• Nenhum resultado encontrado

4 TESSITURA DA PAZ, EDUCAÇÃO PARA A PAZ E VALORES

4.2 Educação para a paz: compreensão do papel da escola

Não creio em nenhum esforço chamado Educação para a Paz que, em lugar de desvelar o mundo das injustiças, o torna opaco e tenta miopizar as suas vítimas.

(FREIRE, 1986). A ‘Educação para a paz’, segundo Jares (2002), é uma expressão ativa utilizada nos últimos anos, que recorre a ações reflexivas na sociedade e em instituições educacionais. Interceder por esse caminho é o desejo de todos que buscam a possibilidade de viver em paz, não como forma de banir os conflitos que surgem, mas como resolução desses, para a melhoria das relações entre os envolvidos. É imprescindível, portanto, que se estabeleça uma prática dialógica que permita essa convivência saudável dos seres envolvidos no processo.

A contribuição de Jares (2002) apresenta elementos relevantes que subsidiam significativas reflexões sobre a perspectiva de uma nova cultura, a da paz, em que enfatiza a

104

paz positiva, não como contrária à guerra, mas se constituindo em uma ação que trabalha os conflitos de forma criativa, principalmente na garantia da justiça social e do respeito ao próximo. Falando sobre a Educação para a Paz, o autor citado a define como:

[...] um processo educativo, contínuo e permanente, fundamentado nos dois conceitos fundadores (conceito de paz positiva e perspectiva criativa do conflito), que pretende desenvolver um novo tipo de cultura, a cultura de paz, que ajude as pessoas a entenderem criticamente a realidade, desigual, violenta, complexa e conflituosa, para poder ter uma atitude e uma ação diante dela (JARES, 2002, p. 148).

Dessa forma, esse tipo de cultura, a da paz, favorecerá um aprendizado coletivo e dinâmico, configurando-se como uma prática educativa contínua e consistente. No entanto, essa ação deverá vir fundamentada em valores previamente apreendidos e definidos no convívio diário, possibilitando uma real transformação no ambiente, independente da existência dos conflitos. Guimarães (2016, p. 22) apresenta a educação para a paz como:

Instrumento importante para a concretização de uma Cultura de Paz, emergindo na interlocução da comunidade internacional, não apenas como uma nova área de pesquisa ou campo relevante, mas como expressão da ideia de bem, onde se joga a própria questão do sentido da humanidade e da finalidade da educação.

Em princípio, torna-se essencial que a escola aceite o desafio de fortalecer essa ação, assumindo seu verdadeiro papel, não apenas como mera transmissora de conhecimentos definidos nos currículos escolares, mas como mantenedora de uma proposta que incentive a adoção dos Valores Humanos, de forma democrática e salutar, principalmente com os alunos. O ideal é que a escola assuma o compromisso com todos os que nela interagem, para a difusão da educação para a paz, a partir de uma prática rotineira de ações voltadas para essa finalidade, criando uma Cultura de Paz, como forma de trabalhar os conflitos passando a vê- los como crescimento pessoal.

A partir dessa iniciativa da escola, será mais fácil programar ações que fortaleçam a conversa, a fim de minimizar os conflitos que surgirem. Para tanto, considero que a educação para a paz pode ser voltada para uma educação em Valores Humanos, como respeito, cooperação, solidariedade, dentre outros, que permitem, na prática, a manifestação de uma Cultura da Paz, como uma forma de resolver os conflitos, a intolerância e a falta de respeito para com o próximo e, com certeza, dá um suporte significante para a melhoria das relações e o crescimento do aluno, tanto no interior da escola como fora dela.

105

A cultura da paz se constrói nas pequenas ações cotidianas. Ela surge da forma como nos comunicamos com os outros. Da forma como lidamos com conflitos e sentimentos. Da nossa capacidade de reconhecer e valorizar as diferenças. Da vontade e interesse em exercitar o respeito e a tolerância. Cada um de nós pode ser um construtor da paz. Cada um de nós pode influenciar, com a nossa maneira de agir, as pessoas que nos cercam. Para isso, basta deixarmos que os valores da não violência conduzam as nossas atitudes, palavras e decisões. E, ao fazermos tal escolha, mudamos para melhor a nossa qualidade de vida, nossos relacionamentos e ajudamos a construir uma sociedade mais saudável. Afinal, a paz começa no interior de cada um de nós. E essa é uma tarefa que não podemos transferir para ninguém. (MACHADO, 2012, p. 1).

