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Linguagem do Espiritismo

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CAPÍTULO I – O ESPIRITISMO: DOUTRINA DOS ESPÍRITOS

1.4 Linguagem do Espiritismo

Como toda doutrina, o Espiritismo possui sua linguagem própria, formada de um conjunto de termos e conceitos que o singularizam e o caracterizam, diferenciando-o das demais crenças religiosas e filosofias humanistas. Assim, da literatura espírita produzida por Kardec e do seu trabalho, criou-se, principalmente no Brasil (propaladamente o país mais espírita do mundo), toda uma prática e um corpo conceitual que se tornaram tradicionais na comunidade dos centros espíritas. Termos usados por cientistas do Espiritismo são repetidos pelos leigos (de poucas leituras na área), mesmo com uma compreensão limitada ou um tanto distorcida do conceito original. Em outras palavras: o Espiritismo tenta ser popular e fazer com que todos os seus adeptos se instruam na doutrina. Existe até uma frase muito repetida nos centros espíritas: “Espíritas, amai-vos uns aos outros; espíritas, instruí-vos”.

Entre os termos, conceitos e expressões típicas, citam-se como mais comuns e usados mesmo por pessoas sem muito conhecimento teórico: Espírito, alma, imortalidade dos espíritos, eternidade, desencarne, desencarnar, reencarnar, reencarnação, perispírito, fluido cósmico universal, lei de causa e efeito, livre-arbítrio, carma, erraticidade, colônias espirituais, umbral, volitar, pluralidade dos mundos, escala dos Espíritos, Espíritos perfeitos e imperfeitos, Espíritos zombeteiros, obsessão, obsessor, mentor espiritual, guia espiritual, centro espírita, passe magnético, fluidificação das águas, reforma íntima, mediunidade, psicografia, evangelho no lar, cura espiritual, ensino moral, fora da caridade não há salvação, prova da riqueza e da pobreza, fé raciocinada, evolução espiritual, fenômeno mediúnico ou manifestação mediúnica, etc. Assim, todos os freqüentadores de uma casa espírita (mesmo os que nem sabem ler) têm a ideia do que seja o Espírito, cuja definição aparece em O Livro dos

Espíritos:

23. Que é o espírito?

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Esse item foi produzido pela autora desta pesquisa a partir de suas leituras diversificadas, tanto de Kardec quanto de outros autores espíritas, e também de sua vivência do Espiritismo – atitude perfeitamente aceitável em ciência, desde que devidamente esclarecida.

“O princípio inteligente do Universo”.

a) – Qual a natureza íntima do espírito19?

“Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe” (LE, 2007, p. 74).

76. Que definição se pode dar dos Espíritos?

“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o

Universo, fora do mundo material”.

Nota – A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres

extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo (LE, 2007, p. 99).

82. Será certo dizer-se que os Espíritos são imateriais?

“Como se pode definir uma coisa, quando faltam termos de comparação e com

uma linguagem deficiente? Pode um cego de nascença definir a luz? Imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria mais exato, pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito há de ser alguma coisa. É a matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós outros, e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos vossos sentidos”.

Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença se julga capaz de todas as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. Não compreende as ideias que só lhe poderiam ser dadas pelo sentido que lhe falta. Nós outros somos verdadeiros cegos com relação à essência dos seres sobre-humanos. Não os podemos definir senão por meio de comparações sempre

imperfeitas, ou por um esforço da imaginação (LE, 2007, p. 101).

83. Os Espíritos têm fim? Compreende-se que seja eterno o princípio donde eles

emanam, mas o que perguntamos é se suas individualidades têm um termo e se, em dado tempo, mais ou menos longo, o elemento de que são formados não se dissemina e volta à massa donde saiu, como sucede com os corpos materiais. É difícil de conceber-se que uma coisa que tem começo possa não ter fim.

“Há muitas coisas que não compreendeis, porque tendes limitada a inteligência. Isso, porém, não é razão para que as repilais. O filho não compreende tudo o que a seu pai é compreensível, nem o ignorante tudo o que o sábio apreende. Dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim. É tudo o que podemos, por agora, dizer.” (Kardec, LE, 2007, p. 101).

O Espírito é a verdadeira existência do ser humano e existe na condição de encarnado e desencarnado; é uma energia imaterial, inteligente, individual e eterna, que migra por diversos corpos físicos, em sucessivas reencarnações, sem nunca perder a sua identidade própria, ante o princípio da sua imortalidade e eternidade.

