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1. A aprendizagem na sociedade digital

1.2. A evolução tecnológica e o ensino a distância

1.2.2. Tecnologias Emergentes no Ensino a distância: o caso da Web 2.0

A Web 2.0 (O’Reilly, 2005) pode definir-se como uma segunda geração da WWW, cuja ênfase se centra nas ferramentas de colaboração e partilha de conhecimento e conteúdo entre os seus utilizadores.

Wellburn & Eib (2010) defendem que no contexto da Educação a distância, a Web 2.0 possibilitou a redefinição do modo como é criada e partilhada a informação, introduzindo um fator de transformação da educação a distância.

De acordo com Veletsianos (2010) a inovação tecnológica tem tido grande impacto na sociedade, no entanto o seu impacto na educação tem sido limitado, não apenas pela pouca utilização em contexto educativo, mas pelo facto da sua utilização ser feita com estratégias do ensino tradicional. Não tendo por isso os resultados esperados, uma vez que a mera utilização destas ferramentas em sala de aula não é suficiente, é necessário adaptar a estratégia de ensino também.

Na perpetiva de Lee & Mcloughlin (cf. Veletsianos, 2010), o eLearning com recurso à Web 2.0 necessita de considerar três aspetos para atingir máximo impacto:

1) O uso de redes sociais online para criar presença social;

2) A reconceptualização do design dos cursos e das metodologias de ensino para implementar as atividades de eLearning no EAD;

3) A consideração de estratégias pedagógicas específicas para apoio aos estudantes em EAD.

Para que educação a distância integre Web 2.0 torna-se necessário repensar como implementar estas ferramentas em cursos a distância, utilizando-as de acordo com as suas características e mais-valias, ou seja, aquilo a que vários autores definiram como, as suas

36 (2008:54) sublinha que “the greatest affordance of the Web for educational use is the

profound and multifaceted increase in communication and interaction capability”.

Por exemplo, ao utilizar uma rede social deverá ser com o intuito de facilitar o contacto e a comunicação entre os participantes do curso e outros utilizadores que possam contribuir para aumentar o acesso a informação relevante, com pontos de interesses académicos comuns.

As plataformas informáticas que surgiram com a integração da internet no EaD e a passagem para o eLearning procuram promover a motivação, a comunicação e a eficiência, apropriando-se das caraterísticas da evolução das tecnologias da informação e da comunicação e transpondo-as para as metodologias de ensino usadas no eLearning, de forma a colmatar, por exemplo, o isolamento em certos tipos de eLearning. Cada vez mais no eLearning procura promover-se a comunicação não só entre estudantes/docentes, mas mesmo entre os estudantes, não só para construção de conhecimento em colaboração, mas para criar ambientes em que os estudantes se sintam acompanhados e integrados, parte de uma comunidade.

O recurso às chamadas plataformas informais da Web 2.0 para o ensino requer pensar em estratégias educacionais apropriadas à sua integração no processo de aprendizagem.

As redes sociais online, como por exemplo, o Facebook, o Twitter, o Google +, o

Flickr, o Pinterest que surgiram com a Web 2.0 foram criadas com o propósito de serem

plataformas de comunicação e de sociabilização. O seu propósito original não foi com vista na educação, por isso, querer usá-las em contexto educativo pode mostrar-se pouco vantajoso, a não ser que a sua utilização seja adequada e seja feita uma adaptação das estratégias de ensino inclusiva a estas ferramentas. Usá-las para criar uma ligação entre os estudantes ou entre os estudantes e os docentes é estar a potenciar aquilo para que estas foram construídas, em prol de criar nos estudantes a sensação de pertença a um grupo, a uma comunidade.

Outra possibilidade será de proporcionar mais ligações entre os estudantes e especialistas, ou grupos especificamente destinados a um tópico de interesse académico,

37 de forma a levar à conectividade, aumentando a rede de contactos dos estudantes e a qualidade académica e profissional dos contactos e dos artigos a que têm acesso nestas redes. Mais ainda, pode aumentar-se a sensação de comunidade através de grupos de discussão, gerando conversação entre os estudantes, fomentando a ligação entre estes e a perceção de terem objetivos e tópicos de interesse comuns, possibilitando o trabalho colaborativo ou a simples colaboração e partilha de artigos ou contactos profissionais e académicos de interesse comum. De acordo com o Horizon Report de 2014 (Johnson, Adams Becker, Estrada, & Freeman, 2014:8):

“Sites like Facebook, Twitter, Pinterest, Flickr, Youtube, Tumblr, Instagram and many

others make it easy to share and find stories and media, in addition to interacting with the content, social media makes it easy to interact with friends and institutions that produced the content (…) the experience augments already-established relationships while providing spaces for people who are separated by physical distance or other barriers to connect with each other. This helps institutions to garner broader audiences while communicating with existing ones.”

