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A (im)possibilidade das instituições financeiras serem responsabilizadas civilmente por danos socioambientais causados por seus clientes

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DIEGO FELIPE DA SILVA

A (IM)POSSIBILIDADE DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS SEREM RESPONSABILIZADAS CIVILMENTE POR DANOS SOCIOAMBIENTAIS

CAUSADOS POR SEUS CLIENTES.

Palhoça 2018

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DIEGO FELIPE DA SILVA

A (IM)POSSIBILIDADE DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS SEREM RESPONSABILIZADAS CIVILMENTE POR DANOS SOCIOAMBIENTAIS

CAUSADOS POR SEUS CLIENTES.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Giglione Zanela Maia, MSc.

Palhoça 2018

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, e sem segundo lugar ao meu alicerce que é minha família, por todos os momentos de compreensão e apoio.

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AGRADECIMENTOS

Não é possível esquecer de em um primeiro momento agradecer a Deus que me ilumina e me guia em toda a minha trajetória.

Muitas pessoas auxiliaram na elaboração deste trabalho, que é o marco do encerramento de uma etapa. Meu pai que sempre esteve ao meu lado me incentivando, apoiando e inspirando; minha mãe que constantemente demonstrou todo o apoio e ternura pela minha caminhada; minha madrasta que me apresentou a este mundo tão fascinante que é o direito, sempre com muito apoio e carinho e meu padrasto que sempre esteve ao lado de minha mãe nas demonstrações de apoio e incentivo.

Os professores são personagens indispensáveis nesta trajetória acadêmica, tenho muitos para agradecer e faço-o com todo o carinho na pessoa da minha orientadora Professora Giglione Zanela Maia que esteve ao meu lado nesta desafiadora missão de concluir a monografia do curso de direito da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).

E, ao final, meus agradecimentos aos amigos e colegas que dividiram esses momentos de angústias e alegrias da fase final do curso, e nos ajudando mutuamente tornamos a caminhada mais fácil e a jornada mais alegre e memorável.

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“[...] Depois de abatido o último bisão e domados os últimos cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará de dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência [...]” (Parte da carta do Cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington enviada ao presidente dos Estados Unidos).

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RESUMO

A Constituição Federal, especificamente em seu artigo 225, determina que é dever do Poder Público e da coletividade defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este bem de uso de comum de povo. Para cumprir esta determinação constitucional é necessário observar os princípios e valores ligados ao meio ambiente, de forma a garantir uma atuação socioambiental. As consequências para o descumprimento da ordem constitucional de defender e preservar o meio ambiente são nefastas e, assim, o meio jurídico buscou tutelar este bem de uso comum do povo atribuindo a seus agressores a responsabilidade pelos danos cometidos, o que pode ser demonstrado através de decisões judiciais sobre o tema. E é nesse contexto que se realiza o presente trabalho monográfico, no objetivo de responder a seguinte problemática: podem as instituições financeiras serem responsabilizadas civilmente por danos ambientais causados por seus clientes? Assim, o objetivo da pesquisa é impactar no mundo jurídico do direito ambiental, porém, buscar formas práticas de efetivação da sua tutela e assim atingir o fim a que a normatização se destina. E, para tanto, será necessário conceituar o instituto da responsabilidade civil e, também, o meio ambiente para através dos dois conceitos demonstrar os reflexos da responsabilidade civil na questão ambiental. Os procedimentos metodológicos adotados foram o método dedutivo, através de pesquisa qualitativa. E como resultado, tem-se que apesar do tema ser atual, ele não é novo, e assim está longe de ser esgotado. A importância e a abrangência da temática tornam necessário que se tenha uma base jurídica para a aferição da responsabilidade civil ambiental, uma vez que é dever do todos defender e preservar o meio ambiente, porém esta abrangência não pode ser um permissivo para se criar a insegurança jurídica. Por isso, a determinação do Banco Central do Brasil, através da resolução 4.327/2014, para que as instituições financeira criem uma Política de Responsabilidade Socioambiental se apresenta como uma avanço para se manter a abrangência do instituto da responsabilidade civil ambiental, mas também dar mais segurança jurídica às empresas que, ao alinharem seus princípios e valores com os preceitos ambientais, terão mais segurança de que caminham na direção certa tanto de evitar um dano ambiental, quanto de serem responsabilizadas civilmente por ele. Palavras-chave: Responsabilidade civil. Meio ambiente. Responsabilidade civil ambiental.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL ... 12

2.1 BREVE HISTÓRICO ... 12

2.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL. ... 14

2.3 PRESSUPOSTOS ... 17

2.4 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA ... 21

3 DO MEIO AMBIENTE ... 26

3.1 DO CONCEITO MEIO AMBIENTE ... 26

3.1.1 Histórico de eventos relacionados à questão ambiental. ... 29

3.1.2 Dos princípios ambientais. ... 31

3.2 DOS INDICADORES SOCIOAMBIENTAIS ... 35

3.2.1 Indicadores de gerenciamento ambiental. ... 38

3.2.2 Indicadores ethos de responsabilidade social. ... 40

4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL E DOS MEIOS PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO. ... 44

4.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL ... 44

4.2 DA RESOLUÇÃO 4.327/2014 ... 47

4.3 ESTUDO DE CASO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. ... 50

4.3.1 Caso Estados Unidos vs. Fleet Factors Corp. ... 50

4.3.2 Do Recurso Especial n. 650.728 – SC. ... 54

5 CONCLUSÃO ... 59

REFERÊNCIAS ... 61

ANEXOS ... 68

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1 INTRODUÇÃO

Considerando que o meio ambiente é bem de uso comum do povo e é dever do Poder Público e da coletividade defender e preservar esse importante bem jurídico, é preciso pensar em meios de alinhar os princípios e valores deste importante instituto com a responsabilidade socioambiental. Nesse aspecto, existe a resolução nº 4.327/14 do BACEN, que dispõe sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental pelas instituições que operam sob a autorização do Banco Central do Brasil.

Assim, este trabalho se justifica na importância de se tutelar este bem jurídico tão importante que é meio socioambiental, trazendo para o debate acadêmico uma normatização que busca criar em um setor da sociedade, as instituições financeiras, justamente esse senso de responsabilidade com o meio socioambiental. Dessa forma, o intuito desta pesquisa é impactar no âmbito jurídico com o (no) objetivo de conhecer a resolução nº 4.327/14 do BACEN, mas especialmente buscar instrumentos para sua efetivação, pois, não se pode apenas criar mecanismos legais, com ausência de efetividade, é preciso sair da legislação simbólica, e identificar de que forma esta resolução pode realmente atingir o fim para o qual esta normatização se destina.

E, para tanto, formula-se o seguinte problema de pesquisa: Podem as instituições financeiras serem responsabilizadas civilmente por danos ambientais causados por seus clientes?

