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CAPITULO I – POLITICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO: INCLUSÃO E FORMAÇÃO

1.1. Educação Inclusiva

Nesse bojo o Brasil, passa a assumir compromissos relacionados à criação e consolidação de ideários da educação inclusiva. Emerge daí discursos de uma educação que defende “uma escola ressignificada em suas funções políticas e sociais e que em suas praticas pedagógicas busquem garantir a aprendizagem e a participação de qualquer aprendiz (CARVALHO, 2005; p.16)”. Deste modo, o desafio da escola inclusiva começa a abrir espaços nos discursos e propostas educacionais do país na década de 1990. Nesse modelo “as escolas inclusivas”, são escolas para todos, resultando num sistema educacional que reconheça e atenda as diferenças individuais, respeitando as necessidades de qualquer aluno.

No que tange a constituição de políticas para a criação e concretização do ideário de educação inclusiva a LDB/96, atende plenamente a este compromisso. Essas intenções postas na Lei podem ser referenciadas em seis artigos e incisos que indicam o paradigma da inclusão escolar, além de mencionar o atendimento em escolas regulares de alunos com deficiência física, intelectual e sensorial, inscritos na terminologia educandos com necessidades especiais. Ressalta-se que a discussão referente à educação inclusiva nos dias atuais, presentes nos discursos de uma grande maioria dos envolvidos com as questões educacionais e sociais, não fica apenas no campo das questões das pessoas com deficiência, como se pode pensar,. Essa situação merece destaque, isso por que educadores envolvidos com a educação especial por vezes unem a discussão relativa à educação inclusiva ao campo de conhecimento desses

profissionais, o que não deixa em parte de ser o seu foco, no entanto, não se limita unicamente a este, isso porque o debate da educação inclusiva se refere aos direitos de todos que pro diversos motivos, passam a se encontrar a margem do processo educacional e que devem tomar parte incondicional do mesmo.

Nessa conjuntura, analisar a educação inclusiva, ultrapassando os muros das discussões referentes às questões relativas à educação especial, é fundamental para a compreensão as dimensões epistemológicas que compõem essa temática, pois:

“A inclusão é acima de tudo um principio ideológico em defesa da igualdade de direitos e acesso as oportunidades para todos os cidadãos, independentemente das poses, da opção religiosa, política ou ideológica, dos atributos anatomofisiologicos ou somatopsicologicos, dos comportamentos, das condições psicossociais, socioeconômicas, etnoculturais e da afiliação cultural. Trata-se de um imperativo inalienável nas sociedades atuais (OMOTE, 2003, p.154)

Verifica-se que nas sociedades atuais o principio da inclusão social tornou-se um imperativo. Destarte, intelectuais e profissionais de diversas áreas o defendem, mesmo sem em muitos casos entender suas dimensões e implicações políticas, econômicas e sociais. Consequentemente, o ideário inclusivo passa a incorporar os discursos presentes nesses diferentes contextos, transformando-se parte argumentativa do discurso contemporâneo. Contudo entre o campo do discurso e sua concretização existe um grande abismo. Desse modo fortifica-se a tendência de que existe a necessidade de realizar um profundo estudo epistemológico na área, com objetivo de se formar uma discussão correlacionando o entendimento da natureza política, econômica e social da inclusão educacional com as características desse movimento expressa nas atuais políticas educacionais brasileiras e as tangentes orientações internacionais para o seu estabelecimento.

Partindo do entendimento de autores como Lara e Lorossa (1998), Matiskei (2006), dentre outros, afirmam que o entendimento desses meios legais de domínio do Estado, necessita ultrapassar a lógica da dupla analise, binária, determina que se leve em conta a existência concreta do par binário, quais sejam; inclusão/exclusão; aprovação/reprovação; acesso/não acesso; permanência/evasão; publico/privado; etc.; Desse modo, o par binário procura sempre a existência de posições contrariassupostamente antagônicas. Essa lógica não contribui com a efetivação de uma educação para todos, pois os entendimentos das relações existentes na realidade educacional ultrapassam o seu par binário, uma vez que as situações decorrentes dessas relações a serem entendidas são mais complexas, independentes, podendo até ser interdependentes, contudo nem sempre são contrarias e antagônicas, uma vez que envolvem outras ordens e inter-relações.