Na Doutrina Espírita, os conceitos de Espírito e de alma são diferentes, aplicando- se o primeiro para os seres desencarnados e o segundo para os encarnados. Ainda em O Livro

dos Espíritos:

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A palavra “espírito”, com inicial minúscula, significa o princípio inteligente, contrário à matéria, conceito usado pela filosofia. Já o termo “Espírito”, com inicial maiúscula, designa, no âmbito deste trabalho, os seres desencarnados.

134. Que é alma?

“Um Espírito encarnado”.

a) – Que era a alma antes de se unir ao corpo? “Espírito”.

b) – As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?

“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem” (LE, 2007, p. 124).

149. Que sucede à alma no instante da morte?

“Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara

momentaneamente” (LE, 2007, p. 133).

150. A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?

“Sim, jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?” (LE, 2007, p. 133).

152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?

“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos,

veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala, reveladora da existência de um ser que está fora de vós” (LE, 2007, p. 134).

166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea,

acabar de depurar-se?

“Sofrendo a prova de uma nova existência”.

a) – Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como

Espírito?

“Depurando-se, alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal”.

b) – A alma passa então por muitas existências corporais?

“Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem

manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles”. c) – Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um

corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?

“Evidentemente” (Kardec, LE, 2007, p. 142).

As últimas questões e respostas acima já introduzem o conceito de reencarnação, que é o pilar central do Espiritismo, pois dá sustentação à teoria das vidas sucessivas ou pluralidade das existências, que, por sua vez, propicia a evolução do Espírito (por conseguinte, do progresso do homem na Terra), confirmando assim a justiça divina, na propositura de que Deus oferece aos homens inúmeras oportunidades de aprendizagem e reparação de seus erros.

Os Espíritos evoluem através da migração da alma, pelo processo reencarnatório. “A reencarnação é a volta da alma ou Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo” (ESE, 2006, p. 91).

Portanto, a rigor, o espírita não usa os termos “morrer” e “morte”, e sim “encarnar” e “desencarnar”.

A morte não nivela os Espíritos nem opera milagres transformando o ser humano de mau em bom, pelo simples fato de ele ter deixado o corpo físico. Assim, homens bons e maus, criminosos, infratores de toda ordem, violentos, pacíficos, etc. conservam sua índole terrena quando o Espírito desvincula-se do corpo material. Para outras religiões, o destino dessas pessoas já poderia estar definido após a morte (céu ou inferno). Porém, para o Espiritismo a morte, como vista pelo senso comum, não existe. O que ocorre é a passagem do Espírito de uma dimensão para outra (visível para invisível), com o desencarne.

Tendo em vista a eternidade do Espírito, cada encarnação não representa mais que um átimo de tempo e espaço na vida corpórea. Portanto, não são necessários nem o desespero nem a ilusão da grandiosidade intelectual ou material, durante uma encarnação, que, na verdade, em termo proporcional ao eterno, dura apenas lapsos de segundos, que passam rapidamente, restando ao Espírito toda a eternidade para a sua evolução, educação e felicidade.

Cientificamente, o princípio da reencarnação, segundo o Espiritismo, faz parte da natureza da existência humana: foi assim que Deus criou o homem. Filosófica e religiosamente, significa a benevolência de Deus para que os seres transgressores da ordem divina (Espíritos ainda não evoluídos, homens ignorantes e violentos, bandidos, criminosos, etc.) possam evoluir, chegando à condição de Espíritos perfeitos, pela educação dos pensamentos e atitudes (reforma íntima). O princípio da reencarnação contempla, assim, a máxima crística de que “ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo”. A reencarnação é um dogma do Espiritismo; nenhum espírita duvida da reencarnação, e justifica sua crença dizendo que acredita até por uma questão de lógica, considerando-se que uma vida é muito curta para o pleno desenvolvimento do ser humano. E, diante de tantas diferenças individuais (evidentes e inegáveis aos olhos de todos), o princípio da reencarnação representa as várias oportunidades de aprendizagem para todos, bem como a reparação de faltas e reajustes em relação aos seus atos não-morais. Sem a reencarnação, milhares de Espíritos se perderiam por causa de seus erros e pecados (o termo “pecado” não é do Espiritismo), o que representaria perda de tempo e desperdício (de vida, de energia, de fluido universal) da parte

de Deus – e como Deus é perfeito, não erra, não perde tempo nem desperdiça nenhum elemento da natureza, a reencarnação é uma obviedade dentro da Doutrina Espírita.

Respondem os Espíritos quando questionados por Kardec:

167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?

“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a

justiça?”.

168. É limitado o número das existências corporais, ou o Espírito reencarna

perpetuamente?

“A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do

progresso20. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal”.

169. É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos ?

“Não; aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as

encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito”.

