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Portaria 168, de 2013, publicada pelo Ministério das Cidades.

interesse social, o mercado e o capital financeiro

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fiGura 8 Conjunto ha- bitacional produto da pro- dução de mercado da habi- tação social, financiado por FOVISSSTE, INFONA- VIT e SOFOLES hipote- cárias. Localizado na beira da estrada, em área deserta e não urbanizada, a cerca de 60km ao norte da Cida- de do México. Fonte: foto do autor, janeiro de 2015.

fiGura 9 Tipologia produzida no conjunto supracitado, de promoção privada e financiado pelo INFONAVIT, FOVISSS- TE e SOFOLES hipote- cárias. Fonte: foto do autor, janeiro de 2015.

fiGura 10 Empre- endimento de habitação social produzido através do programa MCMV em Manaus. Fonte: acervo La- bQuapá-FAUUSP. C apít u lo 4

dições de acumulação, como ensina Harvey. A nova fase de hegemonia financeira (nos termos de DUMENIL & LEVY, 2005) se manifesta, com profundas transformações na produção e na política; a financeirização das políticas, dos serviços, dos bens essenciais à vida é, justamente, um dos pilares dessas transformações. As formas como essa influência é exercida em cada território varia de acordo com as conformações politicas e a correlação de forças locais face às pressões nacionais e multilaterais.

Apesar da diferença entre programas políticos aqui analisados na última década, seja com o México de intensificação neoliberal, seja com o Brasil novo desenvolvimentista e lulista, ambos países implantaram políticas habitacionais que, ao cabo, dirigem-se em velo- cidades distintas para privilegiar os interesses do capital e garantir sua reprodução na esfera imobiliária. Afinal, a “mobilização das riquezas fundiárias e imobiliárias (...) [é] uma das grandes extensões do capitalismo financeiro” (LEFEBVRE, 2008: 71).

No México, pelo exposto, vimos que a financeirização da política habitacional, até agora, ocorre de maneira mais completa que no Brasil, e, por isso, lá, a moradia é muito mais negociada como um ativo financeiro, o que contraria a visão da habitação como di- reito constitucional do cidadão. No Brasil, a forte presença de subsídios diretos à demanda para produção de moradias para população de baixa renda e o fato de não ter decolado o Sistema de Financiamento Imobiliário, configuram uma situação menos financeirizada, mas ainda fortemente sujeita aos interesses e às decisões dos agentes privados. No México, os instrumentos financeiros criados como forma de viabilizar a aquisição da casa própria pelas famílias que compõem o déficit habitacional atingem primordialmente as camadas médias da população; “tanto o mercado como o Estado sempre excluíram os mais pobres – seja no setor formal ou no informal – do acesso ao financiamento habitacional” (SOE- DERBERG, 2014: 2). Por outro lado, a securitização das hipotecas fragiliza a população mais pobre, que deveria ser a mais acolhida pelo poder público.

Na era da acumulação financeira na periferia do capitalismo, o fundo público ainda é a principal fonte de recursos. O capital financeiro vê nesses fundos (SFH, FDS, FAR, no Brasil, e INFONAVIT, FOVISSSTE e SHF, no México) uma grande oportunidade de auferir lucros. Mas ele atua também no setor privado, tornando-se proprietário acionista de

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empresas construtoras, forçando-as a produzir mais e em ritmo contínuo, o que contribui muito para a criação de um espaço fragmentado e não urbano.

Nesse sentido, se por um lado essas experiências mais recentes permitiram a entra- da de alguma parcela da população até então excluída do mercado habitacional formal, diversos autores apontam críticas aos resultados urbanos, metropolitanos, tipológicos e morfológicos destes programas, com destaque para o estímulo que causam no aumento do preço da terra e na segregação sócio-espacial (CAVIERES, 2006; HERNÁNDEZ, 2006; ROLNIK, NAKANO, 2009; ARANTES, FIX, 2009; CARDOSO, 2013). Esses efeitos secundários dessas políticas indicam também os problemas decorrentes do aquecimento do mercado que as políticas públicas provocam: ao dinamizarem o mercado da construção, elas aumentam o preço da terra, elevam o preço do aluguel, o que fez, no caso brasileiro, aumentar o déficit habitacional nas principais regiões metropolitanas. A segregação so- cioespacial também é traço marcante e comum deste tipo de produção do espaço, gerando sérios impactos ambientais, sociais e metropolitanos, o que não é, nem de longe, uma preo- cupação deste novo agente (capital financeiro) que atua no financiamento das empresas ou na especulação de papeis lastreados em hipotecas residenciais – para ele, a produção tem de ser contínua, crescente e lucrativa.

A priorização da solução habitacional através da produção de unidades novas, reduz a complexidade da questão habitacional ao mero incentivo à produção imobiliária, o que acaba por gerar novos problemas habitacionais, como o aumento do déficit, o abandono de unidades habitacionais, a não inclusão de setores sociais incapazes de assumirem dívida de longo prazo, o abandono de obras de urbanização em assentamentos informais, a não solução da precariedade das moradias locativas, a não criação de programas habitacionais que não sejam pautados na viabilização da aquisição da casa própria. A não articulação da política habitacional à de desenvolvimento urbano tem gerado impactos ambientais, habi- tacionais e desequilíbrios urbanos onerosos para a coletividade. Refletindo sobre a nova

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feição que a política habitacional mexicana vem adquirindo desde 2001, cuja similaridade ao caso brasileiro nos permite estender sua colocação, Maria Teresa Hernández afirma:

a nova política habitacional atribui às empresas construtoras o papel de constituírem-se como coluna vertebral sobre a qual se apóia o conjunto da atividade produtiva. Para tanto, o Estado deve criar as condições que facili- tem o funcionamento das empresas privadas (HERNANDEZ, 2006: 88). 

A atual conjuntura política internacional, nos coloca diante de um impasse sobre os rumos que serão dados às políticas sociais. Percebemos uma intensificação da agenda ne- oliberal em diversos momentos políticos. No Brasil, reformas próprias ao neoliberalismo vem ocorrendo – como a revogação de direitos trabalhistas, a terceirização do trabalho, a política de austeridade econômica, discute-se a redução da maioridade penal, a priva- tização do sistema carcerário –, assim como no México – discute-se a lei que privatiza a água, a retirada de programas de apoio financeiro à campesina... A forma como as políticas habitacionais de interesse social serão conduzidas doravante nos pede atenção. Na era da acumulação financeira, o espaço metropolitano se consolida como lócus de reprodução do capital e de disputa pela extração de renda e mais-valia. A habitação, nesse contexto, para além de mercadoria, assume papel de ativo financeiro e as políticas habitacionais veículos de expansão do capital. Afinal, “a entrada da construção no circuito industrial, bancário e financeiro foi um dos objetivos estratégicos do último decênio” (LEFEBVRE, 2008: 71, em texto original de 1972).

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