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2. OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

2.3. Educação Ambiental no processo Educacional

A crise ambiental é também uma crise de cultura, crença e de valores. É neste contexto que surge a Educação Ambiental como disciplina construída à luz do estatuto da cidadania, no sentido de mostrar que a sociedade é responsável pela qualidade ambiental e conseqüente qualidade de vida. Sobre isso, Leff (2001, p. 78) coloca:

O planejamento de políticas ambientais para um desenvolvimento sustentável, baseado no manejo integrado dos recursos naturais, tecnológicos e culturais de uma sociedade, conduz à necessidade de compreender as inter- relações que se estabelecem entre processos históricos, econômicos, ecológicos e culturais no desenvolvimento das forças produtivas da sociedade.

Antepassados ilustres como Rosseau (1712-1778) e Freinet (1896-1966) já mencionavam a natureza e o meio como recursos educativos.

A Educação Ambiental constitui um processo educativo, cuja finalidade é desenvolver instrumentos pedagógicos e ampliar a prática educativa para que o homem viva em harmonia com o meio ambiente.

As práticas de Educação Ambiental não devem visar somente à transmissão de conhecimento sobre o meio ambiente, mas também à mudança de comportamento. É necessário ajudar os alunos a esclarecer e expressar suas impressões e valores quanto ao meio ambiente. Com essa preocupação, Krasilchik (1986, p. 1959-1960) assinala:

Para que a Educação Ambiental atinja plenamente seus objetivos, alguns aspectos devem ser considerados: propiciar aos alunos uma sólida base de conhecimentos [...]. Porém, apenas o conhecimento é insuficiente. A base da Educação Ambiental reside no envolvimento e participação.

Também na Educação Matemática, Skovsmose (1994, 2000a) destaca que a Educação deve favorecer aos alunos o compromisso crítico com respeito à vida social e política. O autor atribui à Matemática uma parcela dessa responsabilidade. Ou seja, não é suficiente a transmissão de conteúdos, é necessário que os alunos interpretem e validem suas soluções através de uma visão crítica.

Para muitos, a Educação é vista como um caminho para integrar-se na sociedade do conhecimento. A instituição escolar deve ser o centro animador de processos educativos que conciliem ensino, pesquisa e extensão na ação junto aos temas ambientais, presentes nas comunidades onde está inserida, provocando a construção dos conhecimentos dos educadores, educandos e da sociedade, possibilitando mudanças de práticas e posturas, atuando como agente de transformação na melhoria da qualidade de vida e proteção ao meio. Pode-se dizer que a escola é um lugar privilegiado para a prática da Educação Ambiental, porém várias outras instituições ocupam um lugar de destaque na divulgação dessa questão, como, por exemplo, as igrejas e as mídias.

Na perspectiva da Educação Ambiental, é função da escola promover a Educação, isto é, ajudar o indivíduo a se relacionar com o outro e com o mundo que

o cerca, sempre respeitando a natureza, assumindo um papel de compromisso com o presente e o futuro do planeta para que todos tenham a mesma oportunidade de se beneficiar dos recursos naturais. Contudo, não se pode responsabilizar apenas a escola pela formação da consciência ambiental e pela mudança de hábitos da sociedade.

Espera-se que os agentes envolvidos na escola criem condições para que as pessoas possam aprender os conteúdos necessários para construir instrumentos de compreensão da realidade e tenham participação nas relações políticas e culturais.

Da complexidade dos problemas ambientais deriva a característica fundamental da abordagem interdisciplinar, enfocando várias áreas do conhecimento, exigindo a mudança de atitude individualista para uma atitude de cooperação dos professores, demandando uma integração de conhecimentos que se apóia nas diversas disciplinas, além da necessidade do envolvimento de vários outros setores extra-escolares. Ou seja, a realização e a compreensão desse processo de aprendizagem com característica interdisciplinar requerem a contribuição e a articulação de conhecimentos oriundos de diferentes áreas.

O tratamento dos problemas ambientais na Educação exige também a participação do aluno no processo de aprendizagem; a orientação para resolver problemas objetivos; a integração com a comunidade, e requer uma ação prática voltada para a melhoria da qualidade ambiental.

A visão interdisciplinar da realidade aprimora a responsabilidade e a escolha, formando o espírito crítico e, conseqüentemente, favorece a observação, reflexão, contribuindo para desenvolver nos alunos o poder de pensar, criar, inventar e compreender o seu espaço. Além disso, por envolver uma realidade concreta, poderá implicar maior interesse por parte desses alunos.

