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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

2.1 EAD CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Existem divergências entre alguns dos principais autores sobre o entendimento dos conceitos de EaD, principalmente pela compreensão diferente das palavras e terminologias que formam esse conceito. Isso ocorre por vários motivos, desde uma concepção filosófica e teórica da educação ou até por questões políticas, sociais, ambientais e tecnológicas. As definições de Moore e Kearsley (2007), Barberá (2006), Peters citado por Barberá (2006), Aretio (2002), Holmberg (1986) e Perraton (1985), embora com características diversas, parecem representar bem os conceitos de EaD que serão utilizados neste trabalho, inclusive delimitando-os no espaço e no tempo. De modo geral, esses autores ressaltam que a idéia básica da EaD é relativamente simples: alunos e professores em locais distintos a maior parte do tempo, que aprendem, ensinam e utilizam tecnologias para comunicação, transmissão de informações e interação. Há certo consenso também que a EaD permite novas oportunidades de aprendizado e compartilhamento de conhecimento para um grande número de pessoas, que antes não dispunham de tal recurso.

Keegan (1996) complementa esse entendimento e destaca que os elementos centrais do conceito de EaD enfatizam a separação física entre aluno e professor, atuação marcante da instituição educacional em relação ao planejamento, sistematização, projeto e rigidez organizacional (diferenciando-a da educação individual), utilização de meios técnicos de comunicação (geralmente impressa), para unir o professor ao aluno e transmitir os conteúdos educativos, comunicação de mão-dupla (propiciando o diálogo), possibilidade de encontros presenciais ou não com propósitos didáticos e de socialização, além de participação em uma forma industrializada de educação potencialmente revolucionária.

Maia (2003, p.76) destaca que

este modelo educacional transforma a relação tradicional na sala de aula. O conceito de autoridade do professor e seu domínio sobre o processo de ensino transformam-se em compartilhamento do aprendizado. Surge uma nova interface entre alunos e professores, mediada pelas tecnologias computacionais, como a Internet.

Neste novo modelo de educação, os professores desempenham mais o papel de facilitadores do que de especialistas, pois os cursos serão menos estruturados e mais personalizados, cabendo aos próprios alunos cuidar de sua instrução e do seu aprendizado. Estes conceitos, segundo Maia (2003), reforçam a idéia de que os alunos aprenderão por fazer, inclusive utilizando-se de suas experiências e não por memorização.

Litwin (2001) diverge parcialmente do entendimento da maioria dos autores e observa que a EaD não mais se caracteriza pela distância, uma vez que a virtualidade permite encontros cada vez mais efetivos que possibilitam de fato a educação. Para ela, o traço que distingue esta modalidade não é somente a separação aluno-professor, mas principalmente a mediatização das relações entre docentes e alunos via recursos tecnológicos. Para ela, a autonomia não deve ser confundida com autodidatismo, pois na EaD o aluno conta com uma proposta pedagógica e didática além de uma infraestrutura de suporte e apoio às atividades educacionais.

Na visão de Moore e Kearsley (2007), uma definição e uma explicação são fundamentais para que a EaD possa ser vista em níveis distintos de complexidade organizacional face sua natureza multidimensional. Estes autores destacam que as organizações que praticam EaD devem ser avaliadas e estudadas como sistemas. A idéia básica é que o sistema EaD é formado por todos os processos e componentes que operam quando ocorre o ensino e o aprendizado a distância que incluem, dentre outros, os subsistemas de fontes de conhecimento, criação, transmissão, interação, aprendizado e gerenciamento. Como sistema e subsistemas que interagem, quaisquer alterações ou modificações em uma parte deles, pode exercer efeitos em outras partes dos sistemas e subsistemas interdependentes. Os autores ainda ressaltam que os componentes principais de um sistema de EaD devem considerar:

• uma fonte de conhecimento que deve ser ensinada e aprendida (conteúdo);

• um subsistema para estruturar esse conhecimento em materiais e atividades para os alunos, denominados de cursos; • outro subsistema que transmita os cursos para os alunos

(tecnologia);

• professores que interagem com alunos, à medida que usam esses materiais para transmitir o conhecimento que possuem (interação);

• alunos em seus ambientes distintos (ambiente de aprendizado);

• um subsistema que controle e avalie os resultados, de modo que intervenções sejam possível, quando ocorrerem falhas (avaliação); e

• uma organização com uma política e uma estrutura administrativa para ligar essas peças distintas (gerenciamento).

Ou seja, de acordo com Moore e Kearsley (2007) um sistema de EaD é composto, dentre outros, pelos subsistemas pessoas/atores, infraestrutura, conteúdo, tecnologia, interação, ambiente de aprendizado, avaliação e gerenciamento.

Corroborando, Garbin e Dainese (2010, p.09), enxergam a EaD como

um sistema complexo que evolui, indicando que a sua dinâmica não o mantêm idêntico a si mesmo no tempo/espaço. O princípio da co-evolução indica que o sistema não evolui de forma isolada, mas junto com o entorno e subsistemas no qual está inseparavelmente ligado. É um processo de evolução de natureza relacional, dinâmica, co- determinada e interdependente.

Com base nestes autores, observa-se a complexidade da EaD, sua dinâmica evolutiva e a necessidade de se trabalhar com uma visão sistêmica nessa modalidade, considerando todas as engrenagens e componentes que a envolvem, sem deixar de lado sua natureza multidimensional.

No Brasil, os “Referenciais de Qualidade para a EaD – REFEaD” (BRASIL, 2007) destacam que não existe um modelo único do sistema de educação à distância. Os programas podem apresentar diferentes desenhos, múltiplas combinações de linguagens e recursos educacionais e tecnológicos. A natureza do curso e as reais condições do cotidiano e necessidades dos estudantes são os elementos que irão definir a melhor tecnologia e metodologia a serem utilizadas, bem como momentos presenciais necessários e obrigatórios, previstos em lei, estágios supervisionados, práticas em laboratórios de ensino, trabalhos de conclusão de curso (quando for o caso), tutorias presenciais nos pólos descentralizados de apoio presencial e outras estratégias.

Apesar da possibilidade de diferentes modos de organização, um ponto deve ser comum à todos aqueles que desenvolvem projetos nessa

modalidade: é a compreensão de educação como fundamento primeiro, antes de se pensar na modalidade de ensino e de organização.

Assim, embora EaD possua características, linguagem e formato próprios, exigindo administração, gestão, desenho, lógica, acompanhamento, avaliação, recursos técnicos, tecnológicos, de infraestrutura e pedagógicos condizentes, essas características só ganham relevância no contexto de uma discussão político-pedagógica da ação educativa. Disto, infere-se que um projeto de curso superior a distância precisa de forte compromisso institucional visando garantir o processo de formação que contemple a dimensão técnico-científica para o mundo do trabalho e a dimensão política para a formação do cidadão. (BRASIL, 2007).

2.2 REFLEXÃO SOBRE DEMOCRACIA E AUTONOMIA NA EAD