Sendo assim, o objetivo geral do presente trabalho é identificar a possibilidade ou a impossibilidade de as instituições financeiras serem responsabilizadas civilmente por danos ambientais causados por seus clientes. Quanto aos objetivos específicos, estes se resumem em: (i) conceituar a responsabilidade civil; (ii) conceituar também meio ambiente; (iii) alinhar os dois conceitos apresentados e demonstrar, através de estudos, de caso os reflexos dos preceitos ambientais nas decisões judiciais sobre a responsabilidade civil das instituições financeiras.

A motivação do pesquisador advém, além de sua atuação junto às instituições financeiras, da preocupação enquanto cidadão com esta casa comum de todos, que é o meio ambiente, e a necessidade de abordar a discussão da temática, para que se evidencie a preocupação com a responsabilidade socioambiental e, dessa

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maneira, diminuam-se os danos causados de uma forma geral ao meio ambiente em que se vive.

Isso posto, o Autor se utilizará do pensamento dedutivo, pois parte do conceito de responsabilidade civil para chegar a responsabilidade das instituições financeiras frente a implementação ou não da Política de Responsabilidade determinada pela Resolução n.4327/14 do BACEN.

Assim, valendo-se da natureza qualitativa, através do procedimento monográfico, e de pesquisa bibliográfica em livros, artigos, sites especializados e periódicos pertinentes ao tema.

Quanto à estrutura do trabalho, esse tem como elementos textuais, além desta introdução e da conclusão, os capítulos de desenvolvimento dispostos da seguinte forma.

O primeiro capítulo do desenvolvimento conceitua a responsabilidade civil, traz um escorço histórico deste instituto, bem como, seus pressupostos e características.

O segundo capítulo do desenvolvimento trata do conceito de meio ambiente e de seus princípios e, ainda, traz por meio dos indicadores de gerenciamento ambiental e de responsabilidade social uma colocação prática para este conceito e estes princípios.

Por fim, o terceiro capítulo do desenvolvimento alinha os dois conceitos trazidos nos capítulos anteriores e através de estudos de caso demonstra os reflexos dos preceitos ambientais nas decisões judiciais sobre a responsabilidade civil das instituições financeiras.

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2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Este capítulo tem por objetivo conceituar a responsabilidade civil, e assim, contextualizar o leitor dentro deste cenário tão importante e em constantes modificações, para que se possa melhor compreender as nuances deste instituto frente ao meio socioambiental.

2.1 BREVE HISTÓRICO

O necessário escorço histórico acerca da origem da responsabilidade civil traz uma evolução que parte do Direito Romano. Segundo Gagliano e Pamplona Filho, o ponto de partida da responsabilidade civil está ligado ao Direito Romano, onde a origem deste instituto estava pautada na concepção de vingança privada, sendo uma reação pessoal contra um mal sofrido, inclusive com influências da Lei das XII Tábuas.

Nesse sentido, cita-se:

[...] o Direito Romano não manifestava uma preocupação teórica de sistematização dos institutos, pois sua elaboração se deu muito mais pelo louvável trabalho dos romanistas, numa construção dogmática baseada no desenvolvimento das decisões dos juízes e dos pretores, pronunciamentos dos jurisconsultos e constituições imperiais.

Há, porém, ainda na própria lei mencionada, perspectivas da evolução do instituto, ao conceber a possibilidade de composição entre a vítima e o ofensor, evitando-se a aplicação da pena de Talião. Assim, em vez de impor que o autor de um dano a um membro sofra a mesma quebra, por força, de uma solução transacional, a vítima receberia, a seu critério e a título de poena, uma importância em dinheiro ou outros bens1.

Assim, historicamente, após o período em que o instituto se pautava exclusivamente na vingança, infligindo o mesmo mal sofrido, sua primeira evolução foi justamente para a autocomposição das partes, porém, a critério da vítima, passando a receber “a vindita por compensação econômica”. A partir desta evolução, a responsabilidade civil deixou de ser uma personificação da vingança privada, permitindo, ainda que de forma primitiva, a composição do dano de forma compensatória2.

1 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito

Civil: Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 54.

2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547206550/cfi/4!/4/4@0.00:14.3>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 47.

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Em um próximo momento, passou a haver uma regulamentação de danos que não eram causados a uma vítima especificamente, inclusive podendo se reconhecer uma ideia arcaica de responsabilidade, ao invés de vingança, conforme as palavras de Pereira:

Não chegaram os jurisconsultos romanos a substituir totalmente a vingança privada por uma norma geral definidora da responsabilidade civil. Jamais distinguiram completamente a pena da reparação, ou da ideia de punição e, conseguintemente, trataram como ideias consímiles a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal. O que estava na mira das considerações eram as figuras típicas dos delicta, a que se aditaram os quasidelicta, tal qual no direito germânico a vingança de sangue (Wehrgeld) ligada à enumeração dos diversos delitos que fora dominada pelo sentimento de solidariedade familial assume características de responsabilidade coletiva. Como observam Malaurie e Aynès, não se cogitava de satisfazer a vítima ou sua família, porém de atingir aquele que materialmente causou um dano3.

Percebe-se então, que o conceito de responsabilidade está evoluindo, e o próximo passo nesta evolução histórica ocorre com o surgimento da análise de culpa, ou seja, se da ação que infligiu danos a outrem, derivou de uma conduta negligente, imprudente ou imperita. Ou seja, surge com o instituto da culpa os parâmetros necessários para sua aferição, nas palavras de Gagliano e Pamplona Filho:

Permitindo-se um salto histórico, observe-se que a inserção da culpa como elemento básico da responsabilidade civil aquiliana – contra o objetivismo excessivo do direito primitivo, abstraindo a concepção de pena para substituí-la, paulatinamente, pela ideia de reparação do dano sofrido – foi incorporada no grande monumento legislativo da idade moderna, a saber, o Código Civil de Napoleão, que influenciou diversas legislações do mundo, inclusive o Código Civil brasileiro de 19164.

E assim a aplicação da culpa se estendeu como elemento para verificar o dever de indenizar, porém, cada momento histórico trouxe novas questões que não eram mais disciplinadas pelo direito, como a Revolução Industrial, por exemplo. Sobre o tema, Rizzardo leciona que:

No curso da Revolução Industrial, as injustiças sociais e a exploração do homem pelo homem levaram à inspiração de ideias de cunho social, favorecendo o aprofundamento e a expansão da teoria da responsabilidade objetiva, com vistas a atenuar os males decorrentes do trabalho e a dar maior

3PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 12. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro:

Forense, 2018. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530980320/cfi/6/10!/4/22/2@0:0>. Acesso em: 25 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 3.

4GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito

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proteção às vítimas de doenças e da soberania do capital. Realmente, pela segunda metade do Século XIX iniciou a se firmar essa responsabilidade, desenvolvendo-se sobretudo na França, consolidando-se com a doutrina de expoentes como Saleilles, Josserand, Ripert, Demogue, Savatier, Mazeaud e Mazeaud. No Brasil, teve seus defensores de grande envergadura, citando-se Clóvis Beviláqua, Alvino Lima, Agostinho Alvim, José de Aguiar Dias, Orlando Gomes e San Tiago Dantas5

Acerca do dano moral, existem autores que defendem que sempre existiu, enquanto no Brasil o assunto somente se encaminhou para sua consolidação com a Constituição de 1988. No entanto, há relatos de que, inclusive no direito romano, este tipo de dano já havia sido reconhecido:

Quanto ao dano moral, autores há que sustentam a sua reparabilidade em todos os tempos, como Henri Lalou: “O direito à reparação do prejuízo moral ou extra-patrimonial tem sido reconhecido em todos os tempos. O tema é clássico.”Para os irmãos Mazeaud e Tunc, os romanos também o reconheceram “em um grande número de questões”.Igualmente, Cunha Gonçalves, para quem havia a reparação para os principais tipos de ofensas morais, como os ataques à honra6.

