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O que já fizemos em estudos anteriores, cf CARVALHO, 2010, 2011, 2013, 2015.

da habitação e do espaço construído

25 O que já fizemos em estudos anteriores, cf CARVALHO, 2010, 2011, 2013, 2015.

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da subordinação da construtora, que representa o capital produtivo e controla diretamente os meios de produção.

• a quem cabe o controle econômico indireto: aos sistemas de financiamento habita- cional e imobiliário, ao Estado, aos proprietários de terra, ao capital financeiro. Como descrevemos anteriormente, Samuel Jaramillo não propõe que essas categorias sejam estanques, inflexíveis, e tampouco o fazemos aqui. Existem especificidades locais que podem determinar alterações nas relações e nas funções exercidas por cada categoria de agente no circuito de produção; além disso, podem ocorrer mudanças nos papeis desem- penhados pelos mesmos agentes com o passar do tempo, adaptando-se às novas condições econômicas, ou especializando-se na produção habitacional para um mercado específico. Ainda, é preciso colocar que a tese de Jaramillo sobre a qual nos apoiamos neste capítulo foi escrita em 1982 e, de lá pra cá, a forma de mercado da produção habitacional sofreu gran- des transformações. Essas transformações serão objeto específico dos capítulos 3 e 4 desta dissertação; porém, faz-se necessário destacarmos algumas delas aqui, para que fique clara a leitura que propomos sobre as formas de organização dos agentes da produção habitacional, à luz da tese de Jaramillo.

No final dos anos 1970 e início da década de 1980, portanto no momento histórico da redação da referida tese, a conjuntura político-econômica mundial sofreu grandes transfor- mações, com a ascensão do neoliberalismo e da nova fase de hegemonia financeira, também chamada de “mundialização dos capitais” (CHESNAIS, 1996). Essas transformações po- líticas e econômicas alteraram, também, a cadeia produtiva da habitação e do imobiliário. Como descreve Lúcia Shimbo,

no contexto dos países centrais do neoliberalismo, a proliferação de novos ins- trumentos financeiros e o processo de desregulamentação dos mercados, desde a crise da década de 1970, resultou na transformação das estruturas produtivas do setor financeiro e imobiliário (SHIMBO, 2010: 98).

A onda neoliberal chegando até os países periféricos induziu também modificações na forma de produção de mercado da casa. Transformações na forma de ação do Estado, em

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associação à chegada de novos atores (o capital financeiro), contribuíram para que as cidades fossem reafirmadas como lócus central da reprodução capitalista.

No decorrer da década de 1990, a ampliação da disponibilidade de capital para o setor da indústria da construção, em grande parte explicada por sua articulação com o setor financeiro, permitiu a aceleração da produção imobiliária, induzindo a uma reorganização dos agentes envolvidos na produção de mercado (RUFINO, PEREIRA, 2011b: 72-73).

Novos agentes, novas relações de produção. Contudo, na forma de produção de merca- do, são mantidas as formas de controle, ainda que parte delas possa ser atribuídas a agentes novos. Uma dessas modificações já tinha sido identificada pelo próprio Jaramillo (e por Topalov e diversos outros autores que escrevem sobre o tema entre o final dos anos 1970 e o início dos 1980): o surgimento do “promotor imobiliário”. Ao discorrer sobre as barreiras que o capital encontra para se reproduzir na indústria da construção (dificuldades como tempo de circulação excepcionalmente grande, dependência do espaço construído do solo urbano, vulnerabilidade face às incertezas da conjuntura econômica e escassez de demanda solvente), Samuel Jaramillo indica o surgimento da figura do promotor imobiliário como uma alternativa encontrada pelo setor da construção para prover capital de circulação in- dependente do capital produtivo em si (este que seria representado pelas construtoras). Assim, é este o “capital de circulação que assume o controle econômico da produção, deslocando

desta posição o capital propriamente produtivo, o qual se vê reduzido ao mero controle técnico da produção” ( JARAMILLO, 1982:194). A essas duas categorias de agentes representantes do

capital atuante na produção imobiliária, chamamos aqui de “capital imobiliário”, categoria que reúne o capital produtivo e industrial ao capital que surge no final dos anos 1970 com a função de alimentar a produção com capital circulante independente.

O amplo aporte de capital financeiro no final da década de 1990 e, sobretudo, na primeira metade dos anos 2000, no Brasil e no México – e na cena internacional, já que no contexto da mundialização de capitais o fenômeno é sistêmico (cf. por exemplo, FIX, 2011, para os Estados Unidos; CARVALHO, 2010, 2011, para a França; VALENZUELA, 2015, para o México; ROLNIK, 2012, 2015, para diversos países; entre outros autores), trará também uma modificação importante neste cenário: este capital, buscando campos de investimentos alternativos para sua reprodução, se associa ao capital de circulação detentor

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do controle econômico direto da produção, atendendo a uma necessidade deste por novas fontes de capitalização. O capital financeiro impõe transformações na estrutura organiza- cional das empresas, de modo a viabilizar sua participação injetando recursos vultosos tanto na produção como na aquisição de terrenos, liberando, assim, ao menos momentaneamente, a limitação desempenhada pela propriedade privada da terra para a reprodução do capital.

Assim, além do Estado, também o capital financeiro participará da produção do espa- ço construído atuando na categoria de agentes que desempenham o “controle econômico indireto”, proposta por Jaramillo. Aqui cabe um esclarecimento: sendo essas categorias te- óricas de análise, embora a natureza destes dois agentes (Estado e capital financeiro) sejam completamente distintas, ambos desempenham um papel que interfere indiretamente na produção, mesmo sem atuarem diretamente na produção. Veremos isso com mais cuidado para cada agente a seguir.

Partindo deste marco teórico, e destas considerações, propomos para este capítulo, e para a dissertação como um todo, o estudo de três agentes que atuam na forma de produção de mercado da habitação: o capital imobiliário (cujos agentes podem exercer o controle téc- nico ou o controle econômico direto), o capital financeiro (que exerce o controle econômico indireto) e o Estado (que também exerce o controle econômico indireto).

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análise de três categorias de agentes