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“Educação e trabalho: este o verdadeiro nome da vida”.

Henri Desroche

Na sociedade inclusiva, o conhecimento é uma espécie de energia irradiadora. Por isso, a pedagogia, arte e técnica de ensinar, como anota Jaccky Biellerot (1989:131), amplia suas fronteiras em favor de uma antropologia da aprendizagem permeável a tudo que de humano possa existir. E nada mais humano do que o trabalho. Nas suas diferentes explicitações, o trabalho não apenas dignifica a vida, como a transforma pelo poder de recriação de que se impregna. Como ser humano fora do palco do trabalho, fora do ser para trabalhar e do trabalhar para ser? Mesmo as pessoas impossibilitadas de trabalhar e de produzir dentro de conformidades ocupacionais pré-definidas, trabalham a seu modo, pois a forma possível de viver a vida é também a forma factível de trabalhar. Talvez seja esta a perspectiva de muita gente excluída das redes de poder econômico. Redes que favorecem a dissociação, cognição e sensibilidade e, portanto, negam o direito ao trabalho, o direito à ternura de uma vida prazerosa.

As pessoas com necessidades educacionais especiais têm o direito ao prazer do conhecimento e do conhecimento em sua dimensão resolutiva dos processos de

educação profissional. Pela legislação em vigor, estes processos devem estar desaprisionados de esquemas inflexíveis de organização de cursos “pré-moldados”. Quase sempre, estes cursos são estruturados a partir de um fato comum, qual seja, o desenvolvimento de práticas pedagógicas que tendem a impedir a expressão das singularidades. Neste horizonte, a oferta geral de cursos de qualificação profissional para pessoas com necessidades educacionais especiais pelos sistemas regulares de ensino é a própria imagem da exclusão institucionalizada.

A Educação Profissional não pode continuar refém de uma compreensão única e de uma forma inflexível de organização acadêmica voltada para uma “clientela” de perfil único. A natureza humana e as pessoas são plurais. Sobretudo em alguns casos – na oferta de cursos para alunos com deficiência mental e múltipla – os programas de Educação Profissional precisam ter uma estrutura destravada, com diferentes encaixes e enlaces possíveis. O princípio a ser adotado pelos Sistemas Públicos de Ensino, que pautam a oferta de serviços educacionais pelos parâmetros da educação inclusiva, como é o caso do Estado de Mato Grosso, é sentir o aluno para consentir a norma. A isto se chama educação para a formação e, não, para a mera conformação legal.

A Constituição Federal de 1988 assegura:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;

Com base na Constituição Federal, outras leis se sucederam, como se pode ver:

 Lei Federal n. 8.112/1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais. Diz, em seu art. 5º, §2º, que:

Art. 5º - São requisitos básicos para investidura em cargo público:

§ 2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

 A Lei Federal n. 8.213/1991, que dispõe sobre os planos da previdência, determina:

Art. 93 - A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I - até 200 empregados... ...2%; II - de 201 a 500... ....3%; III - de 501 a 1.000... ..4%; IV - de 1.001 em diante... 5%.

Conclui-se, assim, que, a partir de 1988, foram criados e multiplicados mecanismos que visam a assegurar a absorção de pessoas com deficiência pelo mercado de trabalho. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação/LDB, em seu art. 1º, §2º, que:

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições

de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e

organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

(...)

§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (grifo nosso).

Duas situações há de se considerar a partir da leitura dos dispositivos legais aqui apresentados, a saber: a estrutura e organização dos cursos de Educação Profissional e o direito das pessoas com deficiência de a eles acessarem, de acordo com suas particularidades pessoas.

No caso das tipologias dos serviços educacionais demandados, deve-se considerar cada uma das seguintes situações:

 Alunos com NEE que estão na rede regular de ensino;

 Alunos com NEE que estão em instituições educacionais, porém, não necessariamente, escolares;

 Pessoas com NEE adultas e, portanto, fora dos limites legais de escolaridade.

Como a perspectiva do Governo do Estado de Mato Grosso é reorganizar todo o sistema educacional na linha da Educação Inclusiva, a Educação Profissional, em qualquer das situações, passa a ser operada com base em duas vertentes:

 Articulação de concepções;  Articulação de instrumentos.

As bases sócio-pedagógicas e psico-culturais destas vertentes assentam-se no binômio:

 Inclusão.

A equidade supõe a disponibilização de condições iguais de entrada e de saída PARA TODOS. Neste sentido, as escolas devem calçar as práticas pedagógicas com insumos decorrentes de focos que garantem qualidade educativa, cabendo destacar dentre eles:

 Diversidade;  Autonomia;  Contextualização;  Interdisciplinaridade;  Aprendizagem Significativa  Desenvolvimento de Competências;

 Programas/Cursos com qualidade social.

A viabilidade operativa destes focos requer das escolas e instituições que oferecem Educação Profissional a pessoas com limitações e, portanto, com necessidades educacionais especiais, a atenção para desenvolver a aprendizagem ocupacional dentro do circuito: