• Nenhum resultado encontrado

Dos anos 1940 ao começo dos anos 1960, o conjunto de instituições habitacionais mexicanas produziram cerca de 121 mil

produção habitacional.

44 Dos anos 1940 ao começo dos anos 1960, o conjunto de instituições habitacionais mexicanas produziram cerca de 121 mil

unidades habitacionais

apít

u

lo

nal se agravava de maneira permanente e o direito à moradia ainda era uma simples aspiração”

(SILVA-HERZOG F., 2014: 13).

O PFV beneficiou majoritariamente a classe média (PUEBLA CADENA, 2002: 39-40) e a baixa representatividade dos números acima descritos pode ser compreendida através da leitura que faz o primeiro presidente do INFONAVIT: no México, até os anos 1970, inexistia uma indústria da construção estruturada (SILVA-HERZOG F., 2014: 13), de modo que estava se disponibilizando crédito para compra sem que houvessem imóveis a serem comercializados (ibidem, p. 41). Assim, estes fundos públicos tiveram grande impor- tância para a estruturação da forma de produção de mercado da habitação, com o desenvol- vimento de agentes vinculados ao capital produtivo no setor da construção de moradias no México – o que, de certa forma, também aconteceu no Brasil.

Neste período, no Brasil, enquanto um governo ditatorial de corte militar se instalava e se preparava para implantar um regime que violaria os direitos humanos de milhões e sus- penderia os direitos políticos de toda a população durante décadas (1964-1985), o tema da moradia foi tomado como o mote de uma política econômica capaz de agradar os setores mé- dios da sociedade, em grande parte apoiadores do novo regime, além de apresentar-se como uma política social e de constituir-se “como uma resposta ao desemprego em tempos de recessão” (FIX, 2011: 144). Era importante para o novo regime sinalizar que estava atendo às reivin- dicações sociais, que ganharam corpo através das primeiras mobilizações dos movimentos de reforma agrária e urbana no Brasil no governo de João Goulart (AZEVEDO, ANDRADE, 1982: 57), e o lançamento de uma política habitacional no governo de Castelo Branco (1964- 1967, Aliança Renovadora Nacional, ARENA) cumpriria esse papel de ser “força amenizado-

ra e balsâmica sobre as feridas cívicas” (ibidem, idem) ainda que estes movimentos viessem a ser

sufocados nos anos seguintes. No plano econômico, o país vivia o seu “milagre” (1960-1970), quando o PIB nacional “cresceu a taxas anuais bastante elevadas, saindo de 4,2% para 1967 e

chegando em 14% em 1973” (CARVALHO, CALDEIRA, 2013).

É nesta conjuntura política, econômica e social que o governo brasileiro criou, através da Lei Federal 4.380, de 1964, o Sistema Financeiro da Habitação (SFH), o Banco Nacional da Habitação (BNH), o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau), as Sociedades de Crédito Imobiliário (SCI) e as Letras Imobiliárias. Ao BNH, cabia a função de orientar,

76

disciplinar e controlar o SFH e, durante os dois primeiros anos, trabalhou com um capital inicial de um milhão de cruzeiros (AZEVEDO, ANDRADE, 1982: 61), advindos do reco- lhimento do equivalente a 1% do montante das folhas de pagamento de todos os trabalha- dores formais do país (Art. 22 da Lei Federal 4.380/1964). O Serfhau foi criado a partir da estrutura e do patrimônio da antiga Fundação Casa Popular (Art. 54 da referida Lei) e as SCI são sociedades anônimas de perfil financeiro que concedem crédito imobiliário e fazem parte do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), junto com as Caixas Eco- nômicas e as Associações de Poupança e Empréstimo. A Lei também instituiu a correção monetária, sendo a primeira vez que passa a ser aplicada sobre financiamentos imobiliários.

Nos dois primeiros anos de funcionamento do SFH, houve escassez de recursos para viabilizar as operações de financiamento imobiliário. O problema foi resolvido dois anos mais tarde, com a Lei Federal 5.107 de 13 de setembro de 1966, que instituiu o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), fundo que deveria recolher em contas individuali- zadas em nome do trabalhador ou da empresa o equivalente a 8% das folhas de pagamento de todo trabalhador formal do setor privado. Com o FGTS, superou-se “a escassez de recursos

que ameaçavam a política habitacional em seus dois primeiros anos” (AZEVEDO, ANDRA-

DE, 1982: 67), passando a ser sua principal fonte de recursos. O SFH atuou – e continua atuando, porque o Sistema ainda existe – concedendo crédito habitacional para famílias de baixa renda com recursos do FGTS, e para famílias de renda mais alta, através do SBPE. O SFH era operado pelo Banco Nacional da Habitação (BNH) até que este foi fechado, em 1986, quando o sistema começou a ser administrado pela Caixa Econômica Federal (“Caixa”, CEF), Banco Central do Brasil e Ministério da Fazenda – e segue o sendo até hoje.

Logo de imediato, a política existente na época da Fundação Casa Popular, que consis- tia na outorga de subsídios diretos à demanda, foi deliberadamente abandonada das linhas de financiamento habitacional, com a justificativa de evitar o clientelismo e o populismo daquela Fundação que marcou as primeiras experiências do Estado como formulador de política habitacional no país, nos anos 1940 e 1950 (AZEVEDO, ANDRADE, 1982: 64). Originalmente, com o BNH, as linhas e os agentes de financiamento variavam de acordo com a faixa de renda familiar: o chamado “mercado popular” atendia as famílias de 0 a

apít

u

lo

3 salários mínimos45 de renda mensal, com financiamento do FGTS via Companhias de Habitação (COHABs) – ver Figura 4 – estaduais e municipais; o “mercado econômico” financiava a aquisição da casa própria de famílias cuja renda se concentrava entre 3 a 6 salá- rios mínimos, por cooperativas habitacionais sem fins lucrativos, normalmente organizadas por categorias profissionais, que se dissolviam após as obras; o “mercado médio”, concedia crédito para famílias de renda superior a 6 salários mínimos através de agentes financeiros privados, como os agentes do SBPE, as Sociedades de Crédito Imobiliário, as Caixas Eco- nômicas e as Associações de Poupança e Empréstimo (ibidem, p. 65).

Pela Lei Federal 4.380/1964, ao BNH não se atribuía nenhuma ação da ordem de promoção, construção ou comercialização de unidades habitacionais, exceto em terrenos públicos ou que fossem doados ao Banco com a finalidade de produção de habitação social. Conforme disposto pelo parágrafo único do Artigo 17 da referia Lei,

o Banco Nacional da Habitação operará exclusivamente como órgão orientador, disciplinador e de assistência financeira, sendo-lhe vedado operar diretamente em financiamento, compra e venda ou construção de habitações, salvo para a venda dos terrenos referidos no artigo 26 ou para realização de bens recebidos em liqui- dação de garantias 46.

45 Azevedo e Andrade (1982) informam que, posteriormente, foram alterados para 0 a 5 salários mínimos de renda mensal.