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4. METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo apresento a opção metodológica, os procedimentos metodológicos utilizados para a coleta de dados e os seus critérios de análise da investigação desenvolvida na pesquisa.

4.1. A escolha da metodologia da pesquisa

Esta pesquisa se propõe a buscar compreender como ocorre a participação dos alunos, e quais elementos sociais e pedagógicos tornam-se presentes ao se abordar questões ambientais na perspectiva do ensino-aprendizagem da Modelagem Matemática.

Dado o caráter dessa investigação, que requer um maior contato entre a pesquisadora e os sujeitos da pesquisa, isto é, uma investigação voltada à produção de dados descritivos, obtidos através de observações diversas e entrevistas, buscando adquirir uma melhor compreensão sobre os motivos, valores, crenças, atitudes e compromissos que existem por trás dos eventos observados, a opção metodológica utilizada foi a pesquisa qualitativa.

A pesquisa qualitativa teve sua origem nas ciências sociais, ciências físico- naturais e biológicas. Segundo André (1998, p. 16):

A abordagem qualitativa de pesquisa tem suas raízes no final do século XIX, quando os cientistas sociais começaram a indagar se o método de investigação das ciências físicas e naturais, que por sua vez se fundamentava numa perspectiva positivista de conhecimento, deveria continuar servindo como modelo para o estudo dos fenômenos humanos e sociais [...].

Torna-se cada vez maior o interesse dos pesquisadores da área educacional pelo uso de metodologias qualitativas, na tentativa de apreender os processos que não são captados pelo enfoque experimental.

1. Na investigação qualitativa, a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal;

2. A investigação qualitativa é descritiva;

3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos;

4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva;

5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa.

Na pesquisa em questão, não havia hipóteses a priori. No momento que interagia com os sujeitos, os observava, fazia anotações, para em seguida buscar entender como se dava a aprendizagem matemática sob o aspecto da Modelagem num contexto de questões ambientais.

Na perspectiva de Denzin e Lincoln, (1994, p.2):

Os pesquisadores qualitativos estudam coisas em seu ambiente natural, tentando tirar sentido ou interpretar os fenômenos em termos dos significados que as pessoas lhes trazem. A pesquisa qualitativa envolve o uso e a coleção de uma variedade de materiais empíricos – estudo de caso, experiência pessoal, introspectiva, história de vida, entrevista, observações, históricos, interativos e textos visuais – que descrevem momentos problemáticos e rotineiros e significados nas vidas dos indivíduos.

Lincoln e Guba (1985), Miles e Huberman (1994), Lüdke e André (1986) e André (1998) assinalam que, na pesquisa qualitativa, o ambiente natural é a fonte direta dos dados, que são coletados muitas vezes em forma de palavras. Assim, a pesquisa qualitativa impõe grande responsabilidade ao observador quando interpreta os dados descritivos, sendo necessário dispor de tempo no ambiente onde ocorrem as ações que estão sendo analisadas e compreendidas.

É preciso ressaltar que a pesquisa qualitativa apresenta limitações, uma vez que se debruça sobre um número limitado de sujeitos, conseqüentemente, não é possível fazer predições e generalizações. A flexibilidade nos critérios de validade e confiabilidade desse tipo de pesquisa leva a se ter o cuidado de revisar e refinar as

hipóteses e os resultados sob outros enfoques. Devido ao seu caráter subjetivo, o pesquisador deve estar atento em refletir sobre os seus julgamentos. Daí a necessidade da imersão no ambiente onde os dados serão coletados.

4.2. Escolha das escolas

Os alunos da classe média e alta, devido às suas condições sociais e experiências adquiridas em vários cursos complementares e mesmo condições intelectuais no interior de suas famílias, muitas vezes conseguem sucesso em um sistema escolar que privilegia o pensamento abstrato.

Os alunos das classes baixas acabam por fracassar, visto que o conhecimento oferecido não possui qualquer relação com suas experiências, com o seu cotidiano, com sua realidade, com os seus saberes (FREIRE, 2001).

Nessa perspectiva, Bourdieu (2002) esclarece que a lentidão do processo de aculturação, isto é, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais levam à separação de indivíduos aparentemente iguais quanto ao êxito social e mesmo ao êxito escolar.

Mesmo que a Educação seja encarada como a esperança para o futuro, ainda persistem as desigualdades de oportunidades educacionais, o que é preocupante.

