toda a sua clientela atual.

Além de todas as funções desempenhadas unicamente por Daniele, também está inclusa a parte da comunicação. Ela mesma gere as redes sociais, cria conteúdo e interage com seus seguidores.

Sobre os questionamentos levantados, a entrevistada disse que pouco antes da pandemia no Brasil, as atividades da Colher se intensificaram. Desde então, a comunicação da marca vem se desenvolvendo e fortalecendo o elo com os clientes.

Em sua visão, a pandemia alterou a maneira de estabelecer vínculos com as redes sociais e isso permitiu que a sua empresa ganhasse mais força e voz, sobretudo pelas novas ferramentas disponibilizadas pelo Instagram, que quando utilizadas, geram maior engajamento de seu perfil. A partir deste ponto, Daniele buscou referências para seguir algumas das trends em alta, principalmente para a criação de vídeos - considerando o que acredita ser bem recebido pelo seu público, citado como 18-30, de ambos os sexos.

Uma nova identidade visual foi criada no início do ano de 2021, no intuito de fortalecer também a imagem da empresa, além de chamar atenção em relação ao comunicar.

Os conteúdos são aqueles que demonstram transparência ao público, como bastidores de montagens dos bolos temáticos pintados à mão, que são os carros-chefes do seu negócio, assim como conversas que explanam novas ideias e experiências testadas, as quais conseguem por muitas vezes apreender aprovações ou rejeições do público, sendo possível captar uma mensuração de preferências.

A principal adaptação necessária devido à pandemia foi basicamente a adoção de formatos menores de bolos, ideais para comemorações mais intimistas, conforme as restrições estabelecidas pelo período.

Os maiores desafios estão ligados aos valores dos insumos. Com tantos impactos econômicos e comerciais gerados, o preço dos materiais necessários para as produções aumentou significativamente, de maneira que houve necessidade de aumento de valores do cardápio.

Isso deu espaço para que alguns concorrentes se sobressaíssem devido ao preço. Algumas marcas optaram por interferir na qualidade dos produtos para manter os preços de seus produtos, o que leva à uma concorrência desleal.

Porém, ao mesmo tempo, a entrevistada disse compreender tal conversão de alguns clientes, pois muitos deles perderam ao menos uma parte de suas rendas. Ela preferiu aumentar os valores de seu cardápio a ter que alterar seu padrão de qualidade, visto que seu maior diferencial está na utilização de produtos de primeira linha, em especial o buttercream.

Por mais que pareça desestimulador, Daniele segue ainda mais confiante do seu negócio, mantendo e buscando evoluir ainda mais no seu padrão de qualidade.

Ela revelou sentir um impacto direto destacado no período dos seis primeiros meses após o início do aumento dos casos. Inicialmente, quando existia a expectativa de que a quarentena durasse 15 dias, periodicamente, as pessoas aumentaram o costume do envio de doces como presentes, o que também aumentou a produção da Colher; ao perceber que não teria previsão de um breve término da doença, as pessoas começaram uma contenção dos seus gastos e consequentemente houve uma redução nos pedidos.

Após este breque, a produção se manteve mais estável, optando em sua maioria pelos bolos festivos, para uma quantidade inferior de pessoas - e em contrapartida, uma frequência maior de pedidos, quando comparado ao período que antecedeu a pandemia.

De uma forma geral, com uma média de estabilidade nos pedidos e delivery, Daniele se mantém confiante e visa posteriormente compartilhar seus conhecimentos adquiridos com cursos oferecidos a empreendedores do ramo - público que também foi alcançado com seus conteúdos.

Com a visibilidade que alcançou com o Instagram, assim como a interação afetiva com os seus seguidores e clientes, mantém um lucro médio mensal de aproximadamente R$4.000,00 - salvo os meses atípicos de lucro duas a três vezes maior, como dezembro, relacionado ao Natal, e abril, com a Páscoa. Ela acredita que o período da pandemia, para a Colher, foi de total ascensão.

Não houveram prejuízos e nem quedas nos pedidos que desestimulassem a sua atuação como confeiteira.

A segunda entrevistada foi Amanda, co-proprietária da empresa Lula Brownies, no dia 30 de agosto.

A Lula Brownies teve início em 2017 com seu noivo, Luis Felipe, partindo da venda de brownies na universidade. Apesar do negócio informal, Luis sentiu aos poucos o aumento da procura dos seus produtos e reteve parte dos ganhos para um investimento futuro.

Com atividades secundárias, não havia, até o início da pandemia, pretensões de que Lula Brownies se tornasse a principal fonte de renda do casal. Amanda decidiu trabalhar em conjunto com Luis em 2020, e desde então a empresa só cresceu nos negócios.

