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II. Revisão Bibliográfica

2. O Processo de diagnóstico nutricional

3.2. O Sistema Integrado de Diagnóstico e Recomendação (DRIS)

3.2.5. O DRIS: estudos e comparações

A precisão e a flexibilidade de várias técnicas foliares em fazer diagnósticos válidos de desequilíbrios nutricionais em plantas nem sempre são avaliadas de uma forma crítica. Nos parágrafos seguintes, descrever-se-ão alguns estudos comparativos entre o DRIS e outros métodos de análise e diagnóstico nutricional abordados em publicações científicas.

Quando, Sumner & Beaufils (1975), decidiram comparar o critério clássico dos valores críticos com o DRIS, no que diz respeito ao diagnóstico NPK, no estudo da cultura do açúcar, verificaram que o método DRIS corresponde a um maior ganho de rendimento em relação ao do Valor Crítico e que este sistema inovador é independente da idade, da época de colheita das amostras e da variedade, mas é sensível, embora em reduzida escala, a condições de stress hídrico. Trabalhos subsequentes em que estes dois critérios foram avaliados foram unânimes em concluir que a nova metodologia revelava uma marcada superioridade na questão da sensibilidade do diagnóstico e no aumento dos rendimentos, em relação ao Valor Crítico (Beaufils & Sumner, 1976; Sumner, 1977 b). Do mesmo modo, Sumner (1977 b), no seu trabalho sobre a cultura do milho, conclui que, para o mesmo tipo de tecido que deu origem às normas (neste caso, folhas), o diagnóstico é independente da posição da folha na planta, sendo a ordem de deficiência na planta essencialmente a mesma. Assim, por considerar relações entre os nutrientes, segundo este autor, o diagnóstico nutricional baseado no DRIS mantem-se estável, em oposição a metodologias que analisam o nutriente baseando-se na matéria seca. Um outro trabalho de Beaufils & Sumner (1977), verifica também a independência já anteriormente relatada. Sumner (1979), comparou o critério clássico dos valores críticos com o DRIS, na avaliação de diagnósticos para o mesmo conjunto de dados, e constatou que o DRIS possibilitava diagnósticos mais precisos quando as metodologias do valor crítico e dos intervalos de suficiência falhavam (Sumner, 1979). Embora as normas das duas metodologias partam de pontos de referência similares, o DRIS é capaz de fazer diagnóstico com significado sobre plantas de diferentes idades, podendo classificar a ordem pela qual os nutrientes limitam a produção (Sumner, 1979). Também Meyer (1981), relata a superioridade do DRIS em relação ao critério dos valores críticos, especialmente numa fase inicial da cultura da cana-de-açúcar, o que permite a deteção de desequilíbrios nutricionais cerca de 4 a 6 semanas mais cedo. Constataram ainda que, num largo número de casos, houve uma resposta positiva à aplicação de um dado nutriente considerado como deficiente, segundo os cálculos DRIS, embora o seu nível no solo estivesse bem acima do valor crítico estabelecido (por vezes mais de 10 vezes) (Meyer, 1981). Jones & Bowen (1981), aplicaram à cultura da cana-de-açúcar o DRIS e o diagnóstico Crop Log (fórmula tradicional e fórmula calibrada), uma metodologia baseada em concentrações críticas que faz uso, não só, das concentrações de nutrientes das plantas, como também de índices complexos. O trabalho pretendeu determinar se a precisão do DRIS se devia à

vantagem inerente ao DRIS ou ao sistema da calibração (Jones & Bowen, 1981). Os resultados deste estudo comprovam que o método DRIS pode resultar em diagnósticos ligeiramente mais precisos das deficiências nutricionais do que o método Crop Log convencional, mas semelhante no que respeita ao Crop Log calibrado (Jones & Bowen, 1981). Também Elwali & Gascho (1984), confrontaram os métodos de Análises ao solo, Nível crítico e DRIS e concluíram que este último, por permitir balanços nutricionais mais equilibrados, facto comprovado pelo cálculo dos índices DRIS, possibilitou o aumento significativo do rendimento da cana e em açúcar (Elwali & Gascho, 1984). As diferenças entre a análise foliar usando o nível crítico e a análise do solo não foram expressivas (Elwali & Gascho, 1984). Beverly et al. (1984), num outro trabalho, demostraram ainda que, para o diagnóstico nutricional de laranjeiras, o DRIS foi superior ao Critério de Intervalos de Suficiência dado que foi capaz de detetar deficiências em magnésio, ao contrário do segundo que classificou os níveis como ótimos. Também concluíram que os índices DRIS são afetados pela idade e pelo tipo de tecido amostrado (Beverly et al., 1984). Por esta razão, defendem que as normas deveriam ser aplicadas apenas à amostragem standard, definida para a cultura em estudo (Beverly et al., 1984). Segundo os mesmos autores, a metodologia DRIS refletiu as mudanças nas concentrações de nutrientes, devido à alternância de produção ou a efeitos de carga de cultura e concordou com o Critério de Intervalos de Suficiência, quando as alterações da concentração foram suficientes para afetar o segundo. No estudo dos nutrientes azoto e potássio, na cultura da banana, o DRIS mostrou ser equivalente ou superior à metodologia dos níveis críticos, mesmo utilizando-se normas preliminares e obtidas em condições bastante diversas do trabalho no qual foi testado (Teixeira et al., 2002). Maeda et al. (2004), compararam também a análise ao solo, o método de Critério de Intervalos de Suficiência e o método DRIS com a observação visual de deficiências nutricionais em folhas de soja. Destes, apenas o sistema DRIS conseguiu assinalar as deficiências detetadas visualmente (Maeda et al., 2004). Os mesmos autores indicam que os Intervalos de Suficiência, definidos para os teores de alguns nutrientes, não são adequados para as condições em questão e que fatores ambientais e genéticos estarão a limitar a absorção dos nutrientes pelas plantas (Maeda et al., 2004). Mourão Filho (2005) estabeleceu comparações entre o DRIS e o Critério de Intervalos de Suficiência, clarificando que o primeiro complementa o diagnóstico nutricional do segundo, na medida em que estabelece a ordem de deficiência ou excesso de cada nutriente. Nesse trabalho, verificou a existência de um acordo na análise nutricional em relação

a alguns nutrientes, enquanto outros são classificados como deficientes pelo DRIS e adequados ou mesmo altos pelo Critério de Intervalos de Suficiência.

