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2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 DO CONCEITO MEIO AMBIENTE

3.1.2 Dos princípios ambientais

Os princípios desempenham papel de extrema relevância no âmbito jurídico não só auxiliando na valoração, interpretação e argumentação das normas vigentes, mas possuindo valor normativo, pois também possuem o condão de regular o caso específico, porém atuam como balizadores para as normas que se seguirem. É por isso que Bandeira de Mello diz que violar um princípio é muito mais grave que

63 GUIMARÃES, Glauco Leonardo Evangelista. GERENCIAMENTO DO RISCO SOCIOAMBIENTAL

NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS NO BRASIL. 2015. Dissertação (Mestrado) - Curso de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasilia - Unb, Brasília, 2015. Disponível em:

<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/20059/1/2015_GlaucoLeonardoEvangelistaGuimar%C3%A 3es.pdf>. Acesso em: 29 set. 2018.p. 38.

64 OSINI, Maria de Fátima; CRUVINEL, Elvira. Boletim Responsabilidade Social e Ambiental do

Sistema Financeiro: A Responsabilidade Socioambiental dos Órgãos Regulados e do Banco Central do Brasil. Brasilia: Banco Central do Brasil, 2007. Disponível em:

do que ofender um mandamento específico, porque significa desobedecer a todo sistema de comandos, desrespeitando seus valores fundamentais65.

Isso posto, necessário afirmar que os princípios que regem este bem de uso comum de todos, que é o meio ambiente, estão voltados para finalidade básica de proteger a vida, em qualquer forma que esta se apresente, e garantir um padrão de existência digno para os seres humanos desta e das seguintes gerações66.

Viver em um ambiente não poluído é um direito humano fundamental, devidamente reconhecido pela ordem internacional predominante, constituindo o princípio do direito humano fundamental. Tanto isso se verifica, que foi reproduzido nos princípios 1 e 2 da Declaração de Estocolmo sobre o meio ambiente, onde, o princípio 1 reconhece que o homem tem direito a um meio ambiente de qualidade que lhe permita levar uma vida digna e com bem estar; já o 2 estabelece que os recursos naturais da terra, incluído o ar, a água, a flora e a fauna devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras67.

Consignou-se na Declaração de Estocolmo de 1972 que a intervenção estatal para defesa do meio ambiente não se trata de uma liberalidade, mas sim de uma obrigação. Assim, o Princípio da Intervenção Estatal Obrigatória na Defesa do meio ambiente trata justamente da obrigatoriedade do ente estatal defender este bem jurídico tão importante que é o meio ambiente68.

E esse princípio ganha ainda mais importância se analisado à luz da Constituição Federal Brasileira que atribuiu à União, aos Estados e aos Municípios competências ambientais administrativas e legislativas, objetivando dar mais proximidade entre o Estado e o destinatário da norma, através de seus entes que

65 MELLO, 1980 apud FARIAS, Talden Queiroz. Princípios gerais do direito ambiental. Rio Grande:

Âmbito jurídico, dez 2006. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1543>. Acesso em 28 out. 2018.

66 ANTUNES, 1998 apud SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos

recursos naturais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

67 SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos recursos naturais. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2004. p. 408.

68 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito

Ambiental, n. 2, p. 50, abr. 1996. Disponível em:

compõem a federação e possibilitando inclusive que se exija através das vias judiciais que os entes federados cumpram seus deveres na proteção do meio ambiente69.

Também encontra respaldo na Declaração de Estocolmo e na Constituição Federal Brasileira, o princípio da Prevenção, igualmente previsto pela lei 6.938/81. Este princípio determina que as ações que causem prejuízos de ordem ambiental devem ser cessadas, ou substituídas, antes que não se tenha mais condições de neutralizá-las e as consequências sejam irreparáveis70.

O princípio do Equilíbrio está ligado a uma ideia de sustentabilidade, ou seja, permitir o desenvolvimento social e econômico, porém, em equilíbrio com a preservação deste bem jurídico de todos que é o meio ambiente71.

Também, na busca por esse equilíbrio, tem-se o princípio do limite, que impõe à Administração Pública que fixe parâmetros a serem observados em casos de emissão de partículas, ruídos, sons, destinação de resíduos e outras balizas para que se alcance o desenvolvimento sustentável72.

Porém, caso um Estado soberano esteja buscando o desenvolvimento sustentável, seu esforço pode ser prejudicado pela atuação de outro Estado soberano menos consciente. E, a partir desta problemática, tem-se o princípio da Cooperação Internacional, integrado pelo compromisso (i) de um estado informar ao outro as situações críticas capazes de causar prejuízos que transpassem a fronteira; (ii) consultarem-se mutuamente acerca de projetos que podem prejudicar os países vizinhos; (iii) auxílio mútuo em caso de degradação e desastres sérios que assolem os países; e (iv) impedir a transferência de um Estado para outro de atividades de degradação ambiental grave e que sejam prejudiciais à saúde humana73.