No início de 2020, três anos após o início das vendas avulsas, a empresa ganhou uma nova identidade visual. Atrelada à constância das interações com os clientes através das redes sociais e a busca por cursos de doces, Amanda e Luis evoluíram do amador para o profissional - e fizeram questão de partilhar com o público de clientes e seguidores cada evolução. Isso transpareceu credibilidade e a empresa ganhou mais itens no cardápio, clientes e interações nas redes, além de um maior faturamento.

O casal diz sentir o apoio dos seguidores, que torcem pela sua evolução como empresa, através de comentários e mensagens com estímulos e elogios.

A logística da Lula Brownies, até o mês de abril de 2021, foi de entregas nos carros particulares da família do casal, cooperativa ou retirada pelos clientes. Apesar de tentarem presença no iFood, por um tempo tornou-se impraticável pelo alto custo, mas não deixou de ser uma pretensão para um futuro próximo.

No mês de maio, alcançaram uma grande conquista: a abertura da primeira loja física, no Food Garden Park, espaço de food trucks em Lagoa Nova, bairro nobre de Natal. Desde então, o faturamento segue uma crescente. Mesmo com os custos de manutenção, não foram contraídas dívidas ou prejuízos que desestimularam os negócios. Com o aumento das vendas, houve a necessidade de contratação de uma nova funcionária auxiliar.

E entrevistada conta que foram personalizados uniformes, na busca de fortalecer ainda mais a marca e um aumento de itens do cardápio.

Nas redes sociais, Amanda e Luis mostram bastidores das produções, o dia-a-dia de trabalho, ensinam algumas receitas na cozinha e buscam feedbacks do público.

Acreditam que o crescimento do perfil se deu através das redes sociais, principalmente, mas citam como diferenciais da empresa o atendimento a qualquer hora, sem restrições, a qualidade dos produtos e a preocupação com a entrega ideal dos produtos, para que não haja danos e cheguem intactos até o cliente.

Sem estes diferenciais, certamente a marca não obtivesse o seu atual sucesso.

Os impactos, devido à pandemia, foram a necessidade de adequação de novos produtos, que os próprios clientes requisitavam: kits festa com os doces do casal, que servissem uma quantidade mais intimista de pessoas (citado 3 a 5). Logo, houve um ajuste para adaptação de materiais, embalagens e valores, assim como a necessidade de se adaptar a essas produções, em menor quantidade, mas que tinham maior saída.

Outro impacto sentido foi no alto valor dos insumos, que impossibilitaram a comercialização na plataforma iFood - com as altas taxas cobradas e o alto valor de produção, o custo seria inviável aos clientes.

A produção, até a abertura do ponto físico se deu por pedidos pré-agendados e posteriormente ao food truck, seguiram os pedidos e uma produção contínua para o trabalho presencial, que foi norteada aos poucos pelas principais saídas, preferências do público.

Como não houve impactos negativos para a Lula Brownies em meio à uma crise econômica, o casal segue confiante e com uma visão de expansão de negócios para um local independente, que proporcione momentos como eventos, num período que seja seguro para tal.

Em dados de faturamento, a partir do início do trabalho mais intenso com a entrada de Amanda, em 2020, do mês de fevereiro a junho houve um crescimento de R$1.200,00 no faturamento para R$6.200,00. Os faturamentos dos meses seguintes mantiveram-se por volta de R$4.000,00, e referentes ao período de Natal e Páscoa proporcionaram um alto faturamento de R$21.000,00 e R$18.500,00, respectivamente.

A partir da abertura do ponto físico, o faturamento mensal mantém-se em torno de R$20.000,00.

A terceira entrevistada foi a Amora Doces, da proprietária Yasmin, também chamada carinhosamente de “Amora” pelos seus clientes, também no dia 30 de agosto.

Yasmin iniciou sua trajetória assim como Luis Felipe, vendendo brownies informalmente na faculdade.

Tornou-se conhecida pelo sabor de seus doces, que eram procurados pelos colegas e demais alunos da instituição, ao contrário de diversos outros alunos, que tentavam a venda de determinados produtos, mas não obtinham tanto sucesso quanto ela.

Os ganhos obtidos com a venda de brownies permitiram que aos poucos, Yasmin tivesse condições de ampliar o seu cardápio, desenvolvesse uma nova identidade visual, mais profissional e investisse, de fato, na compra de insumos para novas produções além dos brownies. Ampliando sua visão, Amora Brownies tornou-se Amora Doces, no intuito de obter uma impressão mais abrangente, em sua visão.

Com a chegada da pandemia e a isenção de aulas presenciais, Yasmin saiu do ambiente restrito da universidade para as redes sociais. Com o aumento da divulgação e da frequência de interação com os seus seguidores, ela criou novas propostas aproveitando o período que coincidiu com a páscoa e obteve um retorno inimaginável.