Para a realização desta pesquisa, foi escolhida a escola pública, por ser um espaço onde se encontram predominantemente as classes menos favorecidas, por ocupar uma posição de destaque em relação aos mais variados problemas da educação nacional e, por isso mesmo, se constituir em seu maior desafio.

A idéia de desenvolver as atividades com o Ensino Fundamental e Médio surgiu devido a minha participação como voluntária no projeto “Educação Ambiental como subsídio à Escola do Futuro: estudo de caso da Bacia do Corumbataí”1. Tal interesse está relacionado ao fato que geralmente os alunos do Ensino Fundamental e Médio já possuem maturidade para o entendimento, podendo tomar consciência e mudar algumas atitudes referentes às questões ambientais. Além disso, esses indivíduos passam a atuar como veículos propagadores das informações recebidas,

tendo um papel primordial no tratamento do meio ambiente, pois deles dependem as próximas gerações.

Assim, a pesquisa foi realizada em duas escolas estaduais de Rio Claro, Estado de São Paulo: Escola Estadual Coronel Joaquim Salles – Ensino Fundamental; e Escola Estadual Joaquim Ribeiro – Ensino Médio. Escolas essas, tidas como tradicionais no passado, recebem clientes, na grande maioria, provenientes de classes menos privilegiadas, cujos pais não podem colocar os seus filhos em escolas particulares.

Em março de 2001, foi feito um primeiro contato com a diretora da Escola Estadual Coronel Joaquim Salles - Ensino Fundamental, para explicar os objetivos da minha pesquisa. A diretora se mostrou simpática à idéia, me orientou que encaminhasse uma carta com a recomendação da minha orientadora e uma descrição do projeto para formalizar o trabalho. Após seguir a sugestão da diretora, e receber a sua aprovação, iniciei as atividades.

Com o objetivo de aplicar também as atividades na Escola Estadual Joaquim Ribeiro - Ensino Médio, em agosto de 2001, entrei em contato com a diretora e a coordenadora pedagógica dessa escola, esclarecendo os objetivos da pesquisa. No primeiro momento, a coordenadora pedagógica não se mostrou favorável, colocando alguns empecilhos. Porém, ao comentar sobre as atividades realizadas com os alunos da Escola Estadual Coronel Joaquim Salles, configurou-se uma mudança de postura da coordenadora, favorecendo a minha entrada nessa escola.

A coordenadora da Escola Estadual Joaquim Ribeiro me esclareceu que não seria possível o desenvolvimento das atividades com alunos voluntários, tendo em vista que a maioria dos alunos exerce atividades profissionais. Assim, fui orientada no sentido de formalizar o pedido para que, na próxima reunião de HTPC2, ela pudesse encontrar algum professor interessado em colaborar com tais atividades. A formalização do pedido foi feita e uma professora da 2a série ficou interessada em participar, possibilitando o início das atividades em setembro de 2001, porém, mais tarde, os participantes passaram a ser os alunos de uma 3a série da mesma escola3.

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HTPC - horário de trabalho pedagógico coletivo é um tempo de serviço remunerado e obrigatório para todos os professores da rede pública do estado de São Paulo. Nessas reuniões, são realizadas discussões sobre vários aspectos relacionados ao cotidiano da escola.

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4.2.1. Escola Estadual Coronel Joaquim Salles

A Escola Estadual Coronel Joaquim Salles foi fundada em 1900, e passou a funcionar em 1903 no prédio localizado na Rua 7, número 793, entre avenidas 5 e 7, Bairro Centro, na cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo.

A escola conta com 14 salas de aula, um laboratório de Informática, uma sala para direção, uma sala de coordenação pedagógica, uma secretaria, uma sala de professores, um refeitório, uma cozinha, uma cantina, uma biblioteca, uma sala de vídeo e instalações sanitárias.

O prédio desta unidade escolar é constituído de três pisos: térreo, onde estão instaladas, a cozinha, cantina, banheiros dos alunos (masculino e feminino), pátio de recreação, quadras poliesportivas, biblioteca e algumas salas de aula. No primeiro nível, encontram-se a sala e o banheiro dos professores, secretaria, direção, laboratório de Informática, algumas salas de aula. No piso superior, estão instaladas salas de aula e a sala da coordenadora pedagógica.

Quanto ao prédio, embora antigo (cerca de cem anos) apresenta um bom estado de conservação.