69 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito

Ambiental, n. 2, p. 50, abr. 1996. Disponível em:

<http://www.direitoambiental.adv.br/ambiental.nsf/Ref/PAIA-6SRNQ8>. Acesso em: 28 out. 2018.

70FARIAS, Talden Queiroz. Princípios gerais do direito ambiental. Rio Grande: Âmbito Jurídico,

2006. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1543>. Acesso em 28 out. 2018.

71 SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos recursos naturais. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2004. p. 413.

72 FARIAS, Talden Queiroz. Princípios gerais do direito ambiental. Rio Grande: Âmbito Jurídico,

2006. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1543>. Acesso em 28 out. 2018.

73 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito

Ambiental, n. 2, p. 50, abr. 1996. Disponível em:

Esses compromissos de comparação encontram respaldo tanto na Declaração de Estocolmo, quanto na Rio 92, que, embora resguardem expressamente a soberania de cada Estado, enfatizam a responsabilidade dos países de cuidar para que suas atividades internas não causem danos ambientais aos outros países e ao globo terrestre com um todo74.

Quanto ao princípio do poluidor pagador, tem-se o conceito dado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) para este princípio:

“O Princípio do Poluidor-Pagador” foi citado pela primeira vez em um documento legal na “Recomendação do Conselho sobre Princípios Orientadores Relativos aos Aspectos Econômicos Internacionais das Políticas Ambientais”, elaborada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), que o definiu nos seguintes moldes: “O princípio que se utiliza para alocar os custos das medidas de prevenção e controle da poluição é chamado Princípio do Poluidor-Pagador”. (OECD, 1989)75.

Sendo assim, não se trata de uma punição, nem uma permissão para poluir, mas sim da obrigação do agente de internalizar o custo ambiental gerado por sua atividade, custo este que não deve ser suportado pelo poder público, ou pela sociedade. Em verdade, até mesmo o termo poluidor não reflete a abrangência do princípio, pois este não se refere somente à poluição que pode ser causada pelo agente, mas a degradação ambiental como um conceito mais abrangente76.

O Princípio de informação constante nos incisos IV, XIV e XXXIII do art. 5º da Constituição Federal é também um princípio ambiental quando relacionado à matéria. Isso porque, é assegurado pela constituição o direito de informar, de se informar e de ser informado. Assim, deve ser assegurado o direito de veicular informações acerca das questões ambientais, de receber as informações veiculadas e de buscar as informações que não chegarem aos interessados, garantindo assim à

74MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito

Ambiental, n. 2, p. 50, abr. 1996. Disponível em:

<http://www.direitoambiental.adv.br/ambiental.nsf/Ref/PAIA-6SRNQ8>. Acesso em: 28 out. 2018.

75 Monteiro, Alessandra Pearce de Carvalho. Tributação Ambiental: o princípio do poluidor pagador

e o princípio do protetor recebedor. Disponível em

<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=dbd18fe1f4137d8e>. Acesso em: 25 de outubro de 2018.

76 CAMARGO, Thaisa Rodrigues Lustosa de; CAMARGO, Serguei Aily Franco de. O princípio do

poluidor-pagador e o meio ambiente do trabalho. Rio Grande: Âmbito Jurídico, 2011. Disponível em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9163>. Acesso em: 25 out. 2018.

coletividade as informações necessárias para realizar a incumbência que lhe deu o art. 225 da Constituição Federal de preservar e defender o meio ambiente77.

Desse modo, tem-se, por fim, o Princípio da Participação, que visa garantir a todos a atuação plena na educação ambiental, bem como na criação de políticas públicas ambientais e na fiscalização se os deveres e balizas criados na esfera nacional e internacional estão sendo atendidos pelo Poder Público, no intuito de dar efetividade às normativas criadas ao longo das discussões que ocorrem desde a década de 70 acerca do tema78.

Dessa forma, demonstrou-se que, em regra, a proteção legal ao meio ambiente busca satisfazer as necessidades humanas, porém, o direito ambiental está umbilicalmente ligado ao direito à vida, assim, todos que a possuem são tutelados e protegidos por este instituto, bem como, tudo que for essencial à qualidade da vida, razão pela qual este ramo do direito se destaca tanto por sua importância, quanto por sua amplitude79.

Por isso, ao lado da fiscalização e da ação repressora, deve-se atuar de forma educadora para além de proteger o meio ambiente para as gerações futuras como determina a Constituição Federal, incuta-se nelas o amor ao ambiente e ao meio onde vivem, para que habitualmente os protejam, fazendo com de forma correlata, protejam a vida e a si próprios80.

Feitas essas considerações quanto à proteção ambiental, passa-se, no tópico seguinte, ao estudo dos indicadores socioambientais.