A partir desse escorço histórico, observou-se a evolução do instituto da Responsabilidade Civil, desde sua aplicação com vingança privada, passando pela composição, que somente levava os critérios da vítima para sua reparação, até a regulamentação da Responsabilidade Civil e paulatinamente a aplicação da culpa como pressuposto do dever de indenizar, inclusive reconhecendo a existência do dano de cunho moral.

2.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL.

Ao abordar o conceito de Responsabilidade Civil, Nader inicia tratando etimologicamente da palavra responsabilidade, que a partir do latino respondere, de spondeo, Responsabilidade significa responder a alguém, prometer. Assim, o autor esclarece que responsável é aquele que assume um dever e o garante, sob pena de assumir as consequências em caso de seu descumprimento7.

5 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6593-8/cfi/6/10!/4/18@0:93.0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

6 NADER, Paulo. Curso de direito civil: responsabilidade civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

Disponível em: <https://www.academia.edu/35756418/Curso_de_Direito_Civil_-_Vol._7_-_Responsabilidade_Civil_-_2016_-_Paulo_Nader.pdf>. Acesso em: 27 out. 2018. p. 84.

7NADER, Paulo. Curso de direito civil. 6. ed. rev., atual. eampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

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Tal entendimento é corroborado por Gonçalves, que ao trazer o conceito de responsabilidade leciona que:

A palavra responsabilidade tem sua origem na raiz latina spondeo, pela qual se vinculava o devedor, solenemente, nos contratos verbais do direito romano. Dentre várias acepções existentes, algumas fundadas na doutrina do livre-arbítrio, outras em motivações psicológicas, destaca-se a noção de responsabilidade como aspecto da realidade social8.

Gagliano e Pamplona Filho trazem a mesma origem etimológica, e complementam com a necessária diferenciação entre Responsabilidade e Obrigação. Para os autores, a Responsabilidade será sempre um dever jurídico sucessivo oriundo do descumprimento de um dever originário, este chamado de Obrigação9.

Nesse viés, Nader elucida que a noção de Responsabilidade não se vincula exclusivamente com o campo jurídico e, por isso, influencia também na área da Moral, Religião e das Regras do Trato Social10.

Porém, justifica-se a relevância do tema no cenário jurídico, justamente em virtude do poder coercitivo desse cenário, onde o descumprimento do dever jurídico originário leva a uma sanção imposta pelo Estado, coercibilidade bastante diferente da verificada em outros campos da sociedade, que, a exemplo da Moral, reside na vontade de Deus e na consciência do homem11.

Ainda assim, dentro do cenário jurídico, a responsabilidade se subdivide em áreas de atuação, historicamente a primeira divisão se tornou a necessária distinção entre Responsabilidade Civil e Responsabilidade Penal. Segundo Caio Mario Silva Pereira, o marco para esta distinção foi quando o Estado passou a atuar não só quando a agressão lhe era destinada, mas também, quando dirigida a

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530968724/cfi/6/10!/4/8/2@0:0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 5.

8GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547206550/cfi/4!/4/4@0.00:14.3>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 19.

9GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito

Civil: Responsabilidade Civil. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547217228/cfi/4!/4/4@0.00:0.00>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 50.

10NADER, Paulo. Curso de direito civil. 6. ed. rev., atual. eampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530968724/cfi/6/10!/4/8/2@0:0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 5.

11GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 7. ed. São Paulo:

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particulares, pois a pena passa a ter um caráter de reparação, assim dissociando o aspecto civil do penal12.

Na Responsabilidade Penal, também se trata da ofensa a uma obrigação prévia, porém, seria uma obrigação de respeito às normas de direito público, assim, para ensejar a Responsabilidade Penal o agente deve desrespeitar uma norma de direito público, provocando uma reação do ordenamento jurídico, que é representada pela pena, pouco importando a existência ou não de prejuízo suportado pela vítima13.

Já quando se trata da responsabilidade civil, o causador do dano tem a obrigação de reparar este dano, buscando o statu quo ante, e não sendo possível a reparação nasce a obrigação de indenizar a vítima pelos prejuízos suportados14.

A partir de desses preceitos, o presente trabalho terá como enfoque a Responsabilidade Civil, o que se justifica justamente no caráter reparativo desta responsabilidade, conforme já referido, sempre buscando o statu quo ante, o que é bastante caro quando se trata de um tema tão sensível como o socioambiental.

Nesse sentido, as palavras de Barros Monteiro:

Conclui-se que a teoria da responsabilidade civil visa o restabelecimento da ordem ou equilíbrio pessoal e social, por meio da reparação dos danos morais e materiais oriundos da ação lesiva a interesse alheio, único meio de cumprir-se a própria finalidade do direito, que é viabilizar a vida em sociedade, dentro do conhecido ditame de neminem laedere15

.

Assim, necessário trazer o conceito de responsabilidade civil, que nas palavras de Paulo Nader, possui um significado técnico específico: “A nomenclatura responsabilidade civil possui significado técnico específico: refere-se à situação jurídica de quem descumpriu determinado dever jurídico, causando dano material ou moral a ser reparado”16.

12PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 12. ed. rev., atual. eampl. Rio de Janeiro:

Forense, 2018. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530980320/cfi/6/10!/4/22/2@0:0>. Acesso em: 25 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 3.

13RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 6. 14GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito

Civil: Responsabilidade Civil. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547217228/cfi/4!/4/4@0.00:0.00>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 57.

15MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil – Direito das Obrigações (2ª Parte). 34ª

ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 448.

16NADER, Paulo. Curso de direito civil. 6. ed. rev., atual. eampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530968724/cfi/6/10!/4/8/2@0:0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 6.

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Dessa forma, tem-se que a responsabilidade tem uma origem que se remete ao termo responder, ou seja, responder pelo descumprimento de um dever que lhe cabia. Assim, a responsabilidade abrange muito mais do que somente o campo do direito, repercutindo na religião e nas próprias regras do trato social, porém, ganha importância no campo jurídico por ser normalmente incumbido ao direito tecer o julgamento se houve ou não o referido descumprimento do dever e constatando o descumprimento, qual o tipo de consequência aplicável ao caso.

2.3 PRESSUPOSTOS

A partir desse conceito, torna-se oportuno trazer os pressupostos ensejadores da Responsabilidade civil. Para Sílvio de Salvo Venosa, os requisitos para se configurar a Responsabilidade Civil são: ação ou omissão voluntária, relação de causalidade ou nexo causal, dano e, finalmente, culpa17.