A partir do momento em que o indivíduo se torna capaz de observar, pensar e agir sobre o meio que o cerca, começa a sentir que faz parte dele. Isso pode gerar um indivíduo consciente e participativo, com condição de refletir suas práticas habituais, o que pode levá-lo a atuar como modificador do seu próprio meio, alterando a sua forma de agir e de pensar individual e coletivamente, se tornando sensível, crítico, transformador, consciente do seu papel para a formação de um mundo melhor.

A interação do aluno com a comunidade propicia uma sólida base de conhecimentos, permitindo obter e usar criticamente as informações, e assim tomar decisões baseadas em dados concretos e não apenas naqueles divulgados pelos veículos de comunicação de massa. Além disso, espera-se que o aluno seja capaz de analisar, discutir e tomar decisões sobre problemas de valor.

Muitas soluções relacionadas com a temática ambiental dependem de cooperação e solidariedade, e de uma tomada de consciência da importância da ação individual para o bem coletivo, e da ação local para o resultado global. As pesquisas acadêmicas configuram um valioso instrumento para a tomada de consciência, pois a ciência é dinâmica, atitudes ambientalmente corretas hoje podem assumir um outro papel amanhã.

A escola deve adotar uma postura mais participativa e responsável diante dos problemas ambientais. Sem um paciente trabalho de esclarecimento, que começa em cada sala de aula, é provável que a própria população continue encarando a questão ambiental como coisa menor, quando, na verdade, ela abarca todos os setores de nossa vida.

É necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos, que permitam ao aluno atuar efetivamente no processo de manutenção do equilíbrio ambiental, de modo a garantir uma qualidade de vida condizente com suas necessidades e aspirações.

Os alunos devem ser auxiliados a construir uma consciência global mediante atitudes individuais das questões relativas ao meio, para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria, ou seja, desenvolver um espírito de crítica às induções ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas de sua comunidade. Para isso é importante que possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão ambiental. E esse significado é resultado da ligação que o aluno estabelece entre o que aprende e a sua realidade cotidiana, e da possibilidade que adquire de relacionar o que aprende com o que já conhece, podendo, a partir daí, utilizar esse conhecimento em outras situações.

O trabalho com a realidade local possui a vantagem de oferecer um universo acessível e conhecido e, por isso, passível de se transformar em campo de aplicação do conhecimento. Porém, para que os alunos possam compreender a complexidade e a amplitude das questões ambientais, é fundamental oferecer-lhes, além da maior diversidade possível de experiências, uma visão abrangente, que englobe diversas realidades e, ao mesmo tempo, uma visão contextualizada da realidade ambiental, o que inclui, além do ambiente físico, as suas condições sociais e culturais.

Faz-se necessária e urgente a formação de indivíduos que façam de seu conhecimento um instrumento crítico de leitura da realidade, para que sejam capazes de interagir no processo de melhoria da qualidade de vida do coletivo, valorizando princípios de cooperação e solidariedade. Essas mudanças, além de necessárias, têm que ser promovidas pelo menos na mesma velocidade das transformações sociais, econômicas e culturais das diferentes sociedades.

A aprendizagem de conhecimentos, formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem uma nova postura ética, diante da problemática ambiental, promovem a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições, assim como a formação do cidadão crítico e transformador, comprometido com a qualidade de vida.

A Educação Ambiental fomenta novas atitudes nos sujeitos e novos critérios de tomada de decisões, porque passam a ser guiados pelos princípios de sustentabilidade, primando por ser um cidadão crítico, criativo e prospectivo, tendo participação tanto no diagnóstico dos problemas quanto na busca de alternativas e da implementação de soluções. Os indivíduos são estimulados a usar a valorização e a significação da natureza como objetos de trabalho.

O processo educacional tem um papel fundamental no processo de construção da consciência ambiental, atingindo primeiramente o aluno e, depois, a comunidade escolar e demais indivíduos, podendo contribuir na formação de comunidades organizadas e bem informadas, ao mesmo tempo comprometidas com um projeto de sociedade e humanidade, implicando decisões que levem à busca de uma ética mundial para a vida digna, do ponto de vista social, e sustentável, do ponto de vista biológico.

Nesse sentido, Carrera de Souza (2001, p. 42-43) coloca:

É interessante observar que - sejam quais forem os modelos adotados na tentativa de explicar o atual estado de agressão à natureza, praticado pela nossa sociedade e quais forem as alternativas de ação propostas - o processo educativo é visto por todos como uma possibilidade de provocar mudanças e alterar esse quadro.

