• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I. Perspetivas Teóricas sobre o Envelhecimento

5. Tendências Recentes no Estudo do Envelhecimento

Nas últimas décadas tem-se verificado um interesse crescente pelo estudo das questões e problemas relativos ao envelhecimento das pessoas e das populações. Este interesse tem-se consolidado num número crescente de publicações científicas que têm surgido sobre o assunto. Neste contexto, desenvolveu-se uma nova disciplina de interface entre a Biologia, a Psicologia, a Sociologia e outras disciplinas das Ciências Sociais. Esta nova disciplina é designada de Gerontologia e "corresponde a uma visão integrada do envelhecimento que agrega os contributos de várias áreas científicas (...) mas que se constitui num novo campo do saber, ao criar abordagens e modelos explicativos sobre o ser humano e o seu curso de vida" (Paúl, 2012, p. 1).

Constança Paúl, num artigo recente, faz o levantamento do estado da arte em Gerontologia a partir de publicações internacionais de referência (Journals of Gerontology, The Gerontologist e outras) e procura desenhar um panorama sobre as principais preocupações e focos de interesse dos estudiosos da temática.

Blieszner & Sanford (2010), citados em Paúl (2012), fizeram uma análise de 437 artigos publicados no período compreendido entre 2000 e 2008 e verificaram que os tópicos

mais estudados foram a cognição (31,7%), a saúde (19%), o bem-estar (17,4), a personalidade (8%), a cultura/género e raça (7,8%), as relações (6,7%) e as perceções/atitudes (2%). Nos estudos analisados as amostras são pequenas ou médias (inferiores a 500 elementos) e as técnicas de tratamento de dados utilizadas foram predominantemente quantitativas. As expectativas de Blieszner & Sanford (2010) para a produção científica nos próximos anos passam pela abordagem de processos psicossociais mais diversificados, pelo uso de medidas repetidas que contemplem os indivíduos e as suas redes de sociabilidade e também pela utilização quer de análises multivariadas quer de métodos qualitativos. Referem também a importância de virem a ser realizados estudos transculturais.

Já Silverstein (2010) põe em relevo o facto de, em ciência, as fronteiras entre temáticas serem muito transitórias pois verifica-se a emergência frequente de novas perspetivas. A aposta deste autor, em termos de prospetivas para a Gerontologia, vai no sentido de se explorar caminhos novos através de metodologias mistas complexas e da comparação transcultural. Sobressai a preocupação de obter artigos mais críticos em termos do passado e do futuro da disciplina e da prática gerontológica num contexto social caraterizado pelas mudanças.

Na situação recente da Gerontologia sobressai a multiplicação de estudos de natureza empírica e a escassez de reflexão e enquadramento teóricos das pesquisas efetuadas, tal como acontece nas disciplinas científicas com história recente e com vida curta (Birren & Bengston, 1988).

Achenbaum (2010) também faz uma abordagem e uma reflexão sobre a história recente e o futuro da Gerontologia e coloca em relevo a necessidade de se fazer a integração entre a investigação, a educação e a prática gerontológica, no sentido de encontrar novos papéis para os seniores que vivem numa sociedade em permanente mudança, onde os antigos papéis já não servem. Este autor coloca também em destaque a importância de encontrar alicerces teóricos sólidos e de avançar para teorias multi, inter e transdisciplinares4 que contemplem os problemas da vida real dos idosos. Diz este

444

Importa relembrar a distinção concetual proposta por João Ferreira de Almeida (Almeida, 1994, p. 31), citada em Carmo (2008, p. 61), entre: intradisciplinaridade, que visa a integração de várias especialidades no interior duma mesma disciplina; pluridisciplinaridade, que visa a comunicação entre diferentes disciplinas; interdisciplinaridade, que visa construir uma abordagem teórica global, entre disciplinas de modo a gerar pesquisas integradas; e transdisciplinaridade, que pretende a estabilização das experiências interdisciplinares em procedimentos contínuos e frequentes.

autor: "Enquanto se faz o mapeamento das capacidades e das necessidades das pessoas idosas nas populações que estão a envelhecer, temos que decidir como alimentar os potenciais de vida tardia, para atualizar as prioridades da sociedade" (Achenbaum, 2010, p.144).

