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CAPITULO I – POLITICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO: INCLUSÃO E FORMAÇÃO

CAPITULO 2- A ÊNFASE NA EDUCAÇÃO E DO TRABALHO COMO ELEMENTO DE

2.7. Lei de Diretrizes e Bases e Plano Nacional de Educação

O texto aprovado pela Lei de Diretrizes e Bases 9.394, em 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), regulamentou os artigos referentes à educação na Constituição Federal.

Nesse texto, as políticas educacionais para os que não tiveram acesso à educação na idade própria são quase inexistentes, com apenas dois artigos concernentes à educação de jovens e adultos, considerados como um retrocesso em relação à lei 5.692/71. Razão tem Saviani ao dizer que “não há como fugir à constatação de que se trata apenas de um novo nome para o „Ensino Supletivo‟, regulado no Capítulo IV da Lei 5.692/71” (2001a, p. 214). O autor acredita que a redução da idade legal para a realização de exames supletivos pode ser um complicador em relação ao interesse dos jovens em cursar regularmente o ensino fundamental e/ou o ensino médio.

A educação de jovens e adultos, tratada como apêndice nas políticas educacionais, deve ser repensada, de forma que ela deixe de ser apenas supletiva e passe a ter sua relevância reconhecida pelos elaboradores de políticas públicas, pelos educadores e pelos próprios educandos, que nem sempre acreditam em suas possibilidades. Nas palavras de Jane Paiva “[...] a população adulta marginalizada, que tão bem internalizou sua condição de incapaz, acredita na escola, luta por ela para seus filhos” (1997, p. 98).

As dificuldades são diversas, mas é necessária uma mudança na situação atual, ao se considerar que a população está cada vez mais idosa e a taxa de natalidade tem diminuído. A população tem caminhado para buscar alternativas de ocupação para as pessoas com idade mais avançada, com projetos e possibilidades de investimentos advindos da educação.

A atual política pública para jovens e adultos tem se mostrado pouco eficiente, pois mantém ações arraigadas de preconceitos contra os idosos. É importante esclarecer que não se pretende a priorização em relação à oferta de educação para jovens e adultos, mas espera-se que essa modalidade de educação seja considerada relevante no decorrer das discussões de propostas para a educação do país.

A educação de jovens e adultos, ofertada em escolas públicas, tem enfrentado muitas dificuldades. Dificuldades maiores, porém, enfrentam os que estudam em locais não convencionais, como os presos do sistema penitenciário. Conforme foi verificado no relatório da Delegação Direitos Humanos (HUMAN RIGHTS WATCH, 1998), os presos sofrem preconceitos da sociedade, abandono familiar e de amigos, perseguições no interior dos institutos prisionais, violência de administradores do sistema penitenciário. Para Paulo Freire (1983) a violência faz que homens oprimidos, proibidos de resgatarem seus direitos e cumprirem seus deveres, tornem-se mais violentos no anseio pela busca do direito de ser.

Mesmo com a contínua política de exclusão aos presos, espera-se que, pelo menos, os educadores não os tratem com indiferença, que suas ações sejam de resgate à dignidade do ser humano, pois trabalham com pessoas que, em muitos casos também foram vítimas de violência e não tiveram oportunidade de serem aceitos pela sociedade. Angelina Peralva diz que: “[...] os brasileiros produzem, conjuntamente a violência de que são vítimas, de duas maneiras: pela fragilidade de sua relação com a lei e por condutas adaptativas que não remetem, fundamentalmente, à violência, mas que a ela se ajustam, naturalizando-a” (2000, p. 180).

As políticas públicas para educação dos presos deveriam ter maior abrangência no Plano Nacional de Educação, por ser ele o norteador das ações educacionais. O referido Plano teria sido importante, se as metas reivindicadas pela população fossem validadas pelos

elaboradores, sem ignorar as discussões ocorridas na sociedade. Mesmo assim, porém, é necessário que se observem as ações do Plano aprovado, por ser este a principal medida de política decorrente da LDB. SAVIANI, 1998 para este autor, sua importância deriva de seu caráter global, abrangente de todos os aspectos concernentes à organização da educação nacional e de seu caráter operacional, já que implica a definição de ações, traduzidas em metas a serem atingidas em prazos determinados dentro do limite global de tempo abrangido pelo Plano que a própria LDB definiu para um período de 10 anos (Ibid., p. 3).

