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Capítulo II. Educação, Envelhecimento e Interculturalidade

3. Educação e Gerações

As conceções sobre o que é e como deve ser a educação têm mudado ao longo das últimas décadas quer em contextos internacionais quer em Portugal. Indicadores objetivos destas mudanças são as diferentes propostas de reforma elaboradas para o setor educativo. Contudo, parece não existir ainda nenhum consenso generalizado quanto ao tema.

Como tendência global, no campo da educação, tem acontecido o alargamento da escolarização das gerações mais novas. Verificou-se a quase total erradicação do analfabetismo nos países desenvolvidos e temos hoje jovens muito mais escolarizados e com formação de nível superior do que noutras décadas anteriores. A par destas alterações nos níveis de educação formal, temos também um crescente desenvolvimento

da ciência, uma maior divulgação social do conhecimento científico e técnico sobre diferentes temáticas, nomeadamente, sobre assuntos relativos à saúde das pessoas e do ambiente e sobre as melhores formas de cuidar dessa saúde e do ambiente. As condições médico-sanitárias dos países e a "qualidade de vida", sobretudo nas sociedades ocidentais, também se alteraram significativamente, no sentido da sua melhoria. Todos estes fatores conjugados com outros, contribuíram para o alargamento da esperança de vida e para uma melhoria das próprias condições de vida da maioria da população, sobretudo da população mais jovem. Contudo, nem todos os países vivem esta realidade social e, por exemplo, Neri & Cachioni (1999) referem sociedade brasileira como problemática em matéria de assistência aos idosos e em matéria de situação social.

No Brasil, o crescimento da população idosa e o aumento da longevidade vêm acarretando importantes repercussões para o campo social e económico, uma vez que um número crescente de idosos está passando a depender, por mais tempo, da previdência social e dos serviços públicos de saúde e assistência Social. Sabe-se que são muito precários os benefícios concedidos aos idosos pelo Estado - não só a eles como à população como um todo. O problema dos idosos, principalmente os mais pobres, são agravados pelas aposentadorias e pensões irrisórias e pela diminuição da possibilidade de serem amparados pelos mais jovens (ob. cit. p.114). Consideramos que o problema relativo à exiguidade das pensões de reforma e da situação de penúria económica e social não é exclusivo do país retratado pelas autoras citadas. Mesmo em Portugal há frequentes alusões, em termos de comunicação social, às dificuldades vividas por muito idosos que auferem pensões muito baixas relativamente ao custo de vida. Transcrevemos agora parte duma dessas notícias:

A média das pensões da Segurança social pagas aos portugueses não chega aos quatrocentos euros. Segundo os dados oficiais a media dos primeiros seis meses do ano atira o valor da reforma em Portugal para os 397,17 euros por mês. Lisboa lidera o ranking das pensões, com um valor médio de 716,94 euros, que contrasta com os 293,60 euros que os reformados recebem no distrito de Bragança. Em termos nacionais, a pensão média dos homens é de 506,81 euros. Uma disparidade notável com o valor médio de reforma de uma mulher portuguesa: 300,45 euros. Este valor fica abaixo do limiar da pobreza, que em 2008 foi estipulado nos 354 euros. Mesmo analisando por distrito, as mulheres não conseguem rivalizar com os valores das pensões dos homens. A média mais alta, na capital, dá uma reforma de 345,56 euros às mulheres. A partir daqui é só a descer, até chegar aos 260 euros de Bragança. A dimensão do problema ganha outra perspectiva quando se conclui que dos 1,8 milhões de reformados, 994 mil, cerca de 53 por cento, são mulheres (Correio da Manhã, 29/08/2010).

As gerações mais jovens têm atualmente acesso fácil a muita informação e conhecimentos outrora indisponíveis para a maioria das pessoas. A generalização das ligações à internet e a outras fontes de informação e o desenvolvimento das

comunicações contribuíram para que atualmente se viva de forma diferente e com estilos de vida muito diversificados. No meio desta diversidade, constatamos também a coexistência e a interação de uma pluralidade de culturas e subculturas. Poderemos mesmo falar das novas gerações como portadoras de uma cultura específica que as habilita a um relacionamento muito fácil com os novos meios de comunicação, o que não acontece com a maioria dos indivíduos das gerações seniores. Estes não cresceram a brincar com computadores e telemóveis pelo que terão que fazer uma nova aculturação para dominar as novas tecnologias.

