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Dos bancos da universidade ao tatame: experiências universitárias de Kim Xavier

4.4 Outras vivências na universidade: uso do tempo, relação com os estudos e experimentação

4.4.2 Relação com os estudos e experimentação universitária

4.4.2.2 Dos bancos da universidade ao tatame: experiências universitárias de Kim Xavier

À época da entrevista, encontrava-se em vias de defender seu TCC. De poucas palavras, das vivências e experimentações da universidade, a jovem estudante mencionou sua participação em projeto de iniciação científica e projeto de extensão, além da militância estudantil, a cujo movimento aderiu nas fases iniciais do curso: “Foi um período que, na greve dos discentes de serviço social eu participei muito ativamente das reivindicações, das manifestações nas ruas”.

Sobre a sua inserção na iniciação científica, Kim relatou que pesquisou sobre “os

campos de atuação do assistente social”. Concomitantemente, participava do curso de capacitação para os assistentes sociais da região, que foi oferecido por meio de um projeto de extensão. Na avaliação da estudante, esta experiência contribuiu significativamente para a sua

formação, em suas palavras, “porque por meio da pesquisa a gente estuda mais, acho que vai

mais a fundo em um determinado assunto. A partir desse projeto, também, eu comecei a escolher qual seria meu tema do trabalho final de curso”.

Kim revelou que durante sua graduação tentou absorver “o máximo de conhecimento e coisas boas que a universidade pode oferecer”. A estudante destaca que o ingresso na universidade possibilitou, além da aquisição de conhecimentos, o estabelecimento de relações de amizade, a participação em eventos internos e externos, a socialização em festas, entre

outros. Para Kim, ser jovem universitária “tem coisas boas e tem coisas ruins” e cabe a cada

É um universo totalmente diferente. Você passa a ver o mundo de outra forma. Você passa a conhecer realmente o que é cada manifestação, dá para entender um pouco. Eu vejo a vida hoje de uma forma literalmente diferente de como eu via a cinco anos atrás. Muitas transformações boas, outras ruins, coisas boas também aconteceram na minha vida por meio da universidade. Então, é uma experiência ótima.

Dentre as coisas boas de estar na universidade, Kim destaca a sua participação na extensão universitária que lhe abriu as portas de um novo mundo: o das artes marciais. Segundo a jovem, que atualmente é faixa preta em Taekwondo, sua aproximação efetiva com esta arte se deu um ano após o ingresso no curso de Serviço Social.

Eu comecei a praticar artes marciais por meio de um projeto da universidade, que o coordenador é o mestre Franco, ele era técnico-administrativo e começou com este projeto. Eu assistia muito filme de luta e ficava muito vidrada nos golpes, eu gostava muito. Na minha cidade, eu nunca tive a oportunidade de fazer, até porque lá não tem nenhum tipo de atividades marciais. Quando ele começou com esse projeto eu comecei a fazer, e me apaixonei muito pela arte marcial em si e pela filosofia e aí continuei. Logo depois de uns cinco meses ele mandou esse projeto e foi aprovado pela universidade e aí ele precisava de um bolsista. Eu fiquei como bolsista por um ano, eu pesquisava, interagia com os praticantes e também resolvia questões de reuniões, pesquisas de campo.

Segundo Kim (22 anos), sua experiência neste projeto foi enriquecedora, pois “oferece um leque de possibilidades que você achava que nem poderia alcançar”. A estudante relatou que realizou muitas viagens por meio do projeto, para participação em campeonatos, em cujas experiências conheceu outros competidores, fez amizades, além de ter exercitado o “ganhar e perder”, que fazem parte do processo de aprendizagem.

Kim também fez amigos na universidade, alguns oriundos da sua cidade de origem, que, todavia, conheceu no Campus; outros, conheceu no projeto de artes marciais, com os quais procura manter contato, visando não perder a amizade.

Sobre “as coisas ruins” de ser jovem universitário, Kim faz a seguinte ponderação: [...] eu acho que eles [muitos universitários] veem a forma de diversão na vida com uso de bebidas ou uso de algumas drogas. Nesses encontros que eu fui eu já presenciei muito. Teve amigos meus que chegaram a me oferecer mas eu recusei, porque para mim eu via que aquilo não iria me fazer bem, devido a tantos exemplos nos jornais, em novelas, que a gente vê o que acontece com os universitários... mas, eu respeito a opinião e a escolha de cada um, só que eu não quis experimentar e não quis fazer parte desse mundo que eles fazem e que veem que é melhor para eles e também se sentem felizes com isso. Durante sua graduação, articulava sua condição juvenil à condição de atleta, sem perder de vista sua condição estudantil. Kim relatou que antes de começar a viajar para

participação em campeonatos, viajou para um evento acadêmico na Universidade Estadual Paulista – UNESP Marília - SP, além do Encontro Regional dos Estudantes de Serviço Social em Montes Claros – MG e no Fórum Social Mundial local, em Salvador - BA. A jovem também

mencionou sua participação nas semanas acadêmicas do curso e em diversas palestras, “eu

procuro aproveitar o máximo quando é chamado um palestrante de fora ou até mesmo da universidade, para enriquecer minha formação quanto acadêmica também”.

A fase final de sua graduação foi marcada pela greve unificada e, em virtude da elaboração do seu TCC, de preparação para concurso público e para o exame a que iria se submeter no esporte – de obtenção da faixa preta –, a jovem relatou ter participado

superficialmente deste processo. “Não fui muito à universidade, nem participava muito das

reuniões [...] Então, como são exigidos muitos conhecimentos, muitas coisas, eu quase não participei deste movimento nacional que teve, por conta dessas questões aí”.

Kim (22 anos) afirmou estar satisfeita com seu curso de graduação, conquanto,

ressaltou que “tem momentos que, devido às contradições da profissão, o aluno pode ficar

frustrado, querer mudar e tal”. Questionada sobre a que contradições se referia, a estudante remeteu a questões relativas à articulação formação e inserção profissional, que emergem como ponto de preocupação:

[...] mesmo que a gente conheça a realidade e o que seria certo, muitas vezes, se formos empregados por instituições estatais a gente vai ter que trabalhar de acordo com o que eles querem. Senão, você pode correr o risco de ser mandado embora ou coisa assim. Sabemos que a gente tem que sobreviver, satisfazer as nossas necessidades básicas, então, para isso, a gente tem que ter algum tipo de trabalho.

Kim concluiu seu curso de graduação no mês de abril de 2013 e, atualmente, está atuando como professora de artes marciais em uma academia em Teófilo Otoni, ao mesmo tempo que se prepara para a seletiva das Olimpíadas de 2016 e para concurso público, por meio do qual pretende ingressar no serviço público.