• Nenhum resultado encontrado

Documentos de João Paulo II relativos à legislação para as causas dos beatos e

5 CONCÍLIO VATICANO II E SUA INFLUÊNCIA NAS REGRAS ATUAIS DE

5.3 Procedimentos atuais relativos à legislação para as causas dos beatos e

5.3.1 Documentos de João Paulo II relativos à legislação para as causas dos beatos e

De modo geral. as causas de beatificação e canonização passaram a ser regulamentadas por três documentos principais65. O primeiro deles, promulgado por João Paulo II (1978-2005), é a ―Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister‖ 66

sancionada em25 de Janeiro de 1983, o segundo são as ―Normas para observar na

Instrução
 Diocesana das Causas dos Santos‖ 67, promulgada em 1983 pelo prefeito da Congregação para as Causas do Santos – Pietro Palazzini – e o terceiro documento – ―Nota

circa la procedura canonica delle Cause di Beatificazione e di Canonizzazione‖68– publicado pela Congregação para as Causas do Santos em 11 de Fevereiro de 2001.

A ―Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister‖, em sua estrutura interna, apresenta uma introdução teológica e dezessete disposições normativas. Na parte introdutória, João Paulo II (1978-2005) historiciza a questão da santidade, afirmando que a Igreja desde seu início sempre acreditou, venerou, e implorou devotamente o auxílio e intercessão dos Apóstolos, Mártires em Cristo, Virgem Maria, Anjos e Santos e que junto a estes, somaram-se os que imitaram mais de perto a virgindade e a pobreza de Cristo e, finalmente, todos aqueles que pelo exercício das virtudes cristãs e dos carismas divinos suscitaram a devoção e a imitação dos fiéis. Em seguida, João Paulo II (1978-2005) relembra que a Sé Apostólica, desde tempos imemoriais, tem a função de santificar, governar o Povo de Deus, e propor à imitação, veneração e invocação dos fiéis, modelos de santidade, homens e mulheres, que sobressaíram pelo vigor da caridade e das outras virtudes evangélicas. Em seguida, João Paulo sadia e profícua articulação entre o ministério do Romano Pontífice e aquele dos Bispos‖ (BARROS, 2005, p. 200).

65 As legislações relativas às causas dos santos estão contidas em três documentos. Contudo, o Ufficio delle Celebrazioni Liturgiche del Somme Pontefice de João Paulo II (1978-2005) publica em 2001 o documento Il Rito di Beatificazione: Evoluzione storica que trata da questão litúrgica e ritualística das canonizações e

beatificações. Consultar este documento em:

http://www.vatican.va/news_services/press/documentazione/documents/avvenimenti/canonizzazioni- beatificazioni_beatificazioni_nota-storico_it.html Acesso: 4/06/13.

66

Consultar Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_constitutions/documents/hf_jpii_apc_25011983_divinus- perfectionis-magister_po.html Acesso: 16/05/13.

67 Consultar respectivas Normas para Observar na Instrução Diocesana das Causas dos Santosem: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/csaints/documents/rc_con_csaints_doc_07021983_norme_po. html Acesso: 16/05/13.

68 Consultar Nota circa la procedura canonica delle Cause di Beatificazione e di Canonizzazione em:http://www.vatican.va/news_services/press/documentazione/documents/avvenimenti/canonizzazioni-

II (1978-2005) elenca as principais mudanças e adições a legislação relativa à causa dos santos realizadas pelos papas predecessores, e conclui esta parte introdutória afirmando que:

... depois das experiências recentes, pareceu-Nos oportuno rever o procedimento de instrução das causas e dar um ordenamento à referida Congregação para as Causas dos Santos, indo deste modo ao encontro das exigências dos estudiosos e dos pedidos dos nossos irmãos no episcopado, que várias vezes solicitaram um procedimento mais ágil, sem que fosse prejudicada a solidez das investigações num tema tão sério. Além disso, pensámos que, à luz da doutrina sobre a colegialidade proposta pelo Concílio Vaticano II, seria conveniente associar os Bispos à Sé Apostólica no tratamento das Causas dos Santos (Grifos nossos)69

Nas dezessete disposições normativas, João Paulo II (1978-2005) expõe os procedimentos vigentes para as causas dos santos. Estas disposições são dividas em três partes: A primeira trata ―Das investigações a serem realizadas pelo Bispo‖, a segunda da “Fase Romana, junto da Congregação para as Causas dos Santos‖ e a terceira sobre o ―Modo de proceder na Congregação‖.

Por a ―Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister‖ ser um texto conciso, e não explicitar de forma satisfatória os modos de proceder na Fase Diocesana, ou seja, ―Das investigações a serem realizadas pelo Bispo‖, e ainda não identificar que uma causa pode ser aberta a partir do quinto ano da morte do candidato a beatificação, em 1983, Pietro Palazzini, prefeito da Congregação para as Causas do Santos, publica as Normas para observar na

Instrução
 Diocesana das Causas dos Santos. Este documento é divido em 36 disposições

normativas que explicitam de forma minuciosa os modos de proceder do Bispo, postulador da causa, Promotor de Justiça, testemunhas, informando ainda o passo a passo desde a abertura de uma causa até o envio do ―Transuptum‖ (cópia autenticada de toda documentação da Fase Diocesana) à Congregação para as Causas dos Santos em Roma.

