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EDUCAÇÃO ESPÍRITA: O HOMEM DE BEM

No documento Download/Open (páginas 124-144)

O tema deste trabalho não é exatamente a Pedagogia Espírita, mas a Educação Espírita, anunciada por Allan Kardec como condição sine qua non da evolução espiritual do ser. Trata-se da formação do “homem de bem” – do honnête homme, para se usar uma expressão do idioma de Kardec.

Em muita tradução, para o vernáculo, de textos franceses de psicologia, pedagogia, filosofia, história da filosofia, história da pedagogia, etc. (...), temos sempre mantido em francês a expressão honnête homme, a qual continua a parecer- nos de tradução difícil, quiçá impossível, em toda a riqueza de sentido, de homem

perfeito aos olhos do mundo, homem de boa companhia (Penna, 1978, p. 15).

Um dos maiores pioneiros e precursores de Kardec, Platão, propunha a educação moral, o cultivo da virtude, a autonomia espiritual, a consciência de si mesmo.

Espiritismo propõe que a virtude pode e deve ser ensinada; que, pela reflexão interior, o indivíduo cresce em qualidades morais; que os conhecimentos dos valores humanos é a maior aquisição pessoal. Esse é o caminho do bem, a ser palmilhado pelo homem.

Discorrendo sobre Platão, na obra Os grandes pedagogistas, J. Moreau afirma: É que a ciência do Bem, embora seja conhecimento objetivo, não é acessível a todos; pode, sem dúvida, ser ensinada, não, porém, por meio de exposição pública; não poderia (...) traduzir-se em fórmulas transmissíveis; deve ser conquistada pela reflexão de cada um; coincide com a autonomia racional. É o termo supremo de uma educação que tende para o descobrimento da interioridade, mas que nem todos os indivíduos são capazes de seguir (Moreau, 1999, p. 34). (Sem grifos no original).

O Espiritismo discorda totalmente do final da frase acima (parte sublinhada). Todos os indivíduos são capazes da evolução espiritual, aliás, todos são obrigados, forçosamente, a ela. O que acontece é que cada Espírito se encontra em um nível de evolução, daí a grande e até extrema diferença entre as pessoas encarnadas. Por isso mesmo o Espírito

necessita de muitas oportunidades, muitas vidas (princípio da reencarnação), a fim de evoluir e finalmente chegar à perfeição, que é o destino de todos eles. Os espíritas afirmam: Todos são condenados à evolução, à perfeição, à luz, mesmo que para isso alguns gastem milênios. Pelo princípio das vidas sucessivas e ainda pelo do livre-arbítrio, cada Espírito desenvolve uma trajetória individual, mas o fim de todos é o mesmo: a evolução, para a qual é necessária a educação, ou melhor, a autoeducação.

Conscientes dessa verdade, os espíritas buscam, por meio do estudo, da frequência aos centros espíritas, da prece, da prática da caridade e da reforma íntima, a própria evolução, que pode (e deve) ser intensificada, apressada, buscada conscientemente. Portanto a formação da consciência de si mesmo é um dos objetivos mais importantes dentro do Espiritismo.

E como o próprio Cristo disse que a cada um seria cobrado na medida do seu conhecimento, o espírita, já sabedor dessa máxima, teme não cumprir os preceitos da doutrina, tornando-se o maior juiz de si mesmo. Portanto não se vê nenhum espírita proferindo um tipo de frase que jocosamente pessoas não espíritas afirmam em tom de ironia: “Se eu tenho várias chances, posso aproveitar bem a vida nesta encarnação, porque depois posso recuperar o tempo perdido”. Nenhum espírita verdadeiro afirma tal coisa. Ao contrário, ele tem pressa – além de sentir prazer verdadeiro em se imaginar evoluindo, não perdendo tempo na presente encarnação, e inclusive experimentando uma sensação de medo caso perceba estar perdendo tempo, protelando sua evolução, cedendo a vícios, más tendências ou preguiça.

Portanto o pensamento de Platão acerca do bem e da busca da interioridade se coadunam perfeitamente com o Espiritismo. Assim como a autoeducação em fases sucessivas, a necessidade da disciplina, e ainda o amor. Continua J. Moreau:

A educação platônica comporta, assim, graus, fases sucessivas e, por isso ainda, apresenta o caráter de iniciação. A interioridade a que nos convida, e na qual obteremos a revelação do valor supremo, pede, para que a atinjamos, aceitar, primeiro, uma disciplina exterior. Mas esta não tem outro fim senão o de liberar gradualmente a atividade espiritual em busca de um bem ideal, transcendente a todos os fins empíricos, objeto absoluto de nossa vontade. Ora, essa inspiração infinita se exprime, para Platão, pelo símbolo do Amor (Moreau, 1999, p. 38).