Trazendo ao debate Rizzardo, que reafirma os pressupostos elencados por Venosa, e ao tratar do primeiro requisito a ação, leciona que no âmbito da Responsabilidade Civil não subsiste o dever de indenizar se o agente não cometeu uma conduta antijurídica. Para ele, apura-se a antijuridicidade a partir dos parâmetros de diligência do homem médio, em suas palavras “Não há responsabilidade quando o agente não pretendeu e nem podia prever, tendo agido com a necessária cautela” 18.

Dessa forma, tem-se que o ato antijurídico, ou ato ilícito, está umbilicalmente ligado à Responsabilidade Civil.

Diniz ao tratar do tema, elucida que:

Ato Ilícito é praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subjetivo individual. Causa dano patrimonial e/ou moral (CF, art. 5º, V e X) a outrem, criando o dever de repará-lo (CC., art. 927). “O dano moral, assim compreendido todo o dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero aborrecimento inerente a prejuízo material”(Enunciado n. 159 do Conselho de Justiça Federal, aprovado na III Jornada de Direito Civil)19.

17VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo:

Atlas, 2018. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597014570/cfi/6/10!/4/8/20@0:0>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca.p. 444.

18RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6593-8/cfi/6/10!/4/18@0:93.0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

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Porém, como já dito, não basta a ação, ou conduta para que se configure o ato ilícito, é necessário que se produza um dano. Flávio Tartuce, ao tratar sobre o tema, divide o dano em três tipos. O primeiro é o dano patrimonial, ou material, que consiste em gerar um prejuízo, ou uma perda que diminua o patrimônio corpóreo de uma pessoa natural, jurídica ou um ente despersonalizado20.

Para Tartuce, a segunda modalidade de dano é o dano moral. Segundo o Autor o dano moral é um instituto novo, que se aportou no Brasil basicamente junto com a Constituição de 1988. Ao trazer o conceito desta modalidade de dano leciona que:

Constituindo o dano moral uma lesão aos direitos da personalidade (arts. 11 a 21 do CC), para a sua reparação não se requer a determinação de um preço para a dor ou o sofrimento, mas sim um meio para atenuar, em parte, as consequências do prejuízo imaterial, o que traz o conceito de lenitivo, derivativo ou sucedâneo. Por isso é que se utiliza a expressão reparação e não ressarcimento quanto aos danos morais, conforme outrora comentado21.

Ainda dentro do dano moral, há a diferenciação entre dano moral direto e dano moral indireto. Sendo o primeiro aquele que atinge a própria pessoa a sua honra subjetiva (autoestima) ou objetiva (repercussão social da honra). Quanto à segunda modalidade de Dano Moral, o dano moral indireto, é um dano precedido de um dano material, porém que atinge a moral da pessoa de forma reflexa, por exemplo, a destruição de um objeto com valor sentimental. Nestes exemplos, possuem legitimidade para propor ação indenizatória os lesados indiretamente22.

No início da discussão sobre o tema muito se questionou sobre os parâmetros para se fixar uma indenização que busca reparar um mal tão intrínseco como o dano moral, hoje já é bastante pacificado que o julgador, quando da determinação do quantum indenizatório, deve levar em conta a extensão do dano, as condições socioeconômicas dos envolvidos, as condições psicológicas das partes e o grau de culpa do agente, de terceiro ou da vítima23.

20 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Método,

2008. v.2. (Concursos Públicos). p. 384.

21 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Método,

2008. v.2. (Concursos Públicos). p. 397.

22 SANTOS, Pablo de Paula Saul. Dano moral: um estudo sobre seus elementos. Âmbito Jurídico,

Rio Grande, XV, n. 101. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11819>. Acesso em: 27 out. 2018.

23 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Método,

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Após estas necessárias considerações acerca do dano e de suas divisões, resta esclarecer quanto ao próximo pressuposto, qual seja: o nexo causal, que liga a conduta do agente ao dano suportado pela vítima. Para Nelson Nery Junior, nexo de causalidade é um critério para se averiguar por quem a indenização é devida, para quem ela é devida e mensurar o grau da indenização a ser fixada24.

A partir deste conceito, Nery Junior divide o tema em duas teorias: a teoria da equivalência e a teoria da causalidade adequada. Sobre a primeira teoria, elucida-se que, na busca por elucida-se determinar a responsabilidade de alguém, por um dano causado a outrem, toda a condição, por mais distante que seja do evento danoso, se considerará como causa. O Autor exemplifica que “atribuir reponsabilidade para o industrial que, anos antes, fabricou uma telha que caiu de uma construção e atingiu uma pessoa” 25.

Já quando se trata da segunda teoria, teoria da causalidade adequada, essa trata do estabelecimento do nexo causal, quando se reputa que a causa do resultado foi a conduta imediatamente anterior ao dano, porém, necessário analisar se esta conduta imediatamente anterior ocorreria sem a conduta que a precedeu, e para tanto, deve-se analisar as regras da experiência. Para ilustrar, traz-se o exemplo de Nucci, que diz ser sim razoável supor que a ação de desferir tiros na vítima é causa do resultado morte, porém para se determinar se a ação de vender a arma também é uma causa depende da análise do elemento culpa. Dito isso, a teoria sofre duras críticas por trazer a análise do elemento subjetivo, culpa, em momento inoportuno, o estabelecimento do nexo causal26.

Com isso, tem-se por fim, o pressuposto da culpa. Destaca-se que esse pressuposto pode ser dispensado em algumas modalidades de Responsabilidade, porém, o tema será tratado mais profundamente em tópico posterior.

Sílvio Rodrigues afirma que para caracterizar a responsabilidade é preciso que o agente tenha agido com culpa ou dolo. Segundo Silvio Rodrigues, dolo é quando o resultado danoso foi deliberadamente intentado pelo agente, que desejava causar dano através de seu comportamento27.

24NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado: 6ª ed.rev.,

atual. eampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 360.

25NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado: 6ª ed. rev.,

atual. eampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 360.

26NUCCI, Guilherme. Teoria da Causalidade Adequada. Disponível em

<http://www.guilhermenucci.com.br/dicas/teoria-da-causalidade-adequada>. Acesso em 27 out. 2018.

(20)

Quanto à culpa, ainda que o agente não buscasse deliberadamente infligir o dano à vítima, sua conduta negligente, imprudente ou imperita trouxe o mesmo resultado. Quanto a estes três temas o autor esclarece:

Em rigor, na ideia de negligência se inclui a de imprudência, bem como a de imperícia, pois aquele que age com imprudência, negligência em tomar as medidas de precaução aconselhadas para a situação em foco, como, também, a pessoa que se propõe a realizar uma tarefa que requer conhecimentos especializados ou alguma habilitação e a executa sem ter aqueles ou esta, obviamente negligenciou em obedecer às regras de sua profissão e arte; todos agiram culposamente28.

