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3   RESULTADOS: PERCEPÇÕES SOBRE O CONTEXTO ACADÊMICO E ESTRATÉGIAS DE

4.2   C ONCLUSÕES 102

Em diversas áreas do conhecimento o desenvolvimento da aprendizagem para a expertise inicia-se no momento em que o aprendiz começa um curso de graduação em nível superior. Nas atividades ligadas à administração pública, independente da área temática, o desenvolvimento da aprendizagem para a expertise tem um marco referencial no momento em que o profissional inicia sua atuação no serviço público. A partir daí, prossegue em processos de aprendizagem e de aperfeiçoamento contínuos que perpassarão todos os anos de sua carreira até a aposentadoria. Nesse contexto, os cursos a distância de curta duração sobre temáticas específicas, os chamados cursos de educação continuada, têm papel importante em sua formação e no desenvolvimento de sua expertise para o trabalho.

Assim, em relação ao contexto acadêmico desses estudantes, os resultados deste trabalho revelaram percepções positivas bastante elevadas quanto à importância dos estudos no momento presente e para o futuro. Foi também positiva a percepção em relação ao incentivo que recebem no âmbito familiar, sendo essa uma das variáveis mais significativas no que tange à criação de um contexto acadêmico favorável à aprendizagem. Em comparação com dados de pesquisa conduzida por Galvão V. (2007), observamos que os índices de percepção do incentivo familiar foram maiores no contexto daquele trabalho. Esse fato parece fazer sentido, uma vez que os alunos dos cursos a distância aqui pesquisados são adultos e não dependem do apoio familiar para suas escolhas de cursos de educação continuada, diferentemente do alunos de cursos de graduação.

Os respondentes apresentam também visão altamente positiva no que concerne a percepção de si como estudante. A quase totalidade considera-se bom aluno, sendo que estudantes do sexo masculino parecem possuir uma auto-percepção mais positiva do que estudantes do sexo feminino. Esse fato pode estar relacionado aos papéis sociais exercidos pelas mulheres que exigem delas o exercício diário de jornada dupla ou tripla de compromissos para com a família, o trabalho e a escola, não permitindo que estejam disponíveis para o estudo deliberado tanto quanto gostariam.

O desenvolvimento intelectual do indivíduo é influenciado pela valorização que seus pais ou responsáveis atribuem aos estudos e às aspirações que demonstram em relação à escolaridade e ao sucesso profissional dos filhos. Os posicionamentos familiares são incentivos para que os jovens conscientizem-se e tomem decisões nessa direção. Assim, podemos considerar que a visão positiva dos estudantes quanto à importância dos estudos, observada nesta pesquisa, foi estruturada no decorrer de suas vidas e foi influenciada, em grande parte, pela valorização que seus familiares atribuem à questão.

A quase totalidade dos respondentes gosta de frequentar o ambiente virtual de aprendizagem e sente-se bem nele demonstrando percepção positiva quanto a isso. Essa percepção ratifica o entendimento de que as tecnologias de informação e de comunicação podem facilitar a aquisição e a atualização de conhecimentos de indivíduos e, em conseqüência, favorecer o desenvolvimento de expertises.

Quanto ao lócus de estudo, ao compararmos esses dados com resultados da pesquisa conduzida por Galvão V. (2007), observamos uma perspectiva mais positiva entre os alunos dos cursos a distância. Isso demonstra que ambientes de estudo mediados por tecnologias

podem constituir-se em espaços agradáveis onde alunos podem desenvolver empatia no contato virtual entre as pessoas e para com os conteúdos digitalizados sem maiores dificuldades.

Considerando o gênero dos respondentes, observa-se que os homens declaram gostar de freqüentar e sentir-se bem no ambiente virtual de aprendizagem em maior freqüência que as mulheres, o que pode sugerir a existência de fatores culturais que privilegiem um maior acesso de homens aos meios informatizados podem fazendo com que se sintam mais à vontade do que as mulheres nesses ambientes.

A partir dos dados resultantes desta pesquisa, observou-se que os alunos possuem senso de responsabilidade para com as atividades acadêmicas, uma vez que a ampla maioria declara realizar a leitura integral dos conteúdos e cumprir pontualmente o cronograma de atividades. A maioria dos alunos mantém a concentração durante os cursos on-line e afirma prestar atenção às explicações do professor tutor sempre.

O ambiente virtual de aprendizagem não é percebido como algo monótono a ponto de causar desinteresse ou desconcentração durante o estudo. Esta constatação parece sugerir que cursos online podem ser dinâmicos, atrativos e interativos, como parece ocorrer nos cursos investigados, desmistificando crenças sobre ambientes virtuais cansativos e desmotivadores para os alunos.

Chama-nos a atenção o fato de que somente metade dos estudantes declara participar ativamente das atividades propostas. Em função disso, pode-se especular que esses alunos talvez apresentem certa timidez em participar de fóruns de debates temáticos com os colegas, preferindo adotar uma postura mais discreta e reativa, mesmo em um ambiente em que as pessoas não estejam fisicamente em contato. É curioso notar que esse fato foi também constatado por Galvão V. (2007) em sua pesquisa junto a alunos de curso universitário presencial.

