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2. OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

2.2. Um pouco de história da Educação Ambiental

A crise do meio ambiente tem provocado transformações na política nas três últimas décadas, inclusive com a formação de partidos verdes e a alteração das plataformas dos partidos existentes.

Segundo Dias (1992), as primeiras preocupações com Educação Ambiental datam da década de 60; nessa época já ocorria a compreensão generalizada e sistematizada da dimensão das agressões que nossa espécie vinha infringindo ao meio ambiente e suas devastadoras conseqüências.

A expressão Educação Ambiental ou “Enviromental Education” teve origem em 1965 (BRASIL, 2002).

Em 1968, no Reino Unido, surge o Conselho para Educação Ambiental, que desde essa época coordena a atuação de mais de 50 organizações envolvidas com os temas educação e meio ambiente. Paralelamente, nos países nórdicos e na França, surgem deliberações ministeriais, parlamentares e de órgãos centrais do sistema educacional, com a intenção de introduzir a Educação Ambiental no currículo escolar.

Em 1972 foi realizada em Estocolmo, Suécia3, a Primeira Conferência sobre o Meio Ambiente, promovida pela ONU - Organização das Nações Unidas, que teve a participação de 113 países, inclusive o Brasil, e mais de 400 observadores de organizações não-governamentais e intragovernamentais. Esse encontro atribuiu à Educação Ambiental um papel estratégico na superação da crise mundial.

Em 1973 é criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, para reforçar a dimensão ambiental nas atividades exercidas por organizações internacionais, inclusive na educação e na formação ambiental.

Com o objetivo de formular os princípios e orientações para o PIEA - Programa Internacional de Educação Ambiental, em 1975, especialistas de 65 países reuniram-se em Belgrado, Iugoslávia, onde se definiu a formação das competências: consciência, conhecimentos, atitudes, aptidões, capacidade de avaliação e de ação crítica do mundo. Evidenciou-se que a Educação Ambiental não deve se limitar a

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O surgimento de casos críticos de degradação ambiental levou a Suécia a propor à Organização das Nações Unidas a realização de uma Conferência Internacional sobre os problemas do meio

oferecer conhecimento sobre o ambiente, mas ajudar a desenvolver valores e atitudes que conduzam à reflexão dos problemas ambientais e às causas que os originaram. As primeiras diretrizes estabelecidas pela Conferência, para a atuação da Educação Ambiental, visavam a dar ênfase ao treinamento de professores e buscar o desenvolvimento de recursos didáticos e metodológicos.

Essas evidências vieram a fortalecer a grande importância da Educação, tendo em vista a responsabilidade do ser humano no tratamento destas questões.

Em 1977, com a cooperação da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e o PNUMA, realizou-se em Tbilisi a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental. Foi o encontro mais importante e decisivo para os rumos da Educação Ambiental no mundo, onde foram definidos objetivos, características, estratégias e recomendações. Ficou determinado que a Educação Ambiental deve:

a) considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e também criados pelo homem, tecnológicos, sociais, econômicos, políticos, histórico-culturais, morais, éticos;

b) constituir um processo contínuo e permanente, começando pelo pré-escolar, e continuando através de todas as fases do ensino;

c) aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma visão global;

d) examinar as principais questões ambientais, do ponto de vista local, regional, nacional e internacional;

e) ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais; f) destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência, a

necessidade de desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias para resolver tais problemas;

g) utilizar diversos ambientes educativos e métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, dando ênfase às atividades práticas e às experiências pessoais.

Nesse encontro ficou definido que a Educação Ambiental não tinha caráter de disciplina e, sim, um papel orientador das questões relacionadas ao meio ambiente.

Em 1987, em Moscou, a UNESCO, através do PNUMA, promoveu a Conferência Internacional sobre Educação e Formação Ambiental, onde se reuniram 300 especialistas, de 100 países, para avaliar as questões nos últimos dez anos e traçar as metas para a década de 90. O Brasil, apesar de alguns movimentos e encontros que já ocorriam nos estados do Sul, não apresentou nada de significativo durante a Conferência. Do encontro realizado resultaram as seguintes recomendações:

a) a Educação Ambiental é considerada como um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornem aptos a agir individual e coletivamente, e a resolver problemas ambientais presentes e futuros;

b) os objetivos da Educação Ambiental não podem ser definidos sem que se considerem as realidades econômica, social e ecológica de cada sociedade, ou os objetivos determinados para o seu desenvolvimento;

c) a Educação Ambiental deve dar ênfase à abordagem de resolução de problemas ambientais que afetam a comunidade;

d) a Educação Ambiental deve adotar a abordagem interdisciplinar que considera a complexidade dos problemas ambientais e a multiplicidade de fatores ligados a eles;

e) a Educação Ambiental é uma forma de prática educacional sintonizada com a vida na sociedade.

No Brasil, a partir de 1988, a Educação Ambiental passou a ser considerada de forma especial pelas autoridades. Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, conquistou-se um capítulo especial sobre o Meio Ambiente, capítulo VI, instituindo o artigo 225, item VI: “Cabe ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Apesar dessa resolução, pouco se fez até 1990, pois não existiam políticas públicas claras no sentido de cumpri-las, colocando-as em prática.

