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5.4 DESENVOLVIMENTO DA PESSOA PARA O MUNDO DO TRABALHO

5.4.2 Inteligências múltiplas

As Inteligências múltiplas surgiram do objetivo de chegar a uma visão mais ampla e abrangente do pensamento humano do que aquela aceita pelos estudos cognitivos. A insatisfação de Howard Gardner com as visões unitárias de inteligência, como o conceito de QI, que focalizam principalmente as habilidades importantes para o sucesso escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas, apresentando uma visão pluralista da mente (GARDNER, 1994).

Segundo Gardner (1994), as abordagens de QI focalizam um determinado tipo de solução de problemas lógicos ou linguísticos; todas falham em lutar corpo a corpo com os níveis mais elevados da criatividade; e todas são insensíveis à gama de papéis relevantes na sociedade. Portanto, a teoria das IM é uma crítica à visão padrão de "curva de Bell" da inteligência, que afirma (GARDNER, 1995):

- A inteligência é uma entidade única.

- As pessoas nascem com certa quantidade de inteligência.

- É difícil alterar a quantidade da nossa inteligência, pois está "em nossos

genes".

- A inteligência pode ser medida a partir de testes de QI.

Em contraponto a essas abordagens, Gardner propôs um ponto de vista alternativo que focalizou as áreas negligenciadas por essas definições de inteligência. Assim, a teoria da IM revela a pluralidade do intelecto, ressalta que a inteligência humana não se restringe às inteligências linguísticas e às inteligências lógico-matemáticas.

Nesse sentido, o próprio conceito de inteligência é discutido pelo autor. Segundo Gardner (1994), a inteligência é a capacidade de resolver problemas ou de

elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários. A noção de cultura é de extrema importância para a Teoria das Inteligências Múltiplas, visto que as inteligências são potenciais ou inclinações realizadas, ou não, dependendo do contexto cultural em que são encontradas. Gardner (1995) sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque suas inteligências e habilidades são valorizadas pelo ambiente que os cercam.

O ponto essencial da Teoria das Inteligências Múltiplas é que não existe apenas uma capacidade mental subjacente. Pelo contrário, existem várias inteligências funcionando em combinação. Essa visão pluralista da mente, que considera as pessoas com forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos contrastantes, permitiu a proposição, segundo Gardner (2000), de oito inteligências:

1. Inteligência linguística: é a sensibilidade para a língua escrita e para a língua falada;

2. Inteligência lógico-matemática: é a capacidade lógica e matemática como capacidade científica.

3. Inteligência espacial: é a capacidade de formar um modelo mental de um mundo espacial.

4. Inteligência musical: é a capacidade apresentada pelos artistas que sabem se manifestar por meio da música.

5. Inteligência corporal-sinestésica: é a capacidade de desenvolver problemas ou de elaborar produtos utilizando o corpo inteiro ou partes do corpo.

6. Inteligência interpessoal: é a capacidade de compreender outras pessoas e o que as motiva para o trabalho e para o trabalho cooperativamente. 7. Inteligência intrapessoal: é a capacidade voltada para dentro que permite

formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida.

8. Inteligência naturalista: é a sensibilidade para compreender e organizar os padrões da natureza, talento para reconhecer e categorizar objetos naturais.

O autor investiga a possibilidade de uma nona inteligência, denominada Existencial, que abrange a capacidade do ser humano de refletir e ponderar sobre questões fundamentais da existência. Porém esta inteligência carece ainda de maiores evidências para a sua adoção.

Segundo Gardner (1995), todos os indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas habilidades básicas em todas as inteligências. Os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e de maneiras diferentes com que elas se combinam e se organizam. A forma como cada pessoa utiliza essas capacidades intelectuais para resolver problemas e criar produtos também se difere. A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por condições ambientais, como citado anteriormente.

Embora essas inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam de forma isolada. De acordo com Gardner (1995), cada domínio, ou inteligência, pode ser visto em termos de uma sequência de estágios. Na adolescência e na idade adulta, as inteligências revelam-se a partir de ocupações vocacionais ou não vocacionais. Nessa fase, o indivíduo adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são significativos na sua cultura e na sua atividade profissional. Dessa forma, cada função a ser executada depende de uma combinação de inteligências, e jovens, como também adultos, refletindo sobre seus rumos profissionais, podem apresentar um conjunto de potencialidades não necessariamente relacionadas às inteligências linguística e lógico-matemática, que devem ser consideradas.

A teoria das IM parte do princípio de que todas as pessoas têm capacidade de desenvolver diversos tipos de habilidades, e o potencial de cada um é resultado da interação dessas competências, que aparecem em doses variadas ao longo da vida (GARDNER, 1995). Nesse sentido, as múltiplas inteligências são características significativas para a inserção no mundo do trabalho, tendo por base ações centradas em deveres e direitos para o bom convívio social. As instituições de ensino preocupadas com o melhor aproveitamento das potencialidades dos seus alunos, portanto, devem manter uma permanente discussão sobre a busca de práticas que permitam identificar e desenvolver as habilidades individuais de seus estudantes. Para Gardner, a abordagem tradicional das visões unitárias de inteligência que predizem o desempenho escolar nas instituições tradicionais não refletem de maneira satisfatória o desempenho numa profissão.

A Teoria das Inteligências Múltiplas apresenta grandes contribuições para a educação. A visão de Gardner (1995) da pluralidade do intelecto apresenta desafios para que as instituição de ensino sejam um ambiente propício para desenvolver

inteligências e, ainda, para ajudar as pessoas a atingirem objetivos de ocupação, adequados à sua gama de potencialidades. O autor ainda destaca que essas instituições têm o papel de identificar e desenvolver as diversas inteligências dos alunos, assim como orientar quais são as inteligências demandadas por cada profissão.

Outro desafio que a teoria das IM apresenta para as instituições de ensino é em relação à avaliação, uma vez que o aluno é basicamente avaliado pelo seu raciocínio lógico. Qualidades como compreensão, tenacidade, liderança e observação, bem como habilidades de relacionamento interpessoal, são de pouca valia no meio acadêmico. Diante da visão das IM, a avaliação pode ser usada como um instrumento para informar o aluno sobre a sua capacidade individual, e o professor sobre o quanto está sendo aprendido, não servindo apenas como maneira de classificar, aprovar ou reprovar os alunos. De acordo com os estudos de Gardner (1995), o foco de atenção de coordenadores, professores e psicólogos atuantes em instituições educacionais deve englobar tais questões anteriormente menosprezadas, seja na educação básica ou na educação profissional.

A Teoria das IM permite um olhar mais amplo sobre o sujeito, possibilitando um melhor aproveitamento dos alunos, pois permite um maior proveito das suas habilidades individuais. Assim, os estudantes podem desenvolver as suas capacidades e habilidades intelectuais. Dessa forma, as instituições de ensino deveriam tentar garantir que cada aluno recebesse a educação que favoreça o seu potencial individual, uma vez já sabido que os indivíduos têm perfis cognitivos diferentes uns dos outros. A Teoria das IM vai ao encontro da educação personalizada e individualizada. Esta abordagem considera o aluno em sua singularidade, criatividade, autonomia e comunicação, e visa à descoberta de suas excelências para a realização do seu projeto pessoal de vida (KLEIN, 1998).