Estas reflexões impõem que se clarifique os conceitos de geração e estilos de vida (atividades, atitudes e sociabilidades) associados às diferentes gerações. Importa também definir aquilo que tem sido entendido por relações intergeracionais. Vários foram os sociólogos e outros cientistas sociais que se preocuparam com este assunto. Segundo C. Feixa e C. Leccardi (2010), o conceito de geração pode ser delimitado em termos sociológicos da sua origem, pelas referências a Comte e Dilthey, dois autores do século XIX que, apesar das diferenças nas suas abordagens teóricas, construíram as bases para desenvolvimentos posteriores, já no século XX. Seguidamente, pode ser visto à luz do pensamento de Mannheim, considerado o fundador da abordagem moderna da temática das gerações.

No contexto da sociologia anglo-saxónica, Abrams (1982) elaborou produção teórica significativa sobre a temática das gerações; em Espanha, Ortega y Gasset e depois Julián Marías (1968) e outros também se debruçaram sobre o tema; em Itália, Gramsci e outros refletiram igualmente sobre o assunto das gerações; em Portugal, Sedas Nunes dedicou -se também à reflexão teórica e ao estudo do tema geracional. Os autores agora referidos procuraram demonstrar a relação entre o tempo individual e tempo social, uma relação considerada fundamental na pesquisa geracional. Atendendo ao facto de o pensamento destes autores ser considerado referencial, nomeamo-los. Contudo, como são reflexões longas e complexas, debruçar-nos-emos apenas sobre as ideias de alguns dos considerados percursores e que estão mais próximos da nossa problemática.

As duas primeiras teorias – uma positivista (Comte), outra histórico-romântica (Dilthey) – são as que Mannheim (1928) usou como base para as suas reflexões sobre gerações.

Além da importância dos demais pensadores, Mannheim é considerado referência obrigatória para a análise sociológica das gerações.

No início da sociologia, Comte (1998) apresentou uma conceção mecânica e exteriorizada do tempo das gerações. Esta era uma teoria totalmente encaixada no positivismo comteano e esforçava-se por identificar um tempo quantitativo e objetivamente mensurável como critério para o progresso linear. Com base no postulado entre progresso e sucessão das gerações, Comte afirmou que o ritmo pode ser calculado simplesmente pela medição do tempo médio necessário para que uma geração seja substituída – na vida pública – por uma nova (30 anos, de acordo com Comte). O progresso é o produto do entrelaçamento equilibrado entre as mudanças produzidas pela nova geração e a estabilidade mantida pelas gerações mais velhas. A palavra-chave que Comte procura para a objetividade histórica é continuidade. Neste quadro analítico, o progresso é identificado com as novas gerações, o que não significa desvalorização do passado, que é representado pelas gerações mais velhas. O tempo social é “biologizado”. De modo semelhante ao organismo humano, também o organismo social é sujeito ao desgaste. No organismo, as “partes” podem ser facilmente substituídas: as novas gerações tomarão o lugar das antigas. O conflito entre gerações poderá somente acontecer se a duração da vida humana se tornar excessivamente longa, frustrando as novas gerações e seu “instinto inovador”, de descobrir espaços de expressão de si. Assim, através de sua reflexão sobre gerações, Comte propôs uma lei geral sobre o ritmo da história. Leis biológicas, relacionadas com a duração média da vida e da sucessão das gerações, a base da “objetividade” do ritmo.

A perspetiva quantitativa do tempo das gerações tal como foi apresentada pela teoria de Comte é recusada pela abordagem histórico-romântica de Dilthey. Esta última enfatizou a relação obtida, em termos qualitativos, entre os ritmos da história e os ritmos das gerações. Neste contexto, o que mais importa é a qualidade dos vínculos que os indivíduos das gerações mantêm em conjunto. Em consonância com esta abordagem, Dilthey (1989) argumentou que a questão das gerações exigiu a análise do tempo da experiência medido em termos qualitativos. Para este autor, a sucessão das gerações não é fundamental como era para Comte.

