• Nenhum resultado encontrado

Os Jovens e a escola: lugar de amigos, sociabilidade e aprendizagem

5 OS JOVENS DA EEMWR: VIVENDO OS VALORES HUMANOS E A

5.1 Os Jovens e a escola: lugar de amigos, sociabilidade e aprendizagem

Os jovens podem ser considerados como aqueles que, biologicamente, estão na transição entre a adolescência e a idade adulta e, nessa fase da vida, muitas transformações, orgânicas e sociais, interferem consideravelmente no comportamento dos indivíduos, levando- os a adotarem atitudes completamente diferentes dos valores a eles transmitidos pela família e escola. Os jovens são pessoas que fazem parte de um processo mais amplo de constituição de seres autônomos e criativos, cujas especificidades marcam a vida de cada um, e esse processo depende do meio em que vivem e por ele é influenciado (MATOS, 2003b).

É importante destacar que trato de jovens e não do jovem, pois social e culturalmente podem-se construir diferentes concepções e situações, dependendo do contexto cultural e econômico do espaço no qual eles estão inseridos, bem como da partilha de crenças e situações de uma geração.

Matos (2003b, p. 31) afirma que “[...] não é apenas a idade que define a juventude, mas sua postura diante de seus atos.” Muitos questionamentos e desafios surgem nesse percurso e as respostas e comportamentos variam, diante dos fatos, conforme sua cultura ou o ambiente em que vive. Sujeita às transformações do seu entorno, a juventude não

114

pode ser definida de forma universal, a partir de um comportamento padrão e uma idade definida. Nessa perspectiva, Bonfim (2006, p. 49) ressalta que:

Em termos de idade, não há limites fixos de fronteiras para início e fim da juventude. O recorte incide mais sobre os aspectos relativos a cortes cronológicos. Alguns autores delimitam-se entre 15 e 24 anos, mas outros a concebem de modo mais amplo, com limite inicial de 10 a 14 anos, sobretudo em áreas rurais ou de extrema pobreza e nos estratos sociais médios e urbanizados, estendendo-se aos 29 anos.

Partindo dessa ideia, listo, a seguir, acepções sobre essa fase:

a) de acordo com a proposta de emenda à Constituição – PEC nº 42/08, aprovada pelo Congresso Nacional em setembro de 2010, o jovem do Brasil atual é o que se encontra na faixa etária dos 16 aos 29 anos (BRASIL, 2008);

b) a Assembleia Geral das Nações Unidas e o Banco Mundial referem-se à juventude como sendo o período na vida de uma pessoa entre a infância e a maioridade, mencionando os que estão entre os 15 e 24 anos de idade, inclusive.

Historicamente, os jovens têm contribuído significativamente com as grandes mudanças vivenciadas pela sociedade, questionando valores e procurando criar novas atitudes e comportamentos em geral. As pessoas que estão nessa fase são questionadoras, inquietas, criativas e cheias de energia, daí porque devem ser oferecidas a elas oportunidades que recorram a ações capazes de melhorar sua qualidade de vida, sem que essas precisem apelar à violência, a fim de que ponham em prática suas ideias, na tentativa de resolverem suas inquietações.

Defendo a seguinte compreensão: os jovens devem ser percebidos como pessoas que estão em uma fase de construção social e cultural (LEVI; SCHMIDTT, 1996). Em tal construção estão presentes ambiguidades entre direitos e deveres; entre a imaturidade e a maturidade, entre a formação e o pleno florescimento das faculdades mentais, entre a falta e a aquisição de autoridade e de poder (MADEIRA, 1987; MELUCCI, 1997). Essa condição de relatividade expõe fragilmente os jovens, demarcando uma situação em que adiam o tempo das ‘responsabilidades’ (MATOS, 2003b).

Geralmente, encontramos jovens envolvidos nas mobilizações coletivas, reivindicando benefícios para suas comunidades, experimentando novas formas de relacionamento. Aqui, destaco o pensamento de Dayrell (2007, p. 4) sobre essa temática:

115

Ganha contornos próprios em contextos históricos e sociais distintos, e é marcada pela diversidade nas condições sociais [...], culturais [...], de gênero e até mesmo geográficas, dentre outros aspectos. Além de ser marcada pela diversidade a juventude é uma categoria dinâmica, transformando-se de acordo com as mutações sociais que vêm ocorrendo ao longo da história.

Matos (2001) aborda o pensamento de autores como Mellucci (1997) e Bourdieu (1998), para quem a juventude não é definida, apenas, pela idade, mas pelo modo como o jovem procede diante das circunstâncias com que se depara no mundo, sem temer as reações provocadas por seus atos. Atento, pois, para o fato de que:

[...] a idade é um estado biológico socialmente manipulado e manipulável; e que o fato de falar dos jovens como se fossem uma unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar estes interesses a uma idade definida biologicamente já constitui uma manipulação evidente (BOURDIEU, 1998, p. 113).

