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Neste ponto, o Estado mexicano obteve maior sucesso que o brasileiro, como veremos no capítulo 4.

da produção de mercado da habitação

31 Neste ponto, o Estado mexicano obteve maior sucesso que o brasileiro, como veremos no capítulo 4.

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O capital financeiro, assim, embora expanda sua fronteira de atuação ao setor imobili- ário, não atua como agente da produção direta, mas como mais um dos controladores eco- nômicos indiretos do processo produtivo. Sua atividade, enquanto capital portador de juros,

restringe-se ao empréstimo e ao retorno, mediados apenas pelo tempo. (...) No intervalo, o dinheiro emprestado, investido na produção ou na circulação, funcio- na de fato como capital e realiza todo o seu ciclo de reprodução. Assim: ‘o mesmo

capital aparece sob duplo aspecto, como capital de empréstimo nas mãos do prestamista e como capital industrial ou comercial nas mãos do capitalista-empresário. Mas, uma vez só, funciona e produz lucro. No processo de produção, o capital na qualidade de capital de empréstimo não desempenha papel algum’ (Marx, O Capital, Livro III, p. 483-4)

– (COTRIM, 2012: 139).

Portanto, o capital financeiro, capital portador de juros, se valoriza através do “emprés-

timo ou aluguel de capital, mais precisamente, de dinheiro por sua possibilidade de se fazer capital”

(COTRIM, 2012: 137). Para o seu proprietário – seja o investidor que atua no mercado de títulos financeiros lastreados em hipotecas, seja o investidor que aplica no mercado acioná- rio, por exemplo – este capital jamais abandona a forma de dinheiro. Mas, do ponto de vista do capital social, a valorização se realiza na esfera produtiva, por meio da produção e venda de mercadorias – moradias, vendidas no livre mercado, neste caso –, que criam e realizam a mais-valia.

Para as duas interfaces entre o capital financeiro e o capital imobiliário na produção da moradia, a dimensão da intervenção visando remuneração por juros através de empréstimo nos parece aplicável: Marx expõe a relação necessária entre a valorização do capital a juro e os capitais produtivo e de circulação, mediada pelos mecanismos financeiros. Sobre a origem da remuneração por juros, Marx escreve:

quando, nessa mediação técnica da circulação de dinheiro, o capital-dinheiro for adiantado por categoria especial de capitalistas – um capital que representa, re- duzindo a escala, o capital adicional que, não fora essa ocorrência, os próprios co- merciantes e os capitalistas industriais teriam de adiantar para esse fim –, temos, também aí, a forma geral do capital D – D’. Ao adiantar D, quem o desembolsa obtém D + ∆D (MARX, O Capital, Livro 3, p. 429, Apud COTRIM, 2012: 136).

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Pensando nas duas formas de atuação que esta “categoria especial de capitalistas” – que aqui chamamos de capital financeiro – tem assumido em relação à produção e à circulação da habitação, temos as seguintes formas de obtenção de ∆D referida por Marx:

• no caso da associação entre capital financeiro e capital imobiliário no mercado de capitais: investidores investem seu capital na aquisição de ações das em- presas listadas nas Bolsas de Valores, esperando se apropriar de uma parcela do lucro que será obtido após a produção e venda das moradias, remuneração esta que virá transfigurada sob a forma de dividendos ou juros, ou mesmo da atividade propriamente especulativa de compra e venda de ações cujos valores nominais variam no tempo;

• no caso do capital financeiro que especula com títulos hipotecários no mercado secundário: o capital financeiro funciona como capital de empréstimo conce- dido à securitizadora ou ao fundo público, na forma de um adiantamento de um valor futuro lastreado na propriedade privada da casa (ou na alienação fi- duciária), que é remunerado através da expectativa dos juros que serão obtidos a partir de seu investimento com esses papeis – juros que serão mais altos quanto maior for avaliado o risco da operação financeira (AALBERS, 2012: 10).

Em 1982, Jaramillo discorria acerca dos capitais de circulação que se associam à indús- tria da construção com o objetivo de viabilizar a organização da produção: “podem tomar a

forma de capital bancário ou outros capitais financeiros, fundos de pensão e instituições canaliza- doras de prestações sociais, inclusive fundos públicos que em geral são regidos para sua remuneração pela taxa de juros” ( JARAMILLO, 1982: 156). No entanto, fenômeno novo ocorre nas últi-

mas décadas do século XX, com a ascensão do neoliberalismo: a mundialização dos capitais (CHESNAIS, 2006), que se expandem em novos ramos de aplicação pela via dos mecanis- mos financeiros. A partir dos anos 2000, o capital proveniente dos mercados financeiros na- cionais e internacionais busca no imobiliário local um lugar para expandir sua reprodução.

Essa transformação no setor imobiliário facilitará o avanço dos capitais finan- ceiros que buscam ganhar com a valorização dos imóveis e, em parte, garantem a superação da barreira colocada pela propriedade fundiária, rivalizando com os proprietários de terra os ganhos da renda (RUFINO, PEREIRA, 2011: 76)

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e passam a desempenhar controle econômico indireto. Assim, “o ‘imobiliário’ – como se diz ainda entre nós – se mobiliza, ou seja, torna-se riqueza mobiliária, arrastada no fluxo das trocas, no fluxo e no refluxo do dinheiro e do capital” (LEFEBVRE, 2008: 153).

Da mesma forma que o capital de circulação representado pelo agente promotor imo- biliário exigia seu tributo ao capital produtivo (construtora), o capital financeiro também exigirá sua remuneração do agente promotor imobiliário (e de toda a cadeia de agentes que compõem o circuito imobiliário, por sua vez) e, consequentemente, será este o agente a se apropriar “da maior parte da mais-valia aí produzida” ( JARAMILLO, 1982:155). Exerce com isso um papel dominante na fusão que caracteriza o capital imobiliário.

(...) a grande mobilidade de capitais internacionais vinculada ao caráter liberal das políticas de planejamento e gestão urbana resultou em uma intensificação da produção imobiliária, processo que passa a aparecer como um dos fatores de- terminantes na reestruturação destes espaços (RUFINO, PEREIRA, 2011: 68).

Assim, a atuação do capital financeiro no circuito de produção do espaço será regula- mentado por outro agente, o Estado.

2.2.3

O Estado como um dos agentes que exercem

o controle econômico indireto

Ao estudar a forma de produção de mercado, Jaramillo faz poucas citações diretas à figura do Estado, citações que parecerão com muito mais importância quando o autor examina os agentes envolvidos na produção estatal do espaço construído. No entanto, para a forma de produção que analisamos nesta dissertação, Jaramillo cita os organismos de planifica- ção urbana e mecanismos financeiros como dois dos agentes que desempenham o controle econômico indireto32. Entendendo o Estado tanto como agente que regula o uso do solo e as formas de propriedade, como aquele que cria os fundos públicos, influencia o mercado financeiro a partir das diretrizes estabelecidas para a política financeira, entre outros aspec- tos, consideramos que o Estado como o entendemos poderia ser inserido na categoria dos