A possibilidade de que programas educativos possam contribuir, tanto do ponto de vista da aquisição de conhecimentos a respeito do meio, como também no tratamento de questões relacionadas com as alterações provocadas pela sociedade na natureza, tem sido desde há muito tempo considerada por diferentes grupos sociais.

A importância da Educação Ambiental foi reforçada pelo MEC quando organizou duas semanas antes da realização da Eco-92, um seminário sobre Educação Ambiental, em forma de workshop, lançando a “Carta Brasileira sobre Educação Ambiental”.

Em 1997, o MEC iniciou o lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), com o objetivo de oferecer uma proposta de orientação para os programas de Educação Fundamental, contendo textos referentes aos chamados temas transversais5, considerados de grande relevância social e pertinentes a todas as disciplinas, devido ao seu caráter interdisciplinar. A preocupação centrava-se em construir cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes do seu papel na sociedade. Um dos temas transversais, considerado de grande relevância nos PCNs, é a questão ambiental.

Com a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, a Educação Ambiental passou a ser obrigatória nas escolas. Dada a sua importância, o governo federal torna pública a Lei no. 9.795, de 27 de Abril de 1999 (BRASIL, 2001), que institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Abaixo, são destacados alguns trechos da Lei relacionados à referida pesquisa.

Art. 2o [...] A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente,

de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

Art. 3o I – ao Poder Público, nos termos dos artigos 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente.

Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente, em todos os níveis e modalidades do ensino formal.

$1o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica do currículo de ensino.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre o Meio Ambiente (Brasil, 1999, p. 53-54) estabelecem que, no final do Ensino Fundamental, os alunos sejam capazes de:

- conhecer e compreender, de modo integrado e sistêmico, as noções básicas relacionadas ao meio ambiente;

- adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade, que os levem a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis;

- observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo reativo e propositivo para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de vida;

- perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações de causa-efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente diante das condições ambientais de seu meio;

- compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais, com os quais interagem, aplicando-os no seu dia-a- dia;

- perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sócio- cultural, adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do patrimônio natural, étnico e cultural; - identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo

os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente.

A preocupação com a Educação Ambiental nos últimos anos tem também refletido em pesquisas sobre atitudes das pessoas diante das questões ambientais. Nesse contexto, podem-se citar Musser e Malkus (1994)6, Leeming, Dwyer e Bracken (1995)7.

A Educação Ambiental ultrapassa os limites do espaço educacional, tendo reflexos nos setores econômico, social e cultural, de modo que mudanças de comportamentos individuais resultem em novas relações sociais e afetivas, baseadas na ética, na justiça e na sustentabilidade.

A visão fragmentada e limitada do mundo por parte de um significado número de indivíduos tem levado a atitudes impensadas e imediatistas sem considerar aspectos históricos, ambientais e mesmo prospectivos.

É necessário assumir a árdua tarefa de sensibilizar a sociedade, estimular ações na busca de concretizar uma relação harmônica entre o homem e a natureza. Para minimizar a degradação ambiental, torna-se fundamental uma transformação comportamental de toda a sociedade, considerando que ela interfere no processo de planejamento contínuo e dinâmico do uso do espaço.

Como destacam Barcelos e Noal (2000, p.113) “[...] em Educação Ambiental, cada um de nós tem muito a aprender e, talvez, um pouco a ensinar”.

Além de agir de modo que os alunos aprendam sobre a natureza, é preciso educá-los para compreender e atuar corretamente sobre os problemas das relações do homem com o meio ambiente. É fundamental gerar um processo de

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Os autores descrevem uma escala de medida de atitudes ambientais para crianças de 8 a 12 anos de idade. Segundo os autores, a escala reflete o conhecimento de questões ambientais, como reciclagem, poluição, proteção de animais, podendo ser usada por exemplo para comparar atitudes de estudantes que vivem em zonas rurais com aqueles que vivem em zonas urbanas.

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sensibilização, estimulando os alunos a se tornarem conscientes, criativos e comprometidos com a transformação da realidade e envolvidos na responsabilidade de fazer efetiva a construção de uma cidadania crítica, possibilitando até a participação em decisões políticas. Formar um novo cidadão, com clareza e posicionamento sobre a visão de homem/mundo/sociedade, é um compromisso a ser assumido.

Para se obter uma vida em comunidade sustentável, se faz necessária a cooperação de todos os setores da sociedade. Para que a escola cumpra sua função social, torna-se importante desenvolver atividades envolvendo questões ambientais, proporcionando mudanças de atitudes nos alunos com base em informações recebidas na escola.

2.4. A Educação Ambiental como fonte de reflexões para a Educação

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