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5.2 EDUCAÇÃO DO ESPECIALISTA

5.2.1 Educação continuada e permanente

Peter Drucker apresentou no final do século XX o conceito de sociedade pós- capitalista. Segundo a visão do autor, o recurso econômico básico não é mais o capital, os recursos naturais nem a mão de obra, mas o conhecimento. Na sociedade pós-capitalista, o valor para as organizações é criado pela produtividade e pela inovação, que são aplicações do conhecimento ao trabalho. Os principais grupos sociais do conhecimento serão os "trabalhadores do conhecimento", ou seja, gestores que sabem como alocar conhecimento para adaptar-se às mudanças contínuas do ambiente (DRUCKER, 2000).

As discussões relacionadas à educação para o trabalho não são recentes, apesar de a temática ter sido intensificada com os movimentos de educação continuada da atual era do conhecimento. Em vários períodos da educação brasileira veio à tona a discussão do papel da educação voltada para o mundo do trabalho e sua relação com as mudanças ambientais. Como exemplo, cito o Manifesto de 1932, uma das reflexões mais marcantes sobre o papel da educação no Brasil. O Manifesto discutiu o desenvolvimento psicobiológico dos alunos visando à inter-relação da escola e do trabalho em favor do progresso, levando em

consideração as mudanças ambientais da época. Segundo o Manifesto, a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas. É impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção sem o preparo intensivo das forças culturais e sem o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa, fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade (MAGALDI; GONDRA, 2003). O tema trabalho e educação é recorrente entre os pensadores da área educacional, entretanto, destaco que a educação de adultos não deve ser vista como simples elemento de aumento de competitividade ou reciclagem profissional, mas sim como uma fonte de desenvolvimento pessoal, cultural e social.

Diante do atual contexto, Drucker (2000) ressalta que os profissionais devem adotar uma postura de aprendizagem intensiva e constante, a fim de competirem na sociedade do conhecimento. Para Vasconcellos (2000), as atividades acadêmicas podem e devem contribuir para esse contexto baseado no conhecimento. Escolas e empresas devem ter papéis compatíveis e de colaboração mútua. Essa colaboração entre escolas e empresas é fundamental, pois existe uma distinção entre os tipos de conhecimento.

Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), os tipos de conhecimento podem ser classificados em: conhecimento explícito e conhecimento tácito. O conhecimento explícito ou codificado é transmissível em linguagem formal, e o conhecimento tácito é aquele que está enraizado nas pessoas, adquirido por meio da experiência, da prática, da vivência, e que não se encontra formalizado em meios concretos. Codificar e tornar disponível o conhecimento tácito em explícito é o maior desafio para as escolas de negócio e para as organizações.

Nonaka e Takeuchi (1997) identificaram quatro formas de conversão entre conhecimento tácito e explícito:

1. Externalização: É o modo de conversão mais importante, pois permite a criação de novos conceitos a partir da transformação dos conhecimentos práticos. É importante por facilitar a comunicação dos conhecimentos tácitos, normalmente de difícil verbalização. Conforme os autores, esse processo estaria faltando na prática e na teoria organizacional ocidental.

2. Internalização: Neste processo, o conhecimento se dá por meio das experiências vivenciadas pelos profissionais, o "aprender fazendo".

3. Combinação: Este é o processo preferido no Ocidente, uma vez que se baseia na troca de informações explícitas por meio do uso de mídias, intranets e reuniões formais. A educação formal praticada nas escolas de negócios encaixa-se neste tipo de conversão.

4. Socialização: Ocorre nos processos vivenciados na prática. As experiências são compartilhadas e o conhecimento tácito e as habilidades técnicas são criados.

De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), os processos de conversão de conhecimento tácito em explícito ocorrem em um ciclo ascendente de relacionamento entre o indivíduo, a organização e o ambiente. Nesse processo, o indivíduo assumiria o papel de criador; o grupo, o papel de sintetizador; e, por sua vez, a organização, o papel de amplificadora do conhecimento. A abordagem dos autores de que o conhecimento é adquirido a partir das interações sociais é compartilhada por Bandura e Vygotsky. Para os autores, a aprendizagem se dá por meio da influência mútua, em que a pessoa influencia o seu meio que, consequentemente, o influenciará (BERTRAND, 2001).