Como todos os animais, o ser humano é ‘frágil’ no início de sua vida, mas difere dos outros quando utiliza a razão e o emocional. A partir daí, nota-se a diferença nas suas relações, pois, entre os seres humanos, há uma dependência dos progenitores não só no aspecto físico, mas também, quanto à parte afetiva e emocional. Existem vários momentos, no decorrer do desenvolvimento humano, nos quais a observação se faz necessária e exige maior atenção, pois o ser humano forma-se com as experiências vividas e, dessas experiências, são constituídos (LIMA, 2007).

É na fase da adolescência que existe a necessidade de autoafirmação, em que para os jovens nada é estável nem definitivo, porque se encontram numa época de transição. Partindo das bases que lhes foram dadas na infância, adquirem segurança para enfrentarem as dificuldades. Sobre isso, Campos (1987, p. 67) afirma:

Quando atinge a adolescência, uma criança já vivenciou múltiplas e variadas experiências emocionais. Agora, alcançando a fase pela maturidade adulta, em todos os aspectos da vida, também precisa lutar para se tornar madura emocionalmente.

Segundo Vilela e Doreto (2006), as diferenças entre adolescência e juventude baseiam-se nos sentidos relacionados a cada um dos termos: os significados relacionados à ideia de adolescência denotam, em geral, um caráter negativo, remetendo à dependência, à irresponsabilidade, às dificuldades emocionais e à impulsividade, enquanto os significados atribuídos à juventude são altamente positivados e remetem à ideia de independência, criatividade e responsabilidade.

116

Não se deve definir a questão de ser jovem ou não unicamente pela faixa etária em que se encontra, pois essa perspectiva é limitada e reducionista (MATOS, 2003b). É certo que os jovens experimentam conflitos e incertezas próprias dessa fase. Diversos projetos foram e ainda estão sendo criados e desenvolvidos para atender a essa população juvenil. Por sua vez, no contexto familiar, os pais se empenham em impor a seus filhos a constituição de regras. Os jovens, ao perceberem o rigor das regras e o despropósito de sua existência, começam a criticá-los e, algumas vezes, não se submetem a essas determinações.

Nessa esfera de entendimento, vem a necessidade de ser aceito em um meio social que esteja de acordo com seus anseios, seus sonhos de liberdade. A partir daí, começa a busca pela aceitação, com o pré-requisito de fazer tudo para agradar e chamar a atenção dos integrantes do meio social em que pretende adentrar.

Quando os jovens contam com a presença dos pais, durante a infância, para apoiá- lo nos momentos críticos de descobertas e crescimento, recebem certa base para enfrentarem as dificuldades presentes e futuras. Existem, porém, famílias nas quais o desajuste é grande e, desde a infância, a presença e a participação dos pais são substituídas pelas de pessoas sem nenhum sentimento, afetividade, e, muitas vezes, por elementos lúdicos, como jogos, esportes, brinquedos e passeios. Isso tudo é ocasionado pela estrutura do sistema em que vivemos, ou mesmo, por omissão e descaso por parte das políticas públicas voltadas às pessoas menos favorecidas economicamente.

Nesse caso, a escola deve colaborar para que os jovens se sintam capazes de se desenvolver e de contribuir com sua escola e comunidade. As políticas voltadas aos jovens, no Brasil, precisam ser realmente postas em prática. Existe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um conjunto de leis que assegura os direitos desse segmento da população na faixa etária dos 12 aos 18 anos de idade.46 Percebo um descompasso entre a definição etária do ECA e a da Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo a desta última também adotada pelo Ministério da Saúde (MS).

Destaco que o protagonismo juvenil 47 é apontado como canal institucional de participação de alunos na gestão da escola, ocorrendo, inclusive, nos grêmios estudantis, que

46

Para Matos (2003a) não é somente a idade que define a questão de ser ou não jovem. 47

Para Souza (2006) é uma nomenclatura usada a partir dos anos de 1990, embora saibamos que esse discurso que fala da participação ativa dos alunos em sua própria aprendizagem vem desde as décadas de 1920 e 1930, no século passado. Assim, a retomada do termo “protagonismo juvenil” assume o significado do jovem capaz de ocupar um papel central nos esforços por mudanças sociais e na construção da autonomia, tomando decisões baseadas em valores vividos. Isso implica o exercício da cidadania, envolvendo-se na discussão e resolução de problemas concretos do seu cotidiano e nas questões de interesse coletivo.

117

datam da década de 1960, e dos Conselhos Escolares, que preveem o envolvimento dos alunos, educadores, pais e comunidade escolar, nas tomadas de decisões na gestão escolar, e que datam da década de 1980 (SOUZA, 2006). Em relação ao aluno, uma ação é dita proativa quando, na sua execução, quando ele é o ator principal do seu processo de desenvolvimento. Por meio desse tipo de ação, os jovens adquirem e ampliam seu repertório interativo, aumentando, assim, sua capacidade de interferir, de forma ativa e construtiva, em seu contexto escolar e social.

Costa (2001) preocupa-se com tratar essa temática, traçando uma relação entre os jovens e a educação formal em que, no enfrentamento de situações que acontecem na escola, esse processo da participação deve ser trabalhado de forma cooperativa, “[...] cujo foco é a criação de espaços que propiciem ao adolescente empreender ele próprio a construção de seu ser em termos pessoais e sociais.” (COSTA, 2001, p. 14).