Mas, nem todos os artigos encontrados na bibliografia são concordantes em relação a esta metodologia. Os autores a seguir citados referem desvantagens na aplicação do DRIS, como também alguns inconvenientes e problemas decorrentes da sua aplicação.

O trabalho de Meyer (1981), concluiu que se existem alguns índices que se mantêm estáveis ao longo do ciclo vegetativo, outros há que contrariam as regras da estabilidade defendidas pelo DRIS. Mesmo assim, os seus resultados indicam, que a condição de um nutriente de uma cultura poderá ser prevista de modo mais fiável pelo DRIS (do que pela avaliação dos níveis críticos), mais particularmente quando a cultura se encontra numa fase inicial de desenvolvimento já que quando a cultura é jovem, os rácios geralmente variam menos do que os valores de percentagem de nutrientes por matéria seca na folha. Se a deficiência de um nutriente for severa, a fiabilidade do DRIS em culturas com mais idade permanece boa (Meyer, 1981). Todavia, segundo o este autor, ao longo de 24 meses, as flutuações do índice de azoto foram consideráveis, passando o seu valor de deficiente a suficiente e vice- versa, conforme a estação do ano. Tal acontecimento é explicado pelas interações quer sinérgicas, quer antagónicas entre pares de nutrientes nos tecidos das plantas (Meyer, 1981). De igual forma, Elwali & Gascho (1984) observaram flutuações nos índices DRIS ao longo do ano agrícola. Estas foram, segundo os mesmos autores, devidas aos elevados níveis de cálcio, os quais induziram desequilíbrios entre os catiões potássio e magnésio (considerados como estando em deficiência). Através da aplicação de potássio e de magnésio, a sua concentração nas folhas de cana-de- açúcar mudou pouco mas os índices DRIS correspondentes aumentaram e os de cálcio diminuíram drasticamente (Elwali & Gascho, 1984). Por seu lado, Beverly (1992), ao comparar a metodologia DRIS, assim como certas modificações da mesma, e os intervalos de suficiência em laranjeiras, descobriu que os métodos mais conservadores funcionavam melhor ao nível da precisão do diagnóstico dos desequilíbrios nutricionais bem como no efeito rendimento, deixando o DRIS em desvantagem, pelos seus resultados de diagnóstico falsamente positivos, os quais não permitiram um incremento significativo na produção, levando a um desperdício de recursos e a uma potencial degradação do ambiente assim como, por vezes, a uma diminuição de rendimento da cultura. Também Cerdá et al. (1995), constataram que o DRIS concorda com os critérios de suficiência na cultura do limoeiro apenas caso as folhas sejam colhidas num período similar ao das normas. Todavia, as determinações

do DRIS eram afetadas pelo porta-enxerto e pela data de colheita de folhas, já que amostras provenientes de diferentes datas apresentavam diferentes concentrações de nutrientes, o que, consequentemente levava à obtenção de diferentes índices DRIS e IBN (Cerdá et al., 1995). Os mesmos autores lembram ainda que o período fisiológico da árvore torna por vezes difícil ou impossível a obtenção de folhas no estádio de desenvolvimento requerido para a colheita de amostras, o que implica que a condição de nutrição da árvore seja considerada ora excessiva ora deficiente, quando avaliada pelas normas DRIS (Cerdá et al., 1995). Além disso, questionam-se sobre se o desequilíbrio nutricional pode ainda estar associado a condições adversas de crescimento existentes nos pomares de limoeiros estudados (Cerdá et al., 1995). Em Portugal, Alves (1997) comparou o sistema DRIS com o nível crítico e o sistema compositivo de diagnóstico (Compositional Nutrient Diagnosis, CND), uma metodologia que consiste na expansão do conceito bidimensional do DRIS para uma perspetiva multidimensional que requer uma menor quantidade de cálculos do que o DRIS (Parent & Dafir, 1992). A autora concluiu que que este último seria o mais eficaz na aplicação à cultura da Pereira, cultivar Rocha (Alves, 1997). Também Raghupathi & Bhargava (1998) compararam o DRIS com o CND e observaram que ambos os métodos eram capazes de produzir uma avaliação nutricional semelhante em pomares de romãzeiras. De igual modo, Schaller et al. (2002), debruçaram-se sobre o estudo de três diferentes metodologias – o Intervalo de Suficiência, as normas DRIS e o critério CND para a cultura da vinha no qual estabeleceram um ensaio de fertilização com aplicação de diferentes quantidades de azoto. Considerando que o fator rendimento é muito menos importante do que a qualidade das uvas, o critério CND mostrou ser aquele que melhor informação fornece para a produção orientada em razão da qualidade (Schaller et al., 2002). Esta metodologia tornou possível um melhor conhecimento do balanço nutricional das videiras e da sua relação com a qualidade do produto final (Schaller et al., 2002).