A escola possui 14 computadores (11 na sala de Informática e 3 na secretaria), 4 impressoras (2 na sala de Informática e 2 na secretaria), 1 scanner, 3 televisores, 2 vídeos, 2 aparelhos de som, 2 linhas telefônicas e um orelhão, 20 ventiladores (aproximadamente um ventilador em cada sala).

Os recursos humanos são assim distribuídos:

1 Diretora, 1 Vice-diretor, 1 Coordenadora Pedagógica, 1 Secretário, 4 Agentes de Organização Escolar, 2 Agentes de Serviço Escolar, 36 Docentes, sendo 26 efetivos e 10 ACT4.

A Escola Estadual Coronel Joaquim Salles é considerada de porte médio, com aproximadamente mil alunos matriculados no ano letivo de 2001. Há 27 classes, 14 no período matutino, sendo sete classes de 7a série e sete de 8a série. No período vespertino, funcionam 13 classes, sendo sete de 5a série, cinco de 6a série e uma de 7a série. Cada sala tem em média 35 alunos.

A origem dos alunos é muito heterogênea, sendo 20% provenientes do Centro ou bairros próximos ao Centro e 80% dos mais variados bairros.

Em relação às condições socioeconômicas, a maioria, por volta de 75%, são filhos de pessoas de baixo poder aquisitivo: pedreiros, empregadas domésticas, serviço informal, e muitos até desempregados. Os restantes 25% são filhos de profissionais liberais, bancários, professores, comerciantes.

A proposta pedagógica da escola está direcionada para a linha socioconstrutivista-interacionista, onde, segundo a escola, o aluno tem uma formação através de atividades vinculadas ao seu cotidiano, proporcionando condições de conduzi-lo ao seu sucesso pessoal e profissional.

No Plano Pedagógico da escola, a verificação do rendimento escolar abrange provas, trabalhos de pesquisa, relatórios, trabalhos em equipe. A avaliação é expressa por conceitos: NS (rendimento não satisfatório), S (rendimento satisfatório) e PS (rendimento plenamente satisfatório). A escola oferece aulas de reforço e recuperação para os alunos com rendimento não-satisfatório. Em relação ao critério de freqüência, os alunos estão obrigados a obter no mínimo 75% da carga horária do período letivo.

Segundo a escola, a atuação dos pais tem sido eficiente, tanto nas reuniões bimestrais, como nas solicitações de comparecimento às reuniões de HTPC. No ano letivo de 2001, essas reuniões aconteciam às segundas, terças e quintas, das 18h00 às 19h00.

4.2.2. Escola Estadual Joaquim Ribeiro

A Escola Estadual Joaquim Ribeiro foi fundada em 1926, e está localizada na Rua 6, número 437, entre avenidas 13 e 15, Bairro Centro, na cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo. Na escola funciona o Ensino Médio nos três turnos: matutino, vespertino e noturno. O magistério funciona nos períodos matutino e vespertino.

A escola conta com 20 salas de aula, um anfiteatro, sala de teatro, sala de vídeo, vários laboratórios: um de Física, um de Química, um de Biologia e dois de Informática. Conta também com uma sala para a direção, duas salas para a vice- direção, uma sala de coordenação pedagógica, uma secretaria, uma sala de

professores, uma cozinha, uma cantina, uma biblioteca, uma sala de vídeo e instalações sanitárias.

O prédio desta unidade escolar é constituído de três pisos: térreo, onde estão instaladas a cozinha, cantina, pátio de recreação, quadras poliesportivas e algumas salas de aula. No primeiro nível, encontram-se a sala e banheiro dos professores, secretaria, salas de direção, salas das coordenadoras pedagógicas, laboratórios de Biologia, Química e Informática, sala de vídeo, anfiteatro e algumas salas de aula. No piso superior, estão instaladas salas de aula, laboratório de Física, biblioteca, sala de teatro. Banheiros dos alunos (masculino e feminino) são encontrados em todos os pisos.

Quanto ao prédio, embora antigo (cerca de 76 anos) apresenta um bom estado de conservação, porém com algumas pichações.

A escola possui 28 computadores: 11 em um dos laboratórios de Informática e 10 no laboratório de Informática destinado aos alunos, 4 na secretaria, os restantes estão localizados nas salas de coordenação pedagógica e direção. A escola conta ainda com 3 impressoras, uma delas fica no laboratório de Informática para os alunos, 1 scanner, 7 televisores, 7 vídeos, 10 aparelhos de som, 3 linhas telefônicas e um orelhão. Apenas cinco salas de aula têm ventiladores.

