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A ECOLOGIA DA PAISAGEM E A ELABORAÇÃO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE URBANA A PARTIR DOS RIOS E DA DRENAGEM

No documento Temas emergentes do planejamento urbano (páginas 94-96)

PARA A RENATURALIZAÇÃO DOS RIOS DE NITERÓI Werther Holzer l 31 ; Eloisa Carvalho de Araujo

A ECOLOGIA DA PAISAGEM E A ELABORAÇÃO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE URBANA A PARTIR DOS RIOS E DA DRENAGEM

O conceito de Ecologia da Paisagem aqui adotado é o apresentado por Metzger (2001), que se revela como uma visão integradora de paisagem, assumindo assim um caráter heterogêneo, contribuindo pela formação de unidades de paisagem. Esse atributo a ele associado, de heterogeneidade, vem por se revelar, sobretudo, segundo o olhar de um observador e também de acordo com determinada escala de observação. O que vem por valorizar as interações do homem com seu ambiente, favorecendo identificar interações entre os fatores no ecossistema de uma dada paisagem.

O método em referência a ser adotado no presente Plano Setorial tem como objetivo valorizar, identificar e classificar a área de estudo a partir das suas unidades de paisagem, apontando problemas e potencialidades, sempre observando o recorte espacial e temporal desejado. Essa abordagem, no âmbito da heterogeneidade do espaço e do tempo, considerando suas múltiplas escalas, assim como valores e atributos para o entendimento dos processos ecológicos da cidade, na atualidade, pretende contribuir para a recuperação de áreas degradadas.

As questões que delimitam, ou alinhavam, diretamente a proposição da drenagem urbana como diretriz fundamental para o planejamento municipal é aqui salientada através da possibilidade de adotar a estrutura ecológica da paisagem como parâmetro indicador de propostas reais às particularidades da paisagem estudada. A ecologia da paisagem permite reconhecer padrões espaciais que determinam ações efetivas voltadas à conservação, manutenção, restauração dos sistemas naturais, como permite igualmente, manter e propor soluções que promovam benefícios sociais, culturais e econômicos (FORMAN, 2008, 1995).

O Plano Setorial, ao considerar as bacias hidrográficas como limites claros à sua articulação, possibilita agir de forma cooperativa entre a

conservação dos sistemas ambientais, verde (espaços livres vegetados) e azul (linhas de drenagem e reservatórios, naturais e/ou construídos), ao mesmo tempo direciona o desenvolvimento do território para maximizar os benefícios a sociedade humana (BENEDICT; McMAHON, 2006).

Diversos autores (FORMAN, 1995; McHARG, 1969) reconhecem que a Ecologia da Paisagem como base ao planejamento desempenha, simultaneamente, em diversas escalas, funções de proteção, manutenção e produção, ou seja, auxilia a drenagem urbana de forma direta nas ruas e áreas comuns ordinárias ao uso humano, como também orienta através do mapeamento dos pontos de cheias e demandas da bacia, envolvendo metodologias práticas qualitativas e quantitativas, a manutenção dos recursos e a estabilidade física do território. Lembramos que a delimitação de uma estrutura ecológica, baseada nos sistemas naturais de forma ampla, permite disponibilizar espaços livres de caráter ambiental a todas as camadas da sociedade, e não apenas como elemento segregador, desconectado dos processos e fluxos naturais e de seu sítio.

A renaturalização dos rios aliada à implantação de infraestrutura verde se conforma como elementos estruturadores da paisagem, os quais aplicados aos espaços potenciais direcionam o desenvolvimento e possibilitam sua oferta de modo equitativo. Assim, a estrutura ecológica da paisagem observa a totalidade territorial, em sua complexidade e transformação constante, para definir oportunidades de uso e manutenção dos recursos disponíveis dentro do objetivo de sustentabilidade ditando parâmetros para políticas públicas observando a dinâmica de sua gente.

No presente texto se aplica a experiência de pesquisa que visa a investigar cidades latino-americanas e suas formas de crescimento, baseando- se na metodologia aplicada para Barcelona segundo os indicadores da Agência de Ecologia Urbana de Barcelona propostos por Salvador Rueda (2009).

Reducir la presión sobre los sistemas de soporte es el primer eje de la sostenibilidad, es el camino para aumentar nuestra capacidad de anticipación hoy reducida por el aumento creciente de las incertidumbres fruto de la acción de transformación humana (sobre todo urbana) sobre los ecosistemas de la Tierra. La insostenibilidad se asienta en la creciente presión sobre los sistemas de soporte. La presión por explotación y/o impacto contaminante aumenta hoy, tal como se ha dicho, de manera explosiva debido a las lógicas inherentes al actual modelo de producir ciudad. Son lógicas que en lugar de reducir la

presión sobre los sistemas de soporte (las propias en un proceso hacia la sostenibilidad), las aumentan puesto que son lógicas económicas y de poder que basan su estrategia competitiva en el consumo de recursos. (RUEDA, 2009, p. 7).

A proposição de Rueda para criar indicadores de sustentabilidade parte da proposição de substituir o urbanismo tradicional pelo Urbanismo Ecológico, o primeiro baseado apenas no plano da superfície, o segundo baseado em três planos complementares, associando ao plano horizontal a altura e o subsolo (RUEDA, 2009, p. 9).

Deste modo, o Urbanismo Ecológico tem como objetivo criar indicadores que atendam ao âmbito da biodiversidade e da preservação de valores geográficos e naturais; que considerem o metabolismo urbano; que ordenem os serviços e a logística urbana; a mobilidade e a funcionalidade; o espaço público, e da complexidade urbana e da sociedade do conhecimento (RUEDA, 2009, p. 11-16).

A associação desses indicadores, que planejam a cidade para além da sua superfície, em conjunto com a ecologia da paisagem, na qual as camadas de informações físicas, ambientais e culturais se superpõem na análise da superfície, propiciam um modelo normativo para o Plano Setorial de Drenagem onde os “recursos hídricos” passam a ser visíveis, já que não se consideram apenas os dados visíveis na superfície, mas também no plano vertical. Desse modo, esses indicadores não planejam simplesmente a utilização ou a apropriação de recursos, mas problematizam os rios e linhas de drenagem como um bem comum, um espaço público urbano, que tornado invisível pela análise da superfície deixa de ser visível.

No documento Temas emergentes do planejamento urbano (páginas 94-96)