Para Dilthey, as gerações são definidas em termos de relações de contemporaneidade e consistem num conjunto de pessoas sujeitas a influências históricas comuns

(intelectuais, sociais e políticas). A geração consiste num conjunto de pessoas que partilham o mesmo conjunto de experiências e o mesmo “tempo qualitativo”. Nesta lógica, a formação das gerações baseia-se numa temporalidade concreta, constituída por acontecimentos e experiências compartilhadas.

Resumidamente, para Dilthey as experiências históricas delimitam a pertença a uma geração. Esta visão é compreensível se tivermos em mente a interpretação ampla que este autor atribuiu à temporalidade. Ele opôs o tempo humano – concreto e contínuo – ao tempo abstrato e descontínuo. Para este autor, a vida humana é uma temporalidade. A ligação entre o tempo humano e o tempo histórico provém principalmente da capacidade de moldar, uniformizar o tempo pessoal e reinterpretá-lo num todo significativo.

A análise de Mannheim (1952) sobre gerações é considerada fundamental na história sociológica do conceito. Quando Mannheim desenvolveu sua teoria das gerações – fazendo uma comparação com os amplos movimentos coletivos do século XX – teve um duplo objetivo: distanciar-se do positivismo – a abordagem biológica das gerações -, e afastar-se também da perspetiva histórica e romântica de Dilthey. O seu maior interesse, segundo Feixa & Leccardi (2010), foi o de incluir as gerações na sua investigação sobre as bases sociais e existenciais do conhecimento em relação ao processo social e histórico.

Neste contexto, Mannheim considerou as gerações como dimensão analítica útil para o estudo da dinâmica das mudanças sociais (sem recorrer ao conceito de classe e ao núcleo da noção marxista de interesses económicos), de “estilos de pensamento” de uma época. Para este autor, o que forma uma geração não é uma data de nascimento comum – a “demarcação geracional” é algo “apenas potencial” ( annheim, 1952) – mas é, sim, a parte do processo histórico que jovens da mesma idade compartilham (a geração atual). Há dois elementos centrais nesta partilha (do qual surge o “laço geracional”): por um lado, a presença de eventos que quebram a continuidade histórica e demarcam o “antes” e o “depois” na vida coletiva; por outro, o facto de que estas descontinuidades são experienciadas pelos membros de um grupo etário numa relação constitutiva particular, quando o processo de socialização não foi concluído, pelo menos no seu período crucial, e os esquemas utilizados para interpretar a realidade não são ainda

totalmente rígidos ou – como coloca Mannheim – quando essas experiências históricas são “primeiras impressões” ou “experiências juvenis”.

Na “unidade geracional elaboram-se vínculos de diferentes maneiras e formas segundo os grupos concretos aos quais os seus membros pertencem. Através do conceito de geração, os tempos da história são fixados em relação aos tempos da existência humana e entrelaçados com a mudança social.

O sociólogo inglês Philip Abrams (1982) procurou ampliar a perspetiva lançada por Mannheim. Algumas décadas depois da teoria original de Mannheim, Abrams aprofundou e expandiu a noção socio-histórica de geração ao relacioná-la com a identidade. A sua principal intenção foi clarificar a íntima relação entre o tempo individual e o tempo social, enfatizando a sua filiação em marcos históricos. O ponto de partida deste autor foi a sua convicção de que a individualidade e a sociedade são construções históricas. É portanto necessário e importante analisar as suas interconexões e, simultaneamente, as suas mudanças ao longo do tempo. As identidades – considerado o elo entre as dimensões individual e social – devem, por sua vez, ser investigadas dentro de um modelo de referência histórico-social. Após criticar e rejeitar a definição de identidade produzida em termos psicológicos e sociolinguísticos ou seja, associada mecanicamente à execução de papéis, Abrams definiu-a como "consciência do entrelaçamento da história individual e da história social". A relação entre estas duas dimensões da história emerge claramente se for feita referência ao tempo social. É dentro deste último que a sociedade e a identidade se geram mutuamente.