Como suscitar uma Cultura de Paz sem o compromisso com o compartilhamento e a promoção do respeito à vida e à igualdade entre os seres humanos e sem reconhecer que o cuidado e a promoção da igualdade devem ocorrer por meio de um diálogo permanente, em todos os ambientes em que se vive, a fim de estabelecer essa cultura?

Mediante essas indagações é que pesquisadores e interessados no assunto vêm se preocupando em debater essas questões a fim de que haja uma atuação constante e verdadeira em todos os âmbitos da sociedade no desenvolvimento de ações voltadas a essa finalidade. Alguns autores trabalham essa questão, de fundamental importância, em busca de estabelecerem a Cultura de Paz, de forma dinâmica e consciente, num diálogo constante, sendo imprescindível a participação de todos, através da mídia, de matérias jornalísticas voltadas para esse fim, da promoção de eventos e da participação da escola, de modo a atuarem com responsabilidade numa educação para a paz:

É uma cultura que promove a diversidade pacífica. Tal cultura inclui modos de vida, padrões de crença, valores e comportamento, bem como os correspondentes arranjos institucionais que promovem o cuidado mútuo e o bem-estar, bem como uma igualdade que inclui o reconhecimento das diferenças, a guarda responsável e partilha justa dos recursos da Terra entre seus membros e com todos os seres vivos. (JARES, 2002, p. 35).

Esse compromisso com o próximo deve ser constante, pois a vivência no respeito à vida deve prevalecer. É importante diminuir a frequência da discriminação e do preconceito entre os seres humanos, pois esse tipo de comportamento leva à exclusão social e à injustiça. Para tanto, deve-se proporcionar, dentro e fora da escola, ações que, com certeza, promoverão uma Cultura de Paz.

Sendo assim, esse processo deve ser constante, a fim de que essa cultura seja implantada, de forma a contribuir para uma relação saudável, proporcionando a afetividade entre as pessoas que circulam naquele ambiente. O primeiro passo será envolver as famílias,

106

com a finalidade de garantir que esse processo se estabeleça com foco no bem estar de todos. Assim, é importante a valorização e o diálogo, pois a partir daí o jovem saberá agir nos vários momentos de sua vida, tanto na escola quanto em outros ambientes em que circular.

Possibilitar a consolidação de uma Cultura de Paz requer a abertura em ouvir o outro, deixá-lo participar para que se sinta corresponsável por isso. Não se pode ficar omisso diante dos conflitos que surgirem, e sim proporcionar meios para que a comunicação se estabeleça na busca da resolução dos conflitos. O importante, também, é possibilitar o respeito ao próximo, à fala do outro, aceitando as diferenças em qualquer situação, acreditando na construção de uma Cultura de Paz, justa e consciente.

Na possibilidade da promoção da Cultura de Paz, é importante adotar um novo estilo de vida, em que predominem, segundo a ONU (2004), valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: no respeito à vida, na promoção e prática da não violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação; no pleno respeito e na promoção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais; no compromisso com a solução pacífica dos conflitos; na importância da promoção de direitos e oportunidades de mulheres e homens; no respeito e fomento ao direito de todas as pessoas à liberdade de expressão, opinião e informação; na adesão aos princípios de liberdade, justiça, democracia, tolerância, solidariedade, cooperação, pluralismo, diversidade cultural, diálogo e no entendimento em todos os níveis da sociedade e entre as nações.

Como podemos compreender, há um grande desafio: a valorização da cultura, como uma interação de vários elementos que promovam a paz. E isso será possível com a colaboração da escola trabalhando os Valores Humanos, assunto do qual trataremos a seguir.