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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ELUCIDAÇÕES NECESSÁRIAS

1.2. Educação a distância e educação a distância via web

1.2.3 Educação a distância via web

Até aqui foram apresentados vários conceitos/definições de “educação a distância”. Todavia, ainda cabe esclarecer os termos do que considero e distingo como “educação a distância via web”. Inicialmente, vale explicitar que tal objeto pode receber outras denominações e, por isso, ser equivalente a outras expressões como: “educação a distância

mediada por computador”; “educação a distância via Internet”; “educação a distância na Internet”; “educação on-line”; “educação virtual”; “formação em espaços virtuais”;

“ambientes telemáticos de ensino não-presencial”; dentre outras.

Ao meu ver, a “educação a distância via web” é uma modalidade de educação a distância que usa a web como suporte. A respeito dos suportes da EAD, Peters (2001:32) informa que o “especialista canadense em educação a distância, Dr. Randy Garrison (1993a, 1989, 1985),

distingue” três gerações de “ensino a distância”, sendo a denominada de primeira geração –

baseada no cerne tradicional da educação, a de segunda geração – baseada, sobretudo, nas possibilidades da teleconferência, e a de terceira geração – que além das anteriores tem o auxílio do computador pessoal.

Belloni (1999:56-58) ao se referir às três gerações diz que o ensino por correspondência foi introduzido “nos finais do século XIX pelo desenvolvimento da imprensa e dos caminhos de ferro.” E que, nessa fase inicial/pioneira, “a interação entre professor e aluno era lenta, esparsa e limitada aos períodos em que os estudantes se submetiam aos exames previstos (EVANS e NATION, 1993: p. 203).” Belloni destaca nesse modelo de educação a distância os seguintes aspectos:

(...) observa-se claramente a assimetria quanto à flexibilidade entre as dimensões de

espaço e tempo, bem como quanto à autonomia do estudante, ou seja, um alto grau de autonomia do aluno quanto ao lugar de seus estudos e a conseqüente separação quase absoluta do professor, e, por outro lado, uma ausência quase total de autonomia com relação às questões de prazos e escolha de currículos ou meios.

A segunda geração de EAD começa a se desenvolver nos anos sessenta do século passado sob fortes orientações behaviouristas e industriais típicas da época: pacotes instrucionais, público de massa, e economia de escala, e se integravam ao uso impresso dos meios de comunicação audiovisuais. Segundo Belloni (1999:56) – no final da década de 90 do século 20 – o modelo da segunda geração de EAD prevalece na grande maioria das experiências, e os seus “meios principais são o impresso, programas de vídeo e áudio, difundidos via cassetes ou via antena (broadcasting).” Nessa fase, a interação entre professor e aluno é bastante limitada, apesar das instituições oferecerem serviços de tutoria, aconselhamento por telefone, e, em alguns casos, encontros presenciais.

Ao avaliar os referidos modelos de EAD apresentados, Belloni (1999:57-58) assinala que:

(...) a aprendizagem propriamente dita, como processo vivido pelo estudante, não está

incluída no sistema e funciona como “caixa preta” do behaviourismo: os materiais são os estímulos, os exames, as respostas, o que passa entre um e outro ponto é uma incógnita, considerada, portanto, irrelevante para o sistema, embora existam honrosas exceções na prática de algumas instituições.

Para a referida autora, nos anos 90 do século passado começa a surgir a terceira geração de EAD propiciada pelo desenvolvimento e disseminação das novas tecnologias de informação e comunicação “sendo muito mais uma proposta a realizar do que propriamente uma realidade a analisar”. Nessa fase, segundo Belloni, os meios usados são/serão: os dos modelos anteriores, mas acrescidos de novos/outros modelos. Para a autora (1999:57), essa situação implica em mudanças radicais nos modos de ensinar e aprender, dentre as quais se destacam as seguintes:

(...) unidades de curso concebidas sob a forma de programas interativos informatizados

(que tenderão a substituir as unidades de curso impressas); redes telemáticas com todas as suas potencialidades (banco de dados, e-mail, listas de discussão, sites etc.); CD-ROMs didáticos, de divulgação científica, cultura geral, de “infotenimento” etc.).

Mello (2003:37) fornece bases consideradas importantes para a minha explicitação, posto que considera a recente mudança de suporte da EAD, ao assinalar:

O grande salto para a EAD ocorre com a internet, que instaura um novo marco na sua história, uma nova era. E, devido às suas características de independência de espaço e tempo, associados às facilidades de edição de texto, áudio e vídeo, a internet se configura como um dos meios mais adequados e promissores para essa modalidade educacional.