Tal como nas outras disciplinas científicas, a função detida pelas teorias em Gerontologia é a de contribuírem para explicar e sistematizar os fenómenos observados assim como para levantar hipóteses e/ou fundamentar intervenções práticas. Neste contexto, importa referir que Alley et all (2010) também fizeram um estudo de artigos de Gerontologia, em publicações de referência, para analisar quais as teorias referidas nesses mesmos artigos. Verificaram que a maioria dos artigos analisados (61%) não fazia referência a qualquer teoria. Nos artigos em que as teorias eram mencionadas (39%) verificou-se a tendência para o uso de teorias transdisciplinares. Nestes trabalhos, as teorias mais usadas foram as seguintes: a Perspetiva do Curso de Vida (Life Course); as Teorias Desenvolvimentais do Curso de Vida (Life Span); a Teoria dos Papeis; a Teoria da Troca e as Teorias Ecológicas/Pessoas/Ambiente. Os modelos mais comumente referidos foram: os de Stress e Coping; o de Envelhecimento Bem- sucedido; o Modelo Comportamental de utilização dos serviços de saúde de Anderson; os Modelos de Controlo, Autoeficácia e Mestria e os Modelos de Incapacidade.

Os artigos analisados pelos autores referidos e as conclusões a que chegaram mostram que há uma crescente ênfase multidisciplinar e que o recurso a modelos como sistemas explicativos, confundindo por vezes modelos com teorias, parece preencher algum vazio entre a teoria e a aplicação, mas podem ser um bom recurso no desenvolvimento de teorias novas, através da explicação do porquê da verificação empírica de um modelo que relaciona variáveis entre si (Paúl, 2012, p.4).

Em termos europeus e nas décadas mais recentes, destacam-se os trabalhos de desenvolvimento teórico e aplicado promovidos por investigadores do Instituto Max Plank de Berlim, entre os quais se salientam Baltes & Baltes (1990) e os seus colegas. Estes autores deram um contributo significativo para a compreensão dos processos de envelhecimento através do desenvolvimento das teorias do envelhecimento bem- sucedido e da seletividade socio emocional de Carstensen (1995).

Vários autores têm colocado em relevo a necessidade de se proceder ao enquadramento teórico e afinamento metodológico dos atuais trabalhos de pesquisa sobre o

envelhecimento por forma a conseguir o próprio desenvolvimento científico da Gerontologia.

Também em Portugal é necessário prosseguir caminho idêntico e não apenas acumular evidências empíricas sobre a condição dos idosos, mas compreender o envelhecimento de forma integrada, quer através de teorias sólidas, próprias ou oriundas de outras áreas do saber, quer no contexto socio-histórico que nos envolve e no qual somos elementos atuantes na constante mudança (Paúl, 2012, p.4).

Em Portugal, nos últimos anos, destacam-se alguns trabalhos sobre a situação e as condições de envelhecimento da população portuguesa, nomeadamente, o de Carneiro (2012) e o de Cabral (2013).

A transformação ocorrida no estatuto das pessoas mais velhas durante o século XX, é explicada por Brody (2010) para a sociedade americana, e por Paúl (1996) para a sociedade portuguesa. Brody (2010) aponta as mudanças demográficas acontecidas, as mudanças nas caraterísticas de saúde dos seniores e na organização de serviços de apoio que isso implicou. Refere, especificamente, que os lares de terceira idade tiveram que deixar de selecionar pessoas autónomas como critério de admissão e tiveram que passar a acolher pessoas com incapacidades e doenças crónicas. Também Paúl (1996) constata uma evolução semelhante em Portugal, a partir da década de 80 do século XX.

Tal com é referido por Paúl (2012) em Portugal, antes da década de 80, as pessoas faziam entrada precoce para as instituições, com um sentido preventivo, reservando lugar para quando se sentissem incapacitadas na sua vida quotidiana. Isto também porque o critério de admissão dominante nos lares era o estado de autonomia das pessoas. Esta situação punha em causa, provavelmente, um envelhecimento mais ativo, pelo desuso de capacidades face a um meio institucionalizado protetor que retirava autonomia aos seus utentes (ob. cit.).

Segundo a mesma autora, a qualidade de vida e o conforto em muitas das instituições de acolhimento de idosos, durante os anos 80 e princípios da década de 90, também não se poderiam considerar elevadas, verificando-se mesmo "pobreza" de serviços sociais e de saúde.

