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2 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS E DIASPORA HAITIANA

3.4 HAITIANOS NO PARANÁ E POLÍTICAS PÚBLICAS ESTADUAIS

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná (2014), o estado conta com um variado grupo de imigrantes de 144 nacionalidades. Os imigrantes que têm chegado nos últimos tempos são oriundos principalmente da República Dominicana do Congo, Senegal, Guiné-Bissau, Guiné Conacri, países da América do Sul e Europa, Síria, Paquistão, Nigéria, Moçambique, Angola e Haiti. Esses grupos têm se alocado, em maior número, nas cidades de Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá, Guarapuava, Ponta Grossa, Paranavaí e Pato Branco.

Em relação aos haitianos, o Ministério da Justiça informou que dos 43.871 mil que entraram no Brasil entre janeiro de 2011 e julho de 2015, aproximadamente 5 mil estão no Paraná. Curitiba é a cidade onde estão em maior presença no estado, somando aproximadamente 2,5 mil haitianos. (PARANÁ, 2014)

Diante da necessidade de acolhimento e garantia de direitos humanos aos migrantes, refugiados e apátridas do Paraná, a Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos assumiu a função de elaborar e implementar políticas públicas de Direitos Humanos. A primeira ação foi a de criar o Departamento de Direitos Humanos e Cidadania (DEDIHC), em 2012, a fim de concentrar as atividades dos conselhos já existentes e criar/organizar novos conselhos. Também foram formadas equipes para trabalhar em políticas específicas, organizando conferências, elaborando projetos de captação de recursos, organizando cursos de formação e construindo Planos Estaduais que orientarão ações e metas a serem alcançadas para concretizar as políticas públicas estaduais.

O Paraná pode ser referência para outros estados no que diz respeito à criação de um instrumento legal no trato da questão migratória, já que o Decreto nº 4289, de 05

de abril de 2012, instituiu o Comitê Estadual para Refugiados e Migrantes. O artigo 2º dispõe que este objetiva orientar os agentes públicos sobre direitos e deveres dos solicitantes de refúgio e refugiados, bem como promover ações e coordenar iniciativas de atenção, promoção e defesa dos refugiados no Paraná, junto aos demais órgãos do Estado que possam provê-los e assisti-los através de políticas públicas.

Além disso, em 2014, houve o lançamento do Plano Estadual de Políticas Públicas para a promoção e defesa dos Direitos de Refugiados, Migrantes e Apátridas, composto por propostas a serem executadas, contendo metas, prazos e indicação orçamentária; sendo que “o acesso à educação, saúde, segurança púbica, o direito a não discriminação e de livre trânsito por todo o território brasileiro são alguns dos assuntos mais relevantes nas discussões na esfera estadual.” (PARANÁ, 2014, p.13)

Conforme o Plano Estadual,

Há que se levar em conta que a implementação de Políticas Públicas para a efetivação dos direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas, assim como políticas de enfrentamento à xenofobia e à exploração do trabalho desse público, configuram-se como interesse do Estado, uma vez que, quando se enquadram nessas condições, eles tornam-se parte da população, colaborando com a força de trabalho para o desenvolvimento da economia local e promovendo circulação de bens e recursos. (PARANÁ, 2014, p.14)

Desse modo, as políticas públicas para efetivação dos direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas são de interesse do Estado e não devem se limitar a uma gestão ou possuir caráter temporário. O Plano é uma política estadual que demonstra o dever do Paraná em garantir a dignidade e os direitos humanos fundamentais, possuindo caráter estrutural, sistêmico e organizacional.

