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3 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3.1 Educação a distância e suas abordagens

Podemos verificar com base em Lopes (2010) que nos últimos anos a EaD tem se consolidado de modo eficaz como uma modalidade educacional na proposição de cursos que vão desde a capacitação de profissionais e de divulgação científica até estudos formais que abrangem diferentes níveis de ensino, entre eles a formação de professores.

No entanto, é importante diferenciar as abordagens existentes na oferta de cursos EaD. De acordo com Valente (2003) existem três diferentes abordagens para ações de EaD que são determinadas em função da interação entre os cursistas e o professor, a saber: 1) a broadcast, 2) a virtualização da sala de aula tradicional e 3) o “estar junto virtual”.

1) A abordagem broadcast é a transmissão de informação a um grande número de cursistas, por meios tecnológicos, na qual não há interação entre cursistas e professor, e mesmo entre cursistas. Uma vez que, a interação não ocorre, a ênfase se dá no material instrucional e nos recursos utilizados para entregar as informações aos cursistas (VALENTE; MORAN, 2011). Portanto, o “aprendiz poderá usar essa situação e conseguir construir conhecimento se ele for capaz de estabelecer uma interação com o material fornecido, no sentido de esse material conseguir desafia-lo a se modificar” (VALENTE; MORAN, 2011, p. 28).

Neste caso, o cursista, torna-se o responsável pela transformação da informação recebida em conhecimento. Segundo Borba, Malheiros e Zulatto (2007, p. 24)

“cursos como esse atendem a uma grande quantidade de estudantes e costumam gerar lucro para seus organizadores” e sem a interação fica difícil identificar se o cursistas foram capazes

2) Já na abordagem “virtualização da sala de aula tradicional” utiliza-se da EaD para implementação de ações educacionais pertencentes ao ensino tradicional. As ações são de responsabilidade do professor, o qual detém a informação e tem a função de enviá-la ao cursista, repetindo o mesmo procedimento utilizado em uma sala de aula tradicional (VALENTE; MORAN, 2011).

Como acontece na sala de aula tradicional, nesta abordagem existe alguma interação entre o aluno e o professor, mediada pela tecnologia. Assim, o professor passa a informação ao aluno, que a recebe e pode simplesmente armazená-la ou processá-la, convertendo-a em conhecimento (VALENTE, 2003, p. 141).

Essa interação pode ser na solicitação de um exercício ou uma tarefa, que o aluno realiza e posteriormente encaminha a solução ao tutor para avaliação. Tal dinâmica é insuficiente para verificar a atribuição de significado pelo cursista em relação à informação disponibilizada pelo tutor, pois segundo Valente (2003) trata-se apenas de virtualizar a sala de

aula do ensino tradicional e considerar que a chamada “escola virtual” não possui paredes

(VALENTE, 2003).

3) Já a abordagem do “estar junto virtual” possibilita uma diversidade de interações no acompanhamento e no assessoramento do cursista em seu processo de construção do conhecimento, pois o professor poderá auxiliar na resolução de suas dificuldades ou dúvidas. A partir desse auxílio, o cursista dá continuidade à resolução do problema e no surgimento de novas dúvidas, essas poderão ser sanadas, por meio de novas interações com o professor à distância. Desse modo, essas interações e mediações desencadeadas no contexto da formação, auxiliam no processo de construção do

conhecimento, o que caracteriza o “estar junto virtual”, do pesquisador com o cursista e destes

entre si (VALENTE; MORAN, 2011).

Assim, “estabelece-se um ciclo de ações que mantém o aluno no processo de realização de atividades inovadoras, gerando conhecimento sobre como desenvolver essas

ações, porém com o suporte do professor” (VALENTE, 2003, p. 141). As interações ocorrem

de forma mais sistemática e intensa, pois o uso das ferramentas síncronas e assíncronas permitem a comunicação entre os sujeitos e possibilitam a criação de meios para aplicação e transformação das informações em novos conhecimentos pelo cursista.

Nessa abordagem, diferentemente da broadcast e da “virtualização da sala de aula tradicional”, a interação permite a troca de informações e questionamentos, estabelecendo um ciclo, no qual o cursista é mantido em um processo de aprendizagem, inovando em atividades e gerando conhecimento no desenvolvimento das ações, contando com o suporte do pesquisador e dos demais cursistas, ao mesmo tempo, nesse ambiente, propicia-se o “estar junto virtual” no qual todos vivenciam um processo de construção do conhecimento (VALENTE; MORAN, 2011). Conforme o ciclo de interações estabelecido no

“estar junto virtual” é possível verificar o estabelecimento de uma rede comunicacional que

propicia a formação continuada de professores, conforme aspectos explicitados.

Figura 2 – Ciclo de interações estabelecido no “estar junto virtual”.

Fonte: Adaptado de Valente e Moran (2011).

Nesta tese, o contexto de formação continuada foi concebido à luz da

abordagem “estar junto virtual”, o qual tornou possível em função das ferramentas disponíveis

no ambiente virtual de aprendizagem, pois foram disponibilizados textos e atividades, houve interação entre cursistas e destes com o professor por meio de diferentes formas de comunicação. Entendemos, assim como Borba, Malheiros e Zulatto (2007), que esses ambientes são cenários para o qual, dependendo dos recursos disponíveis, o processo de ensino e de aprendizagem pode ocorrer de modo qualitativamente diferenciado.

Desse modo, a abordagem “estar junto virtual”, em razão da interação

realizada, seja pelos questionamentos ou pela troca de informação, contribui para a formação e consequentemente para o desenvolvimento profissional do cursista. Pois, por meio do ciclo

que se estabelece a medida em que se utiliza de conhecimentos na realização das ações no processo de aprendizagem, possibilita-se a manifestação e a ampliação dos conhecimentos e saberes da docência que se constroem por meio das experiências pessoais e profissionais (TARDIF, 2012).

[...] no momento em que os professores partilham o conhecimento construído na prática, no seu contexto, é criada a oportunidade da interação com diferentes interlocutores, permitindo o confronto salutar de variados olhares, que suscitam outros questionamentos e reflexões. Essa experiência assume outra característica, ou seja, a “descontextualização” do conhecimento que o aprendiz construiu com base no seu contexto (VALENTE; MORAN, 2011, p. 39).

Portanto, a EaD pode ser considerada como uma possibilidade para a formação continuada de professores, em serviço, pois possui como característica a disponibilização de ferramentas que possibilitam o acompanhamento e o auxílio ao professor na realização das atividades em seu ambiente de atuação, independentemente da sua localização geográfica e considerando a própria gestão/organização de seu tempo (MORAIS; ALMEIDA; ALVES, 2011) que são abordados no que segue.