Na base da formação do homem de bem está principalmente Pestalozzi, o grande mestre de Allan Kardec em sua vida como Denizard Rivail. Sobre Pestalozzi afirma L. Meylan:

De todos os educadores e filósofos da educação, Pestalozzi é,

provavelmente, o único conhecido nos cinco continentes, o único que haja chegado à grandeza mítica de um Beethoven: o gênio pedagógico.

[...]

Desempenhou, em seu tempo, e para além dos limites de seu país, papel de primeira plana; e não seria possível escrever a história da civilização na Europa ocidental, no fim do século XVIII e no começo do século XIX, sem evocar-lhe os escritos e as ações (Meylan, 1999, p. 210). (Sem grifo no original)

Compreendendo a educação escolar como uma continuação da educação familiar, Pestalozzi preocupava-se primordialmente com a educação para a vida. Buscando a dignidade humana; pondo acima de tudo o respeito pela pessoa, pela criança, pelo aluno; praticando o afeto, o amor, o carinho, a afeição, a benevolência, o humanismo; Pestalozzi sobressaiu-se na recuperação de crianças e adolescentes abandonados, órfãos, miseráveis, elevando-os à condição de pessoas humanas dignas, autoconfiantes, seguras, serenas, felizes. Ele era o “pai Pestalozzi” e os alunos eram seus “filhos”. E seu “método pedagógico” era essencialmente o amor, era a sua entrega total aos alunos-filhos:

É ao fato de que essas crianças recebiam dele, não apenas o ensino, mas os cuidados mais continuados, que ele atribui o êxito da sua “loucura”: “Estava sozinho com elas de manhã à noite. Era de minha mão que recebiam tudo quanto o reclamavam seu corpo e sua alma. Todo socorro, toda consolação, toda instrução lhes vinha imediatamente de mim. Sua mão estava em minha mão; meus olhos não desfitavam seus olhos. Minhas lágrimas corriam com suas lágrimas e eu sorria com elas. Estavam fora do mundo, estavam fora de Stans; estavam comigo e eu estava com elas” (Meylan, 199, p. 216).

São palavras de Pestalozzi:

Pergunto a mim mesmo como vim a ter, com respeito aos homens, amor, confiança, reconhecimento e obediência; como apareceram, em minha natureza, os sentimentos nos quais repousam essencialmente o amor, a gratidão e a confiança para com os homens, e as ações pelas quais se forma a obediência humana. E acho que tem, antes de tudo, por ponto de partida, as relações existentes entre a criancinha e sua mãe [...]. A criança é cuidada, está alegre. O germe do amor está desenvolvido nela (Apud Meylan, 1999, p. 219).

Pestalozzi foi, inegavelmente, o mais crístico dos educadores. O educador do amor. E um dos maiores homens de bem de que se tem notícia. Embora não fosse espírita (e o Espiritismo ainda nem tinha nascido enquanto tal), sua prática de vida e de educação

preenchem totalmente, do modo mais elevado e nobre, o princípio espírita da caridade e do amor. Segundo Louis Meylan, Pestalozzi afirmou: “O amor é que fez tudo” (Meylan, 1999, p. 224).

O homem de bem se faz pela educação do Espírito: “Esta educação, a verdadeira educação, a educação por Excelência, é a educação que olha o homem como ser integral, como Espírito eterno, criado para a perfeição, é a EDUCAÇÃO DO ESPÍRITO” (Alves, 2001, p.13).

Segundo Kardec, somente pela educação do Espírito se chegaria à transformação da humanidade. Em Obras Póstumas se lê: “É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade” (Apud Alves, 2001, p. 15).

