• Nenhum resultado encontrado

4 TESSITURA DA PAZ, EDUCAÇÃO PARA A PAZ E VALORES

4.3 Valores Humanos: pressupostos éticos e filosóficos

No mundo contemporâneo, marcado por episódios muitas vezes considerados violentos e que interferem direta ou indiretamente no cotidiano das pessoas, o ser humano passa a refletir sobre as novas formas de vida. Um novo caminho é possível, a partir do resgate das relações, fundamentadas nos Valores Humanos, bastante vezes esquecidos ou ignorados. Convém, então, questionar: - o que são valores? Como podem influenciar no crescimento intelectual e social do jovem? Quais os benefícios que podem trazer ao fortalecimento da sua participação nos espaços que frequenta? Como falar em Valores Humanos com os jovens, nesse momento de crise, corrupção, exclusão social e desrespeito aos direitos, principalmente quanto à saúde e à educação?

107

Como aponta Paulo Freire (2002, p. 395), referindo-se ao ato de educar: “[...] sem um mínimo de carinho e atenção esta tarefa se torna totalmente inútil, desprazerosa e cria terríveis traumas em ambos os lados.” Considero que, não somente a simples transferência dos conteúdos programáticos, mas também o impedimento de um convívio saudável no espaço, que deveria ser de aprendizagem, minimize a potencialidade do ambiente escolar, sendo, portanto, relevante um ensino com a inclusão dos Valores Humanos, tornando-se evidente que esses princípios irão apoiar a formação do caráter dos alunos.

Acredito que a escola vem se preocupando com essa questão, mas é importante que o governo implemente políticas públicas a fim de minimizar os processos de agressões, cabendo, também, à família participar do acompanhamento da vida dos filhos, seja na escola ou no seu cotidiano. Entretanto, os conflitos continuarão a existir, mas a forma de resolvê-los é que será a grande saída (JARES, 2007a; MATOS, 2003).

Grupos isolados não serão capazes de solucionar essa tarefa. É importante o engajamento da sociedade, da escola e da família, de forma a se buscar soluções para minimizar atos que estão dificultando o melhor desenvolvimento dos jovens na sociedade e, principalmente, no espaço escolar. Os educadores podem, portanto, funcionar como elos para a resolução dos conflitos gerados no ambiente escolar, que tantos prejuízos têm causado à aprendizagem e à harmonização na escola.

O educador que escuta o educando e interage com ele torna-se um facilitador, melhorando as relações interpessoais para o benefício de todos; isso atrai a participação dos alunos em projetos escolares, permitindo-lhes que tenham voz e vez, pois só assim se sentirão seguros de que sua presença é relevante na escola (LIBÂNEO, 1998).

Faz-se necessário formar os jovens integralmente, motivando-os a participarem de diversos momentos e, não somente na sala de aula, percebendo-os como seres autônomos e criativos, que se envolvem em atividades que melhorem seu desempenho. Assim, é preciso buscar caminhos para trabalhar uma educação em Valores Humanos. Uma das formas de fazer isso é conhecer e trazer para o cotidiano e prática escolar o ‘Programa VIVE,’ que contribui para a melhoria da qualidade de vida e a sociabilidade humana. Para isso, a escola pode inserir em seu PPP ações que deem visibilidade à melhoria das relações interpessoais e, consequentemente, à obtenção de aprendizagem satisfatória.

Ressalto, mais uma vez, a necessidade de participação da escola como espaço para abertura desse processo, sendo relevante trabalhar as relações entre professor-aluno, aluno- professor, família-escola, escola-família, em que todos se empenhem com o fortalecimento de atitudes saudáveis. Que essas ações não aconteçam, somente, no espaço da sala de aula, mas

108

no intervalo, na secretaria, na direção, enfim, que a escola permita que o diálogo prevaleça, para que o jovem perceba que aquele espaço é seu e sinta prazer em permanecer nele. – Como a escola pode exigir do aluno um comportamento condizente se não permite que o diálogo aconteça? Como irá partilhar de suas decisões sem consultá-lo?

Todos da comunidade escolar precisam se ‘educar para a paz’, aceitando uns aos outros e fortalecendo o exercício da escuta, na construção do conhecimento e na implementação de uma prática transformadora, que facilite uma mudança nos hábitos da vida do aluno. De tal modo, a escola deve definir seu papel na vida do jovem que pretende formar. São atitudes assim que permitirão o envolvimento verdadeiro da comunidade na escola, a fim de que possa resolver, com maturidade, os conflitos que porventura aparecerem, e assim, se sentir respeitada por todos. É possível que o espaço escolar se fortaleça com uma educação voltada aos Valores Humanos, a partir do momento em que a comunidade escolar considerar que o ensinamento dessa prática deve acontecer priorizando a responsabilidade e autonomia discente na resolução dos problemas que surgirem. Para tanto, pensando na EEMWR, é importante investir na participação dos jovens no VIVE, pois só assim esses serão percebidos como os principais atores dessa ação, tornando o ambiente acolhedor (LUDWIG, 1998).

Trabalhar com os Valores Humanos é de fundamental relevância para influenciar relações saudáveis entre os jovens. Isso é o que vem acontecendo na EEMWR, a partir das experiências inspiradas no VIVE cujos valores vêm previamente delineados. Tais valores são articulados a outros projetos da escola. Para tanto, estive presente em ocasiões valiosas, em que os projetos foram expostos a partir das temáticas mencionadas anteriormente. A imagem 14 apresenta um momento em que a escola abordou a temática dos Valores Humanos, sendo escolhido o ‘Amor’ como sentimento maior no desejo de compartilhar a paz. A apresentação dos alunos revela a interação entre o VIVE e a temática dos Valores Humanos.

Imagem 14 – Valores Humanos: Amor

109

Constatei, portanto, que o VIVE está sendo incluído no cenário escolar, não como disciplina, mas como um ‘programa guarda-chuva’:

O momento foi marcado com a participação de todos os alunos da escola, nos turnos manhã e tarde. Aconteceram apresentações no pátio da escola com o grupo de teatro, coordenado pela Professora Nazaré de Fátima, apresentando A Fórmula da Paz, deixando uma bela mensagem de paz para todos. Participaram ainda os alunos do projeto Música na Escola, coordenado pelo Prof. Josiel Albino, que também deram sua contribuição, abrilhantando e emocionando todos os presentes! (DIRETOR ENTREVISTADO).

A imagem 15, por sua vez, apresenta um momento do desfile em comemoração ao dia da Pátria (7 de Setembro), para o qual a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Chorozinho, de acordo com as escolas, escolheu como temática, as representações simbólicas dos Valores Humanos. Nessa perspectiva, as escolas se apresentaram conforme o valor escolhido e a EEMWR incumbiu-se de trabalhar com a temática ‘Amor’. Para esse momento, ocorreu uma sensibilização muito forte, já tendo havido, anteriormente, um aprofundamento dessa temática em sala de aula.

Imagem 15 – Desfile da Pátria

Fonte: Arquivo da Escola (2012).

Para que se entenda o trabalho da EEMWR, em relação à construção de Valores Humanos, é preciso conhecer um pouco dessa comunidade, principalmente, sobre as aspirações e anseios dos jovens estudantes de Chorozinho, que passo a analisar a seguir.

110

4.4 Os Jovens da EEMWR: caminhos para a construção da Cultura de Paz e Valores