O mencionado Plano tem como objetivo geral proporcionar meios para a construção e implementação de políticas públicas voltadas à proteção e promoção dos direitos da população de Migrantes, Refugiados e Apátridas do Paraná. E como objetivos específicos:

I – promover a efetivação dos direitos e garantias fundamentais individuais e sociais dos cidadãos Migrantes, Refugiados e Apátridas;

II – Fomentar a cooperação de órgãos e entidades, no âmbito do Poder Público Estadual, com vistas à eliminação do preconceito e promoção do respeito entre os povos;

III – Possibilitar o monitoramento e avaliação das ações propostas no Plano Estadual de Migrantes, Refugiados e Apátridas pela sociedade civil organizada. (PARANÁ, 2014, p.20)

Com base nesses objetivos, foram estruturados seis eixos de acordo com a temática das ações propostas: Educação - eixo 1; Família e Desenvolvimento Social - eixo 2; Saúde - eixo 3; Justiça, Cidadania e Direitos Humanos – eixo 4; Segurança Pública – eixo 5; e, Trabalho – eixo 6. O Quadro 2 demonstra as ações, metas, indicadores, parcerias, prazo e orçamento do eixo relacionado à Educação.

Quadro 2 - Eixo Educação do Plano Estadual de Políticas Públicas para a promoção e defesa dos Direitos de Refugiados, Migrantes e Apátridas

AÇOES METAS INDICADORES PARCERIAS PRAZO ORÇAMENTO

1. Articular a inserção da temática da Migração, Refúgio e Apatridia em espaços educativos e de formação. 1.1 Incluir a temática da Migração, Refúgio e Apatridia de forma transversal nos currículos estaduais e municipais. 1.2 Estabelecer parcerias com universidades e centros universitários que pesquisem o tema. 1.3 Realizar seminários, palestras e cursos sobre a temática da Migração, Refúgio e Apatridia.

Realização de seminários, cursos e palestras.

Comitê Estadual para Refugiados e Migrantes do Paraná (CERM), Instituições de Ensino Superior (IES Federais e Estaduais), Secretaria de Estado de Educação (SEED), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTPR), Instituto Federal do Paraná (IFPR), Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI). Contínuo 2015-2018 2. Desenvolver programas de Ensino de Língua Portuguesa para Migrantes, Refugiados e Apátridas.

Construir parcerias com entidades que promovam o Ensino de Língua Portuguesa para Migrantes, Refugiados e Apátridas. Cursos de Língua Portuguesa.

Comitê Estadual para Refugiados e Migrantes do Paraná (CERM), Secretaria de Estado de Educação (SEED), Instituições de Ensino Superior (público e privado), Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI).

Contínuo 2015-2018 3. Estimular e desenvolver programas de Ensino de Língua Estrangeira para funcionários e agentes dos órgãos públicos que atendem as comunidades de Migrantes, Refugiados e Apátridas.

Construir parcerias com entidades que promovam o Ensino de Língua Estrangeira para a equipe de funcionários dos órgãos públicos que atendem as comunidades de Migrantes, Refugiados e Apátridas, que não tenham fluência na língua do público atendido.

Curso de Língua Estrangeira.

Comitê Estadual para Refugiados e Migrantes do Paraná (CERM), Secretaria de Estado de Educação (SEED), Instituições de Ensino Superior (público e privado), Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI).

Contínuo 2015-2018 4. Garantir o pleno acesso para Migrantes, Refugiado e Apátridas à educação em todos os níveis e

Realizar análise dos currículos para reinserção do estrangeiro na Educação Básica e Superior. Acolhimento de 100% dos solicitantes de ingresso. Secretaria de Estado de Educação (SEED), Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Tecnológica Federal do Paraná Contínuo 2015-2018

modalidades de ensino.

(UTFPR), Instituto Federal do Paraná (IFPR).

Fonte: Paraná (2014)

No Quadro 2 evidenciou-se a preocupação do estado do Paraná em relação à educação dos refugiados, migrantes e apátridas, uma vez que esta configura um direito humano universal. Dentre as ações a serem desenvolvidas estão: a inserção da temática dos refugiados, migrantes e apátridas em espaços educativos e de formação; o desenvolvimento de programas de ensino de LP; o ensino de língua estrangeira para profissionais que atendem tais comunidades; e, a garantia do pleno acesso à educação em todos os níveis e modalidades de ensino.