Em relação aos recursos humanos, a escola possui 1 Diretora, 2 Vice- Diretores, 2 Coordenadoras Pedagógicas (1 no período diurno e outra no período noturno), 1 Secretário, 6 Agentes de Organização Escolar, 6 Agentes de Serviço Escolar, 52 Docentes, sendo 35 efetivos e 17 ACT.

A Escola Estadual Joaquim Ribeiro é considerada de porte médio, com aproximadamente dois mil e duzentos alunos matriculados no ano letivo de 2001, tem 60 classes, 20 no período matutino, assim distribuídas: quatro classes de 1a série, oito de 2a série, seis de 3a série, uma 3a série de magistério e uma 4a série de magistério. No período vespertino funcionam 20 classes, sendo nove de 1a série, sete de 2a série, duas de 3a série, uma 3a série de magistério e uma 4a série de magistério. No período noturno há 20 classes, sendo quatro de 1a série, seis de 2a série e dez de 3a série.

No Plano Pedagógico da escola, a verificação do rendimento escolar abrange provas, trabalhos de pesquisa, relatórios, trabalhos em equipe. A avaliação é

expressa por notas inteiras de 0 a 10 e, em relação ao critério de freqüência, os alunos estão obrigados a obter no mínimo 75% da carga horária do período letivo.

Há cerca de três anos a coordenação pedagógica vem trabalhando com a metodologia de Projetos e Inteligência Múltiplas. Isso tem proporcionado parcerias da escola com a Prefeitura, ONGs, Centro Cultural, envolvendo os alunos no que eles denominam de governo juvenil5. Há também um jornal da escola.

Segundo a coordenadora pedagógica, existe um comprometimento dos professores na participação das reuniões de HTPC. Para os professores que ministram um número superior a 28 horas-aula, é obrigatória a participação em três HTPC, caso esse número seja inferior a 28, a obrigatoriedade passa a ser de apenas duas reuniões. Se o professor ministra aulas em mais escolas, há obrigatoriedade da participação em pelo menos uma HTPC nessa escola. Recentemente, a diretora e a coordenadora pedagógica fizeram exposições dos trabalhos de capacitação desenvolvidos por elas para várias outras escolas do Ensino Médio da região.

As reuniões de HTPC no ano letivo de 2001 nessa unidade escolar ocorriam às segundas, quartas e quintas, das 18h00 às 19h00.

Cada grupo de professores por área recebe um formulário para preencher, indicando os objetivos, justificativas, as metas e também os projetos especiais das disciplinas. Após os professores preencherem esse documento por série que lecionam, as coordenadoras lêem e avaliam. Nas reuniões de HTPC, são feitas as discussão com os professores a respeito dessa documentação.

4.3. Os participantes da pesquisa

Os procedimentos do trabalho de campo envolveram duas escolas estaduais, uma de Ensino Fundamental, com alunos da 7a série, e outra de Ensino Médio, com alunos da 3a série.

Lincoln e Guba (1985) e Alves-Mazotti e Gewandsznajder (1998) apontam que o pesquisador, ao escolher um determinado campo, já o faz com algum objetivo e

5 No governo juvenil, os alunos desenvolviam atividades com a professora de Sociologia e tinham como finalidade questionar os problemas do município em reuniões com o secretariado da prefeitura.

algumas questões em mente. Embora não houvesse hipóteses a priori, a minha experiência em tais escolas, como participante das atividades de Educação Ambiental6, despertou a minha curiosidade sobre o ensino-aprendizagem da Matemática voltada para questões ambientais nesses níveis de ensino.

Considerando o caráter dessa pesquisa, isto é, observar o envolvimento dos alunos durante as atividades, era necessária uma interação intensa entre a pesquisadora e os estudantes. A intenção inicial era a de incorporar também professores de diversas disciplinas relacionadas com as atividades, tais como Ciências, Geografia e Matemática. Ao entrar em contato com tais professores, observei que seria muito difícil contar com a participação dos mesmos, tendo em vista a falta de interesse apresentada, dizendo nas entrelinhas, que não teriam disponibilidade para as reuniões que seriam necessárias. Assim, decidi limitar a pesquisa apenas aos alunos.