A grande questão da Web 2.0 é a de saber o que publicar e que contactos fazer que possam contribuir para aumentar o conhecimento académico, e ainda que informação selecionar entre toda aquela que está disponível. O papel o docente que utiliza a Web 2.0 passa agora por dar ao estudante a informação e as ferramentas que o ajudem a saber como, onde e o que poderá ser relevante e fiável. Ainda referindo os autores acima mencionados, as universidades devem até incorporar estas redes, uma vez que os estudantes já passam quase todo o seu tempo livre aqui, aprendendo e trocando informação. Numa era em que o multitasking é segunda natureza para os estudantes, onde os meios de comunicação estão a ficar mais eficientes, é responsabilidade da universidade dar ao estudante as ferramentas de colaboração necessárias para que este esteja preparado para a sociedade digital.

“Institutions that embrace face-to-face, online and hybrid learning models have the potential to leverage the online skills learners have already developed independent of the academia. Online learning environments can offer different affordances than physical campuses, including opportunities for increased collaboration while equipping students with stronger digital skills.”

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O pensamento crítico e a capacidade de selecionar informação relevante são

competências desejadas pelo mundo de trabalho que deverão ser incutidas pelos docentes. “In many ways the critics are calling for critical thinking and a type of virtual

'street smartness'” (Wellburn & Eib, 2010; Veletsianos, 2010:54), pelo que é necessário que

os estudantes também adquiram as competências que os ajudem a distinguir entre toda a informação disponível, aquela que é válida, pois estar a limitar os estudantes a ter acesso apenas a informação previamente selecionada por especialistas ou pelo próprio docente, poderá estar também a privá-los de adquirir as ferramentas necessárias ao pensamento crítico, de serem construtores do seu próprio conhecimento, ou ainda de contribuírem para a construção de conhecimento dos seus pares.

“When a consumer knows what's involved in creation, and is, in fact, a creator able to use the same techniques that experts use, there is a much smaller possibility that he or she will ever be misled. Authentic learning requires critical thinking based on experience.” (Wellburn & Eib, op. cit.)

Ainda que o email, os fóruns e os blogs, ou qualquer outra forma de comunicação assíncrona sejam usados para dar espaço à reflexão e ao aprofundamento de ideias, atualmente, um conjunto de ferramentas síncronas possibilitam um tipo de comunicação em tempo real através das ferramentas Web 2.0 como por exemplo, videoconferência ou o chat.

A flexibilidade na escolha de plataformas e formas de comunicação são uma das caraterísticas e benefícios do eLearning, que juntamente com os custos acessíveis e a economia de tempo tem levado a que o EAD seja visto como mais eficiente quando comparado com o ensino tradicional (Gil, 2008). Desta forma, a Web 2.0 pode estar a exponenciar a característica flexibilidade intrínseca ao Ensino a Distância, podendo aceder- se à informação e interagir-se em qualquer momento, utilizando inúmeras fontes válidas, contactando diretamente com especialistas, construindo conhecimento ao seu próprio ritmo e partilhando-o, em qualquer altura. É neste quadro que se pode considerar que, a Web 2.0 está a contribuir para trazer características dum ensino mais informal para o ensino formal, baseado nas necessidades individuais de cada estudante (Downes, 2009; Veletsianos, 2010; Dron & Anderson, 2014).

39 O Ensino a Distância tem assim acompanhado a evolução tecnológica, adaptando- se às novas ferramentas que têm surgido, integrando entre outras não são só os LMS, mundos virtuais, mobile learning, e as redes sociais. Ainda que pouco se saiba dos efeitos que estes causam a longo prazo na construção de conhecimento, estas plataformas têm vindo a ser utilizadas com o propósito de motivar e cativar os estudantes. Os seus benefícios podem ter repercussões no que diz respeito à criação de envolvimento, a evitar o isolamento e as consequentes desistências, tão conhecidas entre os que estudam em EAD. Para além disto o EAD beneficiou ainda com o surgir de plataformas informáticas completamente dedicadas ao ensino, em constante evolução, adaptando-se à inovação tecnológica.

Para além dos aspetos acima apontados, a necessidade imposta pela própria sociedade e pelos mercados de trabalho levam a que a utilização da tecnologia seja vista como essencial no currículo académico, sendo fulcral o domínio de competências digitais. “(...) os valores

máximos estão centrados na competitividade, celeridade e na globalização” (Gil, 2008)