Binstock (2010) refere também que a atual crise económica internacional traz para a discussão, sobre a situação dos idosos, as políticas de envelhecimento e a possibilidade de existência de conflitos intergeracionais em relação às despesas com os seniores e aos impostos. Este autor, refletindo sobre a realidade americana, chama a atenção para o

facto de os programas e benefícios para a população sénior, até aos anos 70, se terem baseado no estereótipo que considera os idosos como pessoas carenciadas, pobres, dependentes e excluídas. Depois da década de 70 e com o "florescimento" da ideologia neoliberal, os seniores começaram a ser estereotipados como um grupo poderoso que seria uma sobrecarga para o orçamento do Estado e para a sociedade. Os idosos começaram a ser vistos como culpados de situações de pobreza vividas por outros grupos etários.

Paúl (2012) constata para a realidade portuguesa uma evolução semelhante àquela que Binstock (2010) encontrou nos USA mas com anos de desfasamento no tempo.

Desfasados no tempo, vivemos uma evolução paralela e condensada em Portugal que no advento de um sistema de Segurança Social com escassos 30 anos de existência, soam já vozes discordantes que se queixam da sobrecarga dos gastos com a saúde, a Segurança Social e as pensões dos mais velhos, sem uma compreensão clara do efeito destes benefícios dirigidos aos mais velhos, no alívio e suavização da experiência de envelhecimento, mas também das famílias que doutra forma serão chamadas, ainda mais, para apoiarem os seus membros mais velhos (Paúl, 2012, p.6).

Atualmente, está na ordem do dia a questão dos direitos sociais do mais velhos assim como a da problemática da violência e da discriminação que, com frequência, aparece retratada nos diversos órgãos de comunicação social. Atendendo aos resultados do I Relatório sobre o Idadismo na Europa, do European Research Group on Attitudes to Age (Lima et al., 2010), deve referir-se que uma das conclusões evidencia que a discriminação pela idade é um problema grave ou bastante grave para 61% dos entrevistados portugueses, sendo a discriminação na sua forma subtil, do tipo "falta de respeito", a mais mencionada.

Segundo a mesma fonte, em Portugal, os estereótipos sobre os idosos, ao contrário do que se passa com a tendência europeia, mostram que a discriminação etária tende a aumentar com a idade acontecendo que 31,6% das pessoas com mais de 80 anos inquiridas já foi vítima de discriminação. Nos países europeus, os idosos são encarados como uma ameaça económica (57%) e um peso para os serviços de saúde (49%), sobretudo pelos mais jovens. Os autores do estudo referem que os estereótipos relativos ao idoso são do "tipo benevolente". Os seniores são encarados como mais simpáticos do que competentes, gerando pena e admiração, sentimentos de compaixão e paternalismo.

Esta situação leva-nos a questionarmo-nos sobre as implicações políticas que este tipo de estereótipos pode vir a gerar num contexto dominado pelas ideias neoliberais em que as argumentações de natureza economicista constituem a tónica dominante no discurso político. Nota-se uma tendência para o retomar das ideias que alguns enquadram na designação de darwinismo social e que preconiza e valoriza a sobrevivência dos mais fortes sem qualquer preocupação com o que acontece aos mais frágeis (Barata, 1974). O conceito de Reforma, em torno do qual se reconheceram socialmente os direitos dos seniores, tem vindo a ser posto em causa pelo alterar dos pressupostos estabelecidos para os sistemas de pensões e outros direitos que antes pareciam adquiridos. Em termos internacionais verifica-se a tendência para o adiamento da idade da reforma, com um aumento do número de pessoas maiores de 65 anos no mercado de trabalho. Um dos aspetos mais problemáticos da questão da Reforma é o problema do financiamento das pensões. Neste contexto, afiguram-se duas grandes tendências opinativas: o financiamento integral pelos próprios das suas pensões (numa lógica neoliberal) ou, então, o financiamento por transferência intergeracional (numa lógica de Estado Social). Sobre este problema não se chegou ainda a qualquer consenso generalizado mas as ideias neoliberais parecem ter adquirido maior visibilidade no contexto da recente crise económica.

Em resumo, verificou-se um desenvolvimento globalmente positivo na evolução da situação social das pessoas mais velhas ao longo do século XX, no sentido de uma maior solidariedade intergeracional, observada na institucionalização da reforma e de sistemas de proteção social e saúde. A fase áurea das medidas que permitiram baixar a pobreza e melhorar substancialmente a qualidade de vida das pessoas idosas, quer nos EUA quer na Europa, já terminou (Paúl, 2012, p.8).