Para Rizzardo, a culpa em seu sentido estrito equivale à ação ou omissão involuntária que, a partir de uma condição de negligência ou imprudência, causa danos a outrem. Este conceito se aproxima bastante da redação do artigo 186 do Código Civil. Porém o Autor complementa que no sentido lato da culpa, essa abarca o dolo, que seria uma conduta voluntária para a causa do prejuízo29.

Rizzardo explica que em ambas as dimensões, estrito e lato sensu, a ordem legal estabelecida pelo direito positivo é desrespeitada e pelo prejuízo causado a pessoa responde, ou seja, torna-se responsável30.

Gonçalves complementa que o ato ilícito é uma violação a um dever de conduta e uma fonte de obrigações, pois ao violar a determinação legal e por consequência realizar um ato ilícito, o agente gera pra si uma obrigação seja ela de indenizar, ressarcir ou restaurar.31

Dessa forma, para que se configure a responsabilidade civil são necessários elementos objetivos, ou seja, deve haver uma conduta praticada por um agente e, dessa conduta, uma vítima deve experimentar um dano, inclusive de cunho moral, destacando-se que o liame que une a conduta e o dano denomina-se nexo de causalidade. Porém, dentro dessa análise, pode ser necessário verificar a existência

28RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 4. p.

17.

29RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6593-8/cfi/6/10!/4/18@0:93.0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

30RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6593-8/cfi/6/10!/4/18@0:93.0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

31 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 12. ed. São Paulo:

Saraiva, 2017. Disponível em:

<https://forumdeconcursos.com/wp- content/uploads/wpforo/attachments/19450/1089-Direito-Civil-Brasileiro-Volume-04-Carlos-Roberto-Gonalves-2017.pdf>. Acesso em: 27 out. 2018. p. 28.

(21)

de um elemento subjetivo, a culpa, isto é, ainda que o agente não tenha objetivado produzir o dano, se agiu de forma imprudente, negligente ou imperita, caracteriza-se a responsabilidade.

2.4 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA

O conceito de culpa está intensamente ligado à classificação da Responsabilidade Civil em Responsabilidade Subjetiva e Responsabilidade Objetiva. Com isso, e retomando aos ensinamentos de Gonçalves, a teoria clássica adotava o elemento culpa como fundamento da Responsabilidade Civil, de forma tão intrínseca que, não havendo culpa, não haveria responsabilidade32.

No mesmo sentido, Nader:

Na responsabilidade subjetiva, regra geral em nosso ordenamento, o dever de reparação pressupõe o dolo ou a culpa do agente. De acordo com esta orientação, se o dano foi provocado exclusivamente por quem sofreu as consequências, incabível o dever de reparação por parte de outrem. Igualmente se decorreu de caso fortuito ou força maior. Se ocorre o desabamento de um prédio, provocando danos morais e materiais aos seus moradores, devido ao erro de cálculo na fundação, a responsabilidade civil ficará patenteada, pois o profissional agiu com imperícia. Se o fato jurídico originou-se de um abalo sísmico, não haverá a obrigação de ressarcimento pelo responsável pela obra. Cabe à vítima a comprovação de todos os requisitos que integram os atos ilícitos, inclusive os danos sofridos33. Porém, o próprio Gonçalves destaca que, em casos determinados pela lei, certas pessoas, em específicas situações, podem ser responsabilizadas pela existência de um dano, ainda que ausente o elemento culpa, desde que se comprove o nexo entre o evento danoso e a atividade exercida por esta pessoa e a essa condição especial dá-se o nome de Responsabilidade Objetiva34.

E, ainda, sobre tema Salvo Venosa leciona que:

32GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547206550/cfi/4!/4/4@0.00:14.3>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 59.

33NADER, Paulo. Curso de direito civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530968724/cfi/6/10!/4/8/2@0:0>. Acesso em: 24 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p 31.

34GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547206550/cfi/4!/4/4@0.00:14.3>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca. p. 59.

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Ao analisarmos especificamente a culpa, lembremos a tendência jurisprudencial cada vez mais marcante de alargar seu conceito, ou de dispensá-lo como requisito para o dever de indenizar. Surge, destarte, a noção de culpa presumida, sob o prisma do dever genérico de não prejudicar (Direito civil: parte geral, seção 29.2). Esse fundamento fez surgir a teoria da responsabilidade objetiva, presente na lei em várias oportunidades, que desconsidera a culpabilidade, ainda que não se confunda a culpa presumida com a responsabilidade objetiva. A insuficiência da fundamentação da teoria da culpabilidade levou à criação da teoria do risco, com vários matizes, que sustenta ser o sujeito responsável por riscos ou perigos que sua atuação promove, ainda que coloque toda diligência para evitar o dano.3Trata-se da

denominada teoria do risco criado e do risco benefício ou risco

proveito. O sujeito obtém vantagens ou benefícios e, em razão dessa

atividade, deve indenizar os danos que ocasiona. Levando-se em conta o rumo que tomou a responsabilidade objetiva, a teoria da responsabilidade civil deixa de ser apoiada unicamente no ato ilícito, mas leva em conta com mais proeminência o ato causador do dano35. E nesse sentido, Pereira demonstra a origem do alargamento, ou até mesmo, da dispensa da análise do elemento culpa para a configuração da Responsabilidade:

O primeiro processo, diz Gaston Morin, foi a substituição, em certos casos, da responsabilidade delitual, que se funda na culpa, pela responsabilidade contratual. Exemplificando com o transporte, lembra que o viajante, vítima de um acidente, devia provar a culpa da companhia transportadora, para obter reparação. Por uma nova tendência da Corte de Cassação, passou-se a admitir que esse mesmo viajante, quando usa o veículo transportador, tem direito à segurança. Se lhe sobrevém um acidente, ao invés de ter de provar a culpa do transportador, encontrou na justiça a sustentação de que teria havido a infração do dever contratual de seguridade, e, desta sorte, a indenização se fundaria no rompimento do contrato, cabendo, portanto, à companhia, provar que o acidente se deveu “a uma causa estranha a ela não imputável: caso fortuito, força maior, ou culpa da vítima”36.

Ainda que se destaque que a Responsabilidade Civil em sua essência seja um conceito uno e indivisível, Gagliano e Pamplona Filho entendem que é necessária uma classificação sistemática deste instituto. Assim abordam a divisão entre responsabilidade civil subjetiva e objetiva:

35VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo:

Atlas, 2018. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597014570/cfi/6/10!/4/8/20@0:0>. Acesso em: 23 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca.p. 445.

36PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 12. ed. rev., atual. eampl. Rio de Janeiro:

Forense, 2018. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530980320/cfi/6/10!/4/22/2@0:0>. Acesso em: 25 ago. 2018. Acesso restrito via Minha Biblioteca.p. 22.

(23)

Esta culpa, por ter natureza civil, se caraterizará quando o agente causador do dano atuar com negligência ou imprudência, conforme cediço doutrinariamente, através da interpretação da primeira parte do artigo 159 do Código Civil de 1916 (“Art. 159 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”), regra geral mantida, com aperfeiçoamentos, pelo art. 186 do Código Civil de 2002 (“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”)37.