170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação? “Espírito bem-aventurado; puro Espírito” (Kardec, LE, 2007, p. 143).

Expõe Allan Kardec na questão 222 de O Livro dos Espíritos (nessa questão não há pergunta do doutrinador nem resposta dos Espíritos; o item constitui-se de uma extensa observação de Kardec sobre a pluralidade das existências):

Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação; ressuscitaram-no da doutrina de Pitágoras. Nunca dissemos ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo uma lei da Natureza21, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota (Kardec, LE, 2007, p. 166).

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O termo “progresso” não tem, em Kardec, o sentido do senso comum ou do pensamento comteano de avanço material, tecnológico, econômico, social. Em Kardec, o progresso se refere ao Espírito, que evolui a cada reencarnação, cumprindo seu destino traçado por Deus de criatura eterna, imortal e perfectível. Trata-se, portanto, do progresso espiritual do homem (do Espírito, encarnado e desencarnado).

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Natureza em Kardec tem o sentido denotativo usado pelas ciências naturais e pelo senso comum, aplicado em relação ao mundo visível, formado pelos reinos vegetal, animal, mineral; ao mundo de astros e dos “elementos da natureza” (terra, água, ar, fogo, céu, fauna, flora); aos fenômenos naturais (chuva, vento, raios, terremotos, etc.); tem o sentido denotativo de “todos os seres que constituem o Universo”, “força ativa que estabeleceu e conserva a ordem natural de tudo quanto existe”, “o mundo visível, em oposição às ideias, sentimentos, emoções, etc.”, “conjunto do que se produz no Universo independentemente de intervenção refletida ou consciente”. Dicionário Aurélio. É, portanto, o conceito de matéria estudada pelas ciências naturais (biológicas e físicas). Trata-se do mundo material natural (criado por Deus?) em oposição ao mundo cultural criado pelo homem (cultura, literatura, artes, filosofias, leis, costumes, hábitos, crenças, religiões, ideologias, política, construções arquitetônicas, etc.).

A reencarnação sob a luz do Espiritismo, no entanto, não é a mesma da metempsicose, antiga crença oriental, principalmente indiana. Na Doutrina Espírita, a reencarnação se dá apenas entre os seres humanos, não envolvendo os animais. Trata-se de mais um dos processos naturais que a ciência ainda descobrirá e registrará como um dos aspectos que compõem a complexidade da existência humana, com destaque especial para a educação progressiva do ser por meio do processo reencarnatório. Portanto:

De encarnação em encarnação, de experiência em experiência, o Espírito vai conquistando sua própria bagagem interior. A criança que recebemos hoje é o Espírito que retorna às lides da Terra para nova etapa evolutiva, trazendo imensa bagagem de seu passado milenar. Quantas existências já teve? Por quais civilizações já viveu? Que sentimentos já desenvolveu no passado? Sentimentos nobres, ideais elevados, vícios depreciativos?

Nesta romagem evolutiva, através dos milênios, de encarnação em encarnação, o Espírito se aperfeiçoa e progride (Alves, 2001, p. 48).

Além dos conceitos de Espírito ou de alma, há na Doutrina Espírita a noção de perispírito, cunhada por Allan Kardec, para explicar a ligação do Espírito ao corpo físico. A resposta foi dada pelos próprios espíritos comunicantes que lhe ditaram todos os ensinamentos com os quais ele elaborou o Espiritismo. Lê-se em O Livro dos Espíritos:

93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem

alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?

“Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante

grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”

Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.

94. De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?

“Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os

mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa”.

a) – Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso

meio, tomam um perispírito mais grosseiro?

“É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos” (LE, 2007, p.

104-105).

95. O invólucro semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser

perceptível?

“Tem a forma que o Espírito queira. É assim que este vos aparece algumas

vezes, quer em sonho, quer no estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável” (Kardec, LE, 2007, p. 104-105).

O fluido universal é a matéria (ou energia) elementar primitiva que dá origem a tudo que existe no Universo. Tal matéria (ou energia) é extremamente quintessenciada, encontrando-se em todos os pontos do Universo, possibilitando, assim, a origem de matérias diversas, inclusive mais densas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fluido_universal).

O fluido universal é uma substância de diferentes densidades, podendo ser muito sutil ou “mais ou menos condensado, conforme os mundos” (LM, 2007, p. 94) e ainda de acordo com as inumeráveis combinações realizadas com a matéria pela influência do Espírito, aparecendo sob a forma de fluido elétrico (eletricidade), de fluido magnético (magnetismo). O fluido universal exerce um papel intermediário entre o Espírito e a matéria, tendo uma conformação física de conhecimento ainda inatingível ao gênio humano no atual estágio evolutivo. Respondem os Espíritos a Kardec:

29. A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria?

“Da matéria como a entendeis, sim; não, porém, da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que constitui esse fluido vos é imponderável. Nem por isso, entretanto, deixa de ser o princípio da vossa matéria pesada” (Kardec, LE, 2007, p. 76).