Para a referida autora, o advento da Internet “vai muito além do facilitar as atividades da EAD, pois instaura uma possível ruptura no processo de apropriação das tecnologias da comunicação e informação ao ensino denominado de ‘a distância’” (ibidem).104

Tomo, pois, a referida autora para fundar a visão de que não mais vivemos a terceira geração de EAD, nem apenas a quarta geração, mas já estamos em uma fase de interação entre todas as possibilidades trazidas justamente pela Internet. Isto porque, sem dúvida,

104 Tori (2001) diz que, independentemente da modalidade, empregar tecnologias interativas na educação “é hoje

tão necessário quanto foram a lousa e o giz em tempos passados.” E que uma “das conseqüências dessa tendência é a convergência entre presencial e a distância, em uma nova modalidade que poderá ser, no futuro, chamada simplesmente de EDUCAÇÃO.”

passamos (a) pela correspondência (materiais impressos), (b) pelo rádio, (c) pela televisão, (d) pelo computador, e atingimos, no presente, (e) a conjugação de todos os meios anteriores mais a interconexão entre os computadores.

Almeida (2003a:332), para se referir a esse tipo de educação, que denomino “educação a distância via web”, usa a expressão105 “educação online”. Para ela esta “é uma modalidade de educação a distância realizada via Internet, cuja comunicação ocorre de forma sincrônicas ou assincrônicas”.106 Diz que a educação online pode usar a Internet para disponibilizar informações de forma rápida, como também, para usar a interatividade que esta pode proporcionar entre as pessoas. E que a comunicação pode ocorrer de acordo com as seguintes modalidades comunicativas: (a) comunicação um a um; (b) comunicação de um para muitos; (c) comunicação de muitos para muitos.107

Diante do exposto, é possível observar as mudanças pelas quais a EAD passou até os dias de hoje. Cada suporte vai exigir uma forma de preparo, tanto dos professores como dos alunos e demais envolvidos no processo, para aproveitar essas tecnologias na educação. A esse respeito, Almeida (2003a:335) considera que para se desenvolver a EAD com suporte em ambientes digitais e interativos de aprendizagem,

(...) torna-se necessária a preparação de profissionais que possam implementar recursos

tecnológicos (software) condizentes com as necessidades educacionais, o que implica estruturar equipes interdisciplinares constituídas por educadores, profissionais de design, programação e desenvolvimento de ambientes computacionais para EaD, com competência na criação, gerenciamento e uso desses ambientes.

Assim, a educação a distância em ambientes digitais e interativos de aprendizagem permite romper com as distâncias espaço-temporais e viabiliza a recursividade, múltiplas interferências, conexões e trajetórias, não se restringindo à disseminação de informações e tarefas inteiramente definidas a priori. A EaD assim concebida torna-se um sistema aberto, “com mecanismos de participação e descentralização flexíveis, com regras de

105 Há muitas formas de denominar essa prática conforme apresentado no início deste capítulo. Neste trabalho,

optei por educação a distância e, a educação a distância via web como sendo uma modalidade desta primeira. Entendo que tudo que está dentro das características da educação a distância é assim classificado, apenas mudam os suportes e as concepções que embasam essas práticas.

106 Para Mello (2003:39) as “atividades sincrônicas são aquelas realizadas com os participantes podendo estar

ou não nos mesmos locais, mas necessariamente ao mesmo tempo. Já as atividades assincrônicas são aquelas realizadas em tempos diferentes, podendo os participantes estar ou não nos mesmos locais. Nesse caso, os participantes podem acessar e disponibilizar informações sem a necessidade da presença dos demais integrantes” (grifos da autora). Diz que, dessa forma, as atividades de ensino podem ser classificadas como: atividade presencial sincrônica; atividade não-presencial sincrônica; atividade presencial assincrônica; e atividade não-presencial assincrônica.

controle discutidas pela comunidade e decisões tomadas por grupos interdisciplinares”

(Moraes, 1997, p. 68).

