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3. T URISMO INDUSTRIAL E CRIATIVO

3.1. T URISMO INDUSTRIAL

3.1.4. E XEMPLOS DE TURISMO INDUSTRIAL NA E UROPA

Tal como referido anteriormente, com o nascimento da revolução industrial na Grã-Bretanha e com o desenvolvimento do turismo industrial a partir daí, atualmente é possível encontrar pela Europa vários exemplos do desenvolvimento do turismo industrial, desde museus, ecomuseus, rotas e visitas a fábricas.

Aqueles que são identificados como os primeiros museus industriais nasceram na década de 70 do século passado e são o Ironbridge Gorge Museum e o Beamish Museum na Grã-Bretanha (Falconer, 2006). Ambos os museus são constituídos por diferentes espaços e construções importantes para a história da indústria aqui desenvolvida como a vila onde os trabalhadores moravam, diferentes edifícios e construções, e alguns museus secundários que preservam o vasto património como maquinaria e as histórias (The Ironbridge Gorge Museum, s.d.; Beamish Museum, s.d.), encontrando-se todos conservados e localizados dentro de uma mesma área que foi museificada, podendo assim ser considerados ecomuseus. Como foi referido anteriormente, a tipologia de ecomuseu

surgiu na década de 70 do século passado, impulsionada pela criação do Écomusée Creusot Montceau em Creusot, França, onde se verificou pela primeira vez a ligação entre os vários vestígios industriais dispersos ao longo de determinada área/região (Abad, 2002; Écomusée Creusot Montceau, s/d), sendo por isso também um marco para o desenvolvimento do turismo industrial.

Tal como Abad (2002: 72) refere, estas aberturas serviram de “referência a outros museus industriais que depois se criaram no Reino Unido e noutros países europeus”, como é o caso de museus ferroviários em Espanha e Portugal, abertos em antigas estações de caminho-de-ferro; museus têxteis em Inglaterra, Espanha, Portugal, França, Alemanha e tantos outros países pela Europa; museus da eletricidade desenvolvidos em antigas centrais elétricas na Bélgica e em Portugal; museu da chapelaria e do calçado em Portugal (Mendes, 2000; S. João da Madeira Turismo Industrial (SJMTI), s.d.), assim como tantos outros relacionados com as mais variadas indústrias, localizados, na sua grande maioria, nas antigas fábricas onde a atividade se desenvolvia.

No que diz respeito às rotas, tendo em conta a sua longa história, também era de esperar que estas se fossem disseminando pelo continente europeu. Uma das primeiras e que é referida por autores como Buckley (2007), Cardoso (2012) e Abad (2011), como um dos principais exemplos de rotas turísticas é a Route der Industriekultur – Rota de Património Industrial – na região de Ruhr na Alemanha. Criada no final da década de 90 do século passado, liga atualmente 25 pontos chave (anchor points) característicos das indústrias mineira e metalúrgica anteriormente aqui desenvolvidas, dos quais 6 são museus, contando também com 17 miradouros para a paisagem industrial e 13 povoamentos de diferentes épocas, ao longo de 400km, sem esquecer as outras 28 rotas temáticas11 compostas por inúmeras localizações secundárias (Route der Industriekultur, s/d; Buckley, 2007).

Muitas outras rotas foram sendo criadas pela Europa, tanto a nível local como regional, estando relacionadas com indústrias específicas como as rotas da lã, dos têxteis, da metalurgia, da cortiça, do vidro, entre muitas outras, “onde o turista é convidado a percorrer todas as unidades industriais, museológicas e institucionais que completam um setor de atividade” (SJMTI, s.d.); ou gerais, como as rotas do turismo industrial que

11 Como é o caso das rotas ‘Salmoura, vapor e carvão’, ‘Rota mineira Renana’, ‘Química, vidro e energia’ e ‘Pão, cereais e cerveja’ (Route der Industriekultur, s/d).

abrangem diferentes indústrias (Cordeiro, 2012). De abrangência nacional destaca-se a Rede Espanhola de Turismo Industrial, criada em 2012 com o intuito de organizar uma rede com as várias organizações/destinos que atuam ao nível do turismo industrial dentro deste território (Cordeiro, 2012).

Em Portugal já se fala e trabalha na constituição da Rede Portuguesa de Turismo Industrial, ideia que surgiu em 2018 e na qual serão incluídos elementos que representem as várias rotas locais já existentes em Portugal (Morgado, 2018).

A nível internacional e sendo a grande referência dentro do tópico das rotas de turismo industrial, é de referir a European Route of Industrial Heritage (ERIH). Segundo David Buckley (2007: 2), “o modelo para a ERIH foi a Route der Industriekultur de Ruhr”, tendo sido desenvolvido no ano de 1999, tal como a rota de Ruhr, sendo que os seus trabalhos de conceção se estenderam até ao ano de 2005, quando foi formalmente lançada. Esta foi construída a partir dos locais que demonstravam ter maior importância e mais atratividade – os anchor points –, sendo que com o tempo foram sendo incluídos outros locais capazes de responder a esse mesmo critério de importância, com o objetivo principal de desenvolver e dar a conhecer as antigas regiões industriais, juntamente com o turismo industrial e o seu património (Buckley, 2007; Abad, 2008). A ERIH abrange atualmente 52 países, compreendendo um total de 1 765 locais, dos quais 104 são anchor

points – 3 deles localizados em Portugal12 –, distribuídos por 16 dos países (ERIH, s.d.). Por fim, mas não menos importante, as visitas a fábricas têm vindo a crescer nas últimas décadas, sendo possível encontrar vários exemplos desta atividade cada vez mais popular entre os turistas. Segundo Cordeiro (2012: 12), “uma das primeiras ações [deste género] (…) foi desenvolvida na Grã-Bretanha (…) com o lançamento em 1988 do programa ‘See Industry at Work’”, altura em que “as visitas a fábricas começaram a ser estruturadas como uma oferta turística organizada”. Desta forma, na Grã-Bretanha é possível encontrar inúmeros exemplos e muitos desses bem-sucedidos como as “visitas a destilarias de whisky na Escócia, à fábrica de chocolate da Cadbury na Inglaterra, à mina de carvão Big Pit no País de Gales” (Mota e Costa, 2013: 10).

Da Grã-Bretanha alastraram-se a outros países como a Bélgica, Espanha, Alemanha, Finlândia, França, Portugal, entre tantos outros. Em França “as primeiras

iniciativas (…) pertenceram à fábrica da Peugeot em Sochaux e à cervejaria Kronenbourg em Strasbourg” (Cordeiro, 2012; 12-13); no caso português os exemplos mais relevantes desenvolvem-se em S. João da Madeira, onde é possível visitar 6 fábricas dentro de uma só região, ligadas à indústria da chapelaria, do calçado, da produção de lápis, da etiquetagem e da colchoaria (SJMTI, s.d.). De uma forma geral, e como Cordeiro (2012: 12) refere, “as visitas a fábricas estão limitadas a alguns tipos de indústrias, principalmente vidro e cerâmica, alimentos e bebidas, têxtil e energia. (…) quer por poderem perturbar a normal laboração, quer por razões de segurança dos visitantes”.