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2 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS E DIASPORA HAITIANA

2.1 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS

De acordo com o relatório de desenvolvimento humano Sustentando o Progresso Humano: Redução da Vulnerabilidade e Construção da Resiliência (PNUD, 2014), aproximadamente 232 milhões de pessoas viviam fora do seu país de origem, em 2013. Considerando os relatórios de anos anteriores, há uma tendência de crescimento gradual do número de migrantes internacionais.

Dados do Setor da Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) confirmam que o número de migrantes internacionais documentados subiu para 252 milhões, em 2014. Além destes, existem os irregulares que somam 42 milhões, os refugiados 51,2 milhões e os apátridas 12 milhões. A Figura 13 apresenta mais detalhes sobre as migrações no mundo em 2014, demonstrando que 41,4% da população se encontra em mobilidade.

5 Ditado popular no Haiti, disponível na obra “País sem Chapéu” de Dany Laferrière. 6

Figura 13 - Dados da migração no mundo em 2014

Fonte: CNBB (2015)

As migrações internacionais sempre existiram. No entanto, atualmente, estão ocorrendo de modo ainda mais complexo e diversificado, como um reflexo das desigualdades sociais e econômicas geradas pela globalização. Milesi e Marinucci (2005) afirmam que, em muitas regiões, o crescimento econômico não é acompanhado da ampliação empregos e, com a crise do neoliberalismo e aumento do desemprego, as pessoas têm migrado essencialmente em busca de trabalho e melhores condições de vida. Essa globalização econômica tende a dificultar as relações entre os imigrantes e as pátrias, pois estes são tratados como mão de obra, mercadoria, que pode ser assimilada ou ignorada mediante os interesses do mercado. De acordo com Milesi e Marinucci (2005, p.3), esse “não pertencimento à sociedade de consumo transforma a homens e mulheres em ‘excedente populacional’, ‘sobrantes’ e ‘descartáveis’”.

Em outras palavras, temos assistido a uma série de migrações forçadas por inúmeros fatores e, dentre eles, destacam-se: a exclusão crescente de alguns povos, países e regiões, decorrentes da economia globalizada; o aumento das desigualdades

entre países do Norte e do Sul; as barreiras protecionistas que dificultam os países emergentes de terem competitividade no mercado; a propagação de conflitos e guerras; o terrorismo; a urbanização acelerada; a busca de melhores condições de vida e de trabalho; questões ligadas ao narcotráfico, à violência e ao crime organizado; questões étnico-religiosas; os movimentos vinculados às safras agrícolas, aos grandes projetos da construção civil e aos serviços em geral; as catástrofes naturais e situações ambientais. (MILESI, MARINUCCI, 2005)

Nesse cenário, os principais fluxos migratórios internacionais no final do século XX e início do século XXI assim se apresentam:

Figura 14 - Principais fluxos migratórios no final do século XX e início do século XXI

Fonte: Milesi e Marinucci (2005)

Esses migrantes internacionais representam mais de 3% da população mundial, no entanto, a maioria – mesmo documentada – tem menos direitos e proteção social que os demais cidadãos (PNUD, 2014). Apesar de os imigrantes contribuírem para o crescimento econômico do país de acolhimento, comumente são excluídos da vida social e pública deste e, sem direito de voto, pouco exercem influência sobre políticas

que possam beneficiá-los. Assim, estão vulneráveis a riscos e a obstáculos, principalmente os que começam a trabalhar indocumentados, pois podem ter direitos trabalhistas feridos e serem proibidos de aderir a sindicatos locais. Além disso, não raro, são vítimas de discriminação étnica e religiosa e da exclusão social.

Um grupo de migrantes especialmente vulnerável é aquele que foge de conflitos armados, danos e perseguições, por exemplo, os sírios que foram forçados a emigrar devido à crise no país. Somam-se a eles, os refugiados que fogem de desastres naturais e, muitas vezes, não são autorizados a trabalhar nos países de acolhimento. Estes são frequentemente alojados em abrigos temporários, com serviços de pouca qualidade e condições inseguras. O número de deslocamentos por conflitos e por problemas ambientais tem aumentado consideravelmente nos últimos anos.

Não obstante, o que se nota é uma elevada presença de migrantes internacionais em relação à proporção da população de muitos países (Figura 15) e, consequentemente, a necessidade de promoção de ações de acolhimento e combate à vulnerabilidade por parte de órgãos governamentais e sociedade civil.

Figura 15 - Migrantes internacionais e proporção com a população dos países

Milesi e Marinucci (2005) relatam ainda que os novos fluxos migratórios podem causar estranhamentos para a população e representantes governamentais do país de acolhimento, pois, muitas vezes, os imigrantes são percebidos como uma ameaça por “roubarem” vagas de trabalho, utilizarem de serviços públicos de saúde e educação – por exemplo, e, ainda, serem responsabilizados pelo aumento da violência. Com efeito, esse entendimento da migração como problema, acarreta em restrições de todos os tipos.

Com um regime de migração internacional, as leis e regulamentos nacionais são insuficientes para abarcar muitas das necessidades e riscos de imigrantes, refugiados, deslocados e apátridas. O relatório de desenvolvimento humano (PNDU, 2014) indica a necessidade de criar um consenso da migração como um bem público global, para compilar interesses e metas comuns, principalmente referentes à proteção dos direitos humanos, redução dos custos de migração, facilitação do envio de remessas de dinheiro para o país de origem e, ainda, para melhorar a percepção social dos imigrantes e da migração.

Dentro dessas estatísticas e da problemática inerente às migrações internacionais contemporâneas temos a diaspora haitiana para o Brasil. Os imigrantes haitianos são comuns alvos das mencionadas exclusões, riscos e vulnerabilidades no país. Apesar de ser complexo e desafiador, precisamos conhecer o outro, praticar a alteridade, respeitar a diversidade cultural com a qual convivemos para, assim, favorecer a promoção dos direitos humanos. Nesse viés, apresentamos as próximas seções (2.2 e 2.3), a título de propiciar alguns conhecimentos das dimensões sócio- histórico-culturais que favoreceram a migração haitiana, especialmente ao Brasil.