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3   RESULTADOS: PERCEPÇÕES SOBRE O CONTEXTO ACADÊMICO E ESTRATÉGIAS DE

3.2   E STUDO INDIVIDUAL DELIBERADO 68

4.1.2   E STUDO INDIVIDUAL DELIBERADO 96

Ericsson e col. (1993) definem estudo individual deliberado como a ação em que o aprendente controla e, mais que isso, tem a iniciativa sobre seu processo de estudo com o objetivo de aprimorar seu desempenho. Sabemos que o estudo individual deliberado focalizado em uma área específica é tido por diversos autores (GALVÃO A., 2003; ERICSSON, 1996; ERICSSON, TESCH-ROMER e KRAMP, 1993) como um dos mais importantes, se não o mais importante aspecto do desenvolvimento da expertise.

Para Galvão A. (2005), define-se o estudo individual deliberado em relação à obtenção de alguma habilidade e esta habilidade se refere ao volume ou à qualidade do produto final resultante do processo. Assim, consideram os autores que o propósito do estudo individual deliberado é a melhoria do desempenho do aprendiz e, em função disso, associam o termo à obtenção de habilidades, ou seja, à capacidade de desempenhar bem uma tarefa.

Para Galvão, Câmara e Machado (no prelo), o estudo individual é a organização de uma habilidade passo a passo; é o processo por meio do qual os objetivos de aprendizagem são alcançados. Relatam os autores que as fases fundamentais na aquisição de uma habilidade podem ser assim organizadas: (i) compreensão dos comportamentos iniciais ou de entrada, que correspondem a um estágio cognitivo inicial; (ii) organização de procedimentos de regras que determinam sequências, envolvendo a prática de partes de uma habilidade antes de tentá- la de um modo completo; e (iii) domínio final da tarefa com maestria. Trata-se, portanto, da organização sequencial de uma habilidade que permite ao indivíduo alcançar os objetivos de aprendizagem. Para Gagné (1985), o encadeamento de ações pode envolver aspectos já conhecidos pelo aprendiz ou pode incluir novos aspectos que, ao serem desenvolvidos de forma sistêmica, passam a compor a nova habilidade.  

TEMPO DE ESTUDO

Um dos aspectos mais relevantes do estudo individual deliberado e de importância histórica no contexto da pesquisa sobre aprendizagem diz respeito à dimensão temporal. Estudos de Brian e Harter (1897; 1899) concluíram que a aprendizagem se beneficia mais da prática distribuída do que da prática concentrada e que intervalos prolongados de descanso, seguidos de sessões curtas de estudo são mais eficientes para a aprendizagem.

Nesse mesmo sentido, Hull (1943) argumenta que ocorre fenômeno de impacto negativo para a reação da resposta presente, considerando períodos extensos de trabalho sem descanso e o descreveu como um incremento da reação de inibição da aprendizagem. O autor considera também que longos períodos de descanso, após o estudo concentrado, causam maior reminiscência devido à dissipação da reação inibidora. Sobre isso, no caso de estudantes trabalhadores, é possível pensarmos que intervalos entre os períodos de estudo ocorram menos pela intenção direcionada dos alunos e sim, com maior freqüência, por contingências do trabalho.

Galvão A. (2001) alerta para uma considerável defasagem entre o tempo deliberado de dedicação para a preparação de experts e o tempo efetivo de dedicação aos estudos de estudantes universitários. Resultados observados por Galvão, Câmara e Machado (no prelo) destacam que a maioria dos estudantes dos cursos de graduação em Matemática, Letras-Inglês, Psicologia e Pedagogia parecem não se dar conta da importância do estudo individual deliberado para a aprendizagem, sendo que 39% dos estudantes participantes das pesquisas analisadas dedicam de 1 a 2 horas ao estudo diário e 24,5% deles, apenas 1 hora do dia.

