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II. Revisão Bibliográfica

4. A nutrição e a fertilização da vinha

4.2. A fertilização da vinha

4.2.1. Generalidades das aplicações ao solo e via foliar

De forma a atingir o máximo rendimento económico de uma cultura, os nutrientes essenciais podem ser aplicados ao solo ou por via foliar.

A aplicação ao solo é o método preferencial, mais comum e eficiente (Cavaco et al., 2005; Fageria et al., 2009). Baseada principalmente na análise de terras, este tipo de fertilização consiste em fornecer os nutrientes requeridos, sendo estes absorvidos pelas raízes das plantas (Fageria et al., 2009). E, embora funcione melhor no caso de nutrientes que são requeridos em maiores necessidades, tal procedimento é adequado tanto para macro, como para micronutrientes (Fageria et al., 2009).

No que diz respeito à sua aplicação, em viticultura, a fertilização ao solo é, geralmente, efetuada à superfície do solo, em bandas ao longo da vinha, de modo a assegurar o fornecimento de nutrientes à zona radicular (CRCV, 2006). Todavia, esta tarefa tem, normalmente, lugar em períodos de menor fluxo de trabalho na vinha, não estando de acordo com as necessidades específicas das plantas, o que implica a elevada dependência da planta em relação à capacidade do solo em reter os nutrientes (CRCV, 2006).

A fertirrigação constitui um sistema alternativo, e pode ser descrita como a aplicação de nutrientes através do sistema de irrigação usando a água como veículo. Segundo este tipo de fertilização, fornecem-se pequenas quantidades de nutrientes durante um longo período de tempo, de modo a melhorar a eficácia dos nutrientes aplicados e a capacidade das videiras em usá-los efetivamente (CRCV, 2006). Tal conceito permite a diminuição da influência das propriedades do solo sobre a planta e melhora o controlo dos objetivos de produção (Kafkafi, 2005; CRCV, 2006). Algumas das vantagens mais importantes desta técnica incluem a uniformidade da aplicação, a adaptação às plantas e a melhoria da eficiência da fertilização, dado que esta é realizada de acordo com as necessidades da cultura, permitindo a economia de mão- de-obra e de tempo, bem como a possibilidade de interferir no equilíbrio químico e eletroquímico da água de irrigação, tornando assim possível o aumento da produção, de crescimento e de rendimento da cultura (Kafkafi, 2005; CRCV, 2006). Salienta-se, porém, que a fertirrigação implica um maior nível de competências, assente nas quantidades recomendadas, épocas de aplicação e tecnologia necessária, o que implica um conhecimento prévio da compatibilidade e solubilidade dos produtos (Kafkafi, 2005; CRCV, 2006). E, se com o uso de fertilizantes líquidos tais problemas são ultrapassados, o seu custo é, todavia, mais elevado (Kafkafi, 2005; CRCV, 2006).

Por seu turno, a fertilização por via foliar, fornece à planta um ou mais nutrientes que, por condições adversas de solo ou clima, se encontrem em situações de carência devidamente confirmadas pela análise de tecidos, de terras, ou até pela sintomatologia visual (Peryea & Willemsen, 2000; Pacheco, 2001; Cavaco et al., 2005; Fageria et al., 2009).

É certo que, no que respeita aos macronutrientes e às suas maiores necessidades nutricionais, estas raramente são preenchidas com as aplicações foliares, ainda que as plantas possam também absorver nutrientes minerais em quantidades significativas, quando realizadas fertilizações foliares em concentrações adequadas (Midwest Laboratories, 1994; Fageria et al., 2009). A aplicação destes elementos requer várias pulverizações, o que pode ter alguns inconvenientes decorrentes da própria fertilização foliar, tal como a lavagem dos nutrientes pela água das chuvas, ou até danos foliares resultantes da aplicação de altas concentrações de nutrientes (Fageria et al., 2009). Assim, o propósito da fertilização foliar não é a substituição da nutrição da planta via solo, já que fornecer um macronutriente (N, P, K) a uma planta é mais eficaz e económico por esse modo (Midwest Laboratories, 1994). Todavia, em determinadas circunstâncias, a aplicação foliar é o método mais eficiente e económico para corrigir uma desordem nutricional, nomeadamente em períodos de seca ou fases críticas do desenvolvimento vegetal (Midwest Laboratories, 1994; Pacheco, 2001; Fageria et al., 2009).