Surge então a questão sobre "de que forma a conexão entre identidade e geração é realizada"? Para Abrams uma geração, no sentido sociológico, é o período de tempo durante o qual a identidade é construída a partir de recursos e significados que estão social e historicamente disponíveis. Neste contexto, as novas gerações criam novas identidades e novas possibilidades para a ação. Sociologicamente, as gerações não surgem da cadência temporal estabelecida por uma sucessão de gerações biológicas. Por outras palavras, não há padronização do tempo para medir ou prognosticar o seu ritmo. Do ponto de vista sociológico, uma geração pode ter dez anos, ou como aconteceu nas sociedades tradicionais, vários séculos. Pode incluir uma pluralidade de gerações biográficas ou, como na história de muitas sociedades pré-modernas, apresentar apenas uma geração sociológica. As gerações cessam quando novos e grandes eventos

históricos tornam o sistema anterior e as experiências sociais com elas relacionadas sem significado.

Quer para Abrams quer para Mannheim, o início de uma geração é marcado por descontinuidades importantes até então dominantes em determinada época histórica e institucional. Novamente, o tempo histórico-social (e seus ritmos) é visto como central para a definição das novas gerações e identidades sociais. Mais precisamente: é o processo de mudança que produz o anterior e o posterior. Nesta perspetiva, a geração é o lugar em que dois tempos diferentes – o do curso da vida, e o da experiência histórica – são sincronizados. O tempo biográfico e o tempo histórico fundem-se e transformam- se criando desse-modo uma geração social (Feixa & Leccardi, 2010).

No contexto do pensamento filosófico e social Espanhol, Ortega y Gasset publicou, em 1923, La idea de las generaciones, no qual defendeu que as pessoas nascidas num mesmo tempo partilham da mesma “sensibilidade vital” que se opõe às gerações anteriores e mais recentes e que define a sua “missão histórica". "Ele foi o mais importante intelectual espanhol da primeira metade do século XX, formando diferentes gerações de pensadores e intervindo nos debates públicos com a imprensa" (Feixa & Leccardi 2010, p. 196).

No texto mencionado (Ortega y Gasset, 1923), a ideia de geração foi considerada como o “conceito mais importante da história”. Neste texto, o autor argumentava contra a influência da Revolução Soviética e do fascismo, mas, e simultaneamente, tornou-se o paradigma da força de regeneração das gerações mais novas com consciência política e social. Pretendia-se que os jovens substituíssem o proletariado como sujeito emergente e a sucessão geracional seria o motor da mudança social.

Mais tarde, o filósofo publicou El método histórico de las generaciones que permitiu a compreensão do curso da história, partindo da ideia de que a substituição geracional acontece de 15 em 15 anos.

Contudo, e tal como Bauman (2007) observou, a ideia central de Ortega y Gasset não é de sucessão mas de sobreposição: nem todas as pessoas contemporâneas podem ser consideradas contemporâneas. Por esta razão, há tempos da velhice -“acumulativo”- e tempos da juventude – “eliminativos” ou “polêmicos”. Segundo a visão do autor, a

relação é estabelecida entre as minorias e as massas: quando alguns indivíduos vivem em tempos de crise, captam uma nova “sensibilidade vital” e pela “primeira vez eles têm novos pensamentos com plena clareza”, tornando-se uma geração decisiva para os seus pares, porque podem relacionar-se com as mudanças valorizadas.

Também no contexto Espanhol, em 1949, o filósofo Julián Marías publicou El método histórico de las generaciones, comparando a contribuição de Ortega y Gasset com a de outros autores (Comte, Mill, Ferrari, Dilthey, Ranke) e pensadores contemporâneos (Mentré, Pinder, Petersen, Mannheim, Croce & Huizinga, entre outros). Nos seus trabalhos Julián Marías

sintetiza as elaborações de conceitos e de esquemas interpretativos, sucessivamente efetuadas, desde os começos do século XIX, por esses autores; ao mesmo tempo - e partindo das teses propostas por Ortega e Gasset - expõe aí a sua própria conceção de uma teoria das gerações, entendida como uma peça indispensável da teoria da sociedade e da história (Sedas Nune, 1969, pp. 75-76).

