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Registra a história que em de janeiro de 1947, foi aprovado o plano para a criação da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), foi a primeira grande ação do governo em prol da educação que se caracterizou por uma atividade de massa. A intenção era acabar com o analfabetismo, que era como uma doença crônica, um elemento destoante na sociedade. Lourenço Filho (MARINHO, 2008, p. 83) assim se pronuncia a respeito do analfabetismo:

Devemos educar os adultos, antes de tudo, para que esse marginalismo desapareça, e o país possa ser mais coeso e mais solidário; devemos educá- -los para que cada homem ou mulher melhor possa ajustar-se à vida social e às preocupações de bem-estar e progresso social. E devemos educá-los porque essa é a obra de defesa nacional, porque concorrerá para que todos melhor saibam defender a saúde, trabalhar mais eficientemente, viver melhor em seu próprio lar e na sociedade em geral.

Dentro do espírito de erradicação do analfabetismo que reinava nos primeiros anos da década de 1960 no país, o presidente Jânio Quadro instituiu a Mobilização Nacional contra o Analfabetismo, que incorporava os serviços da Campanha de Educação de Adulto, de Educação Rural, de Merenda Escolar, de Extensão da Escolaridade, de Educação Complementar de Erradicação do Analfabetismo e de Construção de Prédios Escolares.

Nessa mesma década em Recife, artistas, estudantes e intelectuais se aliaram aos esforços da prefeitura do Recife para criar o Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP), cujo objetivo era combater o analfabetismo e procurar elevar o nível cultural do povo. Esse movimento utilizava a arte como forma de expressão crítica da realidade social brasileira. Em 1961, começa a se espalhar por todo o país os CPC (Centros Populares de Cultura), que contavam com o apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE).

A grande novidade da década de 1960 foi o método Paulo Freire, que se desenvolveu no seio do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, foram criados os “círculos de estudos” e os centros de cultura nos quais Paulo Freire pôde colocar em prática sua teoria. Em 1960, 15 milhões de nordestinos viviam na “cultura do silêncio”, isto é, não sabiam nem ler e

nem escrever, estamos em 2018 e essa cultura do silêncio atinge não só os nordestinos, mas a todo país e a geração dos “nem-nem”, nem trabalham nem estudam. Para Bimbi (apud MARINHO, 2008), que prefaciou a edição italiana do livro “Pedagogia do Oprimido”, a originalidade do método Paulo Freire se encontrava na forma como seus conteúdos são trabalhados para conscientizar, talvez residindo aí a eficácia do método.

As propostas da época de 1960 emanadas da esfera da sociedade civil, para a educação da zona rural reconhecem o trabalho da FIDENE (Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Nordeste do Estado), com sua proposta de intervenção pedagógica e programas específicos e a criação de institutos de educação como o IEB (Instituto de Educação de Base) e o IEP (Instituto de Educação Permanente). Dentre os programas, havia a ASSESSORIA AOS SINDICATOS RURAIS – A EDUCAÇÃO COOPERATIVA – O PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA RURAL – TRABALHOS COM PROFESSORES RURAIS – O PROGRAMA DE SAÚDE POPULAR.

Outra ação que faz parte desses programas específicos é o MEB (Movimento de Educação de Base), idealizado por D. Eugênio Sales, fruto do pensamento social da Igreja Católica, sua expansão se dá a partir de 1963 transformando-se em movimento nacional. Com a visão de um homem integral, a Igreja decide cooperar outra vez e apresenta seu objetivo da seguinte forma:

O MEB tem por fim prestar ampla assistência educacional, desenvolvendo programas de Educação de Base para adolescentes e adultos no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e em outra área em desenvolvimento no país, através de sistema radio-educativo, tele-educativo e outros meios julgados necessários ao seu fim, podendo, também, prestar serviços subsidiários para o povo em geral, sem distinção de espécie alguma, sempre, porém, sem prejuízo de suas finalidades precípuas (MEB, ESTATUTO, Art. 2º apud MARINHO, 2008, p. 135).

Outra iniciativa da década de sessenta foi a Cruzada ABC (Ação Básica Cristã), cujo objetivo era alfabetizar as pessoas dentro de uma dimensão antropológica. A iniciativa partiu de um grupo de professores do Colégio Evangélico Agnes Erskine, de Pernambuco, em 1962. No entusiasmo da CEAA surgiu a CNER (Campanha Nacional de Educação Rural). A Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), ao ser apresentada em 1948 na II Conferência Geral da UNESCO em Beirute, motivou a realização em 1949 do Seminário Interamericano de Educação no Brasil, pois havia o desejo de conhecer melhor a proposta brasileira de educação de massa. Seguindo as orientações do seminário, a primeira iniciativa

foi a experiência de Itaperuna – RJ – 1950, que se apoiava nas missões do México (MARINHO, 2008).

A zona rural que, de 1961 a 1964, havia recebido uma assistência melhor na área da educação com o Movimento de Educação de Base (MEB) e a perspectiva do método Paulo Freire voltou ao seu estado original. Os ânimos nesse contexto melhoram com a realização do Seminário sobre Educação e Desenvolvimento que aconteceu no Recife de 9 a 13 de janeiro de 1967, com o apoio da SUDENE. O texto básico do seminário diz que:

A educação deveria desenvolver o espírito crítico e favorecer a tomada de consciência do indivíduo como homem e como ser responsável, gerando tensões e preparando para a participação e a interferência (...) O papel da educação seria, pois, propor elementos para que o homem, ao invés de subordinar-se, fosse estimulado a ingressar nesse mundo inovador, redefinindo-o e aos seus papéis, criticando não apenas os seus valores, mas também os novos valores introduzidos (PAIVA, 1973, p. 288).