ONU - Organização das Nações Unidas, conhecida também como Rio-92 ou Eco-92, quando foram reforçadas as recomendações de Tbilisi. Cidadãos representando instituições de mais de 170 países assinaram tratados sobre o reconhecimento do papel central da Educação para a construção de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado. Nessa Conferência foram redigidos dois importantes documentos para a história da Educação Ambiental: o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e o capítulo 36 da Agenda 21 – Fomento da Educação, Capacitação e Conscientização. O documento Agenda 21 foi assinado pelos representantes governamentais, sugerindo a implantação de centros nacionais ou regionais de excelência, especializados em meio ambiente. A partir dessa recomendação, o MEC - Ministério da Educação e Cultura - implantou no Brasil Centros de Educação Ambiental. Resultaram dessa Conferência os seguintes objetivos:

a) reorientar a educação para o movimento sustentável; b) aumentar/incrementar a conscientização popular; c) considerar o analfabetismo ambiental;

d) promover treinamento.

Em resumo, as linhas gerais de orientações para o desenvolvimento da Educação Ambiental foram discutidas no Encontro de Belgrado (1975), apresentadas na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em Tbilisi (1977), aperfeiçoadas no Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambiental em Moscou (1987) e corroboradas na Rio-92 (Agenda 21).

Esses movimentos despertaram alguns setores para o controle da poluição industrial, e, a partir daí, estimularam ações, reuniões, políticas e legislações, que vêm sendo desenvolvidas com a finalidade de promover a contenção da degradação ambiental acelerada. Mas, mesmo tendo havido algum progresso, o meio ambiente está hoje mais ameaçado do que em 1992, pois muitos governos continuam apoiando indústrias poluidoras, o que é preocupante.

Em dezembro de 1997, diversos países participaram de um evento realizado no Japão, na cidade de Kyoto, que culminou na decisão por consenso de adotar-se um Protocolo, segundo o qual os países industrializados reduziriam as suas

emissões de gases que causam o efeito estufa, em pelo menos 5%, em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012.

Tendo por objetivo satisfazer as regulamentações definidas pelo Protocolo de Kyoto, de forma a preservar e recuperar a vegetação do planeta, denominadas Mecanismo do Desenvolvimento Limpo, e considerando o alto custo da adequação ambiental das empresas altamente poluidoras, criou-se a possibilidade da compra de créditos de projetos ambientais na medida da redução exigida para as suas emissões. No Brasil, alguns projetos dessa natureza estão sendo implementados. Países industrializados fornecem financiamentos referentes a investimentos florestais para países em desenvolvimento, em troca do certificado correspondente ao volume de carbono seqüestrado4, a fim de abater das emissões de seus poluentes, atendendo assim às exigências do Protocolo. Porém, como assinala Novaes (2000), o seqüestro de carbono pode não ocorrer ou ser inferior ao nível liberado, dependendo das alterações no clima da região, provocadas pelo desmatamento ou mudanças no uso da terra. Além disso, quando a madeira apodrecer ou for queimada, o carbono retido voltará à atmosfera (ARNT, 2003).

Mais recentemente, em agosto de 2002, realizou-se em Johanesburgo, África do Sul, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, denominada Rio+10, para tratar de políticas com o intuito de promover o crescimento econômico sem destruir a natureza, objetivando tirar do papel as boas intenções descritas na Agenda 21. Contudo, houve relutância por parte de alguns governos em encarar seriamente o tema “pobreza e meio ambiente” no âmbito global.

Em países emergentes, como o Brasil, há muito que conquistar no trato das questões ambientais, onde crises econômicas e sociais, combinadas com a falta de conscientização popular e desinteresse das instituições governamentais, criam evidências marcantes de paisagens degradadas. Além disso, muitas vezes a população não tem acesso às informações quanto à degradação ambiental provocada pelas grandes corporações e pelo governo.

os governos, os sistemas escolares, as igrejas, as associações de classe e outros grupos da atividade humana será possível alcançar resultados expressivos.

O ser humano tem objetivos sociais como o acesso à moradia, educação, saúde, lazer; tem objetivos econômicos como o acesso a bens de consumo. Entretanto, precisa fazer valer os objetivos ambientais, como ter direito a um ambiente onde a vitalidade e diversidade do planeta sejam preservadas.

Sorrentino (1995, p. 18) considera que o grande objetivo geral da Educação Ambiental é:

Contribuir para a conservação/proteção do Planeta e de todas as suas espécies e para a melhoria da qualidade de vida de cada indivíduo e comunidade, através de processos educativos instigantes, interativos, holísticos, e que resgatem nossas capacidades de auto-conhecimento e de auto-gestão política e econômica.

A Educação Ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas as formas de vida com as quais compartilhamos neste planeta, respeitando seus ciclos vitais e impondo limites à exploração dessas formas de vida pelos seres humanos.

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