Realmente, uma mudança interessante trazida para a EAD suportada pela Internet é a possibilidade de interação. Cabe, no entanto, esclarecer os significados de “interação” e “interatividade” na educação a distância. Nesse sentido, Multigner (1994,108 apud Silva, 2000:93) diz que o conceito de interação, ao ser incorporado pela informática, transmutou-se em interatividade.109 Por conta desse entendimento, alguns autores aproximam os dois conceitos. Almeida (2003b:203) diz que, etimologicamente, a palavra interação “diz respeito a ação recíproca com mútua influência nos elementos inter-relacionados.” Assim, interação é atinente às relações e influências mútuas entre seres e/ou coisas, de forma que cada um dos fatores altera o outro, a si próprio, e as próprias relações. No “Dicionário Houaiss”, os significados de “interação” próprios ao contexto da EAD são os seguintes:

1 influência mútua de órgãos ou organismos inter-relacionados <i. do coração e dos pulmões> <i. do indivíduo com a sociedade a que pertence> 2 ação recíproca de dois ou mais corpos 3 atividade ou trabalho compartilhado, em que existem trocas e influências recíprocas 4 comunicação entre pessoas que convivem; diálogo, trato, contato 5 intervenção e controle, feitos pelo usuário, do curso das atividades num programa de computador, num CD-ROM etc. (...)i. fundamentais FÍS os quatro tipos de interação que ocorrem na natureza entre as partículas: interação forte, interação fraca, interação eletromagnética, interação gravitacional (...) ETIM inter- + ação (...).

Já “interatividade”, na mesma fonte, apresenta as seguintes acepções próprias do contexto da EAD: “(...) 2 capacidade de um sistema de comunicação ou equipamento de possibilitar

interação 2.1 INF ato ou faculdade de diálogo intercambiável entre o usuário de um sistema e a

108 MULTIGNER, Gilles. Sociedad interactiva o sociedad programada? In: Apuntes de la sociedad interactiva:

autopistas inteligentes y negocios multimedia. FUNDESCO (org.). Cuenca (Espanha): UIMP, 1994.

109 Silva (2000) esclarece que “os fundamentos da interatividade podem ser encontrados em sua complexidade na

informática, ciberespaço, na arte digital, na ‘obra aberta’ [Eco, no seu livro “Obra aberta” (1969)] e ‘participacionista’ dos anos 60, na teoria da comunicação etc. São três basicamente: 1) participação- intervenção: participar não é apenas responder ‘sim’ ou ‘não’ ou escolher uma opção dada, significa modificar a mensagem; 2) bidirecionalidade-hibridação: a comunicação é produção conjunta da emissão e da recepção, é co-criação, os dois pólos codificam e decodificam; 3) permutabilidade-potencialidade: a comunicação supõe múltiplas redes articulatórias de conexões e liberdade de trocas, associações e significações.” Diz ainda que estes “fundamentos resguardam o sentido não banalizado da interatividade e inspiram o rompimento com o falar-ditar do mestre que prevalece na sala de aula. Eles podem modificar o modelo da transmissão abrindo espaço para o exercício da participação genuína, isto é, participação sensório-corporal e semântica e não apenas mecânica. Em síntese, a interatividade contribui para sustentar, em nosso tempo, que educar significa preparar para a participação cidadã, e que esta pode ser experimentada na sala de aula interativa (informatizada ou não, a distância ou presencial), não mais centrada na separação da emissão e recepção.”

máquina, mediante um terminal equipado de tela de visualização (...) ETIM inter- + atividade (...)”. Partindo dos significados do referido Dicionário, Almeida (2003b:203) diz que “a interatividade se apresenta como um potencial de propiciar a interação, mas não como um ato em si mesmo.”110

Nessa mesma linha de entendimento, está Silva (2000:35-36), que assim se expressa:

A interatividade emerge no próprio movimento progressivo das inovações infotecnológicas. Entretanto, não se trata de dizer que sua pregnância é impulsionada exclusivamente pela evolução da infotecnologia. Há também a disposição por parte dos usuários, a disposição social, em termos de interferência nos conteúdos da informação disponível e/ou no próprio processo informacional em que ela se apresenta. Tomo como exemplo a prática do zapping para ilustrar esta disposição do usuário em interferir na informação que recebe da emissora de tv. Ele quer construir seu próprio programa saltando de um canal para o outro. Neste caso não há interatividade porque ‘zapear’ não é modificar conteúdos, mas apenas embaralhar fragmentos dados, ainda na posição passiva de consumidor. Enfim, essa prática de saltar de canal em canal compondo uma lincarização alternativa de fragmentos pode ser vista como interação usuário-tecnologia, precursora da possibilidade de interferência nos conteúdos.

Numa perspectiva mais ampla, Lévy (1999:79) assevera que:

O termo ‘interatividade’ em geral ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação. De fato, seria trivial mostrar que um receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca é passivo. Mesmo sentado na frente de uma televisão sem controle remoto, o destinatário decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de muitas maneiras, e sempre de forma diferente de seu vizinho.