Como pudemos perceber, a temática da educação se insere num contexto mais amplo de políticas públicas estaduais e envolve a parceria com diversas entidades para alcançar suas metas. Sobre o acesso à educação em diferentes níveis, menciona-se o papel da Secretaria de Estado da Educação, Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Instituto Federal do Paraná (IFPR) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTTFPR) no acolhimento de 100% dos solicitantes de ingresso, analisando currículos para reinserção do estrangeiro na educação básica e ensino superior.

Com efeito, apesar desse esforço do governo estadual, ao criar políticas públicas para a promoção e defesa dos direitos de refugiados, migrantes e apátridas, sabemos que pode haver divergências entre aquilo que está nos documentos oficiais e o que ocorre, de fato, na prática. Nesse sentido, no Capítulo 4, apresentaremos os resultados e discussão da pesquisa de campo realizada em contextos educativos formais e não formais do município de Pato Branco - PR.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Falar é estar em condições de empregar uma certa sintaxe, possuir a morfologia de tal ou qual língua, mas é sobretudo assumir uma cultura, suportar o peso de uma

civilização. (FANON, 2008, p.33)

Os capítulos 1, 2 e 3 contribuíram para que tivéssemos um panorama sobre a situação dos haitianos no Brasil, em se tratando de causas desse fluxo migratório e ainda de políticas públicas que os ampara. Nesse cenário a educação se faz presente, seja pelo próprio desejo dos haitianos em virem ao país e prosseguirem seus estudos ou pelo viés da educação enquanto direito humano universal e política pública de Estado.

Destarte, nesse capítulo, apresentamos uma análise sobre aspectos institucionais e experiências de ensino de LP para haitianos em contextos educativos formais e não formais de Pato Branco – PR. A partir desse objetivo geral e da pesquisa de campo realizada na Paróquia São Pedro Apóstolo e no Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira emergiram diversos elementos analíticos. No entanto, por questão de orientação metodológica, foram construídas duas grandes categorias de análise tomando como base os aspectos mais recorrentes nas vozes dos sujeitos e nos documentos analisados.

A primeira categoria denomina-se “aspectos institucionais” e corresponde às entrevistas realizadas com gestores, abordando especialmente: objetivos da experiência educativa; processo de inserção e permanência de alunos haitianos; certificação. A segunda categoria denomina-se ”experiências de ensino-aprendizagem de língua portuguesa” e compreende, em termos de análise, os seguintes elementos: as aulas de língua portuguesa acompanhadas, analisando a dinâmica entre os participantes, os materiais utilizados, os conteúdos trabalhados e a metodologia; as entrevistas com os docentes, verificando suas percepções acerca da presença de alunos haitianos nos contextos educativos e respectivo ensino-aprendizagem da língua portuguesa; as entrevistas com alunos haitianos, verificando suas percepções em relação à participação naquelas experiências educativas e respectivo ensino- aprendizagem da língua portuguesa.

Para a exposição desses dados, organizamos o texto em três grandes momentos. No primeiro, seção 4.1, apresentaremos uma conceituação sobre educação formal, não formal e informal, para, assim, termos clareza do que as difere e dos seus objetivos. Em seguida, seção 4.2, analisamos os dados da pesquisa na Paróquia São Pedro Apóstolo, conforme as categorias mencionadas anteriormente e ilustradas na Figura 19. E, na seção 4.3, analisamos os dados da pesquisa no Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira, utilizando as mesmas categorias. A escolha por essa disposição textual, primeiro as análises da Paróquia e depois as do Colégio, justifica-se pela ordem de produção dos dados, de modo a facilitar o entendimento de possíveis referências temporais.

Figura 19 - Categorias de Análise

Fonte: Autoria própria