Quando os mesmos Autores tratam do conceito de responsabilidade civil objetiva, exsurge do próprio conceito a desnecessidade de se verificar o elemento culpa:

Entretanto, hipóteses há em que não é necessário sequer ser caracterizada a culpa. Nesses casos, estaremos diante do que se convencionou chamar de “responsabilidade civil objetiva”. Segundo tal espécie de responsabilidade, o dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de causalidade entre o dano e a conduta do agente responsável para que surja o dever de indenizar.

Porém, mesmo em se tratando de responsabilidade objetiva, não significa responsabilidade total e irrestrita, pois, ainda existem situações específicas nas quais a responsabilidade é afastada. O art. 188 do Código Civil Brasileiro de 2002 determina que:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo38.

Portanto, tem-se que uma conduta realizada em legítima defesa, exercício regular de um direito reconhecido ou a fim de remover perigo eminente, ainda que cause danos, não gera a responsabilidade do agente, pois a ilicitude do ato, um dos pressupostos da Responsabilidade Civil, é afastada e com a ilicitude se afasta o dever de indenizar.

Acerca dessas excludentes de ilicitude, Diniz leciona que no caso da legítima defesa, o agente não responde por possíveis prejuízos causados se a partir

37GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito

Civil: Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. (3). p. 57.

38BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código civil. Institui o código civil. Disponível em

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do uso moderado de meios necessários, repelir injusta agressão, atual ou iminente a direito seu ou de outrem. Quanto ao exercício regular de um direito, este a priori não causa dano a ninguém, só se caracterizando a ilicitude se houver abuso deste direito, ou seu exercício anormal39.

Por fim, tem-se o estado de necessidade, representado no texto pela “destruição de coisa alheia, ou lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente”, enquanto o prejuízo causado não exceder o limite do indispensável para a remoção do perigo não há que se falar em ilicitude e, portanto, em Responsabilidade Civil40.

Além das excludentes de ilicitude, há também as excludentes de nexo causal. Segundo Tartuce são: culpa exclusiva da vítima, culpa exclusiva de terceiro e caso fortuito ou de força maior 41.

Ao tratar da primeira excludente, Valgas dos Santos explica que o Autor do dano é apenas na aparência, pois quem efetivamente gerou o dano foi a própria vítima. E exemplifica com a ideia do suicida que, no anseio de tirar a própria vida, se lança sobre uma via movimentada sem dar tempo de reação ao motorista que lhe tira a vida42.

Para Souza Maeda, na culpa de terceiro, ou fato de terceiro, identifica-se o autor do dano, porém o que afasta o dever de indenizar desta vez não é a vítima, mas um terceiro que realiza uma conduta danosa43.

Por fim, resta o caso fortuito ou força maior, que nas palavras de Cavalieri Filho:

[...] estaremos em face do caso fortuito quando se tratar de evento imprevisível e, por isso, inevitável; se o evento for inevitável, ainda que previsível, por se tratar de fato superior às forças do agente, como normalmente são os fatos da natureza, como tempestades, enchentes etc., estaremos em face da força maior, como o próprio nome diz 44.

39DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 212. 40DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 213.

41 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Método,

2008. v. 2. (Concursos Públicos). p. 568.

42SANTOS, Rodrigo Valgas dos. Nexo causal e excludentes da responsabilidade extracontratual do

Estado. Rio Grande: Âmbito Jurídico, 2008. Disponível

em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2635>. Acesso em: 2 set. 2018.

43MAEDA, Renata de Souza. Pressupostos da responsabilidade civil: nexo causal. Rio

Grande: Âmbito Jurídico, 2013. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13531>. Acesso em2 set 2018.

44 CAVALIERI FILLHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 5ª ed. rev., aum. e atual. 2ª

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Dito isso, tem-se que na responsabilidade civil objetiva se torna desnecessária a análise do elemento subjetivo culpa, bastando verificar se houve um nexo causal entra a conduta do agente e o dano experimentado pela vítima, bem como não estar o agente imbuído de uma das excludentes de ilicitude.

Ainda, é pertinente a diferenciação entre a responsabilidade solidária e a responsabilidade subsidiária.

Para Cavalieri Filho, na responsabilidade solidária cada um dos agentes que concorrer para a causa do dano é considerado pessoalmente responsável e, consequentemente, obrigado a indenizar. Destaca, também, que essa modalidade de responsabilidade possui relações externas e internas, ou melhor, a relação dos devedores com o credor e a relação dos devedores entre si. Explica-se, nas relações externas o credor tem o direito de exigir toda a prestação de qualquer um dos devedores, e assim, adquire o direito de cobrar de seus codevedores, porém, só pode cobrar de cada um a cota parte que lhes cabe, tendo de demandar todos se quiser reaver a indenização que teve de prestar45.

Acerca da responsabilidade subsidiária, é uma responsabilidade assumida por dois ou mais sujeitos, onde há entre o obrigado originário e o secundário uma ordem para serem demandados. Exemplifica-se, se alguém contrai uma dívida originária sobre a responsabilidade de outrem, não sendo possível executar o devedor originário, pode-se demandar os demais sujeitos envolvidos na relação negocial46.

A partir dessa conceituação, tem-se que a reponsabilidade civil é um instituto que evoluiu bastante dentro de seu conceito, seus pressupostos e de sua classificação. Porém, por ser um instituto bastante dinâmico e cada vez mais atual, percebe-se que muitas evoluções ainda são possíveis.

Neste capítulo, contextualizou-se o leitor dentro do importante instituto da responsabilidade civil, conceituando esta modalidade de responsabilidade, bem como trazendo os seus pressupostos e classificações. Em seguida, passa-se a trabalhar as nuances da questão ambiental e social, situando o leitor acerca da importância deste bem de uso comum do povo, bem como de preceitos legais já existentes sobre o tema.

45 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

p. 89.

46 DUQUE, Bruna Lyra. TEORIA GERAL DA OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA. Rio Grande: Âmbito

Jurídico, 2009. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5908>. Acesso em: 27 out. 2018.

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3 DO MEIO AMBIENTE

Este capítulo busca conceituar meio ambiente, demonstrando os preceitos constitucionais que tutelam esse bem jurídico de uso comum do povo e, por fim, apresentar uma forma de tornar esses preceitos parte da empresa e de seus valores, bem como, mensurar a evolução dessa empresa.

3.1 DO CONCEITO MEIO AMBIENTE

Segundo Martins da Silva, a expressão “ambiente” vem do latim ambiens que significa “que rodeia”. Sendo assim, ambiente é aquilo que está em volta de alguma coisa ou de um ser. No entanto, o próprio Autor reconhece a dificuldade de se conceituar o tema, tendo em vista a diversidade de significados que permeiam o ambiente. Assim, afirma que:

O ambiente é uma mistura ou um entrelaçamento harmonioso de elementos existentes onde o organismo vive; entre tais elementos podemos enumerar: a) a água;

b) o solo; c) a umidade; d) a temperatura;

e) a composição química dos materiais e etc47.

