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“No Vale do Mucuri o mundo se encontra. No mais profundo do seu chão repousa a pedra mais preciosa. É, porém, na mente e no coração de sua gente que mora a preciosidade maior. De maneira muito clara e objetiva várias culturas se misturam para formar a característica cultural que hoje o Vale representa. O sangue europeu, com forte presença em Teófilo Otoni, encontra-se com o indígena presente nas bandas de Machacalis. Por todos os cantos, há forte influência baiana dos retirantes que vieram buscar água e trouxeram um pouco de África. Esse caldeirão fervente de sopa cultural faz do Vale do Mucuri um grande canteiro de produção artística. Artesanato, música, poesia e folclore misturam-se com a vida de seu povo” (Miguel Canguçu, 2010).

No Vale do Mucuri, a ocupação e integração nacional dá-se por um processo retardado em relação ao Vale do Jequitinhonha: somente em meados do século XIX (OLIVEIRA, 2009). Remete à fundação de Santa Clara, em 1852, o primeiro núcleo de ocupação da região do Mucuri, no estado de Minas Gerais. Nos primeiros anos, a região recebeu trabalhadores, boa parte escravos, para abrir a estrada que ligaria o porto até Filadélfia, atual Teófilo Otoni (ACHTSCHIN, 2009). A presença de povos indígenas (primeiros habitantes), escravos africanos, crioulos, pelo movimento migratório do Jequitinhonha, de alemães, chineses, belgas, suíços e franceses (OLIVEIRA, 2009; SOUZA, 2010) – de culturas e interesses antagônicos– demarcaram as principais características da população local.

Atualmente, o Vale do Mucuri abrange uma área de 20.132,59 km2 a nordeste do estado de Minas Gerais. É composto por 23 municípios, com uma população total de 385.413 habitantes, dos quais 43,13% residem na área rural e 56,87% urbana, apresentando índice de população do campo muito superior ao índice nacional e estadual.

A distribuição populacional varia de 2.705 habitantes no município de Umburatiba, a 134.745 habitantes no município de Teófilo Otoni. No entanto, extraindo os dois municípios com maior contingente populacional na região– Teófilo Otoni e Nanuque, com 40.834 habitantes– a média de habitantes por município é em torno de 10 mil.

Em relação à população de 15 a 29 anos, estes somam 99.843 habitantes, representando aproximadamente 25,9% da população do Vale do Mucuri. O IDHM no Vale do Mucuri é 0,68, com variação de 0,57 em Setubinha a 0,74 no município de Teófilo Otoni; o IDHM Educação

varia 0,61 a 0,81 nos mesmos municípios; o IDHM Longevidade varia de 0,59 nos municípios de Bertópolis, Ouro Verde de Minas e Umburatiba a 0,75 em Pavão e Teófilo Otoni; em relação ao IDHM Renda, a variação é de 0,48 em Fronteira dos Vales a 0,68 em Nanuque.

No quesito educação, o Vale do Mucuri apresenta um percentual de 26,12% das pessoas de 15 anos ou mais não alfabetizadas. O município que apresentou o menor índice de analfabetismo nessa população é Teófilo Otoni, com 12,95%. Em Crisólita, foi identificado o maior índice de analfabetismo: 35% da população acima de 15 anos.

A taxa de frequência ao ensino fundamental é de 91,2%. Entretanto, o índice de frequência a esse nível de ensino na série adequada é de 68,25%. A taxa de frequência ao ensino médio é de 42,9% e o índice de frequência na série adequada nesse mesmo nível é de 35,7%. No que diz respeito à formação dos professores, dados do Atlas do Desenvolvimento Humano (2000) indicam uma média de 11,97% dos professores do ensino fundamental com formação superior. Os índices variam de 0,57% em Águas Formosas e 38,31% em Itambacuri.

Em relação aos equipamentos culturais– conforme Fundação João Pinheiro/IMRS (2012) – no Vale do Mucuri existem apenas 01 museu (no município de Machacalis), 05 teatros, 22 bibliotecas (exceto no município de Pavão) e 04 Centros Culturais10 e não há cinemas.

2.4.1 O município de Teófilo Otoni

O município de Teófilo Otoni – MG abriga o Campus do Mucuri e foi fundado em 1853 por Theofilo Benedicto Otoni. Desde a sua fundação, constituiu polo do desenvolvimento regional.