Depois das obras básicas de Kardec, centenas de espíritas têm produzido, incessantemente, obras psicografadas nas quais os próprios Espíritos revelam como se dá sua evolução, como se dá a evolução do Espírito em geral – de todo e qualquer Espírito, desencarnado ou encarnado. Descrevem também, com detalhes, a vida nas diversas esferas extraterrestres onde vivem (cidades, colônias, escolas, hospitais, zonas umbralinas, etc.). Então nenhum espírita ignora:

De encarnação em encarnação, de experiência em experiência, o Espírito vai conquistando sua própria bagagem interior. A criança que recebemos hoje é o Espírito que retorna às lides da Terra para nova etapa evolutiva, trazendo imensa bagagem de seu passado milenar. Quantas existências já teve? Por quais civilizações já viveu? Que sentimentos desenvolveu no passado? Sentimentos nobres, ideais elevados, vícios depreciativos? (Alves, 2001, p. 48).

Porém o que a Educação Espírita quer demonstrar é que tal ideia, verdadeiramente, é o ensino de Jesus Cristo. Nas palavras de Teixeira:

É com o excelente Jesus, filho de José e de Maria, entretanto, que aprenderemos a compatibilizar a educação com cada uma das vivências no mundo, pois é através dos Seus ensinamentos e dos Seus exemplos que logramos perceber que os caminhos do bem e da auto-transformação não existem para que sejam observados, discutidos ou descritos, mas para que sejam trilhados. Assim, para cada vivência, para todo e qualquer momento, a mensagem de Jesus apresentava todo um conteúdo educativo, fomentando bem-querer, fraternidade, indulgência, perdão, fidelidade ao bem, auto-definição (Teixeira, 2004, p.11).

Dessa forma, teoricamente, na literatura, o objetivo do Espiritismo é muito claro: a evolução espiritual de cada um (individual). Porém, na prática, os espíritas desenvolvem muito pouco do que está escrito nos livros.

Saara Nousianinen, em obra de título sugestivo – O Espiritismo em época de

transição –, critica o trabalho tradicionalmente desenvolvido nos centros espíritas brasileiros,

apontando, inclusive, alguns exemplos de flagrante descumprimento das recomendações feitas por Cristo e pelos Espíritos, dentro dos próprios centros, realizada por companheiros de doutrina e de atividades na casa (falta de caridade, egoísmo, injustiça, maledicência, acusações, desentendimentos, incompreensão, negação de ajuda, vaidade, comodismo, personalismo, luta pelo poder, vaidade, desamor, discriminação, etc.). Ela critica também a rotina estabelecida nos centros espíritas, que tem trazido acomodação, mantendo os membros da casa na ilusão de que estão se desenvolvendo espiritualmente e de que estão exercendo plenamente a prática do Espiritismo. Os centros estariam, na visão dessa autora espírita, equivocados quanto ao seu próprio trabalho, que caiu na mesmice, na rotina, na mediocridade. Sem uma análise, sem um autocrítica, os centros estariam falhando em vários aspectos e precisam, urgentemente, de uma reformulação. Porém, de um outro ângulo, os membros da comunidade espírita, em elitista atitude de arrogância e pretensão, ignoram as próprias falhas, julgando-se altamente conhecedores dos preceitos e da literatura espírita, considerando absolutamente correto e suficiente o trabalho que executam. Ela se pergunta: “O que estaria faltando nos meios espíritas: conhecimento doutrinário ou a presença de amor e de humildade?” (Nousiainem, 2008, p.11).

Reconhecendo – como talvez qualquer pessoa (de qualquer seita religiosa, e mesmo os ateus e agnósticos, os cientistas, filósofos, pensadores, educadores, políticos, empresários, operários, enfim, toda a raça humana atual) o fizesse – que “o mundo cristão pouco progrediu espiritualmente”, a autora chega à análise da ação do Espiritismo na atualidade, em que se faz de tudo menos cuidar da verdadeira evolução espiritual:

Chega, então, o espiritismo, trazendo extraordinário conhecimento libertador, como excelente alavanca para a transformação interior dos seus adeptos, mas, talvez em razão das grandes dificuldades que essa transformação apresenta, muitos acabam substituindo-a pela freqüência ao centro, pelo passe e pela água fluidificada, as atividades na casa, o trabalho mediúnico, a caridade, a direção da instituição; outros a substituem por ações na divulgação do espiritismo, tais como fazer palestras, escrever livros, falar no rádio ou na TV, ou, ainda, através da Internet, e tal situação acabou se institucionalizando nos meios espíritas.

Dessa forma, sentem-se abençoados e confiantes em que estão conquistando ingresso em Nosso Lar39, após a desencarnação. Preenchem tanto as suas vidas com essas atividades que pouco, ou nada, lhes sobra para cuidar das suas construções interiores.

