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4.4. Evolução da malha urbana de São Luís a partir do século XX

4.4.3 As edificações

Para que este conjunto sobrevivesse até os dias de hoje, muito contribuiu, ainda que de forma paradoxal, a conjuntura de estagnação econômica que se abateu sobre a região do meio norte brasileiro na primeira metade do século XX. A falta de recursos para a execução de obras inviabilizou aqui, ao contrário do que ocorreu em grandes cidades brasileiras, os movimentos de renovação urbana com as demolições de valiosas áreas históricas.

Em contra partida, foi determinante a natureza extremamente sólida das construções, erigidas em grossas paredes de pedra e argamassa aglutinadas a cal, com a utilização de madeiras de lei, serralharias, cantarias de Lioz, e muitas vezes tendo as fachadas revestidas de azulejos, para que permitissem um trabalho urbano voltado para a preservação.

Figura 4.19 - Fachada de azulejos do conjunto da Rua Portugal.

Ao mesmo tempo, o estilo de implantação dos lotes urbanos permitiu as edificações geminadas, que se escoram mutuamente, configurando blocos compactos, quase sem os vazios de meio de quadra.

Construídas sobre uma bem fundada infra-estrutura de ruas, pavimentadas com as pedras graníticas e emolduradas por calçadas de cantaria e que eram servidas por um engenhoso sistema de galerias subterrâneas para drenagem das águas pluviais, além de uma inusitada e pioneira rede de esgotos, utilizando manilhas inglesas de cerâmica vitrificada.

Implantadas nos lotes com as plantas geralmente em forma de L, sendo as maiores em forma de U, com os pátios internos, as edificações caracterizam-se ainda pelos telhados em telha de barro do tipo capa-e-canal, os beirais curtos terminados com cimalhas trabalhadas, vãos estreitos regularmente dispostos e emoldurados, balcões guarnecidos de grades de ferro batido e pisos em lajes de pedra. São dotadas ainda de elementos construtivos que favorecem a sua adequação ao calor equatorial, como os elevados pés-direitos e as varandas posteriores de madeira de lei guarnecidas de esquadrias do tipo “venezianas”.

Figura 4.20 - Fachadas posteriores guarnecidas de gelosias e caixilhos.

Com a mesma finalidade destacam-se ainda os forros vazados em espinha de peixe, os mirantes, (pavimento que aproveita o desvão gerado pela inclinação de telhado) que além de pontos privilegiados de observação da entrada dos navios no porto e sinalização sobre os preços das mercadorias, também funcionavam como chaminés de ventilação.

Breve análise dos elementos arquitetônicos e detalhes construtivos revelam as evidentes intenções dos construtores portugueses na adequação da sua arquitetura às condições ambientais do sítio escolhido, criando ambiente de sombra e ventilação no interior dos sobrados. O pé direito elevado, os forros vazados em

espinha de peixe, as varandas posteriores abertas com as rótulas móveis ou osias,

Figura 4.21 - Detalhe de fachada de sobrado com mirante

Há também grande ocorrência de fachadas revestidas de azulejos importados, predominantemente portugueses, mas também outros de origem francesa e holandesa como dos poucos requintes de acabamento mais luxuoso e que conferem a São Luís o título de Cidade dos Azulejos.

Este tipo de revestimento cerâmico, além de atender ao requisito estético e de status social, possui o alto poder de impermeabilização, constituindo proteção contra as chuvas intensas, tendo uma durabilidade infinitamente maior do que as fachadas de massa pintada, cuja pintura precisa ser renovada a cada ano, e também colabora para maior conforto ambiental no interior dos edifícios, por ser o azulejo uma superfície que reflete os raios solares e, portanto absorve menos calor.

Verifica-se um número significativo de construções de caráter oficial e civil com as características neoclássicas do século XIX e primeiras décadas do XX, apresentando desenhos e adornos, principalmente na composição dos elementos de fachada, como platibandas, frontões triangulares, colunatas e escadarias. Observa- se por todo este cenário urbano maranhense, discretas influências dos estilos “Art nouveau”, “Art deco” e “Rococó”, que aqui chegaram no início do século XX.

Outra característica marcante da arquitetura civil em São Luís é a imponente dimensão e solidez dos sobrados. Muitos com mais de mil metros quadrados de área, construídos sobre paredes externas de quase um metro de espessura, em pedra argamassada, com as divisões internas de taipa.

Entre as tipologias das edificações características do Centro Histórico de São Luís, destacam-se: os solares, os sobrados, as moradas inteiras, as meias- moradas e casas “porta-e-janela”.

Figura 4.23 – Solar que hoje abriga a sede da reitoria da Universidade Federal do Maranhão

Os Solares

Os solares são sobrados residenciais erguidos pelas classes abastadas do século XVIII, com suntuosidade e apuro no acabamento, apresentando portais em pedra, algumas de feições neoclássicas com os frontões triangulares, balcões sinuosos sacadas em cantaria de lioz, e os guarda-corpos em gradis de ferro forjado ou fundido. Internamente, no pavimento térreo, um grande vestíbulo com piso

geralmente decorado com uma combinação de seixos de rio e lajes de lioz, dá acesso à escada principal que conduz aos pavimentos superiores, onde a família habitava, pois o térreo era destinado a abrigo de carruagens e dependências de serviços.

Figura 4.24 - Sobradão da Praia Grande de uso comercial e residencial.

Os Sobrados

Os sobrados destacam-se na paisagem do centro histórico, com as construções de até quatro pavimentos. A maioria deles possui sacadas em lioz, ou balcões corridos em toda a extensão de abertura dos vãos, os quais são guarnecidos por gradis de ferro com os desenhos variados. Os sobrados tinham o uso misto: no térreo funcionava o comércio e dependências de serviço; nos demais pavimentos o uso era residencial. As dependências da parte posterior, sempre formadas por avarandados corridos, protegidos por venezianas voltadas para o pátio interno. Um bom número dessas edificações possui mirantes e revestimento de azulejos nas fachadas.

As Casas Térreas

As casas térreas maranhenses são tipologicamente conhecidas como: a) morada-inteira :uma porta central, com duas janelas de cada lado; b) meia-morada : uma porta em uma das extremidades e duas janelas ao

lado;

c) porta-e-janela: a edificação mais simples, geralmente de uso residencial popular, com a fachada principal apresentando , como o nome diz, apenas dois vãos - uma porta e uma janela. Esse tipo de habitação dispõe, em geral, de apenas essa fachada principal e a dos fundos, não havendo, na maioria dos casos, espaços laterais entre a edificação e as vizinhas. A casa porta-e-janela tem largura média em torno de 3,00 a 4,00 m, sendo implantadas em lotes com profundidade média entre 10 e 20 m. Este tipo de habitação reflete um modo de parcelamento urbano bastante peculiar em São Luís, o que permite a um número expressivo de famílias de baixa renda morar próximo aos locais de trabalho e aos serviços públicos. Embora em menor número existem as variações em torno destes tipos principais que são: a morada-e-meia, morada-e-comércio e ¾ de morada.

Figura 4.25 - 1) Porta-e-janela, 2) Morada-inteira, 3) Meia-morada e comércio, 4) Meia –morada, 5) ¾ de morada e 6) Morada-e-meia