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1. A aprendizagem na sociedade digital

1.5. E-skills e literacia digital

Os estudantes atuais necessitam de adquirir competências específicas da era digital e da sociedade em que estão inseridos de modo a beneficiarem dos serviços de e-

government, eLearning e e-health, para poderem ser participantes ativos na sociedade do

conhecimento como cocriadores e, não apenas, como consumidores (McCormack, 2010). A literacia digital é um conjunto de competências que permitem adquirir conhecimento através de processos digitais. De acordo com o Jornal of eLiteracy, a literacia digital são “the awarenesses, skills, understandings, and reflefctive approaches necessary

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for an individual to operate confortably in information-rich and IT-enabled evironmets”

(Martin & Ashworth, 2004).

Mas para melhor compreender este conceito, primeiro, é necessário entender o conceito de literacia - capacidade de compreender e dar significado ao que lemos. Pelo que, alguém iliterado pode conseguir ler, mas não compreende o que lê. Pela mesma ordem de ideias, ser digitalmente literado, refere-se à capacidade para compreender e interpretar a informação disponível nos media digitais, dando-nos a capacidade de comunicar e de trabalhar de forma mais eficiente ao pesquisar, resumir, avaliar, criar e comunicar através da tecnologia digital. Assim, ser digitalmente literado é mais do que saber usar um computador, pois implica compreender todas as ferramentas digitais e de que forma estas podem ser usadas para comunicarmos o que pretendemos.

De acordo com Jones-Kavalier & Flannigan (2006) uma pessoa digitalmente literada tem a capacidade de executar eficazmente tarefas num ambiente digital, é capaz de interpretar os média, reproduzir dados e imagens através de manipulação digital e de avaliar e aplicar novo conhecimento, adquirido em ambientes digitais.

A California ICT Digital Literacy Assessments and Curriculum Framework (Group, 2008) publicou uma tabela de elementos básicos (cf figura 1.2), referindo 6 competências que são necessárias adquirir para se ser literado.

Figura 1.2 - Elementos básicos da Literacia Digital, in California ICT Digital Literacy Assessments and Curriculum Framework

72 De acordo com este relatório para que alguém possa ser considerado literado quando consegue aceder, gerir, integrar avaliar, criar, cocriar, comunicar e disseminar informação. Ao estar na posse destas competências, qualquer pessoa pode aprender, trabalhar e interagir na sociedade digital, terá capacidade para poder aprender ao longo da vida, avaliar e criar informação (Information Literacy).

Assim, e de acordo com este relatório, ser digitalmente literado envolve: (i) ter acesso a informação e saber como recolhe-la em ambientes digitais, (ii) gerir e organizar informação para a utilizar no futuro, (iii) avaliar, integrar, interpretar e comparar informação de múltiplas fontes, (iv) criar e gerar conhecimento ao adaptar e aplicar informação de autoria, (v) e comunicar informação para várias audiências e através do meio de comunicação mais apropriado.

Numa sociedade em rede (Castells, 2005) como a de hoje, a procura por e-skills está a crescer, uma vez que estas são cruciais para promover a competitividade, a produtividade e a inovação, assim como o profissionalismo e a empregabilidade (McCormack, 2010). Apesar da educação ainda não corresponder a esta procura, de acordo com a DIGITALEUROPE existe uma correlação de 85% entre s-skills e competitividade e por isso, a Europa deverá melhorar as competências das crianças, idosos, docentes, profissionais e administradores públicos (McCormack, 2010).

Mais do que enviar um email, jogar no computador, escrever um texto ou usar uma folha de cálculo, as e-skills vão para além das competências básicas em TIC e podem dividir- se em 3 níveis: (i) Competências profissionais em TIC; (ii) Competências de Utilizador das TIC; (iii) Competências empresariais em TIC.