No atual momento de crise económica, verificamos a imposição de grandes restrições e começam a acontecer muitas diminuições de garantias e benefícios que, antes, protegiam os seniores no tempo da aposentação e reforma. Desta forma, a experiência de vida na reforma torna-se cada vez mais ambivalente e incerta. Esse tempo de pós- trabalho que foi encarado como um tempo de possibilidade de lazer, agencia e consumo torna-se, hoje, um tempo de risco e incerteza, falta de concretização e de penúria económica. A atitude face ao grupo dos mais velhos vive atualmente uma fase negativa e os problemas da discriminação em função da idade voltam a ser uma realidade social, como o demonstram estudos recentes, nomeadamente, o I Relatório sobre o Idadismo na Europa, do European Research Group on Attitudes to Age (Lima et al., 2010).

Num contexto teórico dominado pela teoria da atividade, o voluntariado sénior surge como uma alternativa positiva para colmatar o problema da falta de concretização, permitindo uma maior realização pessoal e fornecendo uma perspetiva altruísta nesta fase da vida. No entanto, as soluções de voluntariado não resolvem os problemas de penúria económica dos próprios seniores e contribuem, isso sim, para resolver alguns problemas económicos da própria sociedade. É de salientar que as soluções de voluntariado aportam sobretudo benefícios de natureza psicossocial para os seus praticantes.

Morrow-Howell (2010) procurou fazer uma revisão do estado da arte sobre o voluntariado e analisou as principais pesquisas existentes. Verificou que, nos EUA, cerca de um quarto da população com 65 ou mais anos faz voluntariado, regularmente, numa média de aproximadamente 90 horas anuais. Este autor coloca em relevo o efeito do voluntariado no bem-estar psicossocial e na saúde dos seniores, sobretudo daqueles que ultrapassam a média de 100 horas de voluntariado por ano.

Na lógica do autor antes referido, a valorização social do voluntariado, o seu reconhecimento público, tornando mais relevante o papel dos seus praticantes, constituiria um poderoso mecanismo de incremento do bem-estar social e psicológico dos próprios seniores e uma motivação suplementar para a prática de atividades voluntárias.

Quanto aos temas atuais mais relevantes no estudo do envelhecimento, para C. Paúl (2012) eles abarcam o seguinte leque:

Relações de Género - As questões de género apresentam-se com grande relevância quando se estuda o envelhecimento. A existência de uma crescente proporção de mulheres dentro da população idosa, nos diferentes países com envelhecimento demográfico, faz com que se conclua que existe uma feminização do envelhecimento. Este facto "não obsta à existência de indicadores globalmente mais negativos nas mulheres velhas, a começar pelos estereótipos e a acabar em indicadores de incapacidade, declínio cognitivo ou depressão" (ob. cit., p.8).

Também Calassanti (2010) se preocupa com as relações de género em idades avançadas, propondo que se ultrapasse o estudo do género como uma variável de retaguarda, um atributo individual com um conjunto de características estáveis. Este

autor chama a atenção para o facto de o género estar presente nas instituições sociais, quer seja na família quer seja no trabalho, o que obriga a desfocar da naturalização do comportamento individual para a vida organizacional e institucional. Ao indivíduo (homem ou mulher) velho corresponde também um estatuto de desvalorização na sociedade atual. Este facto cruza-se com um muito mais amplo sistema de desigualdades pois mulheres e homens velhos pertencem também a raças, classes sociais e sexos, construindo-se uma teia complexa de diferentes níveis de desvalorização social para os mais velhos. Mesmo perante a saúde, há diferentes posições de homens e mulheres idosos.

Há estudos que indicam que o homem idoso tem mais comportamentos de risco para a saúde e também se queixa menos do que as mulheres idosas (Calassanti, 2010). Estes factos estarão ligados aos próprios processos de socialização diferenciados entre os sexos e também às diferentes espectativas sociais, sendo as atitudes respostas a contextos socioculturais.

Envelhecimento Cognitivo - O entendimento de como se processa o declínio das funções cognitivas humanas constitui uma das preocupações centrais nos estudos da Gerontologia. Os esforços conjugados das Neurociências, da Psicologia e até da Imagiologia (ex.: ressonâncias magnéticas) têm possibilitado alguns avanços na compreensão do declínio cognitivo.