Educação permanente e educação continuada são terminologias adotadas para denominar o processo de educação ao longo de toda a vida. De acordo com Marin (1995), esses termos são considerados complementares, e não contraditórios. A educação continuada pode ser conceituada como todo o conjunto de práticas educativas subsequentes à formação inicial, que tem como foco o desenvolvimento profissional. A educação permanente é baseada no aprendizado contínuo para o desenvolvimento do sujeito, contemplando o auto aprimoramento pessoal, profissional e social.

A educação continuada e permanente é uma das questões de destaque na educação do século XXI. Segundo o relatório para a UNESCO (1998) da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI, a educação ao longo de toda a vida é a chave que abre as portas do século XXI. O progresso científico e tecnológico e a transformação dos processos produtivos rapidamente tornam obsoletos os saberes e as competências adquiridos e exigem o desenvolvimento de uma formação profissional permanente. Diante dessas mudanças sociais e profissionais, a educação continuada está presente na formação do sujeito ao longo de toda a vida. No entanto, apresenta um papel de destaque na vida adulta por ser a fase mais longa da vida humana e pelas crescentes demandas de qualificação profissional.

Entretanto, a educação permanente promovida pela UNESCO (1998) não se limita somente à educação profissional. Ela está baseada em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Esses são pontos fundamentais para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Segundo López-Barajas (2007), a educação permanente origina-se, de forma geral, nas necessidades formativas que surgem da chamada sociedade do conhecimento. O conhecimento, especialmente o técnico, cresce de forma acelerada na atualidade. Já o saber e, principalmente, o "saber como" se convertem em fonte de riqueza das pessoas e das organizações. Conforme o autor, os principais fatores que impulsionam a necessidade da educação continuada são os novos modelos produtivos baseados no uso intensivo de novas tecnologias e a migração das oportunidades de trabalho do setor industrial para o setor de serviços. O autor ressalta que, se por um lado, o desenvolvimento e a utilização massiva de tecnologia de informação permitem uma vida pessoal e social mais rica, por outro lado criam novas desigualdades sociais. Os programas de educação continuada devem considerar, portanto, valores fundamentais e universais próprios da dignidade humana como, por exemplo, o respeito à vida e aos demais.

É importante, contudo, ressaltar que o processo de ensino e aprendizagem não ocorre somente nas instituições de ensino. Segundo Brookfield (1986), a aprendizagem na vida adulta se dá de várias formas e naturezas – informal, auto direcionada e formal.

A educação informal ocorre nas relações sociais, nas trocas estabelecidas entre colegas de trabalho e em outros grupos de relacionamento. A cultura na qual o indivíduo está inserido é um fator de grande influência na educação informal.

Na aprendizagem auto direcionada o indivíduo orienta o seu processo de aprendizagem, estabelecendo seus objetivos e alocando os recursos apropriados. Esta abordagem se destaca na vida adulta, pois o indivíduo tem maturidade e conhecimento prévio dos conteúdos para orientar o seu desenvolvimento. É importante destacar que a abordagem auto direcionada não ocorre necessariamente de forma isolada, podendo sofrer influência de amigos, colegas de trabalho e tutores.

A educação formal é reconhecida oficialmente sendo exercida nas instituições de ensino com níveis, graus, programas, currículos e diplomas. A educação formal

do especialista em marketing ocorre no ensino superior e nos cursos de pós- graduação lato sensu, a serem apresentados neste capítulo.

Apesar de a educação dos adultos ocorrer a partir dessas três naturezas, este estudo concentra-se na educação formal da pessoa do profissional de marketing, praticada nos cursos de pós-graduação lato sensu, tema que é discutido no próximo tópico.