No contexto do pensamento sociológico português, Sedas Nunes (1969) desenvolveu uma atenta reflexão sociológica sobre o conceito de geração e suas conexões. Este autor começa por chamar a atenção para a frequência com que a literatura da especialidade e mesmo o senso comum utilizam expressões como "conflito de gerações", "novas gerações", "gerações do ano x" e outras semelhantes, sendo que este facto retrata uma forma particular de diferenciação sociocultural. Na mesma ótica, esta diferenciação parece associada a mecanismos determinantes de ritmos básicos da vida social, especialmente no que concerne aos domínios da evolução das ideias, da formação, do funcionamento e transformação das relações e dos regimes políticos, etc.

Na opinião do autor acima referido (Sedas Nunes, 1969) devem considerar-se três significados distintos - frequentemente confundidos no senso comum - para o termo "geração". Estes três significados constituem também três conceitos distintos. Neste contexto, deveremos considerar o conceito de "geração biológica", o conceito de "geração demográfica" e o conceito de "geração social".

Chamaremos geração biológica, a um intervalo de tempo que abrange o número médio de anos que decorrem entre um certo ano e aquele em nascem os filhos dos indivíduos nascidos nesse ano (25 a 30 anos). Neste sentido se dirá que a história de Portugal cobre um pouco mais de trinta gerações.

Chamaremos geração demográfica, a um simples agregado estatístico de indivíduos cujas idades se situam dentro de certos limites. Colhendo dados do recenseamento

geral da população, poderíamos classificar os membros da sociedade portuguesa, por exemplo nas seguintes categorias: dos 0 aos 15 anos, dos 16 aos30, dos 31 aos 45, dos 46 aos 60, dos 60 em diante. Cada uma dessas categorias representaria uma «geração demográfica» (ob. cit. p.77).

Continuando a seguir o pensamento desenvolvido pelo autor citado, poderíamos dizer que as gerações demográficas contêm diferenciações socioculturais significativas, a saber: quanto ao nível de participação na cultura global e nas subculturas de meio social, de profissão, etc.; quanto às posições na sociedade e ao tratamento recebido da mesma; quanto às normas sociais de comportamento e às atividades desenvolvidas; quanto à proporção entre os elementos culturais inovadores e os elementos culturais tradicionalistas. O autor considera que as gerações demográficas mais jovens serão mais propensas à propagação da inovação do que as gerações mais velhas que seriam mais tradicionalistas.

Daqui resulta que o potencial de inovação e progresso de uma sociedade depende da proporção que nela se verifica entre as gerações jovens e as gerações avançadas e velhas. Uma sociedade demograficamente velha tenderá para a estagnação. Uma sociedade demograficamente jovem poderá igualmente estagnar; mas encerrará sempre um elevado potencial de inovação e progresso (ob. cit. p. 78).

As gerações demográficas não são grupos sociais e constituem apenas agregados estatísticos. No entanto, na opinião do mesmo autor, uma dessas gerações, a juventude - sobretudo entre os 16 e os 25 anos - tende a dar origem a uma realidade sociológica específica, ou seja, tende a gerar um conjunto de grupos com caraterísticas próprias, cujo conhecimento é de grande relevância para a análise das estruturas da sociedade e da cultura e para o conhecimento do funcionamento e da evolução dos sistemas socioculturais. Esta tendência manifesta-se mais intensamente nas sociedades contemporâneas onde há grande progresso técnico e científico e onde se verificam alargamentos dos sistemas educativos formais. Existe a tendência, dentro da sociedade, para a formação de toda uma constelação de «meios sociais juvenis», culturalmente distintos e, em diferentes graus, socialmente contestativos dos «meios sociais adultos». Este facto acompanhou os processos de industrialização, urbanização e modernização das sociedades atuais.

De facto, em nossos dias, os jovens tendem a constituir, não apenas um conjunto estatístico de indivíduos dispersos, mas um sector sociologicamente diferenciado dentro da estrutura social - um «mundo próprio» caraterizado por modos específicos de pensar, de sentir e de agir e integrado por grupos formais e informais situados à margem da sociedade dos adultos e frequentemente definidos, (...), por

um princípio de oposição mais ou menos acentuado e englobante, radicado no

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