Ela seguiu em frente com a nova forma de atuação e viu aos poucos a necessidade de realizar cursos de especialização, que compartilha com seus clientes as experiências adquiridas e sugere por enquetes novas opções para o cardápio.

Amora acredita que contar histórias sobre a sua própria trajetória, utilizando a estratégia do storytelling, curiosidades e resultados de cursos, transparece seu jeito de ser e passa confiança e transparência ao público. Inclusive, estes costumam ser os conteúdos de maiores interações com os seus seguidores.

Em 2021, já bem direcionada em sua comunicação com os clientes, conhecendo suas preferências de conteúdo e produções de doces, viu a necessidade de um trabalho de rebrand, que transparecesse ainda mais a sua personalidade.

As mudanças necessárias para a entrevistada foram principalmente o aparecer, em si. Muito tímida, de início, preferia apenas divulgar os produtos, sem mostrar seu rosto e personalidade por trás das câmeras. Após iniciar este trabalho, o vê como essencial, pois o retorno é bem maior e fortalece ainda mais sua relação com o público.

O diferencial citado é a busca constante pelo bom relacionamento e resolução de problemas relativos à escolhas ou situações específicas dos clientes - tal como formação de kits diferenciados para aniversários, presentes, surpresas, etc.

O impacto sentido pela Amora Brownies foi no valor dos insumos, que exigiu um aumento no cardápio e consequentemente houveram reclamações de alguns clientes.

Sua motivação principal é ver o seu negócio crescer em meio à crise, assim como seu conhecimento. A perspectiva de Yasmin é crescer nos negócios e ministrar cursos da área de confeitaria.

Sua produção se dá somente através de pedidos pré-agendados.

O percentual de crescimento de Amora Doces desde sua ascensão nas redes sociais foi obtido pelos seguintes dados de faturamento: até o período da pandemia, o controle de caixa não era bem mensurado. Uma faixa média de R$2.500,00 a R$3.000,00 mensais foi citada.

Com as novas habilidades adquiridas nos cursos, o aumento no catálogo de produtos e o fortalecimento do perfil Amora Doces, ao final do ano de 2020, este valor aumentou para uma média de R$7.000,00 - exceto os meses de alta produção, como dezembro e abril, referentes ao Natal e Páscoa, nos quais este valor pode chegar ao seu triplo.

Fazendo um comparativo entre as três empresas, podemos apreender alguns pontos em comum. Ambas seguiram firme em sua atuação desde o início de cada uma, considerando a paixão pela produção dos doces.

O fato de não intimidarem-se frente à uma crise generalizada deu condições para que se reinventassem com criatividade e garantissem presença online para os clientes; mesmo na pretensão de crescer, conseguiram pesar os prós e contras de uma atuação presencial, conseguindo sentir perfeitamente o momento certo de implantação, como no caso de Lula Brownies. Existe uma visão futura bem pensada para cada uma delas, que aguarda seu momento certo.

Com o interesse de desenvolvimento dos seus negócios e de aprenderem sobre tendências em alta para as redes sociais, seguindo a necessidade iminente do público de acompanhar as suas rotinas com transparência, colocaram estas ações em prática, ganharam confiança e se fortaleceram.

O elo de relacionamento construído dentro e fora das redes sociais proporcionou um crescimento por engajamento, além das indicações dos clientes já fidelizados. Isto é, além da parte do pós-venda, com feedbacks positivos e embaixadores da marca que fazem papel de influenciadores para novos clientes nesse nicho, há novos clientes de maneira orgânica, natural, que de alguma maneira recebem algum de seus conteúdos e tornam-se por si só seguidores e clientes das marcas.

Publicações de expectativa e atualizações profissionais passam credibilidade e geram curiosidade naqueles que ainda não conhecem os produtos de tais empresas. Isto também é colocado em prática e partilhado pelas empresas entrevistadas.

A maneira de se comunicar nas redes sociais, talvez seja a peça mais importante para o momento. A necessidade que as pessoas têm de atenção e empatia em períodos de isolamento, como os que passamos com a pandemia da Covid-19, casam perfeitamente com a tradição e cultura dos natalenses de encontrar amparo em iguarias como os doces.

Quando fidelizados, não há concorrência ou preço baixo que retire estes clientes destas empresas. Há empatia e todo um trabalho de relacionamento e o conceito de afeto por trás de tudo.

Sem dúvidas são fatores supra-sumo de influência para o sucesso crescente da Colher Confeitaria, Lula Brownies e Amora Doces, além de, claro, uma entrega de qualidade e cheia de amor e dedicação.

No documento TARSILA GOMES DE MIRANDA E SILVA (páginas 46-53)

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