Considerando as pesquisas de Ericsson e col. (1993), o tempo de dedicação para preparação de profissionais em nível expert deveria ser de, no mínimo, seis horas diárias. Em pesquisa conduzida por Galvão A. (2008), foi constatado que a maioria dos estudantes do curso de licenciatura Letras-Inglês declara dedicar aos estudos entre uma a três horas diárias. Os alunos acreditam, no entanto, que, idealmente, o total de horas diárias de estudo para que ocorra a aprendizagem seria de duas a quatro horas. Essas constatações apontam para a necessidade de que a importância da dimensão temporal do estudo seja enfatizada junto a esses estudantes. Por outro lado, o autor relata os trabalhos de Sosniak (1985; 1990), Gustin (1985), Monsaas (1985) e Lehman (1953) que demonstraram serem necessários, em geral, pelo menos dez anos de estudo individual deliberado para se chegar à expertise. Observa ele que os cursos em analisados têm a duração de quatro anos, não permitindo que o aluno chegue à plenitude da expertise nesse período.

No contexto desta pesquisa, a análise dos dados revelou que 51,4% dos respondentes declaram dedicar, em média, entre uma e duas horas diárias ao estudo fora do ambiente virtual de aprendizagem, sendo que 57% dos alunos consideram ser esse um período ideal e 58,4% deles considera esse um período adequado. Analisando também o percentual de estudantes (1,9%) que afirma dedicar ao estudo tempo superior à carga horária sugerida para o curso,

É importante destacar que o estudo individual deliberado para os estudantes dos cursos a distância em questão ocorre, em geral, em horário extraordinário às oito horas diárias de trabalho vivenciadas por eles. Esse fato parece demonstrar que o aluno aqui pesquisado preocupa-se com o desenvolvimento de sua expertise profissional e investe em sua formação com esse objetivo.

Em relação à rotina de estudos, emergiu da pesquisa que a quase totalidade dos alunos (90,2%) não tem dia da semana fixo para estudo. Esse fato é compatível com a modalidade de oferta dos cursos em questão, pois a educação a distância se propõe a permitir flexibilidade nos horários de estudo. Esse aspecto é reforçado por Botelho (2006) ao afirmar que, devido às possibilidades tecnológicas para mediar processos comunicacionais que podem ocorrer em espaços geográficos e temporais diferentes, a modalidade educacional a distância tem como sua principal característica a flexibilidade de ação no tempo e espaço.

Weidenbach (1996) afirma que auto-regular a aprendizagem significa controlar informações sobre estratégias e práticas de modo a gerar os resultados estabelecidos como metas. Dos respondentes, 64,5% declararam seguir uma rotina de estudos em diferentes horários do dia (48,1%; dos 72% de estudantes que distribuem o estudo em várias etapas, 48,2% estudam nos horários disponíveis, 15,8 %, nos horários preferidos e 36%, a qualquer momento. No caso de alunos de curso a distância, a definição do tempo e da rotina de estudo ou a vivência desses da forma considerada possível, pode ser avaliada como uma estratégia de auto-regulação, pois, conforme descreveu Corno (1989), retrata monitoramento e gerenciamento dos esforços do aprendente. A partir dessas informações, verifica-se que, apesar de constatarmos o predomínio de planejamento para o estudo individual deliberado adequando- se ao tempo disponível, mais da metade dos alunos parece ter alguma rotina para estudar durante a semana, ainda que flexibilizada.

À luz das considerações de Galvão V. (2007) e outros autores a que se refere como Sosniak (1985; 1990), Gustin (1985), Monsaas (1985) e Lehman (1953) sobre o aspecto temporal necessário, superior a dez anos de estudo, para o desenvolvimento pleno de expertise, podemos pensar que o respondente desta pesquisa desenvolve sua expertise permanentemente ao longo de três décadas de atividade profissional e que os cursos a distancia constituem-se como uma das estratégias para atingir esse fim. No cômputo geral, podemos especular que, para o alcance da expertise do servidor, somam-se suas horas de estudo individual deliberado em determinada área de conhecimento durante a carreira profissional, revelando um processo de permanente capacitação.

Aspecto particularmente interessante abordado em pesquisa clássica de Wheeler e Perkins (1932) e também endereçado por Galvão, Câmara e Machado (no prelo) refere-se à relação entre a idade, a maturação e a aprendizagem do sujeito. Aquisição de uma habilidade é relacionada à maturidade do aprendiz e ao tempo de maturação da própria aprendizagem. Afirmam os autores que, em determinada idade, o estudo deliberado impacta a aprendizagem de forma diferenciada quando relacionado ao tempo total de estudo individual deliberado desde o início dos estudos. Considerando-se que 68,2% dos respondentes tem idade igual ou superior a 31 anos, pode-se considerar que se apresentam maduros do ponto de vista cognitivo.