Reuter-Lorenz & Park (2010) publicaram um artigo, considerado pelos especialistas como bastante relevante, sobre o envelhecimento da mente, demonstrando que os dados resultantes dos estudos comportamentais produzidos pela Psicologia são presentemente corroborados pela Imagiologia.

Segundo os mesmos autores, as inovações mais destacadas no conhecimento do envelhecimento com recurso à neuro imagem são: a sobreativação que mostra que as pessoas mais velhas ativam mais regiões e diferentes áreas cerebrais (isto poderá corresponder a um processo compensatório) para executar uma tarefa, o que otimiza o seu desempenho; a desdiferenciação que se relaciona com a perda de especialização e especificidade regional no cérebro; a compensação frontal, que corresponde a uma sobreativação pré-frontal paralela à subativação de regiões posteriores do cérebro; a default mode network (DMN) que é mais ativa nas pessoas mais velhas (a DMN medeia as cognições associadas com o centrar em si mesmo e o pensar em factos passados, e

torna-se menos ativa durante o desempenho de tarefas e mais ativa quando as pessoas estão em repouso).

Neste contexto, pensa-se que "a plasticidade e a compensação são fatores críticos para compreender o envelhecimento cognitivo" (Paúl, 2012, p.10). O modelo STAC (Scafolding Theory of Aging and Cognition) proposto por Park & Reuter-Lorenz (2010) corresponde a uma perspetiva integradora de modelos anteriores, em que o envelhecimento cerebral é sujeito a desafios neurais que acompanham alterações funcionais. O cérebro responde a estas alterações funcionais através da utilização de circuitos neurais alternativos (scaffolds) compensatórios que poderão ser menos eficientes. Acredita-se que o treino cognitivo e as novas aprendizagens feitas na maturidade podem aumentar a capacidade do cérebro para estabelecer novos circuitos adaptativos. A somar a estes dados devemos acrescentar aquilo que acontece ao nível da regulação emocional e o papel desempenhado pelo meio social no envelhecimento e no bem-estar, o que veremos de seguida.

Bem-Estar - Segundo Scheibe & Carstensen (2010) verificam-se elevados níveis de bem-estar emocional nos seniores até aos 70 ou 80 anos, em contraste com o que se passa no domínio físico e cognitivo. A decadência do bem-estar emocional é sobretudo observada na fase final da vida das pessoas, independentemente da idade em que a morte acontece. No contexto das teorias sobre o bem-estar emocional, os referidos autores destacam a teoria da seletividade socioemocional de Carstensen (2006) que preconiza que as pessoas, ao sentirem que o fim se aproxima, dão prioridade a experiências emocionais imediatamente gratificantes em detrimento de expectativas sobre recompensas futuras.

Os mesmos autores destacam também a teoria do "controlo ao longo do ciclo vital" de Heckhausen & Schulz (1995) que considera que as estratégias mais usadas pelos seniores, face às dificuldades em controlar o meio ambiente para atingir objetivos, são de controlo secundário, como, por exemplo, a regulação emotiva em que se modifica o self para o coadunar com o meio em lugar de alterar o próprio meio. Scheibe & Carstensen (2010) salientam também a teoria de Labouvie-Vief (2003) que preconiza que, face à diminuição das capacidades cognitivas e à dificuldade em integrar sentimentos negativos, os seniores promovem a otimização dos afetos e não a complexificação dos mesmos. Sobre este assunto C. Paúl salienta que a "teoria de

Labouvie-Vief (2003), que refere que as capacidades cognitivas diminuídas associadas à idade tornam mais difícil integrar e aceitar sentimentos negativos levando a que os mais velhos prefiram mais a otimização do afeto do que a sua complexidade" (Paúl, 2102, p.11).

As três teorias antes referidas "apontam para uma maior regulação emocional em idades tardias que beneficia da aprendizagem e prática ao longo da vida." (idem). As mesmas teorias estão também em sintonia com a teoria de Baltes & Baltes (1990) sobre a seleção, otimização e compensação no envelhecimento.

Resumidamente, Scheibe & Carstensen (2010) preconizam que as alterações no processamento cognitivo dos estímulos emocionais e o incremento da motivação e competência emocional contribuem para uma melhor regulação emocional nos seniores. George (2010) também se debruçou sobre a questão do bem-estar subjetivo (BES) em idades avançadas. Procurou fazer uma clarificação conceptual e começa por referir que

Documentos relacionados