Distante aproximadamente 450 Km da capital, o município é cortado pelas rodovias BR116 – que liga a região sul ao nordeste do Brasil–, e MG 418 – que liga o estado de Minas Gerais à BR 101 nos estados da Bahia e Espírito Santo.

Segundo o IBGE, Censo (2010), Teófilo Otoni–MG tem uma população de 134.745 habitantes. Destes, 82% residem na área urbana e 18% na área rural; 52% da população são mulheres, que constituem maioria na área urbana; na área rural, os homens são maioria. A maioria da população teófilo-otonense é de pessoas pardas, 61%; pretos são 11% e brancos 26%. Cerca de 25% da população são jovens de 15 a 29 anos. No ano de 2009, o Censo Escolar

registrou 24.401 matrículas no ensino fundamental e 6.053 no ensino médio. Em 2010, o Censo revelou que 4.100 pessoas cursavam o ensino superior no município.

O município constitui o maior centro Brasileiro de Beneficiamento e Comercialização de Gemas e o terceiro centro mundial11, o que lhe rendeu o título de “Capital Mundial das

Pedras Preciosas”. Aproximadamente 45% da população regional depende do setor de gemas.

Em que pese significativo potencial econômico, o município apresenta um quadro social de profundas desigualdades. O rendimento médio mensal das pessoas de raça branca é de R$ 1.408,00; dos pardos R$ 814,00 e dos pretos R$ 695. Aproximadamente 67,1% da população tem um rendimento mensal domiciliar per capita nominal de até ½ salário mínimo (BRASIL/IBGE, 2010).

O comércio local é diversificado (variedades, vestuário, móveis, ferragens, construção civil, alimentação, hipermercados etc.), com forte presença de comercialização agrícola. O município possui um Mercado Central, no qual são comercializados produtos típicos da região. Nesse mercado há um restaurante popular, que servia refeições a R$ 2,00. Promessa de campanha do primeiro mandato (2005 – 2009) da então prefeita, Maria José Haueisen, o restaurante só foi inaugurado às vésperas da última eleição no município, em outubro de 2012. O Restaurante Popular foi fechado em janeiro de 2013, quando o prefeito eleito Getúlio Neiva, oposição ao governo anterior, assumiu o mandato.

O município dispõe de algumas praças públicas localizadas em bairros centrais. A principal– Praça Tiradentes– é conhecida por abrigar a maior população urbana de bichos- preguiça (animais característicos da mata atlântica), que habitam suas árvores centenárias. Nessa praça há um pequeno anfiteatro ao ar livre, no qual são realizadas diversas atividades culturais e um memorial da estrada de ferro Bahia-Minas, representado pela Maria Fumaça, um coreto e uma fonte luminosa musical. A cidade de Teófilo Otoni tem, ainda, uma praça de esportes, não tem cinema e o único teatro em funcionamento é privado.

Teófilo Otoni conta com cerca de oito grupos teatrais (dois universitários – UFVJM). Desde 2008 vem esboçando iniciativas de diferentes grupos culturais (música, dança, hip hop, teatro, poesia). Grupos musicais de vários estilos ganham atenção do público, os mais concorridos estão classificados como Axé; outros menos disputados trabalham com jazz, MPB, rock e música regional (SILVA; BENTO, 2008). Não há por parte do poder público política cultural nem ações ou projetos efetivos para o fomento à fruição e produção artísticas e

culturais. Em 2011 essas iniciativas ganharam maior expressividade estimuladas, sobretudo por um movimento de valorização da identidade cultural do Vale do Mucuri. Nessa direção, a

Campanha “Sou do Mucuri e me orgulho disso” iniciada na UFVJM promoveu, em parceria

com artistas e produtores culturais locais, o I Sarau Cultural da UFVJM/Campus do Mucuri. Como continuidade das ações de valorização da identidade mucuriana, em dezembro de 2011

foi realizado o “I Beco das Cultura”, uma proposta de virada cultural no município, abarcando

diversas expressões culturais que, em dezembro de 2012, terá sua segunda edição. Em junho de 2012 foi realizado o I Festival de Teatro de Teófilo Otoni – FESTTO, em comemoração aos 05 anos do Grupo In Cena de teatro, cuja proposta é de continuidade, visando a compor o calendário de eventos do município. Outras ações como mostras de cinema e saraus literários também vêm sendo realizadas com frequência no município, protagonizadas por jovens que, paulatinamente, vão contribuindo para a entrada da cidade no cenário cultural do estado de Minas Gerais.