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CAPÍTULO

COMUNIDADE CALIFÓRNIA: HISTÓRIA, CONQUISTA E CONTEXTO

2.3 Educação e a Agricultura Familiar

O desenho da pesquisa tem como pilares o diálogo entre o saber/fazer no campo (lugar da pequena produção do assentado) por meio das experiências matemáticas (o explicar, o conhecer e o entender) dos assentados no sistema produtivo e a matemática desenvolvida no sistema escolar com características rurais, tendo como elo entre esses pilares a Etnomatemática. O sistema produtivo da comunidade está alicerçado em uma produção de subsistência com características associadas à agricultura familiar.

Nos primeiros dias da conquista da terra, sugiram as necessidades imediatas com relação à saúde e educação, além da questão referente à alimentação. As crianças que acompanhavam seus pais na busca pela terra necessitavam de condições mínimas para estudar e de forma improvisada a escola começa a funcionar na antiga sede da fazenda, a partir de agosto de 1996, atendendo aproximadamente 150 crianças da Educação Infantil e do primeiro ao quinto ano em turmas multiseriadas do Ensino Fundamental, nos turnos matutino e vespertino. Os professores nessa fase inicial eram voluntários com escolarização de Ensino Fundamental, anos finais, apenas uma professora tinha o magistério. As crianças do sexto ao nono ano eram transportadas para estudar em Açailândia.

Figura 12 – Unidade Escolar Antônio de Assis: primeiras instalações

Em 1997 a prefeitura de Açailândia assume sua responsabilidade com os salários dos professores e do corpo administrativo, mas a escola continua funcionando em condições precárias e de forma improvisada até o ano de 2002, na antiga sede da fazenda, no intuito de proporcionar às crianças uma estrutura escolar adequada; ainda em 1999, a comunidade se mobilizou e iniciou uma negociação com a prefeitura de Açailândia e com o INCRA (MA) para a implantação de uma escola na Agrovila e que receberia o nome de Antônio de Assis12. Após um longo processo de negociações, deu-se inicio à construção da escola com 02 salas de aula, 02 banheiros, 01 cantina e 01 pequena secretaria com recursos do INCRA (MA), visando atender as primeiras necessidades.

O trabalho docente na escola do assentamento sempre despertou algumas preocupações da comunidade, um desses está relacionado ao fato de que eles deveriam ser da comunidade, a exemplo da professora Eva de Souza, Maria de Jesus e Maria de Lourdes Souza, que conheciam toda a realidade da comunidade, mesmo com pouca escolarização. Iniciaram um processo de recrutamento de outros assentados para ministrar essas aulas, assentados que apresentassem algum conhecimento e domínio básicos da língua portuguesa e matemática. Este foi o caso do Sr. Itamar,

[...] nos primeiros anos eu trabalhei no meu lote e na área comunitária e só depois que veio a exigência que pra dá aula seria pessoas assentadas, nesse período a prefeitura já ajudava, foi quando recebi o convite de dona Eva, pra ensinar matemática, a escola era pequena, mas tinha muitas crianças e funcionava em uma sala na fazenda e até em baixo de pé de manga, depois com a exigência construíram 4 ou 5 salas, a minha preocupação que eu nunca tinha dado aula, ai levaram meu nome pra prefeitura, foi ai que fui voltar a estudar, abrir um livro, trabalhei 4 anos assim contratado, depois desistir e vim trabalhar na minha terra. (ITAMAR, entrevista em 24 de julho de 2014).

Na fase inicial da construção da escola o número de sala de aula foi insuficiente; nesse período de transição, que vai até 2002, a prefeitura amplia a escola com mais 02 salas de aulas e a construção do muro no entorno da escola. A escola contava agora 04 salas de aulas, mas como a demanda era maior, foi improvisada uma sala de aula na igreja católica, que ficava nas proximidades. A partir do ano de 2004, a escola passou a atender além da Educação Infantil, o Ensino Fundamental do primeiro ao nono ano. E no turno da noite, duas

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Antônio de Assis foi um assentado que participou da fase inicial da luta pela conquista da terra e que assim como outros assentados que participavam das atividades coletivas, fazia parte da equipe encarregada pela segurança dessas famílias, acidentalmente teve a vida tirada com um tiro de espingarda.

turmas de Educação de Jovens e Adultos estavam ativas, além de o espaço funcionar como anexo para uma escola localizada em Açailândia para o Ensino Médio.

Figura 13 – Unidade Escolar Antônio de Assis – Gestão Municipal

Fonte: Arquivo pessoal/ 2012.

Atualmente, a escola atende aproximadamente a 300 alunos, com um quadro funcional de 34 profissionais, dentre os quais 16 são professores, sendo que 10 residem na própria comunidade, 01 diretora, 01 coordenador pedagógico, 01 secretaria e os demais correspondem a demandas administrativas, dentre esses, vigias e o pessoal de serviços gerais. A estrutura física da escola e o funcionamento em turnos estão distribuídos assim: 06 salas de aulas, 02 banheiros, 01 cantina, 01 secretaria, 01 depósito e 01 biblioteca. No período da manhã funcionam 03 turmas de Educação Infantil e 03 turmas do Ensino Fundamental (primeiro ao terceiro ano); no turno da tarde, Ensino Fundamental (quarto ao oitavo ano); e o turno da noite funciona para o nono ano do Ensino Fundamental, duas turmas do EJA (sexto ao nono ano) e as turmas do Ensino Médio (primeiro ao terceiro ano).

Figura 14 – Unidade Escolar Antônio de Assis: contexto atual

Fonte: Arquivo pessoal/ 2015.

A chegada da empresa de Suzano de Papel e Celulose na região, com instalações na cidade de Imperatriz, comprou algumas fazendas no entorno do assentamento voltada para o cultivo do eucalipto. Nesse período, surgiram alguns conflitos e como parte do acordo formalizado entre a comunidade, a empresa Suzano foi representada pela Ecofuturo e a Fundação Nacional do Livro e outros participantes, tais como representantes do setor de educação do MST e a prefeitura de Açailândia, implantou-se na comunidade 01 biblioteca e sua instalação na escola Antônio de Assis. No acordo firmado ficou decidido que a comunidade escolheria 30% do acervo da biblioteca.

O sistema produtivo do assentamento baseia-se na produção agrícola, com característica familiar e técnicas rudimentares. No entanto, alguns produtos ganham destaque na economia local, como é o caso do cultivo de hortaliças, plantios de feijão, fava, mandioca, abóbora e urucum. Para o desenho da pesquisa, a investigação será delineada pelo saber/fazer desses agricultores, tendo como vetores direcionais, a Etnomatemática

processada deste à delimitação e preparo da terra, cultivo e comercialização desses produtos agrícolas. A comunidade conta também com a produção de mel e queijo em pequena escala. Atualmente, alguns agricultores além de comercializar seus produtos na comunidade, vendem o excedente na feira de Açailândia aos domingos; outros fornecem diretamente para a Secretaria de Agricultura do município por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)13. Os produtos comercializados via PAA, são oriundos da agricultura familiar e são dispensados de licitação. Os beneficiados no assentamento Califórnia são os alunos da escola, mediante a efetivação desses alimentos à merenda escolar.