Os alunos participantes da 7a série do Ensino Fundamental, em número de dez, foram voluntários, enquanto que na 3a série do Ensino Médio não foi possível envolver alunos no período extraclasse, pois a maioria exerce atividades profissionais. Este fato conduziu à realização das atividades em sala de aula com todos os alunos da classe. No Capítulo 5, subseções 5.1.1. e 5.2.1., ao apresentar o desenvolvimento das atividades das duas escolas, foi dado destaque à escolha dos sujeitos.

Os alunos participantes das atividades, os monitores e os professores citados foram nomeados por pseudônimos com o objetivo de preservar as suas identidades, como sugere a ética da pesquisa qualitativa (MILES; HUBERMAN,1994) e contou com a autorização dos pais dos alunos do Ensino Fundamental, conforme Apêndice A.

4.4. Procedimentos de Coleta e Análise dos dados

Retomando o objetivo da pesquisa, isto é, o de buscar compreender como ocorre a participação dos alunos, e quais elementos sociais e pedagógicos tornam- se presentes ao se abordar questões ambientais na perspectiva do ensino- aprendizagem da Modelagem Matemática, a coleta de dados foi organizada

acompanhando as interações ocorridas durante os encontros, com a preocupação de ouvir, observar e dialogar com os estudantes.

As observações foram centradas nas manifestações dos alunos. O objetivo era compreender as ações humanas tendo como base as ações compartilhadas entre a pesquisadora (a observadora) e os alunos (os observados). Isso se enquadra dentro de uma das técnicas da pesquisa qualitativa, que é a observação participante. De fato, a pesquisadora estava diretamente envolvida tanto com o fenômeno estudado quanto com a ação dos participantes, pretendendo fazer parte do universo das relações sociais que circundam os sujeitos da pesquisa, para compreender os seus pontos de vista.

A observação participante é uma das técnicas mais utilizadas na pesquisa qualitativa. Para Alves-Mazotti e Gewandsznajder (1998, p. 166):

Na observação participante, o pesquisador se torna parte da situação observada, interagindo por longos períodos com os sujeitos, buscando partilhar o seu cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação. A importância atribuída à observação participante está relacionada à valorização do instrumental humano, característica da tradição etnográfica.

Com o objetivo de enfatizar esse aspecto da observação participante, Lüdke e André (1986, p. 9) esclarecem que “a observação participante cola o pesquisador à realidade estudada”.

Na pesquisa qualitativa, a quantidade é substituída pela intensidade, a observação participante, a entrevista em profundidade e a análise de documentos, auxiliando o pesquisador a deixar de cometer equívocos em suas interpretações.

Denzin e Lincoln (1994) esclarecem que a pesquisa qualitativa pode envolver grande variedade de materiais empíricos, podendo ser realizada através da triangularização. Lincoln e Guba (1985) apontam que a triangularização resultará em maior credibilidade. Como a natureza da investigação qualitativa é subjetiva, se faz necessário o uso de vários recursos para se obter informações, tais como entrevistas, observações, depoimentos e documentos.

A triangularização combina várias fontes de dados e diversos métodos de coleta, sendo fundamental para verificar a propriedade das interpretações fundadas

em dados qualitativos, dificultando ao pesquisador ver apenas o que sustenta seus preconceitos e expectativas.

Assim, essa pesquisa contou com a utilização de várias técnicas de coleta de dados: observação, questionários e entrevistas. Nas subseções seguintes, essas técnicas são apresentadas com maiores detalhes.

Amparada nos pressupostos de Miles e Huberman (1994) e Lincoln e Guba (1985), e levando em conta a problemática da investigação, procurei analisar refletidamente as atividades realizadas, assim como os materiais coletados: notas de campo, as transcrições de vídeo, questionários, entrevistas e o material produzido pelos participantes.

4.4.1. Observação

Buscou-se desenvolver a pesquisa em um ambiente de confiança com os alunos, contribuindo para a veracidade das impressões obtidas nas discussões realizadas durante os encontros. Para tanto, observava o comportamento dos alunos e refletia segundo as minhas impressões, tentando compreender o que ocorria a cada encontro. Para Alvez-Mazotti e Gewandszajder (1998, p. 166) na pesquisa qualitativa a observação é não-estruturada, “os comportamentos a serem observados não são predeterminados, eles são observados e relatados da forma como ocorrem, visando a descrever e a compreender o que está ocorrendo numa dada situação”.

Nessa mesma linha, Lincoln e Guba (1985, p. 203) colocam que:

[...] o investigador não trabalha, especificamente, nem com teorias nem com variáveis a priori; espera-se que elas sejam

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