A interação e os relacionamentos interpessoais são aspectos importantes que influenciam a aprendizagem. Por essa razão, este trabalho investigou a interação acadêmica e afetiva com professores tutores, considerando que a educação a distância, no modelo adotado para os cursos em foco, é caracterizada pelo acompanhamento didático-pedagógico de professores tutores aos alunos.

Quanto aos aspectos ligados à afetividade, constata-se que é positiva a percepção dos alunos sobre as práticas e atitudes docentes no ambiente virtual de aprendizagem, pois

elevados percentuais de respondentes declaram gostar, confiar e poder contar com seus professores tutores. Esses resultados positivos apontam para interações de boa qualidade entre docentes e discentes dos cursos on-line com relações pautadas pela confiança, aspecto decisivo para a construção e resignificação da aprendizagem. Observa-se a presença de sentimento positivo resultante da presença virtual do professor tutor, o que parece indicar que não há perdas relacionais nos espaços virtuais de aprendizagem que impeçam o estabelecimento de laços de empatia na interação entre alunos e professores. Esse é outro importante fator para a quebra de paradigmas em relação à educação a distância.

É bastante expressivo o percentual de alunos que consideram que suas opiniões são valorizadas pelos professores tutores e que acreditam que os docentes online são pacientes ao explicarem tópicos que parecem difíceis de entender. Esses são aspectos fundamentais para a construção de um contexto de estudo favorável, pois as práticas dos educadores na condução das atividades de aprendizagem impactam diretamente o processo didático-pedagógico.

Quanto aos aspectos metacognitivos necessários para o desenvolvimento da expertise, percebemos que há percepção positiva em relação à ação dos professores tutores, pois os alunos declaram que os docentes os orientam sobre possíveis formas diferentes de pensar e de tirar conclusões sobre os assuntos estudados, reorientando-os quando necessário. Ou seja, notam que há algum direcionamento da ação pedagógica para o desenvolvimento da metacognição fazendo com que os alunos procurem pensar e compreender o próprio funcionamento mental repetindo-o ou alterando-o, conforme os resultados obtidos. Esse posicionamento parece indicar que há clareza dos tutores na utilização de referenciais andragógicos em sua prática e que os incorporam nas atividades didáticas online, cientes de que é vital despertar no aluno a capacidade de refletir e de questionar-se sobre o próprio pensar e aprender, desenvolvendo estratégias de aprendizagem profundas ou abordagens estratégicas e mecanismos de autoregulação.

Constata-se também percepção positiva sobre o quadro de docente considerando seu entusiasmo para com a matéria, o gosto pelos temas que ensina e a motivação para o trabalho acadêmico. Os dados revelam ainda que a motivação dos alunos para estudar mais mantém correspondência direta com o entusiasmo dos docentes para com as disciplinas.

Ao cotejar esses dados com a pesquisa de Galvão V. (2007), observamos uma tendência a percepções mais positivas para com os docentes no contexto de cursos a distância. Um quinto dos respondentes, porém, não percebe os professores tutores como pessoas

motivadas para o trabalho acadêmico. Considerando-se a modalidade tecnológica utilizada nos cursos em foco, é possível que essa percepção esteja relacionada a uma necessidade específica de contato físico, visual ou sonoro, não previsto nos cursos investigados, para que alguns alunos pudessem perceber atitudes que caracterizem a motivação do professor.

Ao investigarmos as interações acadêmicas e afetivas com colegas, emergiu dos dados que os alunos têm percepções relativamente positivas quanto à interação com seus pares, sendo, porém, menos expressivas do que as que possuem em relação aos docentes. No entanto, esse fato não resultou em um ambiente ruim entre os colegas durante o curso. É menos positiva a percepção dos entrevistados quanto a sentirem-se confortáveis em realizar atividades com os colegas.

Ao comparar a idade dos respondentes com o interesse pelo que aprendem nos cursos a distância, constatamos que a maioria dos alunos com interesse permanente pelos conteúdos têm idades entre 31 e 50 anos, o que pode estar relacionado ao momento profissional que vivenciam em que a expertise é necessária para a consolidação de suas carreiras. Os cursos a distância oferecem oportunidade para o estudo individual deliberado com conteúdos relacionados ao desenvolvimento da expertise.

A análise dos dados revelou que, no que diz respeito à dimensão temporal, praticamente a metade dos alunos dedica, em média, entre uma e duas horas diárias ao estudo fora do ambiente virtual de aprendizagem e considera esse um período ideal ou adequado. Atentando para a realidade de que esse estudo para os estudantes de cursos on-line ocorre, via de regra, em horário extraordinário às oito horas diárias de trabalho praticadas por eles e, especialmente, de forma voluntária, parece-nos que esses alunos se dedicam com seriedade ao processo de aprendizagem.

Em relação à rotina de estudos, a quase totalidade dos alunos não tem dia da semana fixo para estudo, fato compatível com a modalidade de oferta dos cursos devido à sua flexibilidade. Os respondentes seguem rotina de estudos em diferentes horários do dia e distribuem o estudo em várias etapas nos horários disponíveis. 