O referido autor diz que apresenta essa abordagem problemática porque, apesar de ser um termo muito usado, não há clareza de seus sentidos e de seus significados.

Próximos da linha de entendimento de Lévy estão Braga e Calazans (2001), segundo os quais a televisão, o jornal, o cinema, o livro e o rádio são acusados de meios “não-interativos”

110 Também para Belloni (1999:58) a característica principal das novas tecnologias de informação e comunicação

“é a interatividade, característica técnica que significa a possibilidade de o usuário interagir com uma máquina.” Porém, ela alerta para o fato de ser “fundamental esclarecer com precisão a diferença entre o conceito sociológico de interação – ação recíproca entre dois ou mais atores onde ocorre intersubjetividade, isto é, encontro de dois sujeitos – que pode ser direta ou indireta (mediatizada por algum veículo técnico de comunicação, por exemplo, carta ou telefone); e a interatividade, termo que vem sendo usado indistintamente com dois significados diferentes em geral confundidos: de um lado a potencialidade técnica oferecida por determinado meio (por exemplo CD-ROMs de consulta, hipertextos em geral, ou jogos informatizados), e, de outro, a atividade humana, do usuário, de agir sobre a máquina, e de receber em troca uma ‘retroação’ da máquina sobre ele” (grifos da autora).

(2001:23). Nessa perspectiva, os autores contrapõem que, a partir dos anos 90 do século passado, com o uso do computador e da Internet, passa-se a contar com a interatividade em apenas dois aspectos: (a) no nível dialógico (e-mail, chats); e (b) na relação homem/máquina. Dizem que essa situação tem “levado a uma clivagem entre meios: interativos (vistos positivamente e mesmo, às vezes, com deslumbramento); e não-interativos (vistos então como superados ou francamente negativos).” Dessa forma, são imprescindíveis outros pontos de vista e outros ângulos que impliquem, por exemplo, a observância de ocorrência de interações sociais gerais da própria sociedade, para não se pensar apenas como uma relação bipolar entre mídia e usuários. Ampliando o entendimento usual de interatividade, os autores descrevem três modos básicos de interação, quais sejam: (a) interações conversacionais (face a face); (b) interações

mediadas de tipo dialógico; e (c) interações diferidas e/ou difusas, que se referem a interações

que “se desenvolvem em conseqüência e em torno de ‘mensagens’ (proposições, produtos, textos, discursos) diferidas no tempo e no espaço” (cf. 2001:24-28). Assim, nessa perspectiva, para Braga e Calazans (2001:28-29), as relações de tipo conversacional, quer dizer, as interações sociais mediatizadas são bem mais complexas, por isso explicitam certos aspectos importantes buscando criar novos conceitos, a saber:

Como a palavra “interatividade” já se tornou corriqueiramente associada àquele conceito restrito (de tipo conversacional), vamos propor o uso da expressão “interacionalidade” para, em distinção, nos referirmos à característica geral dos meios de comunicação, de viabilizar algum tipo de interação: dialogal, homem/máquina, homem/produto (interpretação), pessoas entre si sobre produtos, interações diferidas e/ou difusas. O conceito inclui ainda interações face-a-face imbricadas a interações mediáticas. Assim, propomos “interacionalidade” como um conceito mais amplo, que abrange a interatividade (sentido restrito) mas não se limita a esta.

Assim, o termo “interacionalidade”, para Braga e Calazans (2001:29), abrange as interações ligadas aos meios chamados de “interativos”, bem como aos demais meios de comunicação. Nesse sentido, os autores alertam que todos os tipos de interacionalidade – e não somente a interatividade – são importantes tanto para a comunicação quanto para a educação.

Pelo exposto, é possível perceber visões diferenciadas no que tange ao entendimento das palavras “interação” e “interatividade”. Passei a desenvolver certa simpatia em relação ao termo “interacionalidade” de Braga e Calazans (2001). Isso porque acredito que há vários

níveis111 e tipos de interação, de forma tal que todas as gradações e espécies me parecem importantes para modificar o outro na “influência mútua de órgãos ou organismos inter- relacionados” (Houaiss). Contudo, na educação a distância via web, além de “interações mais fracas”, é preciso que ocorram também “interações mais ativas” para dar dinamismo ao ambiente virtual de ensino e aprendizagem e possibilitar construção de conhecimento. É obvio que não podemos deixar de levar em consideração os variados estilos cognitivos dos alunos (Piconez, 2002). Nesse sentido, além da mediação em termos mais amplos, o educador da educação a distância via web – não somente da educação a distância via web, mas também na presencial de todos os níveis – necessita possibilitar mediações efetivas por ações interativas professor-aluno e aluno-aluno.