Em relação aos nutrientes secundários (como o Ca, Mg e o S) e aos micronutrientes (Zn, Mn, Fe, Cu, B e Mo), a fertilização foliar provou ser um excelente método de aprovisionamento das necessidades das plantas (Midwest Laboratories, 1994). As necessidades em micronutrientes podem, muitas vezes, ser resolvidas através de uma ou duas aplicações foliares, uma vez que as quantidades necessárias são pequenas e as taxas de absorção são adequadas (Midwest Laboratories, 1994). Aliás, no caso dos micronutrientes, a fertilização foliar pode constituir a forma mais eficaz de corrigir situações de carência induzidas, por exemplo, por uma reação do solo desfavorável, como é o caso das carências em ferro, manganês ou zinco, em solos alcalinos (Pacheco, 2001).

Apesar de não existir uma linha nítida de demarcação entre os benefícios de pulverizações foliares de macro e micronutrientes, o contributo da aplicação de macronutrientes para a exigência total da planta através da fertilização foliar, pode ser apreciável, embora geralmente não tão notável como no caso dos micronutrientes (Midwest Laboratories, 1994; Fageria et al., 2009).

Encarada, numa primeira abordagem, como um complemento da fertilização ao solo, são vários os fatores que têm contribuído para a disseminação e vulgarização da fertilização foliar (Midwest Laboratories, 1994; Fageria et al., 2009).

Em primeiro lugar, refira-se o cultivo contínuo de culturas perenes nos mesmos solos, o que tem levado a que os problemas causados por deficiências nutricionais sejam cada vez mais recorrentes (Midwest Laboratories, 1994). Nestes casos, as pulverizações foliares são, frequentemente, o meio mais eficaz de correção e controlo visto permitirem contornar certas características imputadas ao solo tais como a lixiviação ou a fixação de elementos (Midwest Laboratories, 1994). Outra explicação resulta de condições adversas para as plantas tais como a existência de um solo pouco fértil, as perdas por lixiviação, a temperatura do solo demasiado fria, a falta de humidade do solo, ou a existência de um sistema radicular ferido e doente, as quais impossibilitam a absorção de nutrientes em quantidades suficientes sendo, uma vez mais, a adubação foliar o melhor meio de fornecimento das necessidades nutricionais das culturas (Midwest Laboratories, 1994; Fageria et al., 2009). Além disso se, por um lado, a realização de uma fertilização foliar tem um caráter mais temporário do que as aplicações ao solo, por outro lado permite uma maior rapidez na recuperação das deficiências nutricionais (Midwest Laboratories, 1994; Cavaco et al., 2005; Fageria et al., 2009). Como tal, o controlo sobre o equilíbrio entre o crescimento vegetativo e a produção de frutos é mais preciso (Midwest Laboratories, 1994). Este tipo de fertilização pode ainda ser encarado como suplemento à habitual aplicação dos tratamentos de fertilização ao solo, durante a fase jovem de uma cultura, quando as raízes ainda não estão bem desenvolvidas, tendo a sua eficiência sido comprovada pelas respostas favoráveis decorrentes de aplicações foliares, durante os períodos de menor crescimento e a Floração (Midwest Laboratories, 1994; Fageria et al., 2009). Por fim, a aplicação foliar de nutrientes é considerada particularmente benéfica pela altura da floração, período durante o qual muitas das culturas atingem a sua superfície foliar máxima e mostram, em geral, uma redução marcada da sua atividade metabólica, na qual se inclui a absorção de nutrientes (Midwest Laboratories, 1994).

Em termos de aplicação, os fertilizantes foliares poderão ser misturados com herbicidas de pós–emergência, inseticidas ou fungicidas, permitindo que a probabilidade da resposta nutricional possa aumentar e o custo da aplicação diminuir (Fageria et al., 2009). Por outro lado, o interesse pelas fertilizações foliares tem vindo a aumentar dado o desenvolvimento de fertilizantes solúveis com altas concentrações

de nutrientes e a evolução no uso de maquinaria para aplicação de fungicidas, herbicidas e inseticidas (Fageria et al., 2009).

Destaca-se, todavia que, em contraste com os numerosos exemplos de respostas positivas às fertilizações foliares, há igualmente casos em que pouco ou nenhum benefício resultou da aplicação destes nutrientes (Midwest Laboratories, 1994).

Comum a qualquer uma das alternativas de fertilização expostas, deverá ser o planeamento da fertilização. Para que os resultados desta operação sejam os melhores possíveis, as remoções pelas culturas em função da sua produção, deverão ser usadas como linhas de orientação para determinar a quantidade de nutrientes a aplicar, ainda que estas dependam da casta, porta-enxerto, tipo de solo e clima (CRCV, 2006). A reciclagem de nutrientes, a lixiviação e a existência de reservas também necessitarão de ser consideradas (CRCV, 2006). Por último, a formulação do nutriente a aplicar e a prática de irrigação podem alterar a eficiência nutricional já que, por exemplo, um excesso de rega pode transportar os nutrientes para fora da zona de raízes ativas (CRCV, 2006).