Segundo Matiskei (2006, p.2), o entendimento da educação a partir da lógica binária não corresponde ao projeto de educação inclusiva, independente da forma que se utiliza a filosofia de educação “inclusiva”, “para todos” ou “multicultural”, uma vez que para ele “a realidade que se pretende modificar é aquela que expropria os direitos dos cidadãos da pela inserção social dos sujeitos”. Assim sendo, o pensamento binário é por natureza excludente, pois nele o que sempre se coloca para analise é o par de ideias, sempre um negando o outro. A concepção binária trabalha, sempre com a lógica de que um dos lados da analise deverá ser a certa, não autorizando a possibilidade da coexistência entre as duas. Por fim, no processo educacional, não se visualiza essas posições, o que acontece são as etapas de desenvolvimento e aprendizagem que não são excludentes, mas que no caminhar do processo de adicionar valores e conhecimentos, vão escrevendo condições reais de aprendizagem e de desenvolvimento escolar. Portanto, não se trata de excluir aqueles que expressam dificuldades, selecionar os melhores, ou demarcar a normalidade versus a deficiência, mais de propiciar o acesso ao sistema educacional e de criar meios para permanência de todos que ali estejam inseridos no processo garantindo o aproveitamento para os inscritos.

Inclusão/exclusão são facetas de uma mesma realidade: discutir mecanismos para viabilizar a inclusão social, econômica, digital, cultural ou escolar significa admitir a lógica intrinsecamente excludente presente nos atuais modos de organização e produção social que se quer modificar (MATISKEI 2006, p.2),

Em suma, as ponderações realizadas de acordo com a lógica binária contribuem com a exclusão, isso por que sua analise se inicia sempre no par oposto, ou seja, ao trabalhar com os índices de aprovação em detrimento existem os de reprovação os de inserção levam aos de evasão, etc. Nesse sentido, os indicativos dos processos avaliativos sinalizam sempre esses resultados e não abrem a possibilidade de entendimentos dos mesmos de maneira independente do seu par contrario15. Como resultado, as ações políticas de inclusão para os prisioneiros se agravam, uma vez que os valores que regem a educação no país de cunho individualista, unilateral, positiva e atualmente direcionada as competências individuais não satisfazem a proposta de inclusão dessas pessoas. Com esse modelo o que se delineia são as suas limitações o crescimento do estigma já tão marcado na vida dos presos. O ponto chave parece residir nos modelos que são seguidos. Sugerem-se modelos únicos como fórmula para se educar. Assim as praticas educativas são padronizadas.

15 Deve-se perceber, no entanto, que situações de inclusão não são contraditórias as de exclusão, pois existe ocasião em que uma pessoa incluída pode julgar-se excluída (CASTELL, 2004).

Nesse sentido entender a educação para além da lógica binária demanda a compreensão do conjunto complexo dos elementos nela envolvidos; inclusão, exclusão, aprovação, reprovação, acesso, não acesso, permanência, evasão, publico, privado, deficiente, normal, etc., levando em consideração que eles estão presentes na realidade e fazem parte da mesma, são elementos fundantes e constituintes da realidade social e educacional. Ou seja, são produtos do sistema ao qual a educação esta inserida. Todos esses elementos são faces de uma mesma realidade que convivem e oscilam em seus índices de permanência de acordo como são implantadas as políticas públicas sociais e educacionais do país. Nesse sentido ultrapassar aquilo que expropria os direitos do cidadão e furta-lhes a plena inserção social depende da compreensão das armadilhas do que o sistema político e econômico apresenta. Por fim, partimos da analise de que o modelo de inclusão educacional presente nas políticas públicas educacionais, solicita o entendimento das multifacetadas e complexas questões de natureza político-econômicas e sociais e /ou intenções manifestadas e não manifestadas que se estão fundamentando as bases dessas políticas. Portanto, não se trata contribuir com a implantação de um discurso ou mesmo ratificar os índices daqueles que o defendem, mas compreender de maneira profunda toda complexidade dos movimentos de reformas e seus reflexos na realidade social e educacional.