Sabendo que são necessários mais de dez anos de estudo para o desenvolvimento pleno da expertise de um indivíduo, podemos pensar que o aluno participante desta pesquisa desenvolve sua expertise ao longo dos trinta anos de sua atividade profissional, ou seja, para que a expertise seja alcançada somam-se as horas de estudo individual deliberado realizadas de toda a sua carreira. Os cursos a distancia de curta duração constituem-se em uma das estratégias

para atingir esse objetivo, pois como ação isolada, não possibilitam ao aluno desenvolver a plenitude da expertise.

Emergiu dos dados que os alunos têm uma positiva visão da atmosfera dos cursos a distância. Tendem a gostar, confiar e contar com os professores tutores, posicionando-se da mesma forma em relação aos colegas, porém, em menor medida. Mesmo tratando-se de estudo que objetiva o aprimoramento da expertise profissional, a maioria dos alunos realiza os cursos fora do ambiente de trabalho e estuda sozinha. O barulho e a conversa no ambiente são os principais motivos de desconcentração durante os estudos.

As estratégias de aprendizagem mais utilizadas pelos alunos foram a resolução de exercícios, a realização de anotações e a pesquisa em outras fontes que não indicadas pelo professor tutor. Leitura prévia, elaboração de resumos, desenvolvimento de esquemas e participação em projetos de pesquisa tiveram menor adesão. A julgar pelo uso diversificados dessas estratégias nos processos de estudo de acordo com as exigências da atividade, podemos considerar que esses são aprendizes versáteis, conforme terminologia cunhada por Pask (1976).

As estratégias de preparação física ou mental para o estudo e de utilização de música para acompanhá-lo são utilizadas por uma parcela mínima dos respondentes, o que revela que os alunos não têm consciência de que a adoção desse tipo de atividade pode vir a auxiliar os processos de aprendizagem.

A aplicabilidade é a principal razão considerada na seleção de conteúdos para estudo, o que faz sentido considerando-se que são cursos voltados ao desenvolvimento de expertise para o trabalho. A participação voluntária justifica a seleção de objetos de estudo pautadas no prazer pelo tema, propiciando maior disposição para a aprendizagem e resultando em apropriação profunda e permanente de conhecimentos. Essa afirmativa é corroborada pela rejeição dos alunos em decorar conteúdos sem tê-los antes compreendido ou a condicionarem os estudos à presença de provas, o que revela interesse legítimo na aprendizagem para além do receio do fracasso escolar.

Os participantes relatam expressiva visão positiva quanto à importância das disciplinas ofertadas e declaram perceber relação entre os conteúdos estudados, sendo esses aspectos que influenciam o nível de profundidade com que os alunos se envolvem com os estudos.

A existência de postura metacognitiva é percebida, pois os alunos demonstram a atenção àquilo que estudam, relacionando conteúdos e direcionando seus processos de

aprendizagem para disciplinas que, de fato, contribuam para o desenvolvimento de expertise para o trabalho. Os respondentes consideram que a sequência de apresentação dos conteúdos é adequada e há coerência em relação à sequência interna dos tópicos. O índice de alunos que declara saber o que é esperado que seja aprendido nos cursos é alto, bem como daqueles que não estudam algo sem antes perceber objetivos claros da atividade. 

A partir das declarações dos alunos, constatamos valorização do pensamento crítico e estímulo à metacognição nos cursos a distância, uma vez que afirmam sentirem-se estimulados a pensar sobre sua forma de aprender, receber estímulo para pensar sobre formas de otimizar a aprendizagem e serem encorajados a raciocinar sobre formas mais adequadas de fazer as atividades escolares.

Foi também observado papel ativo dos professores tutores no sentido de estimular o desenvolvimento da metacognição entre os estudantes, que advém da percepção dos alunos de que é possível relacionar as atividades didáticas com os conhecimentos prévios, de que os trabalhos exigidos ajudam a fazer conexões com conhecimentos ou experiência anteriores e de que os conteúdos estudados lhes permitem relacionar a experiência pessoal com questões mais amplas do contexto mundial.

A prática reflexiva é uma das competências apontadas por Perrenoud (2000) como a base da autoformação. Assim, a formação continuada deve levar os indivíduos a analisarem, refletirem e reconstruírem suas práticas como alavanca essencial para a inovação e desenvolvimento de expertises, proporcionando que se tornem durante todo o processo formativo, aprendizes permanentes, construtores de sentidos, cooperadores, organizadores da aprendizagem (GADOTTI, 2008). No desenvolvimento das atividades de estudo individual, observamos que os alunos participantes desta pesquisa utilizam-se em maior monta de estratégias de aprendizagem profundas, pois estão relacionadas à busca de significação e de relacionamento de idéias, entre outros aspectos. O uso de abordagens que se referem a entendimento inexistente ou superficial dos conteúdos, a ausência de objetivos para o estudo e motivação relacionada apenas à avaliação e receio do fracasso, portanto, estratégias de aprendizagem superficiais, não se configurou como aspecto preponderante e característico desse conjunto de estudantes.

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