Complementa o Autor que o meio é o fator físico do ambiente, sendo a matéria que envolve imediatamente o organismo com a qual este realiza intercâmbios. Dito isso, afirma-se que os meios primordiais são o meio terrestre e o meio aquático, sendo este último, o componente de mais de 70% do globo e, por terem os oceanos uma extensão de duas vezes e meia a da terra e serem habitáveis em todos as profundidades, o mar constitui um espaço vital mais de trezentas vezes maior que o meio terrestre48.

Chegando, então, a junção desses dois termos, necessária a conceituação do meio ambiente. Que segundo Rodrigueiro, abrange toda a natureza original (natural) e artificial, bem como os bens culturais correlatos. Tendo uma perspectiva ampla, a Autora afirma que o meio ambiente é um “tipo aberto”, jamais será um “numerus clausus”, pois ao conceituar algo de forma estanque, define-se não somente

47 SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos recursos naturais. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2004. p. 50.

48 SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos recursos naturais. São Paulo:

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o que ele é, mas também o que não é. Dessa forma, um conceito fechado faria com que numerosas situações, que hoje se enquadram no termo, deixassem de o fazer e, ainda, que novas necessidades dignas de serem abarcadas pela expressão não mais o fossem, perdendo assim a importante proteção criada entorno deste instituto tão caro à vida na terra49.

A Autora justifica sua colocação aludindo que existe um meio ambiente natural, físico, constituído pelo solo, água, ar, energia, fauna, flora; ainda, um meio ambiente artificial, humano, formado pelas edificações, equipamentos e alterações produzidas pelo homem e ambos ainda podem ser somados ao meio ambiente do trabalho, ao meio ambiente cultural. Sendo assim, um conceito que restrinja o meio ambiente a um desses setores fatalmente marginalizaria os outros, podendo trazer incomensuráveis prejuízos de ordem ambiental, restando então consagrar o direito ambiental ao direito à vida, sendo aquele pressuposto lógico deste50.

Surge, então, outra temática de grande relevância, o direito ambiental. Para Soares Júnior e Galvão, a tutela legal do ambiente no Brasil se inicia na década de 60, porém, questionam-se os fundamentos usados à época para a atuação legislativa, tendo em vista que somente a constituição de 88 expressamente tutelou o meio ambiente. Na ausência de uma base constitucional para tutelar o direito ambiental, o legislador ordinário se baseou na proteção à saúde, sob o argumento que essa não pode ser assegurada em ambiente degradado51.

Porém, os próprios autores em um juízo retrospectivo reconhecem o caráter limitado do esforço, pois ainda que à época tenha surtido o efeito necessário para dar azo à intervenção legislativa, Soares Júnior e Galvão afirmam que se trata de um esforço eticamente insuficiente e dogmaticamente frágil. O primeiro porque a tutela ambiental vem incorporando uma visão mais ampla, ao buscar amparar toda a vida e sua base; o segundo porque o direito à saúde e o direito ao meio ambiente não se confundem, principalmente por que o segundo apresenta uma abrangência muito mais ampla, via de regra quando se protege o meio ambiente a saúde humana é beneficiada, quando da tutela ambiental, a saúde humana ocupa um papel

49 RODRIGUES, Daniela A.. Dano moral ambiental: sua defesa em juízo, em busca de vida digna e

saudável. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. p. 17.

50 RODRIGUES, Daniela A.. Dano moral ambiental: sua defesa em juízo, em busca de vida digna e

saudável. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. p. 17.

51 SOARES JÚNIOR, Jarbas; GALVÃO, Fernando. Direito ambiental na visão da Magistratura e do

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secundário, a exemplo da proteção a espécies ameaçadas de extinção, manguezais e proibição da caça, por exemplo52.

Porém, com a promulgação da Constituição de 1988, o meio ambiente recebeu tutela específica, sendo inclusive classificado como bem de uso comum do povo e incumbindo ao Poder Público e à Coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, nas palavras do constituinte:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preimpondo-servá- lo para as presentes e futuras gerações53.

Fiorillo divide o dispositivo constitucional em quatro partes para análise. A primeira trata do “todos têm direito”, sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito de todos, necessário identificar quem são esses todos. Por isso, o autor divide esta definição em duas correntes: na primeira, o todos significa toda e qualquer pessoa humana e na segunda corrente se entende que o todos a que o constituinte se refere está ligado a ideia de povo e o conceito de povo, como conjunto de indivíduos que falam a mesma língua, têm costumes e hábitos assemelhados, afinidades de interesses, história e tradições seria quem exerce a titularidade do meio ambiente ecologicamente equilibrado da Constituição Brasileira, sendo esta segunda corrente a que se filia o autor54.

A segunda parte do dispositivo seria a do bem ambiental, bem de uso comum, assim, o autor entende que seja necessária uma nova compreensão dos bens da união, porque diversos deles possuem características de bens ambientais, lagos, rios, ilhas fluviais e o próprio mar territorial, cabendo à união não sua propriedade, pois são bens difusos e não podem ser apropriados, mais sim a possibilidade de “gerenciá-los” 55.

52 SOARES JÚNIOR, Jarbas; GALVÃO, Fernando. Direito ambiental na visão da Magistratura e do

Ministério Público. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 20.

53 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 24 out. 2018.

54 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13. ed. rev. atual. e

ampl. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 64.

55 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13. ed. rev. atual. e

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A terceira análise trata sobre a finalidade do direito ambiental, pois a normativa se destina ao que é essência, à sadia qualidade de vida e, de acordo com o autor, essa análise deve ser feita adotando como base os direitos sociais elencados pelo art. 6º da Constituição Federal, ligando-os com o princípio da dignidade da pessoa humana, também como um patamar mínimo a uma sadia qualidade de vida56.

Por fim, resta a questão da proteção a um direito futuro, ou seja, das próximas gerações, sendo esta a primeira vez que a Constituição se refere a um direito futuro, portanto, a legislação busca tutelar não só a nossa existência, mas também resguardar as futuras gerações57.

Dessa forma, o caput do artigo 225 da Constituição Federal determina que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, entendendo-se por todos o povo disciplinado pelo art. 5º da Constituição Federal; determina também a criação do bem ambiental, como um bem uso comum do povo; ainda, que o dever de defender e preservar o meio ambiente é do Poder Público e da Coletividade, devendo estes terem em conta ser um direito não somente das presentes gerações, mas das futuras também.

3.1.1 Histórico de eventos relacionados à questão ambiental.

Ainda que somente a Constituição de 1988 tenha considerado a importância da questão ambiental para o texto constitucional, o meio ambiente já é debatido há muito tempo.

Desde a década de 70 se discutem meios através dos quais esta geração possa se desenvolver sem tornar escassos os recursos naturais para a as gerações seguintes58.

Em 1972 foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo e esta foi a primeira Conferência global voltada para o meio ambiente e demonstrou os parâmetros iniciais de um direito internacional ambiental. Em 1992 foi realizada no Brasil a Conferência

56 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13. ed. rev. atual. e

ampl. São Paulo: Saraiva, 2012.66.

57 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13. ed. rev. atual. e

ampl. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 67.

58 DIAS, Reinaldo. GESTÃO AMBIENTAL: responsabilidade social e sustentabilidade. 1.ed. 2. reimpr.

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Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, também conhecida como Conferência Rio 9259.