CONDIÇÕES DE ESTUDO

Ao pesquisar as condições que envolvem o contexto de estudo e que podem impactar a qualidade da aprendizagem, surgiu dos dados que os alunos têm uma visão positiva da atmosfera dos cursos a distância, pois tendem, de modo geral, a gostar, confiar e contar com os professores tutores, posicionando-se da mesma forma, em relação aos colegas, ainda que em menor medida.

Mesmo que coadune com uma das características da modalidade a distância, qual seja, permitir a mobilidade do aluno para além da exigência da presença física dos envolvidos em um mesmo local e a um mesmo tempo, chama a nossa atenção o fato de 77,1% dos respondentes realizar os cursos fora do ambiente de trabalho (69,7% estudam em casa, 2,3%, na faculdade e 5,1% não especificaram o local), uma vez que o estudo objetiva aprimoramento da expertise profissional.

Muller (2008) descreve o perfil dos alunos que procuram cursos a distância como o de indivíduos que apresentam domínio de tecnologias, atentam para seus ritmos e estilos de aprendizagem, aderem a cursos flexíveis com diferentes itinerários formativos e, ao mesmo tempo, buscam a interação com mediadores e colegas, responsabilizando-se por sua própria aprendizagem e pela aprendizagem do grupo. Expressiva maioria dos alunos (95,3%) participantes desta pesquisa estuda sozinha, mas, ainda assim, nota-se uma percepção positiva quanto às interações com colegas. Essa característica é aderente ao contexto da educação a distância que busca promover o desenvolvimento de expertises superando isolamentos geográficos. 

estudos. Nota-se que são itens referentes à ausência de silêncio no ambiente causados por elementos que integram o ambiente físico de estudo do aluno e não por colegas de classe. Conclui-se, então, que mesmo no caso de cursos on-line, esse é um aspecto importante para manter o foco do aluno no estudo. No entanto, podemos considerar que na modalidade a distância é possível para o aluno alterar o horário de estudo para momentos mais convenientes ou mudar de ambiente físico, a depender do equipamento tecnológico utilizado.

ESTRATÉGIAS DE ESTUDO

Harper e Kember (1986) relatam que os indivíduos diferem entre si e apresentam modos diversos para lidarem com a aprendizagem, havendo pessoas que preferem se dedicar a aspectos mais reflexivos de um conteúdo, enquanto outros se interessam em maior medida pela compreensão de conceitos ou pela resolução de problemas, sendo que, para um mesmo indivíduo, as estratégias de aprendizagem podem variar e serem alteradas ao longo da vida. Por meio dos estudos de Säljö (1975), ficou evidenciado que as abordagens de ensino afetam as estratégias de aprendizagem selecionadas. Conforme relato de Ramsden (1981), sabemos também que o ambiente de estudo afeta a seleção dessas estratégias pelos estudantes.

Zerbini e Abbad (2003) entendem que as estratégias de aprendizagem dizem respeito a procedimentos praticados pelo sujeito durante o processo de estudo com o objetivo de obter sucesso. No que diz respeito ao estudo individual deliberado, a partir da análise dos dados desta pesquisa foi possível identificar as formas como os alunos dos cursos a distância organizam seu estudo e, consequentemente, quais as estratégias de estudo utilizadas por eles.

As estratégias de aprendizagem que se revelaram mais utilizadas foram a resolução de exercícios (67,3%), a realização de anotações (63,5%) e a pesquisa em fontes não indicadas pelo professor tutor (51%), com adesão por mais da metade dos estudantes a todas elas. Essas estratégias estão relacionadas à iniciativa, autonomia e proatividade dos alunos e são aderentes ao perfil dos indivíduos que, em geral, procuram cursos a distância.