Ainda em 1967, com a Lei 5.379, criou-se o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), era uma deturpação da verdadeira educação que se deveria dar ao cidadão. Momento dramático para a educação brasileira foi a promulgação do Decreto-lei 477, de 26 de fevereiro de 1969, quando o governo da ditadura estabeleceu as bases de repressão para os docentes, alunos e funcionários de estabelecimentos de ensino público ou particular. Ou a sala de aula se tornaria um palanque para o discurso governamental ou os corruptores (os Sócrates do século XX) dos alunos teriam que ser punidos, talvez bebendo da mesma cicuta que Sócrates. O que nos dias atuais, assemelha-se a lei da amordaça, que delimita os procedimentos da prática docente.

Época essa em que a escola na zona rural percorria as trilhas da mentalidade reprodutivista, Establet-Baudelot ( MARINHO, 2008, p. 103) diz que:

[...] a escola é extensão da realidade vivida pelos filhos da burguesia, mas não é extensão da vivência dos filhos da classe trabalhadora, pois tal linguagem não lhes é peculiar.

[...] a classe burguesa com o que recebe da escola cresce mais, pois está dentro do seu meio, e a classe trabalhadora vai sendo rejeitada e permanece na mesma situação, já que a escola está distante de sua realidade. Mesmo sendo a grande ação educativa promovida nacionalmente em prol da zona rural, a Campanha não logrou seu objetivo, que era de erradicar o analfabetismo.

Estudos do MEC de 1976 sobre a educação rural, como proposta emanada da esfera governamental desaguou no II Plano Nacional de Educação (PNE) 1975-1979. O MEC

resolveu estabelecer em seus objetivos e, diretrizes, condições que favorecessem a edificação de programas educacionais para a zona rural, pensando na melhoria socioeconômica da população rural. O MEC com esses estudos apresenta os princípios básicos para o planejamento da educação na zona rural, a saber: 1- Promoção humana e social; 2- Respeito às características do meio rural; 3- Integração com os outros setores; 4- Inovação e experimentação; 5- Participação; 6- Valorização dos recursos humanos da comunidade; 7- Racionalização no uso dos recursos financeiros (MARINHO, 2008).

As décadas de 1960 e 1970 são marcadas pelo desejo de desenvolvimento em curto prazo, período de contribuições de órgãos do governo local como a da SUDENE, da SUDESUL e dos Estados Unidos da América desenvolvem vários programas de ajuda financeira a países da América Latina. Os estudos do MEC propõem, também, a elaboração de vários programas e ações para a zona rural como: SUPRA (Superintendência da Política de Reforma Agrária) – IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agrária) – INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e eventos como o Seminário sobre a Educação no Meio Rural, em Ijuí em 4 de junho de 1982, iniciativa do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) (MARINHO, 2008).

Assim, o nordeste brasileiro na década de 1960 encontrava-se em uma situação de grande desigualdade social em relação ao Centro-Sul do Brasil, fase do governo militar brasileiro caracterizado por três momentos: 1) De 1964 até o Ato Institucional nº 05, de 13 de dezembro de 1968, usando-se da filosofia de combate ao comunismo; 2) Até 1978, com o presidente Geisel, fase mais dura do período da ditadura, tanto para a vida político-social quanto para a educação, que foi usada e manipulada pelo governo golpista; 3) Até 1985, quando se estabeleceu a Nova República, fase marcada pela abertura política, anistia e movimentos para que o poder voltasse para um civil, apesar da luta pelas diretas, por voto indireto, foi eleito Tancredo de Almeida Neves, candidato de oposição à Presidência da República. Segundo Ghiraldelli (1994 apud MARINHO, 2008), no ano de 1983, o Brasil tinha 60 milhões de habitantes entre analfabetos e semiletrados, isso é reflexo da política educacional da época, e declara não ver saldo positivo no governo militar. A Nova República foi período de muita euforia, em substituição à Constituição de 1967, fruto do regime opressor militar.

Em 1988, foi promulgada a “Constituição Cidadã”, a qual propõe uma educação como promoção da cidadania. Depois do governo de José Sarney, que não nos deixou saldo positivo, tivemos o governo de Fernando Collor de Melo, que mereceu como único registro, ter sido o primeiro presidente brasileiro a sofrer por completo um processo de impeachemant,

vindo a assumir em seu lugar o vice-presidente, Itamar Franco, que viveu um governo de transição e, substituindo-o, tivemos o governo de Fernando Henrique Cardoso. Estamos em 2018 e o Brasil ainda sofre com os reflexos da desigualdade de oportunidades educacionais, com índices altos de mais de 11,5 milhões de pessoas analfabetas.

Em setembro de 1997 (MARINHO, 2008), o governo Fernando Henrique Cardoso lançou a “Campanha Toda Criança na Escola”, uma iniciativa que tentou resolver o abandono que ocorria nas escolas pelas crianças e a disparidade que existia entre série e idade. A Campanha propôs para a zona rural as “Escolas Rurais Multisseriadas” amparada na LBD 9.394. Na época as classes multisseriadas ocupavam 64% das escolas que ofereciam ensino fundamental de 1ª a 4ª série e passavam por problemas de infraestrutura física, de construção de proposta didático-metodológica específica, de formação de professores, etc. Percebe-se que a campanha proposta pelo governo Fernando Henrique não passou de uma proposta meramente política, no sentido pejorativo da palavra. Esse foram alguns momentos da história da educação no país e no que se refere a educação rural o elemento de preocupação e interesses da classe ruralista, dominante era o de retenção do homem na terra, no campo, era preciso evitar a atração das classes pobres rurais para as cidades e, uma das alternativas era oferta uma educação adaptada ao meio físico e a cultura rural que cumprisse esses preceitos.