O que está errado, então, ou o que está faltando para que as pessoas que desenvolvem atividades espíritas, ou freqüentam centros, possam começar a despertar para a necessidade de dinamizar a própria evolução espiritual?

Certamente, está faltando interesse nas lideranças e empenho dos dirigentes no sentido de priorizar as atividades que ajudem realmente nesse desiderato.

Nos meios espíritas, costumamos apresentar Jesus e o Evangelho como sendo a nossa bandeira:

– Vamos fazer o Evangelho, vivenciá-lo, colocar Jesus em nossas vidas, etc. Com esse tipo de foco, acabamos diluindo nossos esforços evolutivos em imagens e palavras: imagens de Jesus e do Evangelho, palavras que já se tornaram jargões sem efeito. E assim, sentindo-nos sob esse pálio, achamos que estamos evoluindo, fazendo nossa reforma interior e nos preparando para habitar planos mais elevados após a desencarnação.

Mas é por causa desse tipo de enganos que Eurípedes Barsanulfo40 foi convidado a construir o Sanatório Esperança, no mundo espiritual, para atender companheiros que acreditavam ter direito a situações mais favorecidas após a morte, por terem conduzido a bandeira do Evangelho e a imagem de Jesus durante a vida (Nousiainen, 2008, p. 16-17).

A autora relata que, em uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) sobre o andamento da prática espírita, foi observado que se está “confundindo muito a prática da caridade com evolução espiritual”. Ela explica, diferenciando caridade e evolução espiritual: “A primeira gera merecimento, mas só a segunda nos resgata das inferioridades em que nos estagiamos” (obra citada, p. 20). Verdade que existe uma máxima dentro do movimento espírita brasileiro: “Fora da caridade não há salvação”. Por isso o espírita se preocupa tanto em realizar a caridade, em vários tipos de atividades: arrecadando roupas e alimentos para os mais necessitados (em uma campanha que existe em todo o país, chamada de Auta de Sousa, e que leva principalmente a juventude espírita às ruas, geralmente nos domingos pela manhã, pedindo de casa em casa a fim de ajudar pessoas carentes); abrindo e mantendo creches, asilos e entidades semelhantes; produzindo e distribuindo enxovais para recém-nascidos; dando assistência a gestantes e a

39

Nosso Lar é uma colônia espiritual (uma cidade), situada no espaço, sobre o Brasil, que é descrita no livro

Nosso Lar, psicografado por Chico Xavier, em 1944. Clássico da literatura espírita brasileira, Nosso lar é um

romance que trata da experiência de André Luiz após seu desencarne e sua chegada ao mundo espiritual, sendo recebido em Nosso Lar, onde se reúnem espíritos para aprender e trabalhar entre uma encarnação e outra. André Luiz, como espírito, tornou-se autor de muitos livros psicografados. Enquanto vivo, foi médico no Brasil. A cidade de Nosso Lar cresceu e evoluiu muito nesses últimos 50 anos, sendo citada em várias outras obras espíritas psicografadas.

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Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), já citado neste trabalho como um dos batalhadores pela Pedagogia Espírita no Brasil, está, segundo relatos espíritas, cuidando de espíritos de espíritas em um sanatório especial situado no espaço extrafísico.

maternidades; fazendo e distribuindo refeições (geralmente sopas41); fazendo visitas a enfermos em hospitais, casas de saúde, asilos, albergues, etc.; efetuando o que se chama de “cura” e “tratamento”42 nas casas espíritas; e mais uma diversidade de procedimentos. Com esse tipo de trabalho, aliado às reuniões regulares semanais, que são muito semelhantes em todas as casas espíritas do país (com palestras, aplicação de passes magnéticos, sessões de desobsessão, fluidificação de águas, preces, etc.), os espíritas compreendem que estão cumprindo muito bem sua tarefa e se sentem seguros perante a Divindade, merecendo, sim, galgar níveis superiores na escala evolutiva propalada pela literatura espírita e pelas entidades que se manifestam explicando toda uma dinâmica do universo e da espiritualidade superior, de acordo com os desígnios de Deus. Em outras palavras, cumprindo esse programa, o espírita se sente um homem de bem – ou pelo menos um candidato a esse estágio.