A expressão “carma”, usada no budismo e em movimentos esotéricos orientais, principalmente indianos, com sentidos diversos (mas sempre remetendo às ações humanas e suas consequências), é de largo uso no Espiritismo com um sentido específico: situação vivenciada pelo indivíduo, no plano terreno, como uma decorrência de todo o armazenamento de seus atos (positivos ou negativos), em vivências encarnatórias, cujos registros se encontram alojados no perispírito, prontos a se manifestar no curso da vida material.

Embora Allan Kardec não tenha usado em momento algum a palavra "karma" ou qualquer de suas variações, esta veio a ser mais tarde incorporada ao jargão espírita por alguns espíritas, para designar o nível de evolução espiritual de cada indivíduo, ao qual se devem as circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis que venha a encontrar. No entanto, para explicar isto o espiritismo apresenta um conceito mais abrangente: a lei de causa e efeito. Enquanto que normalmente o conceito de karma sugere uma dívida a ser resgatada, a lei de causa e efeito nos apresenta a ideia de que o futuro depende das ações e decisões do presente. Uma causa positiva gera um efeito positivo, enquanto que uma causa negativa gera um efeito igualmente negativo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Karma).

No meio espírita, o carma vem seguido de expressões explicativas como “lei de causa e efeito”; “lei de ação e reação”; “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”, etc.

Assim, o carma está diretamente relacionado com o livre-arbítrio, que é a liberdade conferida a todos os Espíritos (e indivíduos) de dirigirem a sua vida, conforme sua vontade e escolhas – mas com a responsabilidade de arcar com as consequências de seus atos, que se manifestarão de alguma forma, na encarnação presente, na erraticidade (situação dos desencarnados) e em encarnações futuras. Sobre o livre-arbítrio, lê-se em O Livro dos Espíritos:

843. Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?

“Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-

arbítrio, o homem seria máquina” (LE, 2007, p. 435).

844. Não constituem obstáculos ao exercício do livre-arbítrio as predisposições

instintivas que o homem já traz consigo ao nascer?

“As predisposições instintivas são as do Espírito antes de encarnar. Conforme

seja este mais ou menos adiantado, elas podem arrastá-lo à prática de atos repreensíveis, no que será secundado pelos Espíritos que simpatizam com essas disposições. Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que se tenha a vontade de resistir. Lembrei-vos de que querer é poder” (Kardec, LE, 2007, p. 436).

Como se vê, carma e livre-arbítrio estão, de certa forma, intimamente ligados, no sentido de que ações (negativas ou positivas) nem sempre são conscientes na encarnação atual, estando já inscritas no perispírito como fruto de encarnações passadas, levando o indivíduo a agir ou reagir por impulso ou instinto, sem o uso consciente da sua vontade e razão. O bruto, o ignorante, o inconsequente, o irascível, por exemplo, não decidiram, conscientemente, ser como são. Agem por impulsos, que não conseguem controlar (tentando ou não fazê-lo), mas mesmo assim terão que reparar seus erros, de acordo com a lei espiritual.

Erraticidade é o estado no qual os Espíritos desencarnados se encontram à espera de nova encarnação, chamando-se Espíritos errantes todos aqueles que ainda precisam reencarnar. É um estado não-visível no qual os Espíritos desencarnados estagiam, repousam, aprendem, estudam, tratam-se, refletem, fazem autoanálise, e se preparam para a volta ao corpo físico, seguindo o processo da evolução. No estado de erraticidade, os Espíritos desencarnados se comunicam, se locomovem, voam (volitam). O espaço da erraticidade pode estar circunscrito aos postos de atendimento (colônias espirituais, hospitais, escolas), como pode ser o espaço aberto do plano terreno, ao redor dos encarnados – os espíritas afirmam e acreditam que nós, os encarnados, estamos sempre cercados de dezenas de desencarnados, durante todo o tempo e em todos os lugares, nas ruas, nas casas, nos campos abertos, no espaço acima das nossas cabeças. Dependendo do nível de evolução do Espírito desencarnado, este pode ser conduzido a um tipo de erraticidade sombria, determinada de

“umbral” ou regiões trevosas (inferno), onde o Espírito sofre todo tipo de pena, ficando à mercê de ataques de outros Espíritos que estagiam no mesmo nível de sintonia (os propalados

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