Dos vinte e seis itens definidos como objetivos e metas para a modalidade de educação de jovens e adultos, o de número dezessete foi direcionado de forma específica para os presos, com ampliação para as metas cinco e catorze:

17 - Implantar, em todas as unidades prisionais e nos estabelecimentos que atendam adolescentes e jovens infratores, programas de educação de jovens e adultos de nível fundamental e médio, assim como de formação profissional, contemplando para esta clientela as metas nº 5 e 14.

5 – Estabelecer programa nacional de fornecimento, pelo Ministério da Educação, de material didático-pedagógico, adequado à clientela, para os cursos em nível de ensino fundamental para jovens e adultos, de forma a incentivar a generalização das iniciativas mencionadas na meta anterior. 14 – Expandir a oferta de programas de educação à distância na modalidade de educação de jovens e adultos, incentivando seu aproveitamento nos cursos presenciais (BRASIL, 2001, n.p.).

O sistema educacional brasileiro, e de forma singular, a educação escolar para os presos, tem enfrentado muitas dificuldades, sendo posta no esquecimento ou havendo pouco empenho dedicado a tal clientela, conforme pode ser verificado no Plano Nacional de Educação. Também há problemas constantes em relação às especificidades do local de cumprimento da pena e à própria falta de motivação, muitas vezes atribuída às dificuldades do cotidiano escolar (falta de material didático, atraso para liberação dos alunos para as aulas, dificuldades de aprendizagem, opção entre trabalho e estudo, entre outros fatores dificultosos). Elenice Maria C. Onofre, em estudo recente na penitenciária de Araraquara, diz:

Os professores afirmam que o material básico para dar aulas é comprado, muitas vezes, por eles mesmos, com seus próprios recursos, e que utilizam os materiais disponíveis com informações ultrapassadas, o que revela o desprezo para com a educação escolar nas unidades prisionais (op. cit., p. 166).

A LDB e o Plano Nacional de Educação, o último aprovado pela Lei Nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001, apresentaram pontos positivos, mas não se deve acreditar que sejam estes suficientes para alavancar uma transformação na educação. Assim, ações devem ser

repensadas e posições tomadas em relação à organização de uma estratégia de resistência ativa, com a elaboração e a apresentação de uma proposta alternativa, a fim de reverter à situação, mesmo que seja por meio do embate, e, se não for possível de imediato, que se juntem forças para o momento mais favorável (cf. SAVIANI, 2001a).

Para atingir o poder dominante, deve-se esperar o momento oportuno, e, quando esse momento chegar, lutar para reverter às injustiças e desigualdades sociais, com uma postura coesa para mudar a situação, pensada estrategicamente no coletivo, pois ações isoladas tendem a enfraquecer diante dos primeiros embates que surgirem. Para Saviani:

[...] os interesses dominados caminham na direção da aceleração do processo histórico. E isto porque não interessa às camadas dominadas a manutenção da estrutura e sim a sua transformação, tendo em vista a construção de um novo tipo de sociedade livre da dominação. Nessa perspectiva, a crise de conjuntura é vista efetivamente como manifestação das contradições da estrutura que devem ser explicitadas e superadas através da transformação da própria estrutura social (2001a, p. 238).

Para que a legislação seja favorável a uma situação, Dermeval Saviani (2001) diz que é necessário forjar uma coesa vontade política, capaz de transpor os limites que marcam a conjuntura atual, pois a LDB 9.394/96, embora não tenha incorporado dispositivos que apontassem na direção da necessária transformação da deficiente estrutura educacional brasileira, também não impediu que isso pudesse ocorrer.

A educação e o direito podem obter muitos êxitos na construção de conhecimentos. Conforme Osmar Fávero “num momento em que as ciências humanas se renovam pela busca da construção de campos interdisciplinares, direito e educação podem travar fecundo diálogo em vista de uma democratização educacional” (1996, p. 30).

Foi na expectativa de obter respostas, valendo-se da integração dessas áreas que foi analisada a legislação nacional inerente à educação escolar para os presos do sistema penitenciário e que se buscou compreender como ocorre a organização do processo educacional no Brasil.