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2 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS E DIASPORA HAITIANA

4.1 EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL

A educação brasileira está embasada na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece suas diretrizes e bases. Esta institui em seu artigo 1º que a educação “abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (BRASIL, 1996, p. 1).

Esta lei disciplina a educação que se desenvolve predominantemente em contextos formais, através do ensino em instituições próprias. Seu artigo 2º estabelece que a educação é dever da família e do Estado, tendo por finalidade “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996, p.1).

O artigo 3º dispõe os princípios na qual o ensino será ministrado:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. XII - consideração com a diversidade étnico- racial.

Apesar do importantíssimo papel que os contextos educativos formais apresentam não se pode desconsiderar os demais espaços onde a educação ocorre. Sobre essa questão Libâneo (2002, p. 33) diz:

O campo do educativo é bastante vasto, uma vez que a educação ocorre em muitos lugares e sob variadas modalidades: família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política, na escola. Ou seja, ela não se refere apenas às práticas escolares, mas a um imenso conjunto de outras práticas educativas. Ora, se há uma diversidade de práticas educativas, há também uma diversidade de pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação, a pedagogia dos movimentos sociais etc., e também, obviamente, a pedagogia escolar.

Nessa perspectiva a educação pode ocorrer em inúmeros locais e sob variadas modalidades, sendo a aprendizagem fundamental para orientar e conduzir a existência humana. Segundo Gohn (2006), a educação pode ocorrer em contextos formais, não formais e informais; e, para definir esses termos, explica que é comum fazê-los comparativamente, caracterizando por aquilo que eles não são. Desse modo, a autora procura diferenciar a educação formal, da não formal e da informal articuladamente, partindo de algumas questões norteadoras.

Em relação aos campos de desenvolvimento, Gohn (2006) explana que a educação formal é aquela concebida em instituições próprias – as escolas - e com

conteúdos previamente estabelecidos; a educação informal é aquela desenvolvida no dia a dia dos indivíduos, no decorrer do seu processo de socialização, citando como exemplos o bairro, a rua, a família, os amigos, entre outros, e; a educação não formal é a aprendida no “mundo da vida”, através de processos de compartilhamento de experiências, especialmente em espaços e ações coletivas cotidianas, estando fortemente vinculada à educação cidadã.

A segunda questão exposta por Gohn (2006) refere-se ao agente do processo de construção do saber. No campo formal é o professor, no não formal é o outro com quem interagimos, e, no informal, são os pais, os amigos, os vizinhos, entre outros. Sobre os espaços físicos onde ocorrem os processos educativos, a autora supracitada menciona que a educação formal se dá nas instituições regulamentadas por lei, certificadoras, seguindo as orientações dos documentos oficiais, a saber as diretrizes curriculares nacionais. No não formal os espaços são aqueles percorridos pelos grupos ou indivíduos, sem contar a escola, nos quais ocorrem processos interativos propositais. Na educação informal os espaços são delineados pelas referências de localidade, idade, etnia, religião, entre outras.

O como educar, em que situação e contexto também constituem diferenças fundamentais, conforme assinala Gohn (2006). A educação formal presume a existência de instituições com normas e regras de comportamento previamente estabelecidas; a não formal envolve situações e ambientes construídos na coletividade, conforme critérios determinados pelo grupo, com participação optativa, no entanto, as condições históricas vivenciadas podem impulsionar essa participação. A práxis da educação não formal pressupõe uma intencionalidade na troca de saberes, no ensinar e no aprender e, por isso, “situa-se no campo da Pedagogia Social – aquela que trabalha com coletivos e se preocupa com os processos de construção de aprendizagens e saberes coletivos” (GOHN, 2006, p.1). Ao contrário, a educação informal ocorre despretensiosamente, nas relações sociais que vão se desenvolvendo conforme os grupos de pertencimento.

As finalidades da educação formal, não formal e informal também são distintas. Sobre esse aspecto, Gohn (2006, p.1) descreve:

Na educação formal, entre outros objetivos destacam-se os relativos ao ensino e aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados, normalizados por leis, dentre os quais destacam-se o de formar o indivíduo como um cidadão ativo, desenvolver habilidades e competências várias, desenvolver a criatividade, percepção, motricidade etc. A educação informal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças de grupos que se freqüenta ou que pertence por herança, desde o nascimento Trata-se do processo de socialização dos indivíduos. A educação não- formal capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais. Seus objetivos não são dados a priori, eles se constroem no processo interativo, gerando um processo educativo. Um modo de educar surge como resultado do processo voltado para os interesses e as necessidades que dele participa. A construção de relações sociais baseadas em princípios de igualdade e justiça social, quando presentes num dado grupo social, fortalece o exercício da cidadania. A transmissão de informação e formação política e sócio cultural é uma meta na educação não formal. Ela preparar os cidadãos, educa o ser humano para a civilidade, em oposição à barbárie, ao egoísmo, individualismo etc.

Na educação formal espera-se, como resultado, a aprendizagem satisfatória e a certificação para avanço ao próximo módulo escolar. Na educação informal não há resultados planejados, eles emergem naturalmente a partir das vivências e desenvolvimento de cada indivíduo. E, dentre os objetivos da educação não formal, temos a formação integral do sujeito e a educação para a cidadania. No cerne desta última concentra-se a educação para justiça social, direitos, liberdade, igualdade, democracia, contra discriminação, pelo exercício da cultura e para manifestação dos direitos culturais. (GOHN, 2006)

Gohn (2006) explica que a educação não formal é um campo de conhecimento ainda em constituição e que é produzida nas ações coletivas promovidas, de sobremaneira, por associações da sociedade civil. A autora explica que a educação não formal se faz presente em práticas sociais de participação em instituições com novos formatos, como os conselhos, as assembleias populares, os fóruns e as parcerias.

A educação formal, não formal e informal estão articuladas na vida das pessoas e visam, num sentido amplo, a promoção de formas de inserção social. Por isso, veremos nas seções 4.2 e 4.3, como esses campos educativos têm atuado no município de Pato Branco para a promoção da inserção social dos imigrantes haitianos, especialmente em ações de ensino-aprendizagem de língua portuguesa.