As competências profissionais são definidas como as que permitem pesquisar, desenhar, desenvolver, gerir e fazer manutenção de sistemas TIC. Requerem um nível de formação académica, pois na maioria das vezes requer conhecimento profundo de sistemas TIC. As competências de utilizador são as mais comuns e permitem a utilização de sistemas TIC para trabalho, entretenimento, aprendizagem e comunicação. O utilizador deverá ter competências para utilizar as ferramentas de software mais básico. As competências empresariais incluem as competências necessárias para oportunidades

73 proporcionadas pelas TIC, nomeadamente a internet, para melhorar a eficiência e eficácia da performance organizacional em áreas chave do negócio, o que inclui a capacidade de explorar novas formas de gerir processos de negócio e/ou de criar novas oportunidades de negócio. (Loureiro, Messias, & Barbas, 2012a)

A Comissão Europeia aprovou em 2010 o documento Digital Agenda of Europe (Initiative, 2010), no qual especifica 7 áreas prioritárias a desenvolver, e alguns bastante específicos, tais como:

• Promover a literacia digital;

• Desenvolver uma estrutura para o profissionalismo nas TIC;

• Criar recursos de formação online para promover uma maior participação das mulheres como profissionais TIC;

• Desenvolver de uma ferramenta online para educação sobre as novas tecnologias digitais;

• Propor indicadores de competências digitais e de literacia digital a nível europeu; • Sistematicamente avaliar e facilitar a acessibilidade.

Ainda o mesmo documento referia que até ao final de 2011 todos os estados membros deveriam implementar politicas a longo prazo sobre e-skills e literacia digital, e que cada país deveria modernizar o ensino e a formação em eLearning, através da instalação de internet de alta velocidade em todas escolas até 2015, e também ao encorajar os docentes a modernizarem os seus métodos de ensino através das tecnologias digitais e a adquirirem formação atualizada nas TIC.

Um importante aspeto, também mencionado neste documento, está relacionado com a abordagem que os pais e professores fazem em relação aos empregos em TI, uma vez que poucos vêm estes empregos como positivos, especialmente para as mulheres. As crianças ouvem os pais e professores acerca das escolhas que devem fazer sobre o seu futuro profissional, e deste modo, este aspeto deverá ser resolvido, dando tanto aos docentes como aos pais toda a informação que necessitam para compreender os benefícios e os resultados positivos que traz uma carreira nas TIC e a aquisição de e-skills. Tendo em conta o contexto económico e profissional em que vivemos, no qual o mercado de trabalho

74 cada vez mais necessita de profissionais em TIC, leva a que a procura de profissionais com estes conhecimentos sejam cada vez mais procurados.

“Europe’s future will be innovation-intensive. To make it successful, Europe needs to address its e-skills gaps in a determined, imaginative and ambitious fashion. Tertiary education is the right place to start, because it is the right context to think of generating not only the brains that Europe needs, but also the minds that it deserves.”

(e-skills manifesto cited in McCormack, 2010:35)

Mas porque são estes profissionais tão procurados? Porque precisa a indústria tanto deles? Porque contribuem tanto para a economia Europeia? O e-skills manifesto responde a algumas questões, apontando que existe uma relação entre as Tecnologia da Informação (TI) e o crescimento da economia. De acordo com o estudo, as TIC e as e-skills impulsionam a produtividade, o crescimento e a inovação. Perán refere que o contexto económico atual de crise torna as e-skills ainda mais vulneráveis, uma vez que contribuem para a criação de emprego. (citado em McCormack, 2010). Os que possuem e-skills são capazes de pensamento crítico, multitasking e trabalho colaborativo. Principalmente os indivíduos com competências em e-business são muito importantes para as empresas, para promoverem estratégias de marketing inovadoras e consequentemente a aquisição de novos clientes. Como diz MacCormack (2010:13) “we need e-skilled people to provide the

infrastructure and e-skilled people to use it. An e-skilled society is thus a precursor to a knowledge based society.”

Pode assim dizer-se que as e-skills e a literacia digital são essenciais para os estudantes adquirirem enquanto futuros trabalhadores da era digital.