Ressalva-se que a importância das instituições financeiras para o assunto já foi reconhecida desde à época, tendo em vista que a concessão de crédito tem o condão de potencializar qualquer projeto por elas financiado através da inserção de capital. Tanto esta importância é reconhecida que também em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Eco-92), bancos como Deutsche Bank, HSBC Holdings, Nat West Bank, Royal Bank of Canada e Westpac Banking Corporation firmaram a Declaração Internacional dos Bancos sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável no objetivo de conscientizar a indústria acerca dos preceitos ambiental60.

No âmbito nacional, foi assinado, em 1995, o Protocolo Verde, uma carta de princípios onde as instituições financeiras públicas e privadas assumiram o compromisso de cumprir com um conjunto de medidas socioambientais em harmonia com um desenvolvimento justo e sustentável61.

Dito isso, pode-se afirmar que o alinhamento da atuação das instituições financeiras com os preceitos socioambientais já era nos anos 90 uma tendência mundial, visto que, em 2002, a Comissão das Comunidades Europeias emitiu uma comunicação referente à Responsabilidade Social das Empresas, uma contribuição das empresas para o desenvolvimento sustentável62.

Essa tendência mundial tomou tal escopo que, em 2003, os bancos responsáveis por 30% do total de investimento em financiamentos internacionais firmaram o compromisso de avaliar os projetos de financiamento de valores superiores

59 PASSOS, Priscilla Nogueira Calmon de. A CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO COMO PONTO DE

PARTIDA PARA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Curitiba: Unibrasil, Revista Direitos Fundamentais e Democracia, 2009. v. 6. p. 20. Disponível em:

<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/18-19-1-pb.pdf>. Acesso em: 29 set. 2018.

60 GUIMARÃES, Glauco Leonardo Evangelista. GERENCIAMENTO DO RISCO SOCIOAMBIENTAL

NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS NO BRASIL. 2015. Dissertação (Mestrado) - Curso de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília - Unb, Brasília, 2015. Disponível em:

<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/20059/1/2015_GlaucoLeonardoEvangelistaGuimar%C3%A 3es.pdf>. Acesso em: 29 set. 2018.p. 33.

61 SAIBA qual o objetivo do protocolo verde. Fragmaq, 22 jul. 2016. Disponível em

<https://www.fragmaq.com.br/blog/saiba-objetivo-protocolo-verde/>. Acesso em: 29 de setembro de 2018.

62 COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS. Responsabilidade social das empresas: Um

contributo das empresas para o desenvolvimento sustentável. Bruxelas, 2 jul. 2002. Disponível em: <http://www.europarl.europa.eu/meetdocs/committees/empl/20021111/com(2002)347_PT.pdf>. Acesso em: 29 de setembro de 2018.

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a US$ 50 milhões, instituindo uma classificação de acordo com o risco socioambiental que tais financiamentos possuíam63.

Outrossim, o Banco Central do Brasil noticiou através de Boletim as instituições que alinhavam sua atuação com diretrizes socioambientais, como Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Corporación Andina de Fomento (CAF), Banco Europeu de Desenvolvimento, entre outros e trouxe também que:

Por exemplo, o documento do Bank for International Settlements (BIS) sobre o II Acordo de Capitais da Basiléia traz uma inovação: a supervisão bancária e as instituições financeiras deverão considerar outros riscos enfrentados pelos bancos para efeito de cálculo de capital regulamentar, o que exigirá modelos de gerenciamento de risco mais precisos, agregando novos riscos, inclusive os riscos socioambientais64.

Esta contextualização temporal, trazendo alguns exemplos, se faz importante para demonstrar que apesar da atualidade do tema, o debate não é novo, e através destes eventos foram criados e institucionalizados princípios e diretrizes que vieram a balizar as normativas e as ações relacionadas ao contexto ambiental depois da década de 70.

3.1.2 Dos princípios ambientais.

Os princípios desempenham papel de extrema relevância no âmbito jurídico não só auxiliando na valoração, interpretação e argumentação das normas vigentes, mas possuindo valor normativo, pois também possuem o condão de regular o caso específico, porém atuam como balizadores para as normas que se seguirem. É por isso que Bandeira de Mello diz que violar um princípio é muito mais grave que

63 GUIMARÃES, Glauco Leonardo Evangelista. GERENCIAMENTO DO RISCO SOCIOAMBIENTAL

NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS NO BRASIL. 2015. Dissertação (Mestrado) - Curso de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasilia - Unb, Brasília, 2015. Disponível em:

<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/20059/1/2015_GlaucoLeonardoEvangelistaGuimar%C3%A 3es.pdf>. Acesso em: 29 set. 2018.p. 38.

64 OSINI, Maria de Fátima; CRUVINEL, Elvira. Boletim Responsabilidade Social e Ambiental do

Sistema Financeiro: A Responsabilidade Socioambiental dos Órgãos Regulados e do Banco Central do Brasil. Brasilia: Banco Central do Brasil, 2007. Disponível em:

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do que ofender um mandamento específico, porque significa desobedecer a todo sistema de comandos, desrespeitando seus valores fundamentais65.

Isso posto, necessário afirmar que os princípios que regem este bem de uso comum de todos, que é o meio ambiente, estão voltados para finalidade básica de proteger a vida, em qualquer forma que esta se apresente, e garantir um padrão de existência digno para os seres humanos desta e das seguintes gerações66.

Viver em um ambiente não poluído é um direito humano fundamental, devidamente reconhecido pela ordem internacional predominante, constituindo o princípio do direito humano fundamental. Tanto isso se verifica, que foi reproduzido nos princípios 1 e 2 da Declaração de Estocolmo sobre o meio ambiente, onde, o princípio 1 reconhece que o homem tem direito a um meio ambiente de qualidade que lhe permita levar uma vida digna e com bem estar; já o 2 estabelece que os recursos naturais da terra, incluído o ar, a água, a flora e a fauna devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras67.

Consignou-se na Declaração de Estocolmo de 1972 que a intervenção estatal para defesa do meio ambiente não se trata de uma liberalidade, mas sim de uma obrigação. Assim, o Princípio da Intervenção Estatal Obrigatória na Defesa do meio ambiente trata justamente da obrigatoriedade do ente estatal defender este bem jurídico tão importante que é o meio ambiente68.

E esse princípio ganha ainda mais importância se analisado à luz da Constituição Federal Brasileira que atribuiu à União, aos Estados e aos Municípios competências ambientais administrativas e legislativas, objetivando dar mais proximidade entre o Estado e o destinatário da norma, através de seus entes que

65 MELLO, 1980 apud FARIAS, Talden Queiroz. Princípios gerais do direito ambiental. Rio Grande:

Âmbito jurídico, dez 2006. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1543>. Acesso em 28 out. 2018.

66 ANTUNES, 1998 apud SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos

recursos naturais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

67 SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos recursos naturais. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2004. p. 408.

68 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito

Ambiental, n. 2, p. 50, abr. 1996. Disponível em:

Referências

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