Dessa forma, o autor partilha o mesmo pensamento de outros, que atribuem ao professor o ofício de ser mais do que um transmissor de conteúdos; deve também ser um orientador, para situar o aluno no centro do processo educativo, norteando-o em sua aprendizagem. Atribui, pois, ao aluno a condição de agente desse processo, considerando-o,

“como fonte de iniciativa (ação), liberdade (opção) e compromisso (responsabilidade)”

(COSTA, 2001).

Ao se referir aos jovens como pessoas que se encontram em uma fase indefinida, Abramo (2005) menciona as suas características ao longo de cinco décadas, a saber: rebelde (1950), perturbadora da ordem social (1960 e 1970), apática (1980), desencantada, apolítica e sem perspectivas, mas ligada à violência, em especial na mídia (1990). No contexto contemporâneo, os jovens são considerados geração Shopping Center, preocupando-se com a aparência, tanto do corpo físico como do modo de se vestir. A despeito dessas características, há muitos deles com ideias claras sobre a necessidade de ‘mudar o mundo’, envolvidos em ações educativas e religiosas que evidenciam um comportamento voltado à Cultura de Paz. Em décadas passadas, vimos jovens engajando-se e reivindicando um espaço melhor, manifestando-se em episódios como o que marcou a história do Brasil em 1992, o caso dos Caras Pintadas, resultando no impeachment 48 do Presidente Fernando Collor de Mello. Em junho de 2013, os jovens brasileiros tiveram a oportunidade de mostrar insatisfação com a

48

O impeachment foi um processo político, não criminal, que afastou o Presidente da República brasileira. Impeachment é o processo aplicado à autoridade pública, por crime de responsabilidade, que pode ter como desfecho a decretação da perda do cargo, com inabilitação para o exercício de função pública por 8 (oito) anos. (BRASIL, 1988, p. 34).

118

política nacional, deflagrando várias manifestações em diversos estados, revelando que podem contribuir para que mudanças políticas aconteçam.

Nesse contexto, é possível entender que, na medida em que os jovens assumem posturas ativas, tornam-se aptos a exercer a cidadania. Ao mesmo tempo, quanto mais participam de processos emancipatórios, mais fortalecem sua identidade pessoal (MILANI, 2003). Onde houver a participação dos jovens, independente do segmento social a que pertençam, esses serão atores do processo, social ou educativo. Para que isso aconteça, é fundamental que sejam oportunizadas formas de interagirem e de mostrarem que são capazes de interferir no rumo dos acontecimentos importantes da sociedade. O governo também precisa exercer seu papel de gestor, através da implementação de políticas públicas que garantam os direitos dos estudantes como cidadãos. A escola, por sua vez, deve proporcionar uma educação cidadã, com o envolvimento em todas as ações, possibilitarão a adequada formação dos jovens inclusive para sua devida inserção no mercado de trabalho, preparando- os para a vida em sociedade.

É pertinente salientar que o conceito de participação juvenil nas escolas brasileiras não é novo. Os grêmios estudantis datam da década de 1960 e os Conselhos Escolares, que preveem o envolvimento dos alunos e familiares na direção da escola, remontam aos anos de 1980, conforme já citado anteriormente. Nas décadas de 1980 e 1990, foram emitidos diferentes documentos oficiais que explicitaram e valorizaram essa participação. (BRASIL, 1985, 1990) Segundo tal documentação, a escola deve democratizar sua gestão, cumprindo efetivamente sua função de tornar-se um espaço pedagógico atraente, democrático, confiável e desafiador, principalmente, quando esse desafio tem como foco os jovens, favorecendo seu progresso intelectual, social e afetivo.

Uma das grandes conquistas para estimular os jovens a se tornarem participativos na escola foi a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), formalizadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), por meio da Resolução nº 3 de 1998, ainda em vigor, que aponta a interação dos jovens como um de seus eixos fundamentais e um importante meio legal para a difusão do seu envolvimento nesse nível de ensino.

Além disso, o artigo nº 14 da LDB (BRASIL, 1996), bem como outras orientações de órgãos estaduais, prescreveram a gestão escolar como fator importante para a participação de alunos. Essas orientações pedagógicas, que focalizam o estudante como ser autônomo envolvido nesse processo, vêm, a cada ano, possibilitando seu comprometimento em ações educativas para seu crescimento intelectual e social, sendo importante que os gestores façam

119

com que esse movimento se torne efetivo e real para os jovens, fortalecendo cada vez mais sua participação escolar.

É um grande desafio a participação dos jovens na vida escolar, familiar e social, sendo que, se a instituição escolar favorecer uma gestão participativa, dando-lhes oportunidade para que se envolvam em atividades benéficas para a escola e a comunidade, essa será uma mudança favorável, entendendo-os como empreendedores solidários. Há, portanto, a necessidade de uma modificação na postura dos gestores e professores no sentido de perceberem os jovens como seres ativos, que podem contribuir para a melhoria do espaço escolar e familiar, assunto que, no próximo item, destaco com maior profundidade.