Piconez (2002:17) diz que o “homem utiliza somente as formas de ação, os valores e crenças com os quais convive diariamente”, posto que são as práticas culturais e o exercício da cidadania que se tem como proposta que definem os padrões de interação. Nesse sentido, “o conhecimento é continuamente alterado por transformações sucessivas diante dos avanços tecnológicos e das próprias experiências vividas.” A referida autora diz ainda que a abordagem “psicossócio-histórica” – isto é, aquela embasada em Vygotsky, Leontiev, Lúria e Baktin – considera “a potencialidade do homem para se apropriar das produções culturais e de sistemas de significação, por meio de processos interativos, como os lingüísticos”, ao tempo em que assim se expressa:

Para Vygotsky (1989), pensamento, linguagem, consciência (funções psíquicas) têm origem nas relações reais entre os homens. Para que se atinja a condição humana é fundamental a apropriação do universo cultural onde se está inserido. Essa apropriação ocorre em dois níveis: o intrapsíquico e o interpsíquico, mediados pela existência de signos que, junto com os instrumentos técnicos, permitem aos homens transformarem o real numa realidade com significado, portanto, inteligível e comunicável.

Aqui cabe esclarecer que a importância de toda a discussão teórica a respeito de interação, apresentada anteriormente, deve-se às transformações trazidas para a educação a distância, no geral, e também especificamente para a educação a distância via web. Valente

111 Alava (2002:35) diz que: “Quanto aos graus de interatividade, ainda é extremamente difícil avaliá-los, ainda

que inúmeras classificações tenham sido propostas.” A respeito das inúmeras classificações, esse autor, em sua obra, menciona vários tipos de interatividade, tais como: intencional, transitiva, intransitiva, funcional, incidente, não-incidente, interatividade no nível mais baixo, interatividade no nível mais elevado, e interatividade de comando (que permite a modificação e a manipulação de objetos pelo usuário) (2002:34-35).

(2002), Valente e Silva (2003), Prado e Valente (2002) assinalam que as novas tecnologias de informação e comunicação possibilitam o que eles denominam “estar junto virtual”. Para Valente e Silva (2003:489) as abordagens de educação a distância “variam em um contínuo em que, em um extremo, está a modalidade broadcast que usa os meios tecnológicos para passar informação aos aprendizes.” Segundo os autores referidos, nesse caso, não é necessária nenhuma interação entre professor e aluno. Dizem ainda que, “no outro extremo oposto do mesmo continuum, está o suporte ao processo de construção de conhecimento mediado pela tecnologia, que temos denominado ‘estar junto virtual’.” Nessa abordagem, diferentemente do que costuma acontecer na anterior, o foco principal é a interação entre os envolvidos nos processos de ensino e de aprendizagem. Assim, os contatos virtuais entre aluno, professor e demais colegas do curso são vitais para a construção do conhecimento. A outra abordagem citada pelos autores – abordagem intermediária – “é a implementação da ‘escola virtual’, que nada mais é do que o uso de tecnologias para criar a versão virtual da escola tradicional.

Do exposto, é possível inferir que com as novas possibilidades de interação ativa propiciada pelas novas tecnologias de informação e comunicação, a educação a distância recebeu um grande impulso,112 principalmente porque a comunicação deixa de ser de mão única. É possível dizer que a EAD, depois dessa possibilidade, pode vir a ser vista como uma modalidade que possibilita a construção de conhecimentos. Isso porque a própria concepção sócio-interacionista trabalha com o conceito de interação, significando a situação, cuja ação ou o discurso do outro causam modificações na forma de pensar e agir e, dessa forma, interferindo na elaboração e apropriação do conhecimento. Nesse sentido, a busca por uma educação a distância que garanta a interacionalidade (Braga e Calazans, 2001) entre os envolvidos no processo – alunos, professores, material didático, etc. – é uma necessidade. Machado (1997:250,113 apud Silva, 2001:39) indaga a respeito das possibilidades da interatividade para subseqüentemente responder, nos seguintes termos:

112 Lévy (1999:170), a esse respeito, diz, inclusive, que: “Os especialistas nesse campo reconhecem que a