O terceiro e último documento de João Paulo II (1978-2005) relativo a legislação das causas dos santos é a ―Nota circa la procedura canonica delle Cause di Beatificazione e di

Canonizzazione‖ publicada em abril de 2001. Nesta nota, a Congregação para as Causas dos

Santos trata de três questões fundamentais. A primeira expõe de forma mais detalhada as formas de proceder da Congregação a partir do momento que ela recebe o ―Transuptum‖. A segunda questão explicita a distinção entre beatificação de um confessor e de um mártir afirmando que

[per "confessore" si intende quella categoria di Beati e Santi distinta dai

69 Consultar Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_constitutions/documents/hf_jpii_apc_25011983_divinus- perfectionis-magister_po.html Acesso: 16/05/13.

martiri: i martiri hanno versato il loro sangue per la fede (uccisi in odium fidei); i confessori sono i beati e i santi che hanno testimoniato la loro fede durante la vita terrena, senza subire però il martirio] occorre un miracolo attribuito all‘intercessione del Servo/a di Dio, verificatosi dopo la sua morte. Il miracolo richiesto deve essere provato tramite un‘apposita istruttoria canonica, seguendo una procedura analoga a quella per le virtù eroiche. Si conclude anche essa con il relativo decreto. Promulgati i due decreti (cioè circa le virtù eroiche e circa il miracolo) il Santo Padre decide la beatificazione che è la concessione del culto pubblico, limitato ad un ambiente particolare. Con la beatificazione al candidato spetta il titolo di Beato.70

Porém, o ponto mais importante deste documento trata da questão do número de milagres necessários para beatificação e canonização, tema este que não foi abordado nos dois documentos anteriores. Esta Nota informa que para beatificação de um confessor é necessário um milagre.71 Para ser canonizado este beato precisará de mais um milagre ocorrido necessariamente após a sua beatificação. Com os mártires o processo é diferente. Para que um mártir seja beatificado não será necessário comprovação de milagres, basta a promulgação do

decreto de martírio pelo papa. Contudo, para que o mártir seja canonizado, é necessário a

comprovação de um milagre para torna-se santo.72 Apesar desta Nota explicitar sobre o 70 Tradução livre: [por ―confessor‖ se compreende aquela categoria de Beatos e Santos distinta dos mártires: os mártires derramaram o sangue deles pela fé (assassinados in odium fidei); os confessores são os beatos e os santos que testemunharam a fé deles durante a vida terrena, sem sofrer o martírio] é necessário um milagre atribuído à intercessão do Servo/a de Deus, verificado depois da sua morte. O milagre pedido deve ser provado através de uma adequada instrutória canônica, seguindo um procedimento análogo àquele para as virtudes heroicas. Conclui-se também essa com o relativo decreto. Promulgados os dois decretos (isto é, em relação às virtudes heroicas e em relação ao milagre) o Santo Padre decide a beatificação que é a concessão de culto público, limitado a um ambiente particular. Com a beatificação ao candidato cabe o título de Beato. Consultar ―Nota circa la procedura canonica delle Cause di Beatificazione e di Canonizzazione‖em:http://www.vatican.va/news_services/press/documentazione/documents/avvenimenti/canoni zzazioni-beatificazioni_nota-procedura_it.htmlAcesso: 16/05/13.

71 Apesar de regra, Woodward (1992, p. 201) informa que na beatificação da índia confessora dos E.U.A, Kateri Tekakwita (1656-1680), João Paulo II (1979-2005) dispensou o milagre. Embora ela tivesse vários milagres ao seu favor, a igreja dos E.U.A não estava equiparada no século XVII para proceder uma investigação capaz de estabelecer a validade do milagre.

72 As duas divisões de beatitude e santidade são os confessores e mártires. São processos distintos. Para os confessores é preciso provar as virtudes heroicas: virtudes teologais – fé, esperança, caridade, amor –, e as virtudes cardeais - prudência, justiça, fortaleza, temperança -. No caso de mártires deve ser provado à aceitação voluntária e sem resistência da morte corporal, e de todos os tormentos que a acompanharem, infligida por ódio à Fé ou à virtude cristã. Portanto, na regra da ―Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister‖, ou se é Mártir ou Confessor. Mas, em abril de 1987 o papa João Paulo II (1978-2005) beatificou a judia convertida ao catolicismo e morta no campo de concentração nazista em Auschwitz, Edith Stein, tanto como confessora como mártir. À época Edith Stein (1841-1942) era a primeira pessoa nos quatrocentos anos da Congregação para as Causas dos Santos que era ao mesmo tempo mártir e confessor. No caso, Edith Stein não precisaria mais de um milagre ocorrido por sua intercessão já que era também mártir. Outro caso semelhante é o do frade polonês Maximiliano Kolbe (1894-1941) morto também pelos nazistas em Auschwitz, dando a vida para salvar outro preso. Em 1971, o papa Paulo VI (1963-1978) havia beatificado este frade como confessor. Para sua causa de canonização os bispos alemães enviaram uma carta a Santa Sé para que Maximiliano Kolbe fosse canonizado também como mártir. Assim, João Paulo II (1978-2005) inclinado a aceitar a petição dos bispos alemães, proferiu as seguintes palavras na homilia de canonização de Kolbe em 1982: ―… em virtude da minha autoridade apostólica decretei que Maximiliano Maria Kolbe, venerado que era como Confessor a partir da Beatificação,

número de milagres para confessores e beatos mártires, ela não aborda a questão dos milagres para as canonizações coletivas de mártires. Explicando melhor: geralmente, mas não necessariamente, os mártires de determinada localidade ou circunstância são canonizados em conjunto. Como exemplo, usaremos a canonização dos mártires ―Andrea Kim e 102 companheiros‖ em junho de 1984. Nesta Nota não fica claro se um milagre atribuído a Andrea Kim canoniza todos os demais companheiros, ou se cada um de forma individual tem que realizar milagres. Em nossa opinião, acreditamos pela lógica, que um milagre canoniza os demais companheiros.

Após, a apresentação destes documentos, no item a seguir, abordaremos as regras e modos de proceder atuais para abertura de uma causa relativa a beatificação e canonização.