Em consonância com relato de Galvão, Câmara e Machado (no prelo), o hábito de fazer anotações é uma estratégia considerada eficiente por diferentes autores em aprendizagem (CRAIK e LOCKHART, 1975; GALVÃO A., 1999; EYSENCK e KEANE, 1998), pois condiz com a teoria dos níveis de processamento (CRAIK, LOCKHART, 1975) em que o conteúdo armazenado na memória de longa duração é determinado por processos de percepção e de atenção que se passam durante a aprendizagem,

Galvão A. (2008) constatou que a leitura de textos acompanhada da realização de anotações reforça o traço de memória do conteúdo textual, o que pode estar relacionado à exigência do processamento ortográfico e fonológico da linguagem utilizada. Em relação ao uso dessa estratégia, os alunos dos cursos a distância pesquisados apresentaram resultados muito próximos (63,5%) aos resultados daqueles relatados por Galvão V. (2007) em pesquisa similar conduzida junto a alunos de cursos de graduação em Letras-Inglês (60%) e por Demoliner (2008), em curso de Pedagogia (61%).

Estratégias de estudo que encontram adesão em percentual um pouco menor são leitura prévia (42,1%), elaboração de resumos (40,7%), desenvolvimento de esquemas (31,3%) e participação em projetos de pesquisa (30,8%). É curioso notar que, referindo-se a esse último aspecto, trata-se de estratégia pouco utilizada por indivíduos que tem escolaridade em nível superior e que deveriam estar familiarizados com a participação em grupos de pesquisa, pois esse hábito deveria ser adquirido nos cursos de graduação e de pós-graduação, em especial naquelas de natureza stritu sensu, e exercido na vida profissional.

Jaime (2001), citado por Galvão, Câmara e Machado (no prelo), afirma que a preparação física e/ou mental é fator que beneficia o processo de retenção do conhecimento, tendo em vista que as estratégias de aprendizagem baseiam-se na evocação da resposta de relaxamento rápido. Isso que dizer que, durante o processo de aprendizagem, os estudantes estão em estado de alerta relaxado ou de vigília relaxado. Dessa forma, para algumas pessoas, a realização de preparação física ou mental para o estudo resulta em maior concentração na atividade a ser iniciada e implica rendimento favorável da aprendizagem.

Porém, as estratégias de aprendizagem com níveis mais baixos de adesão entre os alunos dos cursos a distância foram a preparação física ou mental para o estudo (15,4%) e a utilização de música para acompanhá-lo (9,3%). Esses dados coincidem com o relato de Galvão, Câmara e Machado (no prelo) que apontou para o fato de que alunos de determinados cursos de graduação pesquisados não têm como prática realizar qualquer tipo de preparação física ou mental antes de iniciarem as atividades de estudo individual deliberado. Relataram nunca utilizar esse procedimento 47,2% dos estudantes de Pedagogia, 42,6%, de Matemática e 33,9%, de Letras-Inglês, o que demonstra que, em geral, alunos não têm consciência de que a adoção desse tipo de atividade pode vir a auxiliar os processos de aprendizagem.

Essa diversificação do uso de estratégias (resolução de exercícios, realização de anotações, pesquisa em diversas fontes, realização de leitura prévia, elaboração de resumos,

desenvolvimento de esquemas e participação em projetos de pesquisa) parece indicar que os estudantes dos cursos on-line exercitam a versatilidade. Newble e Entwisle (1986) destacam que alunos com esse perfil obtêm maior sucesso acadêmico, pois tendem a diversificar os processos de estudo de acordo com as exigências da atividade. Pask (1976) denominou esse tipo de aluno como aprendiz versátil.

Ao caracterizarem o modo como os estudantes desenvolvem suas tarefas escolares considerando os níveis de complexidade e as diferenças qualitativas dos resultados, Marton e Saljo (1976) propuseram distinção amplamente aceita por pesquisadores (Kemper e Gow, 1989; Entwistle, 2002) entre as estratégias de aprendizagem superficiais e profundas. O vocábulo ‘estratégia’ evoca a atitude de planejamento e procedimentos para alcançar a aprendizagem (GALVÃO, CÂMARA e MACHADO, no prelo) e o aspecto distintivo entre elas recai sobre a intenção do aprendente durante o processo de estudo, o que implica resultados de aprendizagem diferentes do ponto de vista da qualidade.

Em artigo comparativo desses autores sobre os resultados de pesquisas sobre estratégias de aprendizagem de estudantes de graduação em Matemática (PEREIRA, 2007), Letras-Inglês (GALVÃO V., 2007), Pedagogia (DEMOLINER, 2008) e Psicologia (LIMA, 2007), os autores observaram que as estratégias desenvolvidas, muitas das vezes convergentes nos cursos analisados, nem sempre se revelaram como as mais adequadas para o processo de aprendizagem.

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