Mas a autora de O Espiritismo em época de transição enfatiza que isso é pouco, e que, aliás, nem é o essencial do ensinamento espírita. Ela complementa apontando o cerne da transição pela qual deve passar o Espiritismo:

Aquela ideia de que “vamos sofrer resignadamente porque receberemos recompensas no mundo espiritual” está começando a mudar para um discurso mais saudável e progressista: “vamos buscar o nosso crescimento interior, desenvolver nossas qualidades superiores e as nossas potencialidades; ajudar a comunidade procurando levar-lhes as verdades espirituais, além de trabalhar visando conscientizá-la quanto à importância da sua participação na transformação do mundo; auxiliar o ser humano a comandar seus estados de espírito, erguer-se e caminhar com os próprios pés” (Nousiainen, 2008, p. 24).

.Além de o ritmo de atividades dos centros espíritas estar necessitando de uma reformulação, o próprio desenrolar do processo evolutivo do planeta está a conclamar uma mudança, como justifica a autora, fazendo eco a toda a doutrina espírita:

Hoje estamos numa nova fase de transição; desta vez, muito mais radical porque o mundo vai mudar de grau. De “provas e expiações” passará à condição de “mundo de regeneração”. Com isso, as imensas legiões de espíritos empedernidos no mal, sabendo que poderão ser exiladas para mundos inferiores, estão “jogando todas as suas cartas” na tentativa de dominar o planeta e aqui permanecer.

Pode-se então facilmente observar o quanto essa fase está sendo conturbada, com as legiões do mal aplicando todos os seus recursos, sua ciência e tecnologias

41

Sobre as sopas há uma observação interessante: elas alimentam tanto encarnados quanto desencarnados; afirma-se que o vapor exalado das panelas de sopa é aproveitado por espíritos menos evoluídos que se encontram na Terra e ainda precisam de algum tipo de alimento material.

42

“Curas” e “tratamentos”, nas casas espíritas, são um misto de tratamento físico e perispiritual que beneficia a pessoa em ambos os aspectos, na intenção de tratá-la física e espiritualmente – mas alertando-se que “cada um recebe de acordo com sua fé e seu merecimento”.

para vencer quaisquer esforços que visem à iluminação do ser (Nousiainen, 2008, p. 5).

Iluminação do ser: essa é a máxima expressão do homem de bem, que é um iluminado – ou pelo menos deve caminhar na direção da luz.

Para alterar a dinâmica das casas espíritas a fim de que se produza a evolução do Espírito, a autora da obra citada propõe que se deve proceder a uma análise sincera do trabalho que vem sendo desenvolvido, com reflexão crítica, e posteriormente a implementação de atividades que levem as pessoas à autorreflexão, à formação da sua consciência, tendo como prioridade a própria evolução espiritual. Ela afirma que é preciso mudar discursos em atitudes e que seja declarada, abertamente, uma “campanha pela reforma interior”.

Como medidas práticas, ela propõe que sejam espalhados pelas paredes dos centros cartazes indagando das pessoas sobre humildade, o desenvolvimento do seu sentimento amoroso e do perdão. Alguns cartazes pediriam para as pessoas se perguntarem isso “constantemente”. O objetivo é criar nos centros espíritas “um clima de permanentes convites e induções à reforma interior”, sempre em busca de novos métodos para o crescimento interior.

Sugere ainda atividades fora do trabalho espírita, como confraternizações, encontros fraternos; reuniões de terapia em grupo; a prática da orientação evangélica de um se confessar aos outros; rodízio na realização do “Evangelho no lar” (a cada dia na residência de um dos integrantes do grupo); reuniões de bate-papo sobre a questão da vivência espírita; formação de grupos de estudos com diversas finalidades; etc. Com tudo isso haveria nos centros espíritas mais confiança mútua e mais amor entre os frequentadores – o que se reflete diretamente na “reforma íntima”.

O crescimento interior ou “reforma interior” é uma das máximas da atitude espírita, ao lado da prática da caridade. Quase todas as palestras, sobre qualquer tema, acabam resvalando na “reforma interior”. Sempre estão sendo relembradas atitudes concretas nesse sentido (como as indicadas pela autora do livro): se alguém o fechar no trânsito, não xingue, diga “vá com Deus, meu amigo”; olhe para as pessoas (quaisquer que sejam) e pense “que você esteja bem, com saúde e harmonia interior, que Deus o abençoe e faça feliz”; procure ser

uma presença benéfica onde estiver; sinta gratidão por tudo; não reclame das situações adversas; vibre positivamente em qualquer situação problemática; envolva conhecidos e familiares em sentimentos de paz e amor; perdoe tudo e todos; ore por aquele chefe que o

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