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ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE ENSINO

5.3 ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS RELACIONADOS COM O DIREITO À EDUCAÇÃO

5.3.1 Educação e cidadania

O primeiro artigo da Constituição Federal que se refere especificamente à educação, (art. 205), define-s como direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, tendo por objetivo o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A Constituição do Estado da Bahia em seu art. 244 repete, literalmente, o que preceitua a norma constitucional destacada acima, e a Lei Orgânica do Município de Salvador, em seu art. 182, acrescenta apenas que a educação será promovida e incentivada pelo Município, mantendo, no mais, o quanto prevê a CF/88 e a norma fundamental do Estado.

No mesmo sentido, mas complementando a norma constitucional indicada acima, observa-se no título concernente aos princípios e fins da educação, especificamente art. 2º da LDB, que se estipulam como princípios da educação os de liberdade e os inspirados nos ideais de solidariedade humana, e como finalidade, o desenvolvimento pleno do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Desse modo, constata-se que, para o legislador, dois aspectos essenciais se constituem em fins da educação, o primeiro relacionado à conduta social do educando, e o segundo, que diz respeito a sua formação profissional.

surgido vinculado à idéia de exclusão, vem sendo ampliado, abrangendo, em relação aos sujeitos, todas as pessoas de uma mesma nação ou comunidade e, no que se refere à titularidade de direitos, aqueles que permitem não só participação política na sociedade, mas também, os que possibilitam uma existência com dignidade.

Em relação à idéia de exclusão, destaca-se que na sociedade romana, inicialmente, apenas os proprietários rurais eram considerados cidadãos de pleno direito, mantendo o monopólio dos cargos públicos e até mesmo religiosos (FUNARI, 2003, p. 50). Pedro Paulo Funari (2003, p. 75-76) acrescenta que a partir do ano 212 a cidadania romana foi estendida a todos os homens livres, muito se aproximando o conceito de cidadania romana do conceito moderno, por revelar-se muito fluido e aberto.

De acordo com Paulo Freire (2001, p. 45) “(...) cidadão significa indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado” e “a cidadania tem a ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão”.

Jaime Pinsky (2003, p. 9) amplia tal conceito, na introdução da obra Historia da Cidadania, para afirmar que a cidadania não será plenamente exercida, se ao lado dos direitos civis e políticos não forem assegurados também os direitos sociais.

Ainda no que se refere à relação entre cidadania e educação, inicialmente, cumpre destacar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional vigente dispõe no seu art. 1º o seguinte:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações das sociedades civis e nas manifestações culturais.

Evidencia-se, diante do exposto, praticamente, a impossibilidade de se elaborar um conceito de educação, sem que se faça referência expressa aos elementos, que da mesma forma, compõem a noção de cidadania, orientação que como se demonstrou seguiram os legisladores constituinte e ordinário.

Quer-se com isso demonstrar, sintetizando o que foi dito acima, a inviabilidade do exercício pleno da cidadania, esta considerada como atuação participativa, questionadora e transformadora da sociedade, sem o eficaz oferecimento de condições que permitam, principalmente, à população mais carente o acesso à informação e formação, em níveis elementares visando, em última análise, à profissionalização e, conseqüentemente, ao

desenvolvimento do país como um todo.

A concretização dos direitos fundamentais, nos quais se incluem os direitos sociais, representa-se como condição para o exercício da cidadania, como se observa da análise de Lima (2003, p. 20-24):

Quanto aos direitos fundamentais revestidos da condição de mínimo existencial, neles reside o poder máximo da cidadania em exigir o seu implemento, até mesmo independentemente de positivação.

[...]

É importante frisar que a liberdade, como valor a permitir ao homem os meios para efetivamente alcançar aquela liberdade que o permita viver sem qualquer intervenção do Estado, deve visar à igualdade de oportunidades, o que só será possível com educação básica para todos.

[...]

Nesse sentido, a educação como instrumento da liberdade, passa a integrar o núcleo essencial de direitos que conduzem à cidadania, conferindo-lhe um caráter libertário.

Quanto ao segundo aspecto, de referência à qualificação profissional, já destacava Anísio Teixeira (1967, p. 106):

A educação arma o indivíduo para a luta pela vida, mas, por outro lado, o redistribui pelos diversíssimos setores do trabalho na sociedade moderna e, neste sentido, atua como reguladora econômica e social. Sem ela, os homens, ignorantes e inaptos, fariam todos, mais ou menos, as mesmas cousas e o progresso, com o inevitável corolário da divisão do trabalho, tornar-se-ia difícil senão impossível.

Enquanto processo formativo e informativo que pessoas e grupos de pessoas exercem sobre outras pessoas ou grupos de pessoas, nos mais diversos contextos, inclusive escolar, a educação favorece o crescimento psicológico e social, além de desenvolver capacidades, habilidades e competências, que culminem com o desenvolvimento pleno da pessoa.

Os três pilares de definição da educação, quais sejam, pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho encontram-se sempre relacionados e se realizam de forma dialética, possibilitando a integração do indivíduo à sociedade.

Conclui-se, do quanto exposto acima, que, por meio do acesso à educação, notadamente nas suas etapas elementares, como é o caso do ensino fundamental, capacita-se o cidadão para a vida, seja por meio da compreensão de si mesmo, e da sua importância na sociedade, seja por meio